quarta-feira, 11 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18834: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Cacheu > 3 de Março de 2008 > A estátua de Diogo Gomes, agora "em depósito" na antiga fortaleza portuguesa do Cacheu... Seis séculos de história para um "canto", que nem sequer é museu...

Já vai em mais de cem o número de académicos que são contra a possibilidade de Lisboa vir a ter um "Museu das Descobertas". Numa carta, que o Expresso publica abaixo, historiadores, especializados na história do império português , e cientistas sociais explicam porque é que um museu dedicado à expansão portuguesa nunca deverá ter esta designação. A ideia de criar na capital uma instituição como esta foi defendida no programa eleitoral de Fernando Medina, eleito presidente da câmara de Lisboa. Os signatários da carta consideram o nome "Museu das Descobertas" um erro de perspectiva. A lista de signatários não tem parado de aumentar desde que a carta foi tornada pública,na última quinta-feira. Aos portugueses juntaram-se desde então investigadores vinculados às universidades de Harvard, Yale, e UCLA, nos Estados Unidos, ao Collège de France, Sorbonne, EHESS, Paris e a EPHE, Paris, às principais universidades brasileiras, São Paulo, Universidade de Campinas, Universidade Federal da Baía, Universidade Federal Fluminense, o University College London, UK, ou a Universidad Complutense de Madrid- 
[Expresso, 12 de abril de 2018 >  A controvérsia sobre um Museu que ainda não existe. Descobertas ou Expansão?]


Foto: © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António Rosinha

Data: 9 de julho de 2018 às 23:04

Assunto: Entre 1394 e 1974 da História de Portugal deve ser re-escrita e ir para o Museu?

Luís, como está na ordem do dia, e se não for excessivo, aproveita.
Abraço, António,


2. Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Entre 1394 e 1974, a História de Portugal deve ser reescrita e ir para o Museu?


[ António Rosinha, foto acima, à direita, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande]

(i) beirão, tem mais de 110 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como  autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


Mas não no Museu das Descobertas, porque estas só podem ser consideradas até Magalhães com a volta ao mundo, 1521, 127 anos a viajar e a ligar terras e continentes desconhecidas entre si e localizá-los no mapa.

Segundo alguns portugueses, desde o nascimento do Infante Dom Henrique até ao General Spínola, 580 anos, todos os heróis nacionais desse período, com estátuas, bustos ou referências em ruas e praças, deviam ser "recolhidos", senão apagados da história como heróis, porque acham que a história está a ser mal contada.

 E, sendo assim, tal como fizeram os guineenses que levaram as estátuas dos heróis portugueses para a fortaleza de Cacheu, era de sugerir, digo eu, que cá, na ex-Metrópole, se fizesse um Museu na fortaleza de Sagres, onde tudo começou.

Talvez não coubessem todos, desde o próprio  Dom Henrique um sem vergonha, sonhador, mas talvez  a culpa foi da mãe que até era inglesa,  até ao Camões um gabarola, e um Cabral que até se enganou no caminho porque se fiou no GPS que estava desactualizado.

E o Marquês onde o Benfica festeja à volta do leão, que mandou os jesuítas para lá do Atlântico, pregar para outra freguesia, esse ia também para Sagres.

Nem os santos escapavm, até São Francisco Xavier que foi convencer gente que vacas não são sagradas e que toucinho faz uma rica banha, esse também não escapava.

Quem vai para Sagres é tambem o Gama que viciou os europeus na canela e no açafrão e outras drogas.

Mouzinho que embarcou Gungunhana e a família para a Metrópole, e não naufragou, será uma das figuras principais no museu.

Enfim, se misturarmos numa mesma casa desde o Henrique, o navegador, e o Gama e Bartolomeu Dias e Cabral, junto com Salvador Correia de Sá e outros brasileiros mais uns tantos cabo-verdianos e angolanos que  atravessaram o Atlântico com escravos para o Brasil e juntarmos ainda  outros como o próprio Eusébio e todos os Magriços do Estado Novo, que inovaram com futebol luso-tropical na Europa, moda que pegou (França e Inglaterra), então ficamos sem saber como havemos de chamar a esse museu.

Mas Museu das Descobertas é que não pode ser chamado como tal.

 Passámos mais anos a caminho e a viver nos trópicos do que quietinhos no nosso cantinho.

Seriam 580 anos da nossa história que  foram uma mentira, porque  nos primeiros127 anos já estava tudo descoberto, reconhecido e identificado e mapeado, o resto 353 anos,  foi conquista e colonização.

E só teríamos 274 anos em que fomos verdadeiramente Portugueses ou Lusitanos, e não Luso-Tropicais.  

Temos que perder complexos e não somar complexos a mais complexos. Descobertas foi uma coisa, conquistas foi outra. E escravatura foi ainda outra, e todas estas coisas devem ser tratadas no seu devido lugar (museu).

