segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2091: Cusa di nos terra (8): Bolama, caminho longe (Beja Santos)

1. Mensagem de Beja Santos, com data de 9 de Agosto último, enviada ao Henrique Matos, que foi o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, com conhecimento aos editores do blogue:

Querido 1º Comandante,

Gostei muito das tuas informações sobre Bolama (1), uma cidade onde temos pesadas responsablidades culturais, por satisfazer e com urgência.Visitei-a num fim de semana, lá para Dezembro de 1991, no decurso da minha cooperação na área da política dos consumidores(ainda houve um despacho presidencial a criar a Comissão Interministerial de Defesa do Consumidor, fizeram-se 5 programas televisivos que me deram um trabalhão, tudo sem quaisquer consequências).

Apanhei um ferry que se viu em apuros na entrada da baía, tais as toneladas de areia por remover, depois é aquela beleza de uma cidade colonial decrépita, prédios de grande valor estético em ruínas (como o cinema, que só restava a fachada Art Deco), tudo fora do tempo e desprezado, como a estátua do Presidente Ulisses Grant, a quem a Guiné deve e não é pouco (3).
Foi uma odisseia encontrar onde comer, um dirigente do PAIGC deu-me dormida, tive a sorte de encontrar um guia conhecedor, pude visitar a magnífica Imprensa da Província, um verdadeiro museu. As praias, outrora um mimo, como te recordarás e se sente a lembrança, estavam num completo abandono.

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1966 > Rua, com casas de arquitectura colonial, com o cais ao fundo... Na foto, o Alf Mil Domingos Matos, acabado de chegar, com o Alf Mil Baptista que estava colocado em São João, um destacamento de Tite, que ficava mesmo frente a Bolama do outro lado do canal.

Foto: ©: Henrique Matos (2007). Direitos reservados.

Pouco tempo antes de regressar à Guiné, o INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, que me pareceu trabalhar com seriedade, promovera um colóquio internacional sobre Bolama, as implicações históricas da capital da Província (Bolama, caminho longe). Não consegui as comunicações, só um conjunto de postais que certificavam o esplendor relativo de Bolama. Infelizmente, ofereci esses postais que mereciam ser mostrados no blogue. Talvez o Pepito, o Leopoldo Amado ou o Paulo Salgado possam ajudar.


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > Hotel Turismo (3)

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

Bolama tinha um cachet que Bissau nunca possuiu. Fizeste bem em recordar esse esplendor perdido! A propósito, e contado pelo tal dirigente do PAIGC: com a independência, procurou-se pulverizar com trotil o monumento oferecido por Mussolini. Puseram-se cargas poderosíssimas, o monumento nem tugiu. Desistiu-se... ainda bem para a História.

Então, para quando as tuas primeiras memórias do nosso Pel Caç Nat 52? Vou agora para umas férias com vários episódios a aboberar: um furriel que destrambelhou, um comandante que à terceira flagelação a Missirá em pouco tempo insinuou que não parulhávamos o suficiente, e depois um mina anti-carro em que tire culpas no cartório.. mas tudo será contado. Até breve, e não esqueças a nossa gente, Mário.~

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Notas dos editores:

(1) Vd. post de 3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

(2) O património da Guiné-Bissau anda pela rua da amargura... Ainda recentemente desapareceu, da cidade de Bolama, em condições rocambolescas (!), a estátua em bronze do antigo presidente norte-americano Ulisses Grant (1822-1885), erguida em memória do papel decisivo que este estadista teve no desfecho do diferendo entre Lisboa e Londres sobre a ilha guineense.

Segundo noitícia da Lusa/SOL, de 4 de Setrembro último, uma empresa de sucata ligada a Alpoím Galvão teria comprado parte da estátua... O antigo militar português está em Bissau desde 2004 com um projecto de investimento no sector de recolha de sucata e transformação de caju, principal produto agrícola do país. Alpoim Calvão dá emprego a cerca de 1.500 guineenses na ilha de Bolama. O empresário ficou sujeito a termo de identidade e residência em Bissau, por alegado envolvimento no desaparecimento da estátua e até o assunto ficar esclarecido não poderá sair de Bissau...

(3) Vd. post de 5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1401: Com a CART 3492, em Bolama, no Reino dos Bijagós (Joaquim Mexia Alves)

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