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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26515: S(C)em Comentários (59): Ainda a Op Trampolim Mágico, desembarque anfíbio na margem direita do rio Corubal (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74



Luís Dias

1. Comentário do poste P26513 (*):

A primeira grande operação em que me vi envolvido, quando comandava o 2º Gr Comb da CCAÇ 3491, integrado, juntamente com o 3º Gr Comb  também da minha companhia, no agrupamento "Castanho". 

Recordo que estivemos estacionados dentro de uma LDG, no meio do rio Geba, durante grande parte do dia, na véspera da Operação, que fomos atracar a Porto Gole, para pernoitar (onde penso ter bebido as cervejas mais frescas da minha vida, tal a sede). 

Que no dia seguinte, dentro da LDG lançada 
a toda a força,  fomos desembarcar na Ponta Luís Dias (engraçado ter o meu nome, mas, é claro, não tem a ver comigo), apoiados pelo fogo de artilharia da LDG e o bombardeamento dos aviões da FAP, estando a assistir ao desembarque o General Spínola. 

A operação foi decorrendo e devido a termos ficados parados, expostos ao sol (escaparam a este sacrifício os 2 Gr Comb  da nossa companhia, que eram os últimos do agrupamento e que, depois de ter perguntado ao Capitão que dirigia o agrupamento, o que se estava a passar - parados à espera de ordens (?)- decidi colocar os homens em locais junto de árvores que os protegessem do intenso calor. 

Interessa lembrar que a operação estava a ser levada a cabo, essencialmente, por forças do BART 3873 e BCAÇ 3872, que estavam na Guiné há pouco tempo e ainda não habituados a excessivo calor. 

A operação poderia ter corrido muito mal face à falta de água que se fez sentir, a diversas evacuações de pessoal desidratado e outros acontecimentos que não vou lembrar, porque a falta de água transtorna o cérebro de uma pessoa. 

O IN apercebeu-se da quantidade de homens e material empregue na operação e foi fugindo da zona deixando para trás velhos, mulheres e crianças, que foram levados pelas nossas forças. 

Não tivemos qualquer contacto e o IN apenas durante a noite lançou, à toa, morteiradas, com o intuito de conseguir saber onde estávamos instalados para dormir, mas sem, felizmente, qualquer sucesso e as tropas também decidiram não responder, para que eles não nos conseguissem localizar. 

A operação para o nosso agrupamento terminou em Mansambo, sendo recebidos pelo pessoal desse aquartelamento com jerricãs cheios de água, recebidos como um grande petisco, por todos nós.

Luís Dias, ex-alf mil,  CCAÇ 3491/BCAÇ3872 (Dulombi/Galomaro/Piche/Bambadinca/Nova Lamego/Pirada/Dulombi/Cumeré) | 
Guiné 24dez1971/28mar1974.


(Seleção. revisão / fixação de texto: LG)



Guiné > Carta de Fulacunda (1955) (Escala 1/50 mil) > Posições relativas das NT (a negro): Fulacunda, Ganjauará, Porto Gole e sector L1  (Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole) e do PAIGC (a vcrmelho): Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Mangai, Mina / Fiofioli....

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > 1969/71 > Croqui do Sector L1 > Vd. as posições do PAIGC ao longo da margem direita do rio Corubal: Poindom / Ponta do Inglês (1 bigrupo); Ponta Luís Dias (1 bigrupo); Mangai (artilharia e bazucas): Mina / Fiofioli (base principal, 2 bigrupos); Galo Corubal / Satecuta (1 bigrupo)... As NT tinham unidades de quadrícula em Bambadinca (+ 1 CCAÇ 12, em intervenção), Xime, Mansambo e Xitole (BCAÇ 2852 e depois BART 2917).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infografia: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26513: Imagens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte III: A CART 3494 no Xime para render a CART 2715

(**) Último poste da série > 9 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26477: S(C)em Comentários (58): A "Primavera Marcelista" ?...é um mito: eu estava em Coimbra e e apanhei em pleno a crise académica de 1969 (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís, sei o que isso é... Grandes operações desenhadas no mapa pelos Comandos de Agrupamento e depois CAOP (no vosso caso CAOP2), com centenas de tropas apeadas, 3 dias, crescentes casos de insolação e desidatração, em plena época seca (fev / mar )... eram a combinação perfeita... Concordo contigo, a melhor arma do IN (para além dos ataques mortíferos das aeblas "kamikaze") era a nossa dificuldade (da tropa metropolitana) em gerir a água (o que são dois cantis ?!) e assegurar o abastecimento "na hora e no local certo"...

Parece que o nosso "estado maior" (homens que foram treinados para a "guerra clássica" e nunca os clássicos da guerra de guerrilha...) não aprendeu nada entre a Op Lançada Afiada (8-18 de março de 1969) e a Op Trampolim Mágico (24-26 fev 1972), ou seja, três anos depois...

Desta vez, vá lá a Marinha penetrou no rio Corubal até Ponta Luís Dias...Mas era preciso fazer um tampão na margem esquerda...

O PAIGC não tinham efetivos para fazer frente às NT (mesmo "periquitas"...), não estava interessado em deixar-se massacrar: deixavam os velhos, as mulheres e as crianças para trás, e dispersavam, como irão fazer na Op Grande Empresa, no final de 1972, no Cantanhez, como fizeram na Op Lança Afiada (de 10 dias, um disparate de todo o tamannho do então cor inf Hélio Felgas, cmdt agrup de Bafatá, antecessor do CAOP2).... Depois, reacrupavam-se, e voltavam á "guerra suja e surda" do toque e foge...

E depois mandar "periquitos" para uma operação destas, ainda "não aclimatados", era só para "mostrar serviço" ao homem grande de Bissau (que voltou a lá estar, com a tropa-macaca, como em março de 1969!).

Parece que o maior sucesso do sector L1, no vosso tempo, foi a lenta mas crescente conquista de confiança das populações sob controlo do IN, que viviam miseravelmente... E o trabalho de sapa feito pelas NT no plano da dissociação IN/Pop... O caso de Samba Silate para mim é bem ilustrativo: a população espupidamente aterrorizada pelas NT no início da guerra (e que incluia uma pequena comunidade cristã), fugiu para o mato mas no vosso tempo, 1972/73, começa a dar sinais de conflitualidade com os senhores da guerra do PAIGC e quer voltar a cultivar a grande e produtiva bolanha de Samba Silate...

Luís, foi um gosto ver-te de novo por estas bandas!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer "abelhas kamikaze"...

paulo santiago disse...

Quando aconteceu esta operação,encontrava-me em Bambadinca a formar uma Companhia de Milícias,cuja instrução começara no ínicio de janeiro.
Imaginou-se ser coisa de envergadura quando máquinas da ENG. andaram a estender a pista de Bambadinca para possibilitar o levantamento e aterragem de aviões T6.
Um dos Pelotões de Milícias (GEMIL) era destinado à Ponta Luís Dias.Uns dias antes da tal operação o Ten-Cor Polidoro Monteiro inquiriu-me sobre a possibilidade do GEMIL estar apto a fazer uma segurança num trajecto,que não me disse onde seria.Era arriscado,ainda não tinham um mês de instrução,disse-lhe.
Grande azáfama em Bambadinca no decorrer da Op,com os T6 e helis.
Estava um calor infernal,acabou-se a água nos cantis.Constou-se que um militar evacuado,em desespero,tinha bebido urina.