sábado, 7 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21524: Da Suécia com Saudade (84): Ainda as “anedotas” do outro lado da “Cortina de Ferro”: recordações da Deutsche Demokratische Republik (José Belo)


José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia; de tempos a tempos,  dá um salto 
a Key West, Florida, EUA [ onde frequenta e às vezes pode ser visto 
 


1. Mensagem de José Belo José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada, 1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas, autor da série "Da Suécia com Saudadr"; vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da Tabanca da Lapónia; tem c. 180 referências no nosso blogue: entrou "de jure" na nossa Tabanca Grande em 8 de março de 2009]

 
Date: segunda, 2/11/2020 à(s) 15:01
Subject: Ainda as "anedotas"do outro lado da "Cortina de Ferro"
 
Caro Luís 

Em conjunto com a "história" da Praça Vermelha de Moscovo (*) e a propósito do texto e comentários quanto à DDR (Deutsche Demokratische Republik) (**),  aqui segue um texto que confirma um "certo estado de espírito " existente um pouco por toda a parte do outro lado da ....Cortina.

O ano seria 1981. Encontrava-me de férias na costa Báltica da Alemanha e decidi dar uma saltada até Berlin, então ainda bem dividido pelo muro [, derrubado em 1989].

As autoestradas alemãs ocidentais, então praticamente sem limites de velocidade, eram boas pistas para experimentar o meu novo Saab. Ao entrar na autoestrada alemã oriental desconhecia haver na sua quase totalidade um limite de 90 quilómetros/hora.

Frente a um desvio fui obrigado a parar por um polícia de trânsito. Uniforme impecável.Atitudes também impecáveis num distinto porte militar. No entanto a comunicação verbal não era a melhor.
O polícia falava um alemão com forte pronúncia do nordeste e eu um alemão demasiadamente assuecado
´
Depois de muita mímica lá apontou para o conta quilómetros do meu carro.Acabámos por  nos entender quanto ao excesso de velocidade 

Tirando do bolso um papel com multas impressas escreveu à margem: "100 Deutsche Mark".[100n Marcos Alemães]

Perguntei-lhe se referia a moeda alemã oriental.

- Nein! Nein! Nein!...

... Marco alemão ocidental e... a "el contado"!

Mostrei-lhe a carteira,  ao mesmo tempo que explicava tudo pagar com cartão bancário. Manifestamente contrariado,  ordenou-me que o acompanhasse até uma pequena casa construída à entrada do desvio.

Com a minha mulher, sueca e "patrioteira", a gargalhar ao mesmo tempo que cantarolava o hino nacional sueco, lá conduzi o carro até à agência policial.

Lá dentro, o polícia apontou uma cadeira frente a uma secretária com imponente máquina de escrever de "outros tempos". Tendo ele compreendido a impossibilidade de meter ao bolso os 100 marcos ocidentais, ,agora  tudo deveria ser feito para salvar as aparências,  tornando a situação o mais "oficializada" possível .

Rapidamente escreveu os meus dados pessoais, matrícula do automóvel, etc., etc.

Pediu-me então o cartão de crédito bancário para escrever o número. Entre outros, tinha no bolso lateral do meu casaco o cartão bancário e o cartão hospitalar sueco,em tamanho e material idêntico ao bancário, só variando na sua cor branca.

Sem olhar, entrego o cartão ao polícia que, de imediato,  escreve o seu número no impresso da multa.
Só então verifiquei que o cartão por ele empunhando era o cartão hospitalar sueco.

Confesso que o pensamento foi: "Agora é que vou mesmo dentro! Acusado de estar a gozar com tão importante autoridade como a policial."

Não tive tempo para mais divagações pois o senhor polícia limitou-se a apontar a porta da rua, dando por terminado o encontro.

E é uma das muitas recordações da Deutsche Demokratische Republik [, RDA, em português].

Um abraço, J. Belo.

___________

Notas do editor:


11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

José, tenho ido todos os dias ao Sloppy Joe's Bar, mas não te tenho apanhado... Não me digas que tens andado aí, nas ruas, a "trumpetar"...Não posso ser mais explícito, por causa das regras editoriais do nosso blogue... Mas também nunca sabe onde andas, sendo tu um cidadão do mundo, com todas as vantagens (para ti) e alguns inconvenientes (para os que te estimam)...

