
CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70
VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA
POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA
17 - COLUNA DE REABASTECIMENTO A S. JOÃO
Saída de uma coluna
Regresso da coluna
Chegada ao quartel
Sempre que estava presente em Nova Sinta e havia colunas de reabastecimento a S. João, eu fazia todas. As localidades distam cerca de dezoito quilómetros. Era sempre necessário picar a estrada para detetar e levantar minas e foram algumas que se conseguiram. Demorava algumas horas a percorrer a distância.
Numa dessas colunas chegamos a S. João ao final da tarde. Estacionamos as viaturas em local devido e preparamo-nos para comer a ração de combate.
O alferes do destacamento
veio falar comigo e muito gentilmente propôs para não comermos a ração e ofereceu uma
refeição quente, nada mais nada menos que um bacalhau com batatas, com a promessa da
minha parte de lhe devolver a quantidade de géneros utilizados. Oferta irrecusável. Lá
arranjei dois cozinheiros improvisados e que estiveram à altura da tarefa.
Depois da refeição
o pessoal preparava-se para ir dormir num colchão muito duro. Nada mais nada menos que
o estrado das viaturas, sem cobertores e sem mosquiteiros ficando à mercê dos mosquitos.
Só nesse momento me apercebi que os alferes e furriéis do pelotão, tinham ido para Bolama
atravessando o rio, bastante largo, num barco de fibra de vidro.
Eu lá fiquei a dormir junto dos soldados, naquele confortável colchão. O batelão que transportava a carga, estava previsto atravessar o rio, de Bolama para S. João, ao raiar da manhã. Creio que devido a questões de maré ou de segurança, a travessia foi antecipada. O alferes do destacamento recebeu uma mensagem de Bolama a informar o facto. Procurou-me e disse o que se estava a passar e que teríamos de ir fazer a segurança ao batelão. Acabou com o nosso repouso.
Eu lá fiquei a dormir junto dos soldados, naquele confortável colchão. O batelão que transportava a carga, estava previsto atravessar o rio, de Bolama para S. João, ao raiar da manhã. Creio que devido a questões de maré ou de segurança, a travessia foi antecipada. O alferes do destacamento recebeu uma mensagem de Bolama a informar o facto. Procurou-me e disse o que se estava a passar e que teríamos de ir fazer a segurança ao batelão. Acabou com o nosso repouso.
Acordei os 1.ºs Cabos e estes os restantes soldados. Lá fomos para a beira rio montar o
perímetro de segurança. Mais ou menos duas horas depois começamos a ouvir o motor do
barco. Chegado a S. João mantivemos o plano traçado.
Aos primeiros raios de sol começamos a tarefa de descarga e a carregar as nossas viaturas. Do alferes e dos furriéis nada. Efetuada a tarefa e enquanto esperávamos por eles, a maioria do pessoal aproveitou para se banhar no rio. Depois de ter suado na trasfega da carga, comecei a suar muito mais, desta vez com o nervoso miudinho. Numa viatura sentado em cima dos caixotes, perguntava a mim mesmo o que fazer.
Aos primeiros raios de sol começamos a tarefa de descarga e a carregar as nossas viaturas. Do alferes e dos furriéis nada. Efetuada a tarefa e enquanto esperávamos por eles, a maioria do pessoal aproveitou para se banhar no rio. Depois de ter suado na trasfega da carga, comecei a suar muito mais, desta vez com o nervoso miudinho. Numa viatura sentado em cima dos caixotes, perguntava a mim mesmo o que fazer.
Entretanto o alferes do destacamento veio informar, que o motor
do barco que os levou para Bolama tinha avariado e que o capitão daquele quartel não
autorizava a cedência do barco deles. Enviar uma mensagem para Nova Sintra a informar o
que se estava a passar e pedir instruções? Isso iria de certeza criar problemas disciplinares
aos fugitivos.
Aguentei mais duas horas. Suava por todos os lados, até que ouvi o barulho
do motor. Eram eles. Chegados, não houve tempo para conversas e iniciamos o regresso,
sem que a estrada fosse novamente picada, o que era um risco muito grande. Chegamos bem
ao destino. O alferes teve o bom senso de ir informar o capitão do que se tinha passado e o
assunto morreu aí, salvo eventual raspanete.
Mas a história não acabou aqui, é que dois soldados também foram para Bolama e por lá adormeceram numa qualquer tabanca e ficaram. As férias antecipadas custaram-lhes sanções disciplinares
18 - COLUNA A S. JOÃO EM 08/12/69
A determinada altura a coluna parou. Foram verificados vestígios da passagem de elementos do PAIGC, tendo sido de imediato iniciada uma incursão na mata, para ver o que se passava. Ouviu-se um rebentamento. Fora acionada uma mina antipessoal, por um soldado da CCAV 2482, cujo pelotão estava destacado, temporariamente, em Nova Sintra.
