Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Do lado direito, de quem sobe, e antes da Catedral e da Residencial Coimbra (hoje Hotel Coimbra), ficava a Pensão Central, ou Pensão da D. Berta... A saudosa Berta de Oliveira Bento (1924-2012), cabo-verdiana, radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos, incluindo antigos combatentes, cooperantes, professores, jornalistas, membros de ONGD, pessoal diplomático, etc., de diversas nacionalidades.
Foto (e legenda): © David Guimarães (2001). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central > c. 2007 > A Dona Berta e as suas "meninas", pensionistas, em noite de Natal (presume-se) ou na sua festa de anos (nasceu 12 de dezembro de 1924). A jovem da ponta direita, é a nossa amiga Sílvia Margarida Mendes, hoje esposa do músico luso-guineense Mamadu Baio (membro da nossa Tabanca Grande desde 28/1/2014). Na altura a Sílvia era professora do ensino secundário, cooperante (viveu cinco anos na Guiné-Bissau).
Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Pensão Central > s/d > Sala de Jantar... A Dona Berta, ao fundo, do lado direito
Guiné-Bissau > Bissau > Embaixada de Portugal > 1994 > Berta Bento, então com 70 anos, condecorada pelo Presidente da República Portuguesa com a Medalha de Mérito... E em 2008 aos 84 anos foi também condecorada pelo Governo de Cabo Verde.
Guiné > Bissau > 1968 > Visita do Presidente da República, Américo Tomás... A Pensão Central toda engalanada.
Lisboa > Sede da CPLP > 21 de novembro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Ceitil (1947-2020), nosso grão-tabanqueiro, "Dona Berta de Bissau" (Lisboa, Ãncora Editora, 2013, 200 pp.).
Sinopse do livro na Âncora Editora:
"Berta de Oliveira Bento nasceu na Ilha do Maio, em Cabo Verde, no ano de 1924. Foi 'o sétimo filho e a terceira rapariga' do casal cabo-verdiano Manuel Joaquim Bento e Margarida de Melo Oliveira Bento. Faleceu no dia 12 de Dezembro de 2012. Passou a infância e a juventude em Cabo Verde e, aos 24 anos, deslocou-se a Bissau para acudir a uma irmã mais velha. Foi ficando e afeiçoando-se à terra, criando laços tão fortes com as pessoas que não de lá mais saiu. Casou com um português. Não foi mãe, mas desenvolveu uma protecção maternal enorme e um coração onde cabiam, para além dos amigos, a imensidão de filhos, netos e sobrinhos, encantados e venerados para o resto de suas vidas. Conseguir fazer de um negócio, a Pensão Central, o centro do mundo, para tanta gente e tanta gente que ali procurava abrigo e encontrava vida, é um dos seus dons! A forma como se relacionou com os outros devia constar nos manuais de boas práticas de conveniência dos povos do mundo. É esse o legado que nos deixa."
Fonte: fotos recolhidas e editadas, com a devida vénia, da página do Facebook Pensão Dona Berta, Bissau
1. Mónica Caldeira Cabral, e Arménio Silva Vitória são dois dos administradores da página do Facebook Pensão Dona Berta Bissau, Grupo Público. O Arménio Silva Vitória tem apresentado fotos do espólio da Pensão Central, algumas das quais utilizadas aqui por nós, com a devida vénia.
A Pensão Central, da Dona Berta, era um dos lugares de referência da Bissau do nosso tempo. Merece ser recordada aqui a vida desta mulher que, pelos testemunhos que li, era um coração de ouro. Tem cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue.
Berta Oliveira Bento, nascida na ilha de Maio, em 1924, foi para a Guiné em 1948.
Com a devida vénia, reproduz-se também a aqui uma notícia do jornal de Cabo Verde, "A Semana", de 1 de fevereiro de 2008.
Berta de Oliveirea Bento (1924-2012) (*)
A Semana > 1 de fevereiro de 2008 > Cabo-verdiana Berta Bento, avó dos portugueses na Guiné-Bissau, homenageada pelo Governo
01-02-08 – Jornal On-line A Semana
A avó cabo-verdiana de todos os portugueses radicados na Guiné-Bissau, Berta de Oliveira Bento, recebe hoje do governo de Cabo Verde a condecoração por mérito, numa cerimónia a realizar na Embaixada de Portugal em Bissau.
Já condecorada por Portugal, em 1994, com a medalha de mérito atribuída pelo então presidente português Mário Soares, Berta Bento, ou avó Berta como é carinhosamente tratada por todos que a conhecem, aguarda desde 2004 a condecoração de Cabo Verde.
“Estou muito feliz e emocionada, porque estou a viver na Guiné-Bissau há 63 anos”, afirmou a avó Berta à Agência Lusa em Bissau, sublinhando que esta sexta-feira é um dia para festejar.
Berta Bento, de 82 anos, é uma das figuras mais carismáticas da Guiné-Bissau, tendo a sua vida sido já retratada em vários jornais mundiais, nomeadamente no britânico Financial Times.
