sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21522: FAP (124): A batalha das Colinas de Boé, ou a tentativa (frustrada) dos cubanos de fazerem de Madina do Boé o seu pequeno Dien Bien Phu (Abril-julho de 1968) - III (e última) Parte (José Nico, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1968/70)






Fotogramas do filme "Madina Boe" (Cuba, 1968, 38'), do realizador José Massip (1926-2014), obtidas a partir da função "print screening" do teclado do PC e da visualização de um resumo, em vídeo (28' 22'') , disponibilizado no You Tube, na conta "José Massip Isalgué".

O documentário foi carregado no You Tube no dia da morte do cineasta (ocorrida em Havana, em 9/2/2014): é narrado em espanhol, tem subtítulos em espanhol, mas também pequenos diálogos em crioulo e em português (por ex., com o médico dr. Mário Pádua, angolano branco, oficial do exército português, de que desertou, tendo saído de Angola para se juntar mais tarde ao PAIGC). 

Há sequências de cenas que vão da preparação militar a saídas para atacar o quartel de Madina do Boé, em novembro de 1967,   da caça às refeições, das jogatanas de futebol ao quotidiano do hospital de Boké, do outro lado da fronteira, na Guiné-Conacrinfim, até a uma visita de Amílcar Cabral às "tropas em parada"...

Enfim, Cuba não mandou, para o PAIGC, apenas instrutores, conselheiros militares e médicos, mandou também cineastas com o talento de um José Massip. Até nisso Amílcar Cabral foi hábil, soube pôr o cinema e os cineastas de vários países ao seu lado, contrariamente aos políticos e generais portugueses do Estado Novo... que escondiam ao povo a guerra que se travava em África, nomeadamente na Guiné. Para vergonha nossa, o cinema português não tem um único filme com a assinatura de um cineasta de prestígo sobre a guerra na Guiné (1961/74).

Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > Pasta: 07057.011.002 Material chegado da URSS no barco Kardla (armamento). Inventário do material com data de 24 de Agosto de 1967. Camiões Gaz 66, metrelhadoras pesadas, canhões sem recúo B-10, morteiros, balas, obuzes, miras telescópicas para espingardas. Data: Terça, 18 de Julho de 1967.

Citação:
(1967), "Material chegado da URSS no barco Kardla", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41012 (2020-11-6)



1. Continuação da publicação de um notável texto, da autoria do José Nico, em que se conta É a guerra, na primeira pessoa no singular, tendo como cenário Madina do Boé e as suas colinas circundantes, entre abril e julho de 1968.

Esse texto apareceu originalmente no nosso blogue, em 30 de abril de 2018 [e foi parcialmente reproduzido no seu livro "A Batalha do Quitafine", lançado em plena pandemia de Covid-19: esgotada a 1ª edição, tem já 2ª edição à vista (*)].

Por ser demasiado extenso e ter surgido num único poste (**), decidimos reeditá-lo agora, por partes, com a expressa autorização do autor. Hoje publicamos a terceira (e última) parte (**).

É uma homenagem também aos bravos de Madina do Boé, tanto do Exército como da FAP. Madina do Boé que, como se sabe, viria depois a ser retirada, no ano seguinte, em 6 de fevereiro de 1969, por decisão do Com-Chefe, gen Spínola.

[Título, revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação neste blogue, em três partes, da responsabilidade do editor LG]



A batalha das Colinas de Boé, ou a tentativa (frustada) dos cubanos de fazerem de Madina do Boé o seu pequeno Dien Bien Phu (Abril-julho de 1968) 

III (e última) Parte  (***)


A infantaria da Força Aérea [, o BCP 12, ] também lá esteve 
(Operação Diana)


A continuação das flagelações e depois os tiros com armas de precisão [, equipadas com miras telescópicas],  procurando causar baixas na guarnição de Madina do Boé,  sugeriu também, na fase que se seguiu às acções atrás descritas, a utilização de meios terrestres da Força Aérea. 

O comandante do batalhão de paraquedistas n.º 12, na altura o ten cor pqdt Fausto Marques, deslocou-se a Madina do Boé para perceber melhor a natureza do problema e engendrar um plano de acção. 

Com base nos elementos colhidos concluiu que só a surpresa poderia garantir resultados, visto que tudo apontava para que o aquartelamento estivesse sob observação permanente a partir da vizinha encosta do Dongol Dandum.

Por essa razão foi iniciado o transporte diário em DO-27, directamente de Bissalanca para Madina, de equipas de 4 paraquedistas, simulando voos de rotina. Para encobrir a chegada deste pessoal, o avião aterrava de Este para Oeste e, quando dava a volta no fim da pista para se dirigir à entrada do aquartelamento (a meio da pista), parava por momentos para deixar sair os quatro homens que se embrenhavam na mata próxima. 

Estes voos começaram no dia 11 de Julho e terminaram no dia 15 de Julho de 1968 quando o efectivo do grupo de combate comandado pelo tenente pqdt José Manuel Gomes chegou aos 20 elementos.

A missão que lhes foi atribuída rezava assim:

1 - Reconhecer com efectivos reduzidos, evitando a todo o custo o contacto com elementos inimigos ou população, os trilhos que levam às posições de flagelação inimigas.

