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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26519: Os nossos seres, saberes e lazeres (670): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193): From Southeast to the North of England; and back to London (12) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
A Galeria Courtauld tem cerca de 33 mil objetos de arte, mas tudo quanto se exibe neste discreto edifício está exposto com um belo aparato museográfico e museológico, desde o período medieval, o renascimento e o barroco, e daqui para as correntes do romantismo, chega-se ao ponto alto da coleção, impressionistas e os pós-impressionistas, e grandes artistas com alvo de pequenas mas bem expressivas exposições como aquela que é dedicada a desenhos de Henry Moore à volta da Segunda Guerra Mundial e a fotografia do aclamado Roger Mayne, um aclamado artista que tem aqui uma exposição sobre os jovens nas décadas de 1950 e 1960, isto para já não falar de uma mostra de recentes aquisições de desenhos e gravuras que vão desde o século XVII à atualidade. Deixa-se no texto referências de consulta para quem queira conhecer melhor no computador os extraordinários tesouros da Galeria Courtauld.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193):
From Southeast to the North of England; and back to London – 12

Mário Beja Santos

Tudo começou com um grande colecionador que se revelou um entusiasta pelos movimentos impressionista e pós-impressionista. O seu legado é a constituição de um instituto de arte a que se associaram outros amantes das artes plásticas. Hoje em dia, a coleção da galeria Courtauld abrange cerca de 33 mil objetos que vão do período medieval até ao presente século, pinturas, desenhos, cerâmica e escultura de todos os géneros e é possível fazer a exploração deste tesouro grátis através de uma plataforma digital com imagens de alta-definição. Sugerimos a quem quer saber mais o site: http://gallerycollections.courtauld.ac.uk ou ver a bela apresentação que o ator Bill Nighy faz da coleção em: https://www.youtube.com/watch?v=_MFrNueRZqU.
A galeria tem muitas exposições, apresentação de aquisições recentes, conferências, tive a sorte de visitar a exposição do genial escultor Henry Moore com os seus desenhos que elaborou durante a Segunda Guerra Mundial. Por ordem cronológica vamos subindo no tempo, pela galeria medieval no 1.º andar, o renascimento e o barroco no 2.º, o impressionismo e os modernos no 3.º. Como gostos não se discutem, procurei ir diretamente para um conjunto de obras-primas de referência.

O aparatoso pátio de Somerset House
Estudo para ‘Le Déjeuner sur l’herbe’, Édouard Manet, cerca de 1863.
Trata-se de um trabalho preparatório para um dos quadros mais famosos do século XIX, provocou escândalo na época pintar duas mulheres nuas e dois homens vestidos. Manet rejeitou soluções do tipo renascentista e deu maior atenção aos pormenores ambientais, como as árvores
Bailarina olhando a planta do seu pé direito, bronze de Edgar Degas, 1919-20.
Nas suas esculturas de bronze Degas aspirava captar o corpo em movimento ou em difíceis posições baléticas
Mulher com chapéu de sol, Edgar Degas, cerca de 1870
Montanha de Santa Vitória com pinheiro alto, Paul Cézanne, cerca de 1887.
A Montanha de Santa Vitória domina toda esta região de Aix-en-Provence, Cézanne vivia aqui e pintou numerosas vezes paisagens da montanha do povo da região, em diferentes perspetivas. A sua ousadia passa pelas cores, a importância dada à árvore em primeiro plano, a extensão dos campos e o cuidado na conjugação das cores entre o azul, o verde e os cinzentos acastanhados.
Os jogadores de cartas, por Paul Cézanne, cerca de 1892-96.
Cézanne passou muitos anos a desenhar e a pintar trabalhadores rurais quando viveu em Aix-en-Provence. Esta obra é uma das cinco pinturas que ele elaborou com homens a jogar às cartas. Supõe-se que o pintor da esquerda é um autorretrato. Ele esboçou figuras alongadas, desproporcionadas, tudo com uma pincelada muito viva e variada. Os dois homens estão absorvidos e concentrados no seu jogo. Ao contrário da pintura anterior em que os trabalhadores apareciam nas tabernas a jogar às cartas entre vinho e cerveja, Cézanne revela aqui uma visão diferente, são figuras monumentais e dignificadas, como duas estátuas que sofreram o desgaste do tempo.
Georges Seurat, Estudo para um quadro de dançarinos a dançar o Cancan, cerca de 1889.
O Cancan era muito popular nos nightclubs parisienses no final do século XIX. Seurat foi um dos consagrados pintores pontilhistas, conseguindo obter uma composição cheia de divertimento e alegria.
Georges Seurat, Praia de Gravelines, 1890
O que aprecio profundamente nesta obra é o velado anúncio da arte abstrata, o mestre usou contidamente poucas cores, separa a água e o céu com o traço ténue, e regista na perfeição uma atmosfera de nevoeiro, típica do Norte de França. Olhamos para estes grãos de areia e fica-nos na imaginação que o pintor tudo elaborou junto a uma janela.
Paul Gaugin, Nevermore, 1897
Gauguin pintou este quadro quando viveu no Taiti, uma ilha no Sul do Pacífico colonizada pela França. A imagem do nu reclinado tem uma longa tradição artística, o que há aqui de singular é o exotismo, a jovem não está propriamente em repouso, está ansiosa e atenta a duas figuras atrás dela. Sabe-se que o modelo era a companheira de Gauguin, Pahura, uma jovem de 15 anos.
Henri de Toulouse-Lautrec, Jane Avril a entrar no Moulin Rouge, cerca de 1892.
Jane Avril era uma dançarina estrela num dos mais célebres cabarés parisienses, o Moulin Rouge. Toulouse-Lautrec desenhou-a em conhecidos pósteres, aqui dá-se a particularidade de ela não aparecer em espetáculo ou no camarim mas à entrada do local de trabalho, bem indumentada. Não era usual Toulouse-Lautrec pintar quadros tão estreitos como este.
Édouard Manet, Um bar nos Folies-Bergère, 1882.
Os Folies-Bergère era um outro muito popular local de diversão noturna parisiense. Podemos ver a enorme variedade de bebidas e o que há de verdadeiramente espantoso nesta obra-prima é vermos a animação ao fundo, é um reflexo de um enorme espelho que projeta o interior. A barmaid chamava-se Suzon, é o centro da atenção de Manet, as suas costas estão refletidas no quadro, tem uma expressão enigmática. Trata-se de um trabalho complexo pela composição absorvente e os críticos consideram-nos uma das pinturas icónicas onde se projeta a vida moderna.

Está na hora de preparar o regresso, em vez de ir pelo Strand propriamente, caminha-se à beira do Tamisa em direção ao Parlamento. Foram essas imagens que reservamos para a despedida de uma viagem que começou no condado de Oxford, seguir para o norte, e veio por aí abaixo até Londres e manda que se diga a verdade, dentro de horas regressa-se a Lisboa com uma grande carga de nostalgia, ficava-se aqui sem qualquer problema não sei quantos mais dias.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26498: Os nossos seres, saberes e lazeres (669): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (192): From Southeast to the North of England; and back to London (11) (Mário Beja Santos)

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