terça-feira, 2 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19063: In Memoriam (326): João Rebola (1945-2018)... Homenagem dos amigos e camaradas. Fotos de Manuel Resende... O funeral é hoje, às 15h00, na igreja da Senhora da Hora, Matosinhos.


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6

Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 >


1. Imagens do João Rebolo (1945-2018) (*), porta-estandarte da Tabanca Pequena de Matosinhos,  tendo ao lado o Manuel Carvalho (fotos nºs 1 e 2) ed o Xico Allen (Foto nº 2); petiscando com os manos Varrasquinha, Diamantino e Manuel, de Ervidel, Aljustrel (foto nº 3); sentado à mesa, entre o J. Casimiro Carvalho à sua direita e o António Barbosa (Gondomar), à esquerda (foto nº 4); tocando e cantando com a malta da Tabanca de Matosinhos (fotos nºs 5 e 6).

Fotos: © Manue Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Seleção de mensagens de condolências emviadas por alguns dos seus amigos e camaradas, e recolhidas da Net (páginas do Facebook, Blogue...)

(i) Conselho de Administração da ONGD Tabanca Pequena:

(...) A sua forma de ser, estar e agir na vida, na sua simplicidade, foi um manancial de vivências que marcou todos quantos com ele se cruzaram na sua caminhada neste mundo. (...)

(ii) Carlos Vinhal, coeditor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:

(...) Em SMS de ontem, manhã cedo, o nosso camarada José Teixeira deu-nos notícia do falecimento do João Rebola que há muito se encontrava doente. Lutou quanto pôde com a doença que o vitimou até da lei da morte se libertar. Ainda no passado dia 14 de Setembro, em resposta a um SMS que lhe mandei, dizia-me: "Bem não estou, gostaria... mas estou vivo". (...)

(iii) Tabanca Grande Luís Graça:

(...) É mais um duro golpe para os amigos e camaradas da Guiné, em especial da Tabanca de Matosinhos e da Tabanca Grande. Estão as nossas tabancas mais pobres e a fazer o luto pela perda de mais um bom amigo e camarada da Guiné!... 

Sabíamos da doença que o minava, mas mesmo assim arranjava forças para consolar e encorajar os que ainda estavam pior do que ele... Foi o caso do Joaquim Peixoto, que ele foi visitar ao hospital, pouco semanas antes de morrer... Que nobreza de carácter, que lição para todos nós!


Para a família enlutada vai o meu abraço solidário, em meu nome pessoal e dos membros da Tabanca Grande. Luís Graça (...)

(iv) Hélder Sousa:

(...) O João Rebola foi daqueles amigos "ganhos" aqui,  através do Blogue,  e com o qual foi muito fácil ganhar empatia, respeito e consideração.

Contactei algumas vezes com ele por força da regularização das quotas da Tabanca de Matosinhos e, mesmo este ano, quando a doença já mais o incomodava, não deixámos de conversar. É com tristeza que tomei conhecimento desta "partida". (...)


(v) J. Casimiro Carvalho:

(...) Fui ao velório "despedir-me" do João Rebola. Encontrei outros combatentes na mesma triste Missão. Um camarada que merece uma referência, pelo seu espírito bonacheirão, amigo e sempre bom camarada. Sempre com um sorriso rasgado para nós. e são esses que me custa ver "partir"
Adeus camarada da Guiné. (...)

(vi) Francisco Baptista:

(...) O João Rebola foi um bom homem e um camarada excelente, membro muito diligente dos Corpos Sociais da Tabanca de Matosinhos. Sem nunca procurar qualquer notoriedade, discreto e sem fazer alarde, foi sempre muito dedicado aos camaradas e aos pobres e abandonados da Guiné, o grande objectivo social da Tabanca.


Nos almoços em que estava presente, procurou sempre dar a todos e a cada um alguma visibilidade nas muitas fotografias que tirou. Afincadamente procurava cobrar as quotas dos que se esqueciam ou dos que deixavam de estar presentes nos almoços. Há cerca de meio ano encontrei-o e falou-me das minhas quotas em atraso, penso que duas. Eu prometi-lhe que quando ele voltasse eu iria também e pagaria tudo o que era devido. Infelizmente ele não pôde voltar mas eu irei à Tabanca de Matosinhos brevemente almoçar e pagar as minhas quotas em atraso.

João, irei lá pagar-te porque tu para mim continuarás vivo até ao meu fim e não posso faltar à palavra a um amigo. Até sempre camarada!