De imediato foi pedida a evacuação e iniciada a preparação para a sua efetivação e na qual participei. Foi encontrada uma clareira na mata, mas mesmo assim foi necessário desmatar à catanada, mais alguma vegetação.
O helicóptero começou a sobrevoar o local e o piloto exigiu que a clareira tinha de ser alargada e devidamente sinalizada. As catanas voltaram à ação. Como sinalização tive uma ideia que foi posta em prática. Coloquei no centro do local de aterragem, duas t-shirts brancas, uma que levava vestida e outra que levava na viatura para servir de pijama, que foram cravadas ao solo com umas pequenas estacas.
Assim o helicóptero pousou em segurança e consumada a evacuação.
19 - COLUNAS DE REABASTECIMENTO A LALA
Lala é um local situado à beira de um rio, sem qualquer tipo de cais de acostagem, onde só iam as LDM que quase encostavam à margem, tendo as descargas de ser feitas rapidamente, conjugadas com as marés, para evitar que na maré baixa ficassem assentes na terra, correndo o risco de serem flageladas.
No final do trabalho toda a malta aproveitava para dar uns mergulhos e braçadas no rio.
(continua)
_____________
Nota do editor
Último post da série de 8 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26664: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (6): Pelotão de Caçadores Nativos 56 - Primeira vez debaixo de fogo e Emboscada virtual
Mas a história não acabou aqui, é que dois soldados também foram para Bolama e por lá adormeceram numa qualquer tabanca e ficaram. As férias antecipadas custaram-lhes sanções disciplinares
18 - COLUNA A S. JOÃO EM 08/12/69
Estrada Nova Sintra – S. João
Regresso à saída de S. João
Cais de S. João. Do outro lado é Bolama
A determinada altura a coluna parou. Foram verificados vestígios da passagem de elementos do PAIGC, tendo sido de imediato iniciada uma incursão na mata, para ver o que se passava. Ouviu-se um rebentamento. Fora acionada uma mina antipessoal, por um soldado da CCAV 2482, cujo pelotão estava destacado, temporariamente, em Nova Sintra.
De imediato foi pedida a evacuação e iniciada a preparação para a sua efetivação e na qual participei. Foi encontrada uma clareira na mata, mas mesmo assim foi necessário desmatar à catanada, mais alguma vegetação.
O helicóptero começou a sobrevoar o local e o piloto exigiu que a clareira tinha de ser alargada e devidamente sinalizada. As catanas voltaram à ação. Como sinalização tive uma ideia que foi posta em prática. Coloquei no centro do local de aterragem, duas t-shirts brancas, uma que levava vestida e outra que levava na viatura para servir de pijama, que foram cravadas ao solo com umas pequenas estacas.
Assim o helicóptero pousou em segurança e consumada a evacuação.
19 - COLUNAS DE REABASTECIMENTO A LALA
Lala é um local situado à beira de um rio, sem qualquer tipo de cais de acostagem, onde só iam as LDM que quase encostavam à margem, tendo as descargas de ser feitas rapidamente, conjugadas com as marés, para evitar que na maré baixa ficassem assentes na terra, correndo o risco de serem flageladas.
No final do trabalho toda a malta aproveitava para dar uns mergulhos e braçadas no rio.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 8 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26664: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (6): Pelotão de Caçadores Nativos 56 - Primeira vez debaixo de fogo e Emboscada virtual
4 comentários:
Aníbal, cada companhia tem o seu cronista. Tu és o cronista dos "Cavaleiros de Nova Sintra". E está mais que aprovado. Tenho adorado ler as tuas crónicas. E nesta coluna logística a São João, frente a Bolama, e eu revi também o filme das que fiz, no penoso tempo das chuvas, de Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho, 60 km que levavam um dia inteiro...
Bem vistas as coisas, gastavamos uma energia do caraças a abastecermo-nos uns aos outros...Que guerra "divertida", a nossa!... Boa e santa Páscoa. Daqui de Candoz (Marco de Canveses), com um teleabraço fraterno (ainda haveremos de dar um ao vivo!|). Luís
Olhem-me esse capim medonho com quase 3 metros de altura, estrangulando o trilho!... Parece que já ninguém se lembra destes "campos de trigo" semeados por um irã gigante... Passava-se na picada por ele, com o "cu apertadinho" e de dedo no gatilho...
O chão de S. João também eu pisei. Em meados de outubro de 1969 as Ccaç 13 e 14 andaram praticamente durante uma semana em operações ao lado do itinerário S João - Nova Sintra.
Grande abraço
Eduardo Estrela
Muitas vezes patrulhei a picada São João/Nova Sintra (Nov71/Dez/72) onde havia um fornilho plantado por um Furriel vindo de Bolama. Na altura eram poucas as colunas de abastecimento vindas de Nova Sintra.
Abraço transatlántico.
José Câmara
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