2 - Efectuar emboscadas nos pontos que o inimigo costuma ocupar para flagelar com armas ligeiras a população de Madina e os movimentos na pista de aterragem.

3 - Emboscar o inimigo nos itinerários de acesso às suas posições, aniquilando-o e capturando o material.

4 - À ordem armadilhar as pontes do rio Capege e Mael Bane
.

A orientação táctica foi para efectuar o reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na medida em que o grupo de combate fosse engrossando. As saídas deviam ser executados principalmente à noite, aproveitando a fase da lua, e durante o dia o pessoal devia manter-se escondido e em repouso. 

Depois de reconhecidos os trilhos que o inimigo utilizava nos seus movimentos,  deviam então ser montadas emboscadas nos locais mais prováveis de passagem.

Logo no segundo dia [, sexta-feira, 12 de julho de 1968,] foi efectuado um reconhecimento ao alvorecer em que foram empenhados os primeiros quatro paraquedistas que haviam chegado no dia anterior, apoiados por um grupo de combate da CCaç 1790. 

Nesta saída o inimigo, atento a todos os movimentos, bem instalado no balcão do Dongol Dandum, flagelou o grupo de três direcções, com um efectivo estimado em cerca de vinte elementos, tendo ferido um guia nativo. 

A intenção era reconhecer a área no topo Oeste da pista mas por causa deste ataque tiveram de inflectir para Este, depois prosseguiram para Norte e a seguir voltaram para Oeste atravessando a picada para o Che-Che em direcção a uma pequena elevação conhecida como “Colina de Madina” [vd. carta de Sabiá, 1959, escala 1/50 mil: circundava Madina do Boé, a noroeste].

Por informação da CCaç 1790,  esta zona era por vezes utilizada pelos guerrilheiros que até já teriam sido atingidos por uma salva de morteiros e sofrido baixas. De facto, descobriram os impactos das granadas de morteiro e raminhos partidos com vestígios de sangue. 

Para além disso, o terreno amplo e aberto tinha boas condições para se montar uma emboscada. Depois de reconhecerem toda a zona subiram a vertente Oeste do Dongol Dandum, desceram pela vertente contrária e acabaram por regressar ao aquartelamento vindos de Este.

No terceiro dia [, sábado, 13 d3 julho de 1968,] foram empregues os oito paraquedistas que já estavam disponíveis. Para efeitos de dissimulação integraram-se novamente num grupo de combate da CCaç 1790 que ia apanhar lenha nas imediações da picada para o Che-Che. 

Depois seguiram para Leste até ao rio Barquege (a 1,5 Km) tendo encontrado posições de morteiro a cerca de 1 Km do aquartelamento. Nesta e nas restantes saídas houve problemas com os guias [7] porque eles sabiam perfeitamente por onde os guerrilheiros andavam, tinham medo e também tinham um grande receio do escuro da noite.


O truque de falha do gerador


No quarto dia [, domingo, 14 de julho de 1968,] saíram, às 02h00, 12 paraquedistas que foram montar a primeira emboscada junto às posições de flagelação que tinham sido reconhecidas no dia anterior. Por recomendação do pessoal da CCaç 1790,  foi simulada uma falha do gerador eléctrico para encobrir a saída. 

Em Madina, quando falhava o gerador ficava tudo às escuras até que a iluminação voltasse a ser reposta. O mais preocupante era a perda da iluminação do perímetro de segurança, balizado com arame farpado, e por isso era usual os sentinelas dispararem algumas rajadas para o exterior no sentido de dissuadir eventuais tentativas de infiltração. 

Como havia necessidade de encobrir a saída dos paraquedistas,  foi sugerido ao ten pqdt Gomes que fosse simulada a falha do gerador para confundir os olheiros do PAIGC. E foi assim, com as luzes apagadas e os sentinelas ao tiros para o Dongol Dandum, que os 12 homens do ten Gomes afastaram o cavalo de frisa que dava acesso à pista e esgueiraram-se para a direita na direcção Leste. 

Pouco depois chegaram ao local pretendido onde montaram uma emboscada mas o inimigo não se revelou até ao alvorecer. No regresso, já dia claro, foram flagelados com armas ligeiras a partir da encosta do Dongol Dandum quando entravam no aquartelamento. 

Até esse momento, dado que nos primeiros dois dias as saídas foram feitas juntamente com pessoal de Madina e desta vez fora aplicado o “truque do gerador”,  o inimigo nunca se terá apercebido da presença de outras forças pelo que a vantagem da surpresa ainda se mantinha.

No quinto dia [, segunda feira, 15 de julho de 1968,] a acção anterior repetiu-se, desta vez com dezasseis paraquedistas, e o local escolhido para a emboscada foi entre o topo da pista e a Colina de Madina na zona que tinha sido reconhecida no segundo dia. No entanto, dessa vez também não houve contacto e o grupo regressou a Madina já o sol ia alto.