À esposa do João Rebola, senhora simpática que conheço bem e a toda a restante família dele envio os meus sentidos pêsames Envio os meus sentidos pêsames também a todos os amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos e doutros lugares. (...)

(vii) Valdemar Queiroz:

(...) Que chatice já começarmos a morrer. Que chatice, não merecíamos. Pelo menos que o tempo passado na Guiné conte mais uns anos no tempo da nossa vida. Não merecíamos morrer tão cedo.
Não merecíamos. (...)

(viii) Armando Pires:

(...) João Rebola morreu. E eu tenho um imenso aperto no peito. Em sua memória, das minhas crónicas no blog Luís Graça & Camaradas da Guiné:

Bissorã, 1969 (**)

(...) "Saímos da casa, e quando íamos a atravessar a rua quase fui abalroado por um gajo que, numa motorizada em grande velocidade, fez duas “chicuelinas” para me evitar, seguindo em frente sem dizer água vai nem água vem.
 – Que é isto, ó Filipe?

Com um largo sorriso informa-me, “é pá, é o maluco do Rebola, furriel da 2444”.
Apresentado assim pelo Filipe, o espanto passou-me e pensei para com os meus botões:
– Queres ver que já estou com a minha gente?

(...) Passei à porta do bar dos sargentos da 2444 e do seu interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Contei-lhe que tinha sido o Filipe (...) Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “ hei de vir aqui mais vezes – disse eu – que talvez ainda façamos umas fadestices".

Mais tarde (…) saí para jantar e tropecei de novo no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

(…) E convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.

(...) Chamado à sua presença, o capitão Barros abriu a conversa.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelentes condições, uns serões sociais (…) e eu pensei fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite (…) o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…

"Olha para onde vens tu, ó Barros!" - pensei eu - e atalhei aquela espécie de música para encantar meninos fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, (…) “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que, sem acompanhamento, sem guitarra e sem viola, eu não canto.
O recado foi levado ao senhor comandante, foi-lhe transmitido na messe de oficiais, e ali mesmo o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola. O furriel de que o Marcão falava era o João Rebola.

Encurtando parágrafos à história, as sessões de bingo foram por diante, o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado Vilas Boas, e depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.”

O João Rebola, à minha direita na foto, não voltou a tocar para mim nem eu tornei a cantar com ele.
Perene, foi a amizade que nos uniu, a memória que dele me fica. (...)



Guiné > Região do Oio > Bissorã > BCAÇ 2861 > Messe de sargentos > Numa das sessões de fados aos sábados: da esquerda para a direita, João Rebola, viola,  Armando Pires, voz, e Vilas Boas, viola...
"Sou o João Manuel Pereira Rebola, ex-furriel mil que cumpriu,  desde 15/11/68 a 20/08/70, a sua comissão na Guiné. Mas foi em Bissorã que conheci o furriel enfermeiro "ribatejano e fadista", Armando Pires,  e que ao fim de 40 anos nos reencontrámos!!! (...) O Armando, durante o tempo em que a minha companhia, a CCaç 2444, 'Os Coriscos', permaneceu em Bissorã, todos aos sábados, na messe dos sargentos do BCAÇ 2861, cantava fados como ninguém e tinha como acompanhantes o Vilas Boas e eu, que me encontro à sua direita, na foto, que confirma o epíteto de furriel fadista. Aqui está a prova real!" (Excerto do poste P10821). (**)

Foto (e legenda): © João Rebola (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradasda Guiné]



Lisboa > Arquivo Geral do Exército, no antigo Convento de Chelas (, sito no largo de Chelas, em Chelas, Freguesia de Marvila, Concelho de Lisboa) > 22 de fevereiro de 2013 > O reencontro de 2 velhos amigos, camaradas de armas e companheiros de fadistagem em Bissorã... O João que reconheu o Armando... 43 anos depois: à direita, Armando Pires (Miraflores, Carnaxide, Oeiras) e João Rebola, à esquerda  (Senhora da Hora, Matosinhos)... E tudo graças ao nosso blogue... É caso para dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"...

