terça-feira, 2 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19065: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (57): Charles Aznavour (1924-2018), em Luanda

Antº Rosinha, II Encontro Nacional
da Tabanca Grande,Pombal, 2007.
Foto: LG
1. Mensagem do nosso "mais velho" Antº Rosinha, 

Date: terça, 2/10/2018 à(s) 19:15
Subject: Charles Aznavour em Luanda

Em plena guerra fria e em plena "guerra do Ultramar", este enorme artista francês, quando em sua plenitude como cantor, esgotou dois cine-Restauração, na cidade de Luanda.

Esta visita a Luanda não teve nada de "inocente", de parte a parte. Levantou o moral da gente,  embora nós, o povão, não tivéssemos "chegado a tempo", às bilheteiras do Restauração.



Luanda > 1956 > O  cinema Restauração > "Construído no tempo colonial português, na cidade alta de Luanda, foi projectado pelos irmãos arquitectos João Garcia de Castilho e Luís Garcia de Castilho e passou a funcionar como Palácio dos Congressos e sede do parlamento angolano com a proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975 [até 2015]"... .Cortesia de Diário Imobiliário.


Penso que também actuou em Nova Lisboa no Ruacaná, como já tinha feito  a Amália Rodrigues.

Tentou-se o mesmo sucesso "colonial" com outro enorme francês, Gilbert Becaud. Mas foi surpreendido pelo 25 de Abril, e imagine-se este grande artista, em junho de 1974 a actuar com o seu piano em Malange com uma sala vazia, apenas vinte  ou trinta espectadores, porque o público já não queria ouvir mais "cantigas" .

Eu fui a esse espectáculo, o homem interpretou 2 canções, quase a chorar...mas apresentou-se.

Aconteceu o mesmo com o Tony de Matos em Serpa Pinto, ele que esgotava salas, mas após o 25 de Abril, estes artistas já não contavam.

Também o vi desesperado, com 20 ou 30 espectadores, cantou dois ou três números.

Esta também foi a minha guerra.

Cumprimentos
Antº Rosinha


(i) beirão, tem mais de 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18834: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?

2 comentários:

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

Quem esteve para atuar em Luanda em julho ou agosto de 1974, mas não atuou, foi o conjunto espanhol Aguaviva (aqui está a sua canção mais conhecida, para quem não se recordar deste grupo: Poetas Andaluces). O conjunto Aguaviva não atuou porque a violência tomou conta da cidade, com dezenas de mortos a cada dia que passava. Julgo (mas não tenho a certeza) que também estavam planeadas atuações do Zeca Afonso, do Fausto (que é natural de Angola), do Adriano Correia de Oliveira e outros, que também não se realizaram pelas mesmas razões.

Anónimo disse...

António Rosinha, grande e emblemático espaço o Restauração.Assisti a vários espectáculos quando tinha a felicidade de estar em Luanda na ba9, no intervalo de destacamentos.
Recordo-me que o Tony de Matos deixou a classe feminina ao rubro.Emoções que se vivem talvez porque eramos jovens e não só.
Carlos Gaspar