Finalmente a surpresa resultou


No sexto dia [8], 16 de Julho de 1968 [, terça feira,]  sairam pelas quatro horas da manhã dezoito paraquedistas que rodearam o Dongol Dandum por Leste, seguiram depois pelo vale do rio Barquege e foram aquietar-se na encosta Sul, um pouco a Norte da antiga tabanca de Sebere Dandum [, vd. carta de Madina do Boé, 1958, escala 1/50 mil]

Foi nessa posição que às oito horas da manhã ouviram o tiroteio de uma flagelação a partir da encosta Leste. O ten pqdt Gomes deu então instruções para o grupo abandonar a posição e subir para Norte até encontrar o carreiro da guerrilha que levava à vertente Leste. 

A deslocação foi inicialmente complicada pela reacção do guia nativo que os acompanhava dessa vez e que, transido de medo, se recusou a prosseguir. Teve que ser deslocado para o fim da coluna onde ocupou a última posição e na prática passou a ser rebocado pelo último paraquedista.

Ao chegarem ao trilho, a meia encosta, procuraram rapidamente uma zona que proporcionasse um campo de tiro e montaram um dispositivo em L invertido em que a perna maior, com dez paraquedistas, se estendia a subir ao longo do trilho e a menor 90º à direita, de frente a uma pequena clareira. Numa posição recuada em relação à perna maior ficaram o 1.º Cabo Enfermeiro Giroto e o homem do rádio.

Poucos minutos depois avistaram os primeiros guerrilheiros que desciam a encosta completamente descontraidos e na galhof
a [9] mas apenas cinco entraram na zona de morte que era pequena. Os paraquedistas viram-se obrigados a abrir fogo porque o guerrilheiro que seguia à frente já estava apenas a quatro metros de distância. 

Como este trazia a Kalashnikov em bandoleira, não foi o primeiro a ser abatido, foi o segundo da fila que trazia binóculos ao pescoço [10] e a arma em posição de fogo. Só depois o fur pqdt Capucho atingiu o primeiro homem da fila. 

A disciplina de fogo,  que era um dos pontos fortes das tropas paraquedistas, ao contrário do que sucedia com a generalidade das nossas forças na Guiné, funcionou aqui em pleno mais uma vez. O terceiro homem da fila, abatido pelo soldado José Santos, caíu a cerca de seis metros da emboscada. O quarto também foi atingido e foi nessa altura que o quinto guerrilheiro o tentou auxiliar,  tendo chegado a arrastá-lo de nível na clareira, vários metros para Oeste, ao mesmo tempo que os restantes elementos do grupo,  que ainda se encontravam encobertos pela mata, abriram fogo ao longo do trilho na direcção dos paraquedistas. 

No entanto esses dois guerrilheiros não conseguiram escapar porque o 2.º srgt pqdt  Lança movimentou rapidamente a sua equipa de modo a conseguir posição de fogo e acabaram abatidos também mas não conseguiram alcançar os corpos para lhes retirar as armas. 

Do lado dos paraquedistas,  a reacção cega do inimigo provocou duas baixas: o ten Gomes foi ferido numa perna assim como o apontador da MG 42, 1.º cabo Cabaço, que se encontrava ao seu lado.

 
Guiné > Região de Gabu > Setor de Boé > Madina do Boé > 16 de Julho de 1968, terça feira,  emboscada pós-ataque do PAIGC a Madina, levada a cabo por um Gr Cm do BCP 12, comandado pelo ten pqdt José Manuel Gomes

Infografia: José Nico / José Aparício (2018)


Com dois feridos,  e com um número indeterminado de guerrilheiros em posições mais elevadas,  não foi possível explorar melhor o sucesso mas a equipa do 2.º srgt Lança encontrou rastros de sangue ao longo da mata de onde o grupo inimigo tinha surgido. 

Nas circunstâncias foi necessário quebrar o contacto para trazer os feridos imediatamente para Madina e evacuá-los. No entanto o grupo ainda foi flagelado sem consequências, desta vez de um ponto mais para Sudoeste da zona. A retirada fez-se para Este, mantendo o nível da meia encosta e foi protegida com alguns disparos para as matas mais acima. 

O ten Gomes teve que ser amparado por outro paraquedista e o 1.º cabo Cabaço,  que estava em pior estado, foi carregado por dois companheiros. Ao aproximarem-se de Madina começaram a avistar pessoal da CCaç 1790 que tinha saído do aquartelamento e se dirigia ao seu encontro na tentativa de dar apoio.

José F. Nico
Gen Pilav



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Boé > Madina do Boé > 16 de julho de 1968 > "Coube-me a mim efectuar a evacuação dos dois feridos. Comigo viajou o ten cor pqdt Fausto Marques [, cmdt do BCP 12], e por um feliz acaso alguém fez uma foto do DO-27 3460 aterrado na pista de Madina onde eu, o ten pqdt Gomes e um soldado da CCaç 1790 aparecem. É a única prova que ainda tenho de que alguma vez estive no "Algarve na Guiné”.


Fotos (e legendas): © José Nico (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

____________
 
Notas do autor: 

[6] - Testemunho do ex-comandante da Ccaç 1790, actual ten cor inf (R) José Aparício,  após uma visita à Guiné em 1994:

(...) “Regressados a Madina,  visitámos os montes circundantes de onde éramos atacados. Constatei que a quadrícula alfa numérica que utilizávamos estava correcta, e os vários pontos eram efectivamente as bases de fogo que referenciámos na quadrícula.