Neta de um português de Santa Comba Dão, grande comerciante em Cabo Verde na época colonial, Berta Bento chegou a Bissau para ajudar uma irmã que estava grávida. Mas a estada, que deveria ser só de um mês, foi prolongada por amor a um português com quem acabaria por casar e fundar a Pensão Central, no centro da cidade de Bissau.
“Vim apenas por um mês de férias, mas depois apaixonei-me por um português e nunca mais saí da Guiné-Bissau”, contou à Lusa.
Foi na Pensão Central que recebeu, a 25 de Janeiro de 1975, os primeiros 75 cooperantes portugueses do pós-independência, a pedido do ministro da Educação guineense. Desde então, a avó Berta e a Pensão Central recebem com frequência cooperantes portugueses, nomeadamente de várias organizações não-governamentais.
Outra das particularidades da avó Berta é a de apenas sair uma vez por ano da pensão. A saída, com traje a rigor, acontece a 10 de Junho para comemorar o Dia de Portugal na embaixada portuguesa em Bissau. “Este ano vou sair duas vezes”, disse entre sorrisos.
Sobre as histórias que tem para contar, a avó Berta referiu que se emociona sempre muito, mas um dos “momentos mais felizes” foi a altura em que recebeu os primeiros cooperantes portugueses.
Hoje, depois de receber a condecoração, a avó regressa à pensão de onde só tenciona voltar a sair a 10 de Junho
2. Vd. também a recensão do livro do José Ceitil, feita na altura pelo nosso crítico literário Mário Beja Santos (**)
(...) "Para quem não sabe, a Pensão Central resistiu à guerra de 1963-1974, esteve sempre acima de todos os golpes de Estado, guerras civis e estados de sítio. Mesmo quando houve períodos de escassez de alimentos, o elementar não faltava na Pensão Central. Com a independência, a Pensão Central tornou-se um espaço de livre-trânsito para todos os cooperantes.
Quando ali aterrei em 1991, tanto podia almoçar com holandeses ligados a projetos de saneamento de água em Canchungo como peritos do Banco de Investimentos de África, como jantar com os portugueses da Medicina Tropical ou italianos do Fundo Monetário Internacional.
Naquele tempo ainda era possível atravessar meia Bissau a pé à noite, despedia-me da D. Berta e rumava para as instalações da CICER, era uma bela caminhada de quase dois quilómetros. Às vezes o Delfim Silva dava-me boleia, era encontros agradáveis sobretudo em noites sem lua. A D. Berta nunca me saiu do coração, estou em crer que nunca saiu da recordação de ninguém que comeu ou dormiu naquela pensão.
Uma vez, já em Dezembro de 1991, estava eu desesperado com a inércia a que chegara o projeto que me levara à Guiné (criação de uma comissão interministerial de defesa do consumidor, havia decisão do presidente Nino Vieira, o ministro português Carlos Borrego criara uma linha de financiamento para as instalações, eu conseguira encontrar uma técnica para coordenar a comissão com o perfil adequado, mas nada mexia, as nomeações não se faziam, não era possível obter a concordância para o início das obras das instalações, sitas no antigo Quartel General), e a D. Berta vendo-me à varanda abatido, chegou ao pé de mim e com voz consoladora, disse-me: “Vá lá, pense na Guiné, que o trouxe cá de novo, pense no bem da nossa gente, o que não sair perfeito hoje dar-lhe-á saudades para voltar mais tarde...”. E o meu estado de espírito mudou. Infelizmente, nada avançou, fizeram-se ainda uns programas televisivos, creio que tudo caiu no olvido." (...)
(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2012 >
Guiné 63/74 - P10798: Notas de leitura (439): "Dona Berta de Bissau", de José Ceitil (Mário Beja Santos)
3 comentários:
Pelo que eu já folheei", no espólio fotográfico da Dona Berta, parece não haver grandes (nem pequenas) visitas dos nossos senhores da guerra, do PAIGC, a seguir à independência... O mais provável era não haver "fotógrafos de serviço"... E nessa altura deixou de ser importante, para o PAIGC, a propaganda...Mas a Dona Berta, se se aguentou, durante os anos difíceis do pós-independência (incluindo a guerra civil de 1998/99), devia ser um "caso de estudo"... Não me consta que tenha sido condecorada pelo Governo guineense: afinal ela era cabo-verdiana e portuguesa...
Aqui almocei durante 25 anos.
Onde conversarmos diariamente.
O governo da altura, envia missões de de cooperates Cubanos e outros nacionalidades e no final não pagavam, ela vivia com dificuldades financeiras.
As "netas" ainda ficaram alguns tempos com a gestão, até que foram corridas.
As nossas historias...
De quem é esta "universidade privada" ?
A sua página é lacónica em informação:
Histórico
O Instituto Bissau International Management and Technology School (BIMANTECS) é um estabelecimento privado. O Bimantecs celebrará seus oito anos (8 anos) em 28 de setembro de 2021;
Foi fundada em 28 de março de 2013 e iniciou suas atividades no mesmo ano.
... A Dona Berta tinha morrido 3 meses antes.
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