segunda-feira, 11 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)



Guiné > Bissau > c. 1970/72 > O Hélder de Sousa, na avenida marginal, junto ao cais.

Foto do álbum de Hélder de Sousa, ex-fur mil de trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técnico, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente.

Foto: © Hélder de Sousa (2007). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste >  Piche  > março de  1971 >>  Da esquerda para a direita, Centeno, Hélder e Herlander

Foto: © Hélder de Sousa (2012). Todos os direitos reservados

1. Texto de Hélder Sousa, recuoerado a partir de comentários ao poste P14574 (*)

Caros camaradas

Isto das comidas e bebidas tem que se lhe diga!

No que diz respeito à bebida e relativamente ao vinho, tenho pouca recordação. Lembro-me que durante o CSM [, Curso de Sargentos Milicianos,] em Santarém o que se bebia era pouco menos que intragável, eu que até sou de uma região, Cartaxo, onde o vinho sabia a vinho, pelo menos o que chegava à mesa de casa e aquando dos petiscos com os amigos.

Não sei se era por saber mesmo ou por sugestão do que se dizia, lá no Destacamento da EPC {[, Escola Prática de Cavalaria,] aquela zurrapa sabia a cânfora...

Na Guiné, devo dividir a 'coisa' em três partes: (i) nas refeições na Messe de Sargentos do QG [, Quartel General,]; (ii) durante a permanência em Piche;  e (iii) em Bissau, nos estabelecimentos civis.
Da primeira parte não guardo memória.
Ródulo do Alvarimho Palácio
da Brejoeira. Cortesia do sítio
Garrafeira Nacional
De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto) fez com que fossem fornecidas algumas caixas e como uma delas de "partiu" lá tivemos a sorte (eu, o vaguemestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei!

Já nos diversos estabelecimentos civis, para além da cerveja, em termos de vinho a diversificação foi a característica principal: no "Solar do 10", quando jantava do lado mais requintado e maioritariamente ocupado pelos senhores Oficiais da Marinha, para acompanhar o "steak" à inglesa ia uma garrafa de "FR" velho, se a refeição era do lado da esplanada interior, a acompanhar a "Açorda à Santa Teresinha" ia um "Dão" (não dava nada, tinha que pagar!).

No restaurante do Pelicano optava mais geralmente por "Grão Vasco".

Quando ficava pelo "Oásis" e me deliciava com umas excelentes alheiras, 'bati' todas as 'monocastas' brancas que por lá havia até as esgotar: "Fernão Pires", "Tália", "Boal", "Trincadeira", etc... 

Portanto, em termos de bebida, melhor dizendo, em termos de vinho.... não me queixei!

O Hélder Sousa em Piche...
Quanto à comida.....

Em termos de Guiné, também divido isso em partes: (i) a comida na Messe de Sargentos do QG; (ii) os tempos de Piche; e (iii) as refeições nos espaços civis, podendo-se acrescentar as 'petiscadas'.

Da Messe confesso que algumas vezes não me pareceu mal de todo mas o que mais 'retive para memória' foi os diferentes tipos de arroz: o "vermelho" quando pretendia ser de tomate, o "verde" quando misturado com verduras, o "alaranjado" quando de cenoura, o "amarelo", quando de açafrão ou caril e ainda havia o "branco". O que o acompanhava era irrelevante.

Em Piche, fazia-se o que se podia, em função dos fornecimentos. Não posso dizer que desgostei. Comi razoavelmente bem, tendo em conta as circunstâncias.

E ainda houve tempo para se experimentar pratos novos, como por exemplo as "almôndegas de mancarra ao suor", as quais eram uma espécie de carne picada mas que não sendo muita era enrolada e recheada com pedaços de mancarra e que antes de irem para a confecção eram passados pelo suor do corpo do cozinheiro negro. Muito bom!

Petiscos eram bastantes e em função do que os fornecimentos proporcionavam. Comi um leitão (já um bocadinho crescido...) com arroz no bucho, em casa do Chefe de Posto e arranjado pelo homem da Casa Gouveia que "soube pela vida". Coisas proporcionadas pelo meu amigo vaguemestre Herlander, que tinha estado comigo em Santarém.

Na 'vida civil' de Bissau e arredores, enquanto havia 'patacão', não falando em ostras e camarões ou iscas às tirinhas no Zé D'Amura, fui variando e experimentando diversos locais e pratos, lembrando-me agora assim de repente, para além dos já citados "Solar do 10", "Pelicano" e "Oásis", também a "Meta", o "Sporting de Bissau", umas duas vezes o "Grande Hotel", etc.

Em resumo, dum modo geral, tendo em atenção o tipo de funções e ocupações funcionais que me tocaram, não tenho grandes razões de queixa quanto à alimentação, pois sempre que não era boa foi-se arranjando alternativas.

Hélder S.
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Notas do editor:

Vd. postes da série:

11 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 >  Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

1 comentário:

Juvenal Amado disse...

Hélder

Uma coisa é verdade---- Trataste-te muito bem e deve ter como resultado o seres hoje um tipo bem disposto de quem dá gosto ser amigo.

Dito isto já sei porque sou um chato do catano.... Foi da qualidade do vinho que bebi lá e só não estou pior, porque quando cá cheguei, não me fiz rogado fiz como o "Jacinto" branco ou tinto, só se for cheio .
É uma brincadeira este comentário e serve a oportunidade para te enviar um abraço