Um dos elementos que nos acompanhava, e que desempenhava as funções de governador do Gabu, mas que nos tempos da nossa permanência pertencia às forças do PAIGC estacionadas na zona, pediu-me para o seguir sozinho, que me queria mostrar um local; pediu-me para não tirar fotografias e não falar do assunto aos jornalistas e operadores de imagem que nos acompanhavam, o que cumpri, 
naturalmente. 

Chegados ali, na contraencosta de um dos montes à volta de Madina, na direcção (E), mostrou-me o local onde foram enterrados os mortos do PAIGC na zona, descrevendo-me a maneira como enterraram os corpos. Quem ficou constrangido e embaraçado pela situação, fui eu, e por respeito não ousei voltar a olhar com insistência para o espaço e estimar o número de sepulturas, mas que eram muitas. 

Na longa conversa que ali mantivemos, referiu-me os ataques aéreos de 9 e 10 de Abril de 1968 confirmando o juízo que ao tempo tínhamos formulado das circunstâncias de então. Falou-me também das dificuldades que tinham nas evacuações de feridos, já que os hospitais de que o PAIGC dispunha na região com médicos cubanos, se encontravam longe, em Boké a (S) e Kundara a (N). As forças do PAIGC à volta de Madina tinham enfermeiros cubanos, que nos dias dos citados ataques se viram ultrapassados pela situação, passando toda noite a pedir auxílio para transportar os muitos feridos existentes, o que foi ouvido em Madina.” (...)

[7] - Os guias nativos eram soldados do recrutamento local que estavam agregados às companhias metropolitanas. Eram necessários não só porque conheciam o terreno mas também porque eram os intérpretes quando eram feitos prisioneiros ou se encontrava população.

[8] - 16 de Julho de 1968, terça feira.

[9] - Faziam aquilo praticamente todos os dias.

[10] - O homem dos binóculos (e com um relógio russo) era um cabo-verdiano que declarou ser o chefe de um grupo de sete elementos que efectuava as flagelações com armas ligeiras a Madina. Faleceu alguns minutos depois.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

23 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21003: Agenda cultural (748): "A Batalha do Quitafine", de José Francisco Nico, Ten-General PilAv. O livro pode ser adquirido através do endereço "batalhadoquitafine@sapo.pt" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA)

30 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21023: Notas de leitura (1286): "A batalha do Quitafine: a contraguerrilha antiaérea na Guiné e a fantasia das áreas libertadas", edição que acaba de sair do antigo ten pilav José Nico, BA 12, Bissalanca, 1968/70

3 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21512: Agenda cultural (761): dentro em breve, a 2ª edição de "A Batalha do Quitafine" (2020, 384 pp.). Aceitam-se encomendas "on line" (José Nico, ten gen pilav)


(**) Vd. poste de 30 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18585: FAP (103): Pedaços das nossas vidas (3): Madina do Boé, "O Algarve na Guiné", por TGeneral PilAv José Nico (José Nico / Mário Santos)

(***) Vd. postes anteriores da série:

4 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21514: FAP (123): A batalha das Colinas de Boé, ou a tentativa (frustrada) dos cubanos de fazerem de Madina do Boé o seu pequeno Dien Bien Phu (Abril-julho de 1968) - Parte II (José Nico, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1968/70)

3 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21510: FAP (122): A batalha das Colinas de Boé, ou a tentativa (frustrada) dos cubanos de fazerem de Madina do Boé o seu pequeno Dien Bien Phu (Abril-julho de 1968) - Parte I (José Nico, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1968/70)

25 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Um plano temerário mas corajoso, esta Op Diana, que merece ser conhecida e estudada por quem se interessa pela guerra de guerrilha e contra-guerrilha. Gostavamos de conhecer mais detalhes.

Quanto aos "snippers" do PAIGC... O assunto está pouco ou nada ilustrado no nosso blogue. Houve camaradas alvejados por "atiradores especiais", nomeadamente em Madina do Boé. Não sabemos se também noutros sítios...

O tema merece mais desenvolvimento.

Valdemar Silva disse...

Esta questão sobre Madina do Boé e de toda aquela região além Corubal até à fronteira é muito interessante.
Quando se fala sobre a guerra na Guiné, aparece logo 'fosga-se aquilo em Madina Boé era do caraças'. Realmente foram anos de muito difíceis para a NT, acabando com a retirada/abandono de toda aquela região e o infeliz desastre com muitas mortes por afogamento.
Depois, punha-se outra questão de ser uma 'zona libertada' ou uma 'zona de ninguém', mas de facto nunca mais voltou a haver administração portuguesa na região e nem sequer se imaginava a hipótese de voltar a haver.
Noutra zona também difícil, a zona sul e Ilha do Como, foi organizada uma operação militar de grande envergadura expulsando o IN e fixando a NT na região.
Qual teria sido a razão para não ter sido feito a mesma acção no zona do Boé?
Agora, como que a formatar uma historiografia aparece a 'tentativa (frustrada) dos cubanos fazerem de Madina do Boé o seu pequeno Dien Bien Phu', embora já tivesse sido explicado num comentário 'Não tinha (nem tem) semelhança alguma: nem orográfica nem estratégica'.
Mas, não há dúvida nenhuma que para todos nós que estivemos na guerra da Guiné ficará sempre na nossa ideia 'fosga-se aquilo em Madina Boé era do caraças'.
Com todos estes nossos testemunhos, não sabemos, ao certo, qual a ideia formada naqueles que já não fora pra guerra e a geração seguinte, sobre a realidade da guerra na Guiné.