Como os portugueses mais recentes,  africanos, que à maneira americana se dizem afro-descendentes, e não sei se indianos e chineses descendentes também se queixam que os herois portugueses das Descobertas e das conquistas não são os seus heróis, talvez a maioria dos portugueses se interrogue se não será também descendente dos milhares de escravos e escravas e voluntários e voluntárias que se fixaram durante 580 anos neste cantinho de heróis, e aí ficamos na dúvida sem saber o que fazer a tanto herói.

E mais uma coisa, toda a Europa está numa transição tal, que há países europeus a temer que a maioria dos seus cidadãos  venham um dia a ser "afro-descendentes" e aí também os heróis "mudam de figura".

Já há muitos anos os romanos lutaram contra cartagineses que chegavam de elefante, agora lutam contra quem chega de bote.

A história universal pode ter muitas leituras, mas ninguém culpe os navegadores, porque "navegar é preciso".

Um abraço
António Rosinha
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18559: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): 25 de Abril: somos ingratos?

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De Coimbra com abraço... Sexo dos anjos ? Não, o tema merece a nossa atenção e discussão. Ab. LG

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Gostei; e acrescentarei o seguinte pensamento que me ocorreu há dias ao ler um artigo de opinião sobre a opinião controversa da jornalista Fernanda Câncio no Observador:
Quando os Afro-americanos bem sucedidos começarem a agradecer aos “negreiros” que no passado levaram, como escravos, os seus antepassados, para o Novo Mundo e para uma vida de oportunidades com que não poderiam sonhar, os Naional-Sádicos da qualidade intelectual da jornalista Fernanda Câncio, irão desvalorizar a acção dos portugueses no evento, atribuindo-lhes um irrelevante papel comparado com o de outros intervenientes naquela migração.
Um abraço,
JS

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Sinceramente não entendo esta "problemática" ou esta questão fracturante ou farturante.
A CMLisboa não tem onde gastar dinheiro? Não há melhorias a realizar na cidade? Desde a sinalização horizontal e vertical, piso da ruas e passeios, recuperação dos seus próprios imóveis, etc., etc. e etc...
É só escolher.
O que é que se pretende homenagear? Estamos a falar de 500 anos de história do país, período de tempo em que sucedeu tanta coisa boa e má, não sei se haverá museu que chegue para tudo. Se se pretende descrever o sucedido apenas entre a primeiro e a última descobertas/colonizações, então estamos talvez a falar de 100 anos durante os quais o povo português teve uma aventura.
O Museu (neste caso) poderia ser das Descobertas, correspondendo ao tempo em que os portugueses colaboraram e lideraram o relacionamento da Europa com o resto do mundo. Isto está defendido em vários trabalhos científicos realizados por esse mundo fora.
Depois foi cada um por si, como sabemos
Há uma questão importante: o museu deve ser constituído sem fins laudatórios (tipo Estado Novo), mas expondo, com rigor científico e verdade objectiva, do sucedido.
É inaceitável este complexo de inferioridade e necessidade de auto flagelação. Não conheço que mais nenhum outro povo os pratique, mesmo aqueles que são hoje tidos como bárbaros e subjugadores de outros povos. Não temos que nos auto-flagelar para ficarmos com a "consciência" tranquila e fazermos figuras ridículas. O que penarão disto os defensores da "lusofonia" e do "passado comum"? Era bom que se soubesse.

A França orgulha-se da sua Revolução e Campanhas subsequentes, mas os outros países da Europa têm outra visão do assunto
É o que não me admirava que sucedesse nas ex-colónias.

Não posso aceitar o que fizeram os guineenses que levaram as estátuas dos heróis portugueses para a fortaleza de Cacheu. Se se sentiam ofendidos com elas devolviam-nas ao país onde aqueles homens são heróis e, se este as não quisesse, com parece ser o caso, então destruíam-nas. Esta solução de meias-tintas não dignifica ninguém.
Era original o tal Museu na fortaleza de Sagres, onde tudo começou para colocar as estátuas retornadas. Assim, parece que vinham a retirar...
No caso da Guiné creio que as estátuas do descobridor e do Honório é lá que devem estar, por motivos óbvios. Mas o país é independente e eu não tenho nada com isso.
Talvez não coubessem todos, mas no exterior também poderiam ficar. As estátuas não se constipam...

Está mais que dito que os passado deve ser lido e admitido à luz das mentalidades e modos de viver da época e isso faz parte da verdade. Aplaudir se assim for ou condenar se assim dever ser, mas sempre com verdade.

Ao Museu podemos chamar o que quisermos, pois o nome é uma questão de forma (o que menos interessa). Se calhar era bom fixarmos primeiro as datas de início e fim do que se pretende narrar...

Com este género de de(s)ba(s)tes sinto que me estão a manipular e a desviar a minha atenção das questões importantes da vida nacional e isso não podemos aceitar sob pena de passarmos a nós próprios um atestado de burrice.

Um Ab.
António J. P. Costa