quinta-feira, 11 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24307: Facebook...ando (27): Op Neve Gelada, na zona de Campã / Cantiré, 5 km a norte de Canquelifá, onde estavam as bases de fogos (morteiro 120 mm e foguetões 122) usados contra Canquelifá



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Sector L4 (Piche) > Canquelifá > Março de 1974 >  O José Marques junto a um dos morteiros 120 capturados no dia 21 de março de 1974, pelos Comandos Africanos na zona de Canquelifá, quando arrumávamos as respectivas granadas. Cortesia de José Marques (Castelo de Vide) (não sabemos ainda a que unidade/subunidade pertenceu, mas fica convidado para integrar o blogue, é apenas amigo do Facebook).

Foto (e legenda): © José Marques (2023). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1.  Seleção de comentários, gerados no Facebook da Tabanca Grande (*), na sequência da publicação do poste P24305 (**):

(i) Tabanca Grande:

Depois do ataque e destruição da tabanca de Canquelifá, 18 de março de 1974, por fogo IN de morteiro 120 mm e foguetões 122 mm), foi desencadeada a Op Neve Geada, de 21 a 23 de março de 1974, tendo sido batida a zona de Campã / Cantiré, sector L4 (Piche), a cerca de 5 km, a noroeste Canquelifá, numa ação levada a cabo pelo BCmds da Guiné, a três agrupamentos. 

 Na zona estava referenciada uma base de fogos IN. No dia 21, pelas 14h45, a base de fogos foi assaltada, tendo sido apreendidos: 

  • 3 morteiros 120 mm; 
  • 367 granadas de morteiro 120 mm;
  • 1 LGFog RPG-2; (iv) 2 espingardas automáticas Kalashnikov; 
  • e material diverso.

No dia seguinte, pelas 10h00, foi assaltada nova base de fogos e capturadas três rampas de foguetões 122 mm, além de material diverso (munições, espoletas, munições., etc.). Baixas: 2 mortos e 24 feridos, do lado das NT; 27 mortos, incluindo 2 cubanos, do lado do IN. 

Fonte: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2015). pp. 479/480.)

(ii) O cor 'comando' ref Raul Folques acrescentou o seguinte:

Na Op.Neve Gelada, zona de Canquelifá, o Batalhão de Comandos da Guiné capturou ao IN_:
  • 3 mort. 120mm completos;
  • 1 tubo de mort. 120mm , 2 tripés, 1 prato/base;
  • e 367 granadas de mort.120mm. 
A operação teve lugar no fim de Março de 1974.

(iii) O Cherno Baldé levantou a questão da localização das bases de fogos:

Tabanca Grande Luís Graça, não fosse essa operação dos Comandos Africanos,  efectuada na localidade de Campã para aliviar a pressão sobre Canquelifá, ainda hoje continuariam a pensar que as bases de fogo se localizavam sempre a partir dos territórios vizinhos e assim justificar a impotência do exército português de fazer parar estes ataques. 

Antes de Canquelifa já tinha havido ataques as cidades de Bafatá e Gabú com foguetões e morteiros 120, no Sul os bombardeamentos eram constantes e temos os casos de Cufar,  por exemplo, sendo que são localidades no interior do território.


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu >  Pormenor da carta de Canquelifá (1957) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Canquelifá, tendo a noroeste Copá, e a norte, Campá (5 km em linha reta) e Cantiré (7 km) e, mais acima, os marcos fronteiriços 60, 61 e 62 que o PAIGC devia atravessar vindo as duas bases logísticas no Senegal.

(iv) A Tabanca Grande esclareceu:

Cherno, o PAIGC tinha camiões russos, em março de 1974 (e já antes, desde pelo menos 1968)... Podia perfeitamente penetrar com os morteiros 120 no território da então colónia portuguesa da Guiné... A partir de março de 1973, devia sentir-se mais "à vontade" com a proteção do Strela...

O cor 'comando' Raul Folques, "Torre e Espada", que comandava o Batalhão de Comandos da Guiné na Op Neve Gelado (mas também o cor 'comando' Carlos Matos Gomes, que comandava um dos três Agrupamentos) é que nos pode confirmar hoje (já não é segredo de Estado) se entrou ou não na República da Guiné e se as bases de fogos dos morteiros 120 mm (e dos foguetões 122 mm) estavam ou não em território da Guiné-Bissau, como parece sugerir o Cherno Baldé...  

Em relação à localização das bases de fogo, verificamos pela carta de Canquelifá (1957) (Escala 1/50 mil), que Campã (e não Campiã), uma antiga tabanca, ficava a 5 km, a norte de Canquelifá... Deve ser sido aqui que o PAIGC posicionou os morteiros 120 mm, cujo alcance máximo era de 5700 metros... Cantiré ficava um pouco mais mais longe (cerca de 7 km em linha reta)... 

Portanto, o que o Chermo Baldé diz, é correto. O PAIGC arriscou entrar no território da então Guiné portuguesa, confiando nos seus mísseis Strela... Nem  sempre as viaturas russas Zil e Gas ficaram na fronteira, nem os tipos do PAIGC deviam saber onde ficavam os marcos... Mas a verdade é que desta vez, e talvez por excesso de autoconfiança, não contaram com os comandos africanos, comandados pelo major 'cmd' Raul Folques, que apanharam 3 morteiros pesados completos mais um tubo, e provocaram 27 baixas mortais ao IN, incluindo 2 'internacionalistas' cubanos (que deviam ser apontadores de morteiro)... (Op Neve Gelada, 21 e 22 de março de 1974.)