Abracelos
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como diria o nosso Tó Zé, foi uma "guerra a petróleo"... Nem artilharia havia!...

Madina foi retirada "just in time". Mal ou bem, não interessa... Mas não apanhou com o morteiro 120 nem com os foguetões 122 mm... Nem o Zé Nico tinha que fintar os "strela"...

Antº Rosinha disse...

Apreciei sobremaneira o vídeo no You Tube, na conta "José Massip Isalgué".

Sob o "ponto de vista" dos Caboverdeanos do PAIGC, sobre Amílcar Cabral.

Em que projectam a figura de Amilcar Cabral, não apenas sobre a Guiné e Caboverde, mas sobre toda a África, em crioulo de Caboverde, em português, francês e inglês.

Já ouvi e li quase tudo sobre Amilcar, mas nunca tinho visto este vídeo, em que o PAICV continua a tentar projectar a sombra de Amílcar sobre toda a África.

Estou convencido que se não fosse o insucesso governativo da Guiné Bissau, e se também demorasse um pouco mais a vinda da perestroica, a fama de Amílcar tinha chegado mais longe do que chegou.

E sobre o material de guerra da União Soviética para Bissau, o esforço continuou e acelerou após a independência, com muito pessoal e material mesmo ao nível de aviões MIG.

É sem dúvida que graças à figura (convincente)de Amílcar, que o entusiasmo dos soviéticos por Bissau e até por Angola, não diminuiu.

Claro que também deve ter contribuido o PCP que estava bem representado em Moscovo.

De notar no vídeo que o PAICV tenta sobrepôr a doutrina "Cabralista" o Cabralismo, ao Marxismo e ao Leninismo.

Ai! os bauxites do Boé! foi tudo uma adrenalina danada.

E mudando de assunto, os nossos pilotos de aviões e helicópteros, quando acabou a guerra e ficaram alguns sem emprego, a maioria foi para o Brasil, nessa altura em grande desenvolvimento, criaram uma concorrência aos pilotos brasileiros, que houve uma revolta destes tal qual como com os dentistas em Portugal passados uns anos.






Abilio Duarte disse...

Oh Valdemar,
Pelos vistos, estás bem, ainda ontem estive a falar com o Cunha, e ele perguntava por ti, pois não conseguia te falar.

Pronto continuas aí para as curvas dentro do possível.

Nestes relatos sobre Madina, tenho a dizer, que apeasr de termos chegado á Guiné em FEV.69, nunca tinha ouvido, que tal zona, era o Algarve da Guiné, antes pelo contrário, era o Biafra da Guiné.

Abraço, e cuida-te

Abílio Duarte

Manuel Carvalho disse...

Caros camaradas

A propósito dos snippers em Madina do Boé conheço alguém da 1790 e como é natural falamos muitas vezes sobre a Guiné e sei que pelo menos uma vez no tempo deles foi atingido um rapaz civil com um tiro no pescoço. Como e distância era muita a bala entrou e não saíu. Isto aconteceu á noite pelo que já não foi possível fazer a evacuação e aguentaram o rapazinho toda a noite e de manhã cedo foi evacuado e parece que sobreviveu. Mas era muito frequente tiros isolados que alguns sentiram a assobiar perto das orelhas. Agora imaginem nestas circunstâncias quem se atreve a vir passear para a esplanada, um ou outro maluco ou então quando tinha mesmo de ser. Uma coisa é nós ouvirmos uma saída e termos poucos segundos para saltar para uma vala ou entrar num abrigo outra é levar com um tiro direto.
Quanto ás zonas libertadas isso é uma treta. é como os putos a jogar á bola na rua antigamente vinha a polícia fugia tudo a polícia ia embora começava o jogo outra vez e aquilo só tinha fim quando um desistia e o que desistia era quase sempre o mesmo.

Um abraço

Manuel Carvalho

Anónimo disse...

António Rosinha
Em relação aos pilotos que fazes referência, penso que os brasileiros ficaram a ganhar, eu explico porquê: enquanto a TAP deu muitos negas aos pilotos portugueses que fizeram a guerra no ultramar, Sobretudo a quem foi piloto de helicópteros mas não só.Porque o stress, desgaste/fadiga denunciado aquando dos testes para entrada quando se concorria á TAP era patente.Ao contrário os pilotos brasileiros que entraram na TAP e fizeram carreira não tinham estes problemas.
Saudaçõea e um abraço
Carlos Gaspar ex-FAP

Anónimo disse...

