terça-feira, 3 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21513: Da Suécia com Saudade (83): Velhinhos a recordar no Sloppy Joe’s Bar, Key West, Florida, EUA... (José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)


José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia


1. Mensagem de José Belo [ ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); cap inf ref; jurista; autor da série "Da Suécia com Saudade"; vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da Tabanca da Lapónia; tem c. 180 referências no nosso blogue]


Date: quinta, 22/10/2020 à(s) 23:18

Subject: Velhinhos a recordar no Sloppy Joe's Bar [Key West, Florida, EUA] 

Ou,,, da Florida com quase...saudade.


Uma inocente história que leva à mistura militares de Abril e Novembro  à a Praça Vermelha de Moscovo, no âmbito da Conferência do Conselho Mundial da Paz, somada ao Conselho Superior de Disciplina do Exércit[, português..]o , duas meninas com tanto de bonitas como de voluntariosas, noites de luar, enfim, uma verdadeira caldeirada de Peniche.

Estaríamos em 1977 ou 1978...

Enquanto aguardava (em casa) a decisão do Conselho Superior de Disciplina do Exército quanto à minha futura situação militar, continuava a receber mensalmente o meu soldo de Capitão de Infantaria.

Com pouco que fazer decidi contribuir nas  actividades do Conselho Português para a Paz e Cooperação então presidido pelo Senhor General Costa Gomes.

Dele faziam parte intelectuais representativos, socialistas politicamente activos e com importantes cargos públicos, independentes, comunistas ,jornalista, escritores, sacerdotes,etc, etc.

As Conferências Internacionais multiplicavam-se um pouco por toda a parte: Europa Ocidental e Oriental,África,Medio Oriente,Ásia e América do Sul.

Tive oportunidade de participar em algumas delas em países então bem exóticos e bem fora das rotas turísticas do Portugal de então.

No regresso de uma destas Conferências realizada na Índia, e acompanhado por um outro então Capitão de Infantaria, fomos obrigados a passar quatro dias em Moscovo enquanto aguardávamos ligação aérea para Lisboa.

A viagem aérea tinha sido longa,cansativa e monótona. Chegámos ao hotel por volta das onze, de uma noite de verão em Moscovo,com temperatura agradável e uma incrível lua cheia.
Depois de demasiadas horas sentado em cadeira de avião apetecia-me "esticar as pernas".
O hotel, de seu nome Rússia, ficava a umas escassas centenas de metros da Praça Vermelha ,do Kremlin e do mausoléu de Lenine.

Um silêncio total nas ruas e Praça Vermelha. Completamente desertas,exceptuando as sentinelas na entrada do Kremlin e junto ao túmulo de Lenine.

Vestido à "menino fino",  lisboeta, de blazer e bem engravatado,(uniforme muito útil em tais Conferências) encetei o meu passeio solitário pela Praça Vermelha.

As enormes e bem polidas pedras da calçada que a cobria como que brilhavam à luz dos monumentos. Com as mãos displicentemente nos bolsos considerava quantas tragédias e acontecimentos históricos aquelas pedras teriam presenciado ao longo dos séculos.

Sinto inesperadamente uma mão firme em cada braço. Tendo em conta a hora,o local histórico e completamente deserto,de imediato pensei.....o que é que terei feito?

Depois de Custóias e outros presídios militares,  lá vou agora parar à Sibéria?!

Olhando por cima do ombro verifiquei ter por de traz de mim duas jovens,tão bonitas que "faziam doer"!

Num inglês primitivo e com fortíssima pronúncia russa uma delas disse:

- A hora tão tardia,sozinho,tão pensativo....certamente que tens problemas!

Para mim pensei.... problemas não tinha mas, aparentemente, vou tê-los!

Com um sorriso quente a outra menina afirmou convincente:

-Vamos ajudar-te quanto à tua solidão. Custa 40 dólares! Vinte para mim e vinte para a minha amiga. Amanhã acordas mais feliz!

Tendo em conta que as "meninas" eram mesmo lindas, tais propostas feitas na madrugada a um pobre macho ibérico deviam ser... proibidas!

Na Praça Vermelha deserta na madrugada? A 200 metros do mausoléu de Lenine? Frente às sentinelas do Kremlin?

Como era esta situação minimamente possível? Para mais, nesse ano , o dono do Kremlin ainda era o Senhor Leonid Brejnev [1906-1982], dirigente de "barba rija", se comparado com os que lhe sucederam no cargo.

Olhando em volta,e quase instintivamente,resolvi regressar ao hotel... sozinho! Acabando por ter que enfrentar as infindáveis gargalhadas do outro Capitão sentado no Bar do hotel.

Hoje,quase meio século depois desta história?

Pois...