Foto: © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
    (ii) Vivia no Porto (, mas eu tenho  a ideia que era oriundo do Sul);
    (iii) Andou na escola Colégio Portuense (, turma de 1967); 
    (iv) Estudou em Faculdade de Letras da Universidade do Porto (, turma de 1985);
    (v) Era reformado nos SBN-SAMS; e, anteriormente,  trabalhara no Sindicato Bancários do Norte;
    (vii) Era o tesoureiro da ONGD Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau e um dos "régulos" da Tabanca de Matosinhos;
    (viii) Entrou para a Tabanca Grande em 18/12/2012, sendo o seu "padrinho" o Armando Pires (***); tem mais de 20 referências no nosso blogue;

(ix) Tocava viola, bandolim e cavaquinho; era casado, e pai de duas filhas e, muito provavelmente, avô;

(x) Não chegou a completar os 73 anos; despediu-se cedo demais da "terra da alegria"; era amigo do seu amigo e camarada do seu camarada. (LG)

4 comentários:

Manuel Luís Lomba disse...

Apresento os meus pêsames à Família, amigos e camaradas.
Hoje é o primeiro dos dias que nos restam...
Manuel Luís Lomba

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Armando, grande fadista!

Esta foto, tu e e o rebola, é um espanto!... É verdade que tu não o reconheceste logo à primeira, em Chelas ?...

Perdeste o teu "viola", camarada!...Mas ele não vai para a "vala comum do esquecimento", graças aos teus escritos e ao(s) nosso(s) blogue(s)...

Anónimo disse...

Armando Pires
2 out 2018

Aa história do nosso "reencontro" por telefone está contada no blog. Porque foi no blog que tudo se deu. Eu perguntei se alguém conhecia alguém dos "Corisco" [, a CCAÇ 2444,] e deram-me um número de telefone que era... o dele.

O n° do Post não me lembro (estou em viagem, de regresso a casa), mas "ouvir" o nosso telefonema, vale a pena.

O encontro físico não foi em Chelas. Foi junto à Sé de Lisboa onde mora (morava?) a filha. E sim, já não me recordo que sinal (tipo uma flor, estão a ver?) para que eu o reconhecesse. E era eu a olhar para um lado e para o outro, e "um gajo" atrás de mim a perguntar se eu era o Pires.

Depois sim, levei-o a Chelas, onde ele foi levantar as Medalhas das Campanhas para entregar "à malta" do norte.

Agora vou ter saudades de falar com ele no Skype, com ele a tocar o bandolim e a perguntar, "ó Pires, vê lá se conheces esta...".

Estou triste, pronto.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eis o poste:

5 DE MARÇO DE 2013
Guiné 63/74 - P11195: Facebook...ando (24): Armando Pires e João Rebola, fadistas de Bissorã: o reencontro, 43 anos depois, em Lisboa, no Arquivo Geral do Exército

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/03/guine-6374-p11195-facebookando-24.html


Há três anos atrás, escrevi ao Carlos Vinhal pedindo-lhe que me ajudasse a encontrar alguém de "Os Coriscos", a CCAÇ 2444, com quem eu estiveram de finais de 69 a meados de 70, em Bissorã.

Não demorou uma semana (onde é que está a novidade? não costuma ser assim?), recebi um e-mail de um camarada cujo nome, lamentavelmente, não retive, a dar-me o contacto telefónico de um tal João Rebola, que ele pensava ter pertencido a essa companhia.
- Está lá?
- Estou sim, muito boa noite. É o sr. João Rebola?
- Sou sim, diga.
- Ó sr. Rebola, o senhor pertenceu a uma companhia de caçadores, a 2444, que tinha o lema de "Os Coriscos"?
- Pertenci sim, mas porque é que pergunta?
- Sabe, eu gostava de falar consigo...
- Mas olhe lá, quem é que lhe deu o meu telefone?
- Fui eu que escrevi para o blog do Luís Graça...
- Luís Graça? Não conheço ninguém com esse nome.
- Pois, mas não foi ele, foi através dele que apareceu um camarada nosso...
- Sim, mas diga lá o que é que quer, que eu já estava de saída com a minha mulher para ir jantar.
- Bom, é que eu também estive em Bissorã, estive lá na mesma altura que a vossa companhia lá esteve, por acaso voltei lá em 1998, e gostava de falar...
- Mas olhe lá, você é o Armando Pires?
- Sou - respondi-lhe de pronto, convencido que ele relacionava o ano de 1998 com as reportagens que eu fizera para a rádio, aquando do golpe militar liderado pelo Ansume Mané.
- Então tu não te lembras de mim?
- Não estou ver, sabe. Já lá vão tantos anos.
- Ó pá, sou o Rebola, o furriel que te acompanhava a cantar o fado, lá do bar de sargentos, em Bissorã.
- Sinceramente, peço-lhe desculpa... não estou a ver - respondia-lhe eu, meu incrédulo, meio titubeante...
- Não te lembras, pá? Mas olha que eu tenho fotografias comprovativas. (...)