Manuel Carvalho gostei do teu comentário sobretudo da comparação dos putos a jogarem à bola e a polícia.No fundo já era um treino de resiliência muito útil para a nossa vida adulta, que começava bastante cedo.
Abraço
Carlos Gaspar

Valdemar Silva disse...

Duarte
Obrigado pela preocupação.
Pois, o Cunha ligou e eu não atendi por vir de carro duma visita ao Centro de Saúde. Por acaso não consegui consulta por ir de viseira, não consigo respirar com a máscara, e o seguritas muito ríspido 'eh, não pode entrar sem máscara'. Levou com um 'eu sofro de dpoc, não falas assim comigo e chama o sr. director', trateio logo por tu para se acalmar. Chegou o sr. director que me deu um conselho mais calmo 'então você com dpoc nem devia sair de cas, depois enviou-lhe por email as receitas do oxigénio'.
Tá bem, pensei eu, se tivesse ouvidos para ouvir as balas a sair da arma dum snipper e ainda ter tempo para acender um cigarro, nunca tinha vindo a esta consulta. Tinha ido para o Circo de Monte Carlo.
Quanto a Madina, aquela do Algarve era parecida com a das Termas de Canquelifá, só faltava uma do género Quinta de Piche dop 1969.

Abraço e cuidado com o bicho
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís Graça (por email)

Camaradas da FAP

Gostava que (re)lessem e comentassem... Abracelos... Luís

7 niov 2020 18h57

Anónimo disse...

ManuelPeredo (por email)
2
7 nov 2020 1:19

Luís Graça,obrigado pela sugestão.

Esta manhã li uma parte e agora li o resto. O resultado talvez seja passar uma noite a pensar nos sustos que apanhei na Guiné, principalmente em Gadamael.

Boa noite.

Anónimo disse...


António Matos (po email)

7 nov 2020 22:12


Madina do Boé era uma zona inóspita, tanto para nós, como para o PAIGC.

O construir aquartelamentos naquela região tinha a ver com a errada estratégia da altura, de tentar ocupar todo o espaço físico da Guiné, “um aquartelamento em cada esquina”.

As Chefias cedo verificaram que, aparte aqueles Portugas desterrados lá no fim do mundo, ninguém vivia por aquelas bandas.

A retirada foi apenas o resultado dessa evidência. O infeliz acidente do Cheche serviu para dar àquela zona uma aura de “terras do demónio”.

Entre 1972 e 1974 nunca fiz qualquer missão para aqueles lados, vou repetir o que afirmei, era uma zona com … ninguém.

Quanto à ideia de Madina do Boé ter sido um pequeno “Dien Bien Phu”, fez-me sorrir, a lembrar-me das guerras do Solnado.

Querem encontrar na Guiné algo parecido com o “Dien Bien Phu”?

O Guidage, em Maio73, a guerra a um nível nunca antes atingido.

Nos vinte dias em que o aquartelamento esteve cercado, as nossas forças sofreram trinta e nove mortos e cento e vinte e dois feridos. Do lado do nosso inimigo não se sabe mas, segundo um distinto membro do PAIGC, parece que ninguém se aleijou. Feitios!

No final… ganhámos nós.


Abraço

AMM

Anónimo disse...


Paulo Raposo
7 nov 2020 23:08

Olá amigos.
Alf. Paulo Raposo
Ccaç 2405
Guiné 1968/70

Tomei parte na operação de evacuação do quartel de Madina do Boé.
Foi o meu grupo de combate a fechar a coluna da evacuação.
E passei o Rio Curobal na travessia anterior à da jangada em que morreram afogados 45 bravos: 15 da minha companhia, 5 nativos e o restante da Companhia do Zé Aparício.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Curiosamente, a decisão de transferir a CCAÇ 1790 e, portanto, desactivar Madina do Boé, já estava tomada pelo Com-Chefe em 8 de junho de 1968... Porquê a Op Diana, um mês depois ? Para testar o PAIGC ? Dar-lhe uma lição ?...

Vale a pena falar desta directiva... proximamente.

Anónimo disse...


Rui Felicio (por email)
7 nov 2020 23:49


Sem ainda ter lido com atenção devida o extenso post em epigrafe, talvez por isso não tenha entendido a aparente incongruência de datas entre a operação de julho de 1968 e a data da retirada das NT de Madina do Boé [6 de fevereiro de 1969]que culminou com o fatidico desastre do Corubal em que perdi 1 furriel e 12 soldados do pelotão que eu comandava.

E a minha estranheza resulta do facto de o quartel de Madina do Boé ter ficado deserto e fortemente armadilhado na véspera.

Rui Felicio
Ex Alf.Mil.Inf.
CCAÇ 2405

Manuel Carvalho disse...

Meu caro Valdemar quando falei de saídas estava a falar de morteiradas e essas até davam para ouvir muitas vezes, acender o cigarro e tirar uma puxa, mas não era para todos. Os pensamentos nesses momentos normalmente eram outros como bem sabemos.

Um abraço e as tuas melhoras

Manuel Carvalho

Valdemar Silva disse...