E a propósito da RDA [ex-Alemanha de Leste], um dos "aliados" do PAIGC... Tens alguma ideia do montante da ajuda deles à guerrilha ? A Alemanha Ocidental, não sei se foi o nosso Pai Natal, mas vendeu-nos muito armamento, incluindo o Fiat G-91...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Chove em Key West, a esta hora!... Chuva forte, 24º... Em Nova Iorque, está céu limpo, 24º...

Anónimo disse...

Quanto às perguntas do segundo comentário:
74-F/23-C
Humidade 91%
Chuva
Vento 7 metros/Seg.

Ps/ Nas últimas horas, talvez por o vento soprar do Atlântico,quase se ouve a versão americana (possível!) d’a ......Grandola Vila Morena!
Estranho mas oportuno.

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...

José, logo hoje, que me estava a apetecer beber um copo contigo!... Bato com o nariz na porta: AVISO: O Sloppy Joe's está temporariamente fechado, um membro do "staff" está com a COVID-19!...

Não há copos para ninguém!... Logo numa noite destas, chuvosa e triste, em Key West, em que eu precisava de conhecer melhor a alma da América...Onde é que bate o coração da Grande Nação Americana ?...

Bom, volto para o hotel... que é espelunca, nas traseiras da 5ª Avenida em Nova Nova Iorque...Em 1990... Há 30 anos...Andei a falar com sem-abrigos... Ia a caminho de Denver. E E o homem mais poderoso do mundo era o George Bush,pai.

Bons sonhos, e melhores cantorias. LG



Anónimo disse...

Terminando está já vasta “pirobalistica” de comentários feita......

Não se pode esquecer que ,para além dos aviões, a Alemanha Ocidental forneceu a Portugal a “G-3” que veio muito oportunamente substituir a então já obsoleta espingarda Mauser.
Não só efectuou os fornecimentos iniciais como veio posteriormente a permitir a produção da mesma em Braço de Prata.
O acordo com a Força Aérea Alemã quanto à utilização da Base Aérea de Beja para fins de treino operacional terá tido importante influência.
O apoio da DDR ao PAIGC,tanto eeconomico como militar não foi tão elevado como se poderia esperar.
O país acabou antes por funcionar como um “entreposto” no relacionado com material militar fornecido pela União Soviética.
Quantidades substanciais do material de guerra usado na Segunda Guerra Mundial estava armazenado na DDR e foi deste armamento que foi extraído o enviado para a Guiné.
Eficaz quanto aos fins com que seria usado mas não propriamente moderno.

O apoio económico não foi significativo se comparado com outros países.
Se levarmos em conta o somatório dos apoios ao PAIGC ,tanto em capital como em créditos,por parte da Suécia,verifica-se facilmente que estes ultrapassam o somatório (!) dos apoios dos países então denominados como socialistas.

Ps/ Alguns leitores da pequena aventura por mim vivida na DDR irão possivelmente tirar ilações não por mim procuradas.
Os mais patrioteiros,....como mais uma evidência da decadência de valores no mundo socialista de então.
Os eivados de religiosidades de esquerda......como mais uma facada de um esquerdalho-rico nas imagens dogmáticas dos paraísos terrestres.
Mas, mais não se trata do que uma história insignificante,anedótica,verdadeira.
Espelha uma realidade existente em todas as sociedades ao longo da História.
Passou-se na DDR como se poderia ter passado na estrada para Fátima,ou à entrada de Key West/Florida.

Um abraço do J.Belo

Fernando Ribeiro disse...

A Alemanha Ocidental não só forneceu a Portugal a espingarda automática G3, mas também a metralhadora ligeira HK21, que era derivada daquela espingarda e também foi fabricada em Braço de Prata. A metralhadora HK21 revelou-se uma grande m*rd*, porque encravava constantemente.

E a metralhadora MG42 foi fornecida por quem? Não seria igualmente pela RFA? Embora fosse muito mais pesada do que a HK21, a MG42 era incomparavelmente mais fiável. Nas muitas operações em que participei em Angola, a MG 42 era a única metralhadora "ligeira" que usávamos, enquanto as HK21 ficavam no depósito de material de guerra a encher-se de teias de aranha.