Quanto à flagelação da Bafatá, meu caro Chermo,  terá sido efetuada apenas com foguetões de 122 mm, como diz (e bem) o... por certo que os combatentes do PAIGC, por muito valentes que fossem, não entraram pela Zona Leste  / Região de Bafatá com os morteiros 120 mm às costas, ou rebocados pelos camiões Gas ao longa da "autoestrada" do leste (que ia praticamente de Buruntuma a Bambadinca, no final da guerra).. Recorde-se que cada morteiro 120, completo (tubo, bipé e prato)  pesa "só" 275 kg (fora as granadas)...

(v) Esclarecimento de António Tavares:

O primeiro ataque a Bafatá com foguetões de 122 mm foi feito da Zona de Acção da responsabilidade da CCaç 2699, sediada em Cancolim, em 1971. A rampa de lançamento foi deixada no local onde foi montada. Felizmente não houve feridos.
Gosto

(vi) Informação do António Rodrigues:

Em Copá, nos meses de Janeiro e Fevereiro de 74, caíram algumas centenas de granadas deste morteiro.

Contávamos todas as saídas e, poucos segundos depois estávamos a contar as explosões junto de nós e só ficávamos descansados quando explodia a última de cada série, felizmente sem consequências físicas para nenhum de nós.
___________

Notas do editor:

(*)  Último poste da série > 24 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24247: Facebook...ando (26): Homenagem ao Xico Allen (1950-2022): a filha Inês, em Fátima, no passado sábado, no convívio anual da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972-74)

7 comentários:

Valdemar Silva disse...

Upa, upa estes morteiros 120 mm devim fazer grande estrago.
Conheci Copá de passagem numa operação, quando em Dez.1969 dois pelotões da minha CART11 estavam a reforçar a tropa de Canquelifá. Provavelmente os morteiros 120 estariam montados no Senegal, para cair sobre Copá centenas (!) de granadas.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vê na carta de Canquelifa a distância em linha reta entre Copá e a fronteira... O alcance máximo do morteiro era de 5700 metros. O PAIGC nessa época já não precisava de passaporte para entrar no território português... Mas 40 % das granadas contra Copá não terão explodido, segundo fonte cubana...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, estive a medir as distâncias pela carta de canquelifá:

(i) Copá a fica a 3,5 km da fronteira;

(ii) Canquelifá a mais de 10 km...

Isto significa que Copá podia perfeitamente ser atacada por morteiro d 120 mm, a partir do Senegal, mas não Canquelifá... Da~i os tipos terem ficado a meio caminmho, na zona de Campã...

https://arquivo.pt//wayback/20160223140013/http:/www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial53_mapa_Canquelifa.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cada granada de morteiro 120, pesava 16 kg (a HE-120, "high explosive altamente explosiva, empregue contra a infantaria, viaturas não blindadas e abrigos...). Media cerca de 67 cm...Na Op Neve Gelada, foram capturadas 367 granadas... maios 3 morteiro c0ompeltos e um tubo

Um cunhete, em madeira, com duas granadas,pesava 50 kg... O total do peso devia andfra nas 10 toneladas...

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O PAIGC no ataque a Canquelifá deve ter usado no mínimo umas quatro a seis viaturas... Não sabemos quantas granadas forma despejadas sobre Canquelifá...em 18 de março de 1974... Cada viatura rebocava um morteiro e transportava cunhetes de munições... LG

Valdemar Silva disse...

Luís, então o ataque a Copá teria sido com os 120 mm instalados no Senegal.

Aquele ataque de Março 1974 a Canquelifá foi do caraças.
Canquelifá era a tabanca de fronteira, os gilas apresentavam-se as nossas autoridades e transiam "novidades" sobre o pessoal bandido, provavelmente também as levavam. Então em Março 1974 não houve nenhuma informação sobre viaturas do IN a entrar no nosso território?
O ataque foi de tal maneira brutal e durou quase uma hora, que nem sequer a nossa artilharia pode ripostar, em Canquelifá havia obus.
Este ataque a Canquelifá mostrou/mostrava como a guerra seguia o percurso de aniquilar as nossas posições, tropa e população, perto da fronteira criando mais uma zona de ninguém.
Era o "estrangulamento" da nossa Guiné a ser empurrada para as localidades principais. Mas, também, já Nova Lamego e Bafatá estavam a ser atacadas com "mísseis" 122.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Os Strela aparecem 3 meses após o assassinato de Amílcar Cabral.
Está visto que o IN acelerou após o assassinato do seu lider.
Porque não antes?
A resposta pode parecer muito simples.
Mas também pode não ser assim tão simples.
Com o PAIGC as contas por vezes são inexplicáveis.



Valdemar Silva disse...

Antº. Rosinha, refiro-me aos foguetões 122mm .
Em Abril 1970 Nova Lamego foi atacada com foguetões 122mm que passaram por cima da minha cabeça, caindo para os lados do campo de aviação, não atingindo o centro da povoação.
Foram lançados a cerca de 12 km perto da estrada para Cabuca.

Valdemar Queiroz