Caro Manuel Carvalho.
Obrigado pelo teu cuidado.
Evidentemente que estava a brincar com quem te contou aquela história, que nem na "5ª REP" seria possível ser contada sem haver alguém dizer 'conta lá essa da bala perder a força e ficar no pescoço do djubi?'. Com certeza que haveria alguém a dizer se o puto estivesse uns metros mais para traz apanhava a bala à mão.
Outra coisa eram as morteiradas, mas só dava para perceber quando disparados no início do ataque, depois a barulheira era tal que já tinhas que estar na vala ou abrigo para melhor segurança.
Aquilo é que foram tempos, já lá vão mais de 50 anos.
Um abraço e cuidado com a bicharada
Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Fernandes disse...

Até eu me admiro de mim:-Nunca ter sido um guerreiro, nem antes nem depois da minha passagem pela guerra na Guiné, anos de 1973/74, onde também me calhou ter que fazer dezenas de escoltas e patrulhamentos de reconhecimento ofensivo, em terrenos de contacto iminente, na Região de Cacheu, nas matas do Churo, do mítico Balenguerez até às barbas da tenebrosa Caboiana, ter estado mais de 40 anos de costas voltadas para esse passado, como acto de intencional desprezo e esquecimento e agora, ler e seguir com todo o interesse relatos de episódios dessa guerra, como por exemplo este, abordado no P21522 com o reporte do Gen.Pilav José F.Nico, acerca de alguns combates que ocorreram em 1968 na região de Madina do Boé.

O que mais prendeu a minha atenção, foi o plano estudado pelo Com. do BCP12, Ten.Cor, pqdt Fausto Gomes para responder a uma situação concreta, com objectividade e eficácia. Já o desempenho do grupo de combate comandado pelo ten pqdt José Manuel Gomes, apesar de toda a preparação operacional, me pareceu não ter sido perfeito. Terá havido pressa nos resultados, por cansaço? para quê os guias se só atrapalhavam? afinal a área a reconhecer e a patrulhar nem era assim tão extensa e havia cartas militares do terreno, documentadas com localizações das flagelações in.

Isto não é nenhum libelo acusatório como é óbvio. Se o fosse seria mais uma parvoíce. Mas pretende ser uma singela reflexão sobre o que foi aquela guerra, que tão elevados custos teve,humanos e materiais, aos dois lados em contenda.

Afinal, qual era o Quadro Estratégico dos Altos Comandos Militares do QG em Bissau e dos políticos em Lisboa? Havia sintonia ou estavam de costas voltadas? Em 1968 como em 1973 e 74 já havia a consciência de que aquela guerra não teria resolução com a vitória militar sobre a guerrilha do PAIGC? Se assim era, o que andávamos a fazer? a entreter o tempo sacrificando vidas e recursos? Assim sendo, não se deveria ter investido muito mais na segurança das guarnições militares, nomeadamente nos aquartelamentos junto às fronteiras? Como se compreende a situação a que se chegou em 1973/74 em Guidag, Guileg, Gadamael e outros, desguarnecidos de autonomia operacional para suportarem os ataques a que estavam sujeitos? E nos actos operacionais que ocorriam diariamente por todo o território da Guiné, quantos decorriam sem qualquer planeamento que visasse a eficácia das acções? O que era feito como reconhecimento dos planos do in? quantos grupos especiais de reconhecimento actuavam nas Unidades Militares, reconhecendo esses planos, itinerários, locais, etc? Se tivessem existido, muitas vidas se teriam poupado e evitado muito sofrimento.
A impressão que me fica é que aquilo foi uma guerra às cegas e estúpida. Mas agora isso já nada importa.
Que um dia a História tudo esclareça.

gil moutinho disse...

Caro Luís Graça
Aceitando o convite para comentar acerca de Madina e do relato do Tgen Nico,tenho a dizer que está muito bem descrito e documentado ,demonstrando que quando havia junção de sinergias de todos os participantes os resultados apareciam.
Nunca fui para aquelas bandas,não era preciso,ficava no "cú de judas".Sómente fui às bordas do Boé ,de DO,quando estava no destacamento de Nova Lamego,mais precisamente a Dulombi,Canjadude e Cabuca.
O nosso Comandante do Grupo Operacional,tcor Brito,abatido na zona de Boé,me parece que estava na hora e local errados no fatídico dia,pois as missões para aquela zona eram raras.
Não tenho a certeza,ouvi comentar,(vai 47anos)mas me parece que a parelha de FIAT's,ele e o cap.Ferreira,iam verificar possíveis sinais de actividade do In naquela Zona.
Ora a introduçao dos Strellas foi canalizada para locais onde houve provocação e armadilhados para as aeronaves,caso de guileje e Guidaje.
O stock de mísseis naquela altura seria limitado e gerido para uso onde teriam mais probalidades de alvejar.
No Boé estariam de passagem para abastecimento de outras Zonas?Houve uma infeliz coincidência no local e hora?
Parabén ao tgen Nico pelo livro,e do qual já fiz pedido de reserva
Gil Moutinho

Anónimo disse...

Carlos Arnaut (por emai)

8 nov 2020 12:52


Carlos Arnaut
Alf. Mil.Artª
Binar, Cabuca, Dara
16º PelArt

Bom Domingo, camarigos

A minha colocação em Cabuca, finais de 70, é posterior à retirada de Madina do Boé e da tragédia que vitimou tantos dos nossos.