E que dizer dos aviões Dornier DO 27? Eles foram fornecidos por quem? Não foram também pela República Federal da Alemanha? Os DO 27 não foram só usados na guerra colonial como aviões de reconhecimento, ou de transporte de feridos e de passageiros em geral. Eu mesmo vi um DO 27 atuar como avião de ataque ao solo, disparando rockets colocados sob as asas.

A RDA pode ter fornecido muito material de guerra ao PAIGC, ao MPLA e à Frelimo, mas a RFA não lhe ficou atrás como fornecedor das Forças Armadas Portuguesas.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da C.Caç. 3535 / B.Caç. 3880, Angola 1972-74

Anónimo disse...

A Alemanha Federal forneceu todo o material acima referido e,algum mais.
O acordo bilateral (!) luso-alemão que veio a permitir a utilização da Base Aérea de Beja para fins de instrução operacional da “Deutschland Luffwaffe”(1967-1987) teve muito a ver com a aparente “generosidade” alemã.

Será também importante não perder de vista o facto de se ter tratado de um acordo bilateral que,deste modo circundava outras “alianças “.

A extensão e capacidade da base,se analisadas a nível europeu,não eram de modo algum negligenciáveis.
A maioria da opinião pública portuguesa da época não terá tido consciência disso.
Não se trava de modo algum de uma meia dúzia de aviões estacionados à sombra de uns chaparros.

Lendo-se cuidadosamente nas entre linhas deste acordo,e apesar de bem camuflado por linguagem política “de conveniência”,fica-se com a ideia de que ,para além das funções descritas e as razões das mesmas (problemas de treino efectivo no muito limitado e traficado espaço aéreo alemão),haveria a possibilidade de esta Base de “retaguarda” poder vir a ser utilizada pela Força Aérea Alemã como recurso operacional em caso de conflito grave envolvendo a Alemanha.

O acordo,sendo bilateral,poderia colocar Portugal em situações críticas caso a NATO como tal tomasse posição passiva no hipotético conflito.
Obviamente que esta hipótese (aparentemente!)seria impossível na época.
No entanto não se poderá olvidar que as Administrações Norte-Americanas , e suas políticas quanto à NATO também variam ,tanto no tempo como nas “nuances” e suas conveniências.

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...

Tenho que admitir que por vezes vale a pena ler o nosso Zé Belo.
Para além de saber muito,muito, mais coisas do que conta,sempre teve humor.
Um bom exemplo ao escrever em comentário: Eivados de religiosidades de esquerda.
Um Senhor,por acaso de esquerda,com humor?
É caso raro, talvez resultante da boa economia ao seu dispor?

ManuelTeixeira.

Anónimo disse...

Meu Caro Manel

Estive quase a escrever...”Meu Manel”....mas quase viria a parecer Aerograma escrito por simpática madrinha de guerra.

Fico-lhe muito grato,entre outras coisas,por apreciar o meu humor.
No extremo do extremo Norte da Europa diz-se:
-A sobrevivência aos seis meses de total escuridão,aos quarenta graus negativos envolventes,aos ventos ,neve e nevoeiros,e não menos ao isolamento, exige....humor.
Caso contrário,ou se fica literalmente “apanhado pelo clima”,(e a Guiné já chegou para tal),ou se cai no alcoolismo fácil que, entre outros resultados nos faz morrer bem jovens.
Ora eu,apesar de viver boa parte do ano entre-renas,estou a aproximar-me dos 75 anos de juventude.

Mas,e voltando ao humor,posso garantir-lhe que a apreciação é recíproca.
Tendo ao longo dos anos lido alguns dos artigos seus ,publicados em jornais muito especiais quanto a certezas dogmáticas,o gargalhar está sempre presente.
No que a meu respeito escreveu há uma continua ,e estranha ,fixação quanto à minha economia pessoal.
A dar-se ao trabalho de ler atentamente tanto textos como comentários, neste blogue com já décadas de existência , em lado algum encontrará quaisquer referências às economias pessoais dos Camaradas.
Muitas trocas de ideias ,bem diferentes nas suas análises;alguns “piropos”;também algumas “picardias”; mas a quem interessa (ou se interessa) pelas contas bancárias?
Esta sua fixação é verdadeiramente....única!
A não fazer parte do seu especial sentido de humor, somos levados a cair em patologias para as quais só especialistas estarão habilitados a analisar .

J.Belo

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.