Um abraço do J.Belo
____________

Nota do editor:

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Liguei as câmaras do Sloppy Joe's Bar, eram cinco e tal em Key West, não te encontrei... Era muitio cedo para um luso-lapão... Temos que acertar um dia e uma hora...

Pelo número de pessoas que circulavam na Duval Street, umas usando máscara, outras não, fica-se com uma ideia do sentido de voto na Flórida... Ou não ?...

Mas, passando em frente, que não se fala aqui de política (partidária, seja na América, seja cá no nosso burgo)...

Mas há quem, em Portugal, fique hoje até às tantas da madrugada, para acompanhar a escaldante noite eleitoral nos States... O que quer que aconteça, não nos pode deixar indiferentes...

Quanto às "conversas dos velhinhos" no Sloppy Joe's Bar, como esta, deliciosa... Gostava de poder contar estórias dessas, aos 90 anos, se lá chegar...inocentes, instrutivas, saudáveis, que só farão bem ao Alzheiner e ao cancro da prostata...

Se calhar são essas pequenas estórias que nos restarão, para contarmos uns aos outrps, daqui a uns anos, com algum "sal e pimenta"... (Não gasto pimenta, prefiro o piripiri...).

São restos das nossas "viagens" pelo estrangeiro, em trabalho ou em lazer, sobretudo em trabalho, quando em geral íamos sozinhos sem as nossas caras metades... E fizemos tantas, conhecendo gente excecional mas também gente vulgaríssima, humaníssima, igual a nós, de carne e osso... Feias, bonitas e assim-assim...

Nada como a "im(p)unidade" da solidão... Mas, José, foste mauzinho com as "matrioscas", russas, presumivelmente sexoterapeutas... Pensaste que podiam do KGB ou da máfia russa ?!...
Em Moscovo, onde nunca fui, imagino que é legítimo ter pensamentos desses... pouco ortodoxos...ou securitários.

Afinaal, somos da geração dos filmes do James Bond, o mesmo é dizer, da "guerra fria"... O sexo combina sempre bem com espionagem, mas também com turismo, negócios, política, cultura, ciência. desporto...

Mas quem te diz que as "matrioscas" não podiam ser "travestis" ?!... Nunca fiando, à noite, em Lisboa, Moscovo, Amsterdão ou Nova Iorque... Mas, também é verdade, se um gajo não sai do hotel, à noite, perde metade do dia de uma cidade...

Os teus inimigos, dirão que deixaste mal o "macho luso-lapão"... Afinal, porra, tens o grande exemplo dos Bragança, do Dom Pedro, que era "malhado", ou do seu mano Dom MIguel,m que era "caceteiro"...

Os teus amigos, como eu, "higienistas sociais", dir-te-iam, há um ´século atrás, noutra incarnação, no tempo do camarada Lenine: "Foste sábio e prudente, uma noite com Vénus, e corrias o risco de passar o resto da vida com Mercúrio"...

Aos olhos doutros ainda, dos nossos leitores (e das nossas leitoras), se calhar mesmo a maioria, tu vais subir na escala da virtude e da reputação... (De nada te valeu, não passaste de capitão, devias ter posto esta estória edificante no teu currículo militar afinal, ainda eras um senhor oficial do Exército de Portugl...).

Já houves outros, tão ou até menos vurtuosos do que ti, que por menos (, isto é, por terem sabido resistir a tentações menores), chegaram a santos, ou partiram mais cedo para o céu...).

Enfim, com eu gosto de dizer, é uma "estória com...mural ao fundo"... Um vodca de Candoz, à tua!... Luís

Anónimo disse...

O Amigo e Camarada Luís (e tomo a liberdade de usar o exemplo “yank” quanto ao basebol) tocou quase todas as “”bases”.
Aparentemente esqueceu o Princípio da Precaucionaridade muito aplicável tanto a esta pequena história ,como à hoje tão moderna gestão ambiental.

Mas,na “base hit”,não levou em conta a tão proverbial ingenuidade romântica deste simples pastor de renas no Árctico.
Para se atingir toda a profundidade filosófica,(e porque não deontológica)desta narrativa,torna-se necessário considerar que,nos meus verdes anos de militar no PREC julgava sinceramente que o ...Voto de Castidade...era considerado condição essencial para se ser um “esquerdalho “.
E,mais uma vez,os malandros enganaram-me!