Recordo-me no entanto de ouvir falar que só as tropas especiais se aventuravam por ali em raides esporádicos, o que me foi confirmado por um Alferes Paraquedista meu camarada de pelotão na recruta do C.O.M em Mafra, com quem me cruzei algumas vezes em Nova Lamego.

Estando próximos do Corubal, sujeitos às incursões do IN ali acantonadas, recordo-me ainda de uma operação de alguma envergadura realizada junto ao rio, em 1971 em data que não posso precisar, para neutralizar a travessia do que se previa ser um grupo fortemente armado.

Essa operação envolveu um efectivo de respeito, tendo entre outras forças participado um pelotão da CCaç 2680 estacionada em Cabuca, uma força de Paras e tropas africanas.

Do contacto com o IN, julgo que em duas investidas, tivemos alguns feridos e pelo menos um morto, um soldado paraquedista caído ao lado do Furriel da CCaç. 2680.

Por aquilo que li na descrição do que era o dia-a-dia no Boé, não sei até que ponto seria possível assegurar a posse daquela zona, no fundo um enclave em terra inimiga com o Corubal como fronteira natural.

Vamos embora, basta de tanto sofrer, deve ter sido o grito da rapaziada na hora da partida.

Abracelo (abraço com cotovelo, o possível nos tempos que correm).

Anónimo disse...


Jose Nico

8 nov 2020 13:02


Caro Luis Graça

Acabo de ler o poste e os comentários. Por isso envio uma foto mostrando
um reclame (acção de marketing que justifica o titulo do artigo) que
existiu no aquartelamento.


Abraço

J. Nico

[A foto que o José Nico nos manda e que vamos publciar, mostra um cartaz em que se lê: "Madina do Boé o Algarve na Guiné"]

Anónimo disse...


José Teixeira (por email)
8 nov 2020 14:57


Boa tarde Camarigos.

Em 1968 havia duas localidades míticas nas relações com o PAIGC: Madina do Boé e Gandembel que não podem ser separadas no antro da guerra, até pela relativa proximidade e porque ambas eram ponto de ligação com a Guiné Conacri.

Foi em Gandembel que ouvi pela primeira vez falar nos "snippers" e senti os logo na primeira vez que lá fui na coluna de mantimentos. Se Madina era terra de ninguém, Gandembel era ponto de passagem pelo “corredor da morte” para o interior.

Pelos testemunhos colhidos pessoalmente junto de antigos guerrilheiros, quando se abriu Gandembel o PAIGC fez deslocar para a zona os cinco grupos estacionados na Mata do Cantanhede. A que atacavam durante o dia, à vez para despistar a Força Aéreas e à noite em bigrupo, enquanto os outros dois grupos atacavam os destacamentos próximos. Eu senti bem de perto estas situações. Foi um antigo guerrilheiro que me atacou em Mampatá por três vezes que me contou.

Penso não se pode separar estas duas regiões. Ambas viveram momentos terríveis só comparáveis com os momentos que se viveram em Guidage, Guilhege eGadamael.

Abraços
Zé Teixeira.

Anónimo disse...

Patrício Ribeiro (por email)

8 nov 2020 15:41

Boas tardes,

É estranho a RTP nunca tenha passado nas televisões a reportagem que fizeram nas colinas do Boé, em 2005.

Será que a reportagem mexeu em Lisboa, em algo que não interessava alterar?

Ou foram os antigos militares Portugueses naturais da Guiné, que a reportagem filmou com as cadernetas militares, dentro do que resta do antigo Quartel de Madina, que não interessava informar?


Não sei quantas operações militares foram feitas durante a ocupação de Beli, para o sul do rio Féfine, para os lados de Vendu Leidi…

Certamente seria zona livre do PAIGC, “naturalmente” pela dificuldade de lá chegar (onde os Angolanos andam a fazer furos de sondagem de Bauxite).

A independência foi declarada em cima de uma colina, à cota 200mt, “por cima da Tabanca de Lugajole” (conforme monumento, que lá foi construído).

- 5 Km, da fronteira.

-10 km, a sul de Beli.

-40 km, de Madina do Boé, para Este.

Onde em Setembro é quase impossível lá chegar por estrada, devido à época da chuva-

Esta zona é muito bonita, nem parece que estamos na Guiné.

Abraço, de domingo, de confinado.

Patrício Ribeiro
IMpar Lda Energia
impar_bissau@hotmail.com

Anónimo disse...

José Mareclino Martins (por email)
8 nov 2020 18:23


18 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

Boa tarde

Há 14 anos escrevi o que foi publicado nos postes acima.

Nada mais tenho a acrescentar.

Saúde para todos.

Zé Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... interessante 'post' e subsequentes reflexões/comentários.
À atenção do editor, apenas um pormenor: onde se lê «Infografia: José Nico / José Aparício (2018)», não correspondem nem a dita 'infografia', nem a autoria nem a datação. Aliás, toda aquela memória (conteúdo) é de autoria do tenente-general [não é "general"] José Francisco Fernando Nico, que a fez publicar na edição nº 413 da Revista 'Mais Alto' (Jan/Fev2015).