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

J. Belo
Fui meter o nariz no Sloppy Joe's Bar, marcava 20,15.01, cá 01 hora dia 04, estava uma pequena loira, bem alta e de máscara a servir a uma mesa de dois desmascarados, e no palco dentro duma redoma de vidro/plástico dois tipos a actuar.
Reparei no menu, que me pareceram petiscos com preços na ordem de 10$, cervejas a 5/6$, mas achei o vinho barato o italiano a 8$ e o da Califórnia 8/9$, se for à garrafa é barato, se for ao copo é uma fortuna.
De resto e cá fora é tudo Verão. E temos daqui a umas horas o novo White House Tenant
Abracelo
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Valdemar Queiroz

O vinho é de facto barato.
E não só,pois existem hoje vinhos da Califórnia de excepcional qualidade.
Uma realidade que,na velha Europa,para alguns ainda é difícil de aceitar.
Razões bastante interessantes quanto aos tipos de uvas usados,e o que leva à sua existência local quando há muito desaparecidas(por doenças)na Europa vinícola de há cerca de quase duzentos anos,estão ligados às importações de videiras francesas de renome em período anterior à peste que as exterminou na Europa.

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

Caro J. Belo.
A questão do vinho ser barato, põe-se ao italiano import? já que o californiano é USA, a questão é ser vendido barato à garrafa (?) num Bar, quase ao preço da cerveja.
Na Holanda as garrafas do vinho USA (casta Cabernet) estavam na ordem de 5€ nos supermercados.

Ab. e bons copos
Valdemar Queiroz

Manuel Luís Lomba disse...

J. Belo
Boazonas a agarrar-se a mim - e logo na Praça Vermelha - é-me absolutamente impossível de comentar...
No tocante ao vinho americano já posso meter bedelho.
No século XVI, dois indígenas portugueses, um açoriano e outro meu conterrâneo, resolveram vadiar o Atlântico Norte e aportaram numa terra a que deram o nome Costa do Labrador (em galaico...) e ficaram espantados ante a sua exuberância de videiras.
Em 1977, assisti por acaso a um leilão de vinhos no Soho, Londres, e uma caixa de 12 garrafas de tinto da Adega Cooperativa de Souselas, colheita de 1969, foi arrematada em libras = igual a 10 contos! (Por cá, o bom vinho de adega cooperativa rondava os 7 ou 8 paus).
Como frequentava a cimenteira de Souselas (ex-Cinorte), fui à fala com o seu enólogo, que me disse o vinho da Bairrada ser o melhor vinho de mesa português, muito apreciado na Inglaterra, que na década de 50 os americanos tinham vindo cá e levado a quase totalidade dos seus enólogos para a Califórnia, para a "colonizar" com as castas da Bairrada e do Dão.
Passados mais de 300 anos, foi com as videiras americanas para seu "cavalo" que D. Antónia a Ferreirinha salvou as vinhas do Douro, e, passados quase 500 anos, dou com camarigos a revelar-se provadores de vinhos americanos, sendo plausível que nascidos da miscigenação das castas portuguesas (penso eu de que).
A videira americana proliferou na minha região. Na Freguesia de Macieira de Rates há uma que terá 200 anos e chegou a dar uma pipa de vinho! O Salazar organizou patrulhas para as liquidar e o meu pai passou noites de sentinela e de caçadeira em punho, a guardar a nossa "videira grossa (dava meia pipa de vinho). Moral da estória: salvou-se, não pela sentinela e caçadeira, mas porque cobria o poço e o seu engenho de tirar água. Estava no decreto.
O vinho americano sabe a morango; mas o branco é diabólico, alucinogénio. Aí pelos 18 anos, éramos três, tínhamos bebido uns copos, um camião recusava-se a pegar e nós obrigámos-lo, de empurrão! Que força!
Abr.

Anónimo disse...

Caro Luís Lomba

À volta de um copo de vinho surgem sempre histórias interessantes.

Sem dúvida que,do outro lado do pequeno charco que é o Atlântico,a Califórnia produz vinhos de grande qualidade.
Para os que gostam de vinhos tintos encorpados recomenda-se o “Mc.Manis” 2018,Petite Sirah dos Family Vineyards,Lodi-California.
Mas o Alentejo “Palaios” 2019,da Casa de Vila Verde a 14,5% Vol. em nada lhe fica atrás!
Ambos existem,tanto na Suécia como em Key West/Florida.
Felizmente.

E,voltando às russas (que eram mesmo lindas!) teriam feito muitos estragos se usadas como “submarinas” no saudoso PREC.
Mas não vamos” entrar por aí”....... (Salvo sela! Salvo seja!)

Um abraço
J.Belo



Valdemar Silva disse...

Parece que o açoriano e o Pero de Barcelos teriam dado aso à teoria da origem do topónimo «Canadá», depois de andarem por todas aquelas bandas geladas terão feito um mapa e escrito 'Cá nada', qual videiras qual quê e então dedicaram-se à pesca... do bacalhau. Vá que eles nunca tinham estado na guerra da Guiné senão aquele país agora se chamaria «Catem».
Nem o Cartier vislumbrou tais parras, e mais tarde foi um alemão que se lembrou de plantar por lá vinhas geladas e começar a produzir o "Ice Wine" que era cá uma pomada que nem o vinho da Goucha.

Abracelos
Valdemar Queiroz