domingo, 11 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

Capa do livro de Carmo Vicente - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. 110 pp. Prefácio de Manuel Galhardo.

Foto: © Jorge Santos (2007). Direitos reservados


Camarada Luís Graça:

Sobre o Post 1512 PARAQUEDISTAS, FUZILEIROS E... PARAFUSOS, e relativo aos tristes acontecimentos de Janeiro de 1968 em Bissau (1), creio que era de publicar o artigo que te envio em anexo, e que é o testemunho de um dos intervenientes nesse caso.

Trata-se precisamente do 1º Sargento Pára-quedista Carmo Vicente, que participou em três comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique.

O testemunho do Sargento Carmo Vicente consta na obra Gadamael de sua autoria, das Edições Caso (2ª edição), de Julho de 1985 (páginas 25 a 30) (2).

Para além da referida obra, Carmo Vicente é também autor de Grades de Novembro, Gritos de Guerra, A Sentença, Era uma vez... 3 guerras em África, entre outras.

Nos acontecimentos de Janeiro de 1968 em Bissau houve dois mortos (vd. fotografias dos soldados pára-quedistas Ismael e Fernando no artigo em anexo), e não um, como se diz no Post 1512 .

Saúdo toda a Tertúlia.
Jorge Santos

Comentário de L.G.:

Este é um dos episódios negros, mas já esquecidos, da nossa presença na Guiné. Quando cheguei a Bissau, em finais de Maio de 1969, foi logo das primeiras histórias que ouvi. A rivalidade (mortal) entre fuzileiros e pára-quedistas tinha que ver, afinal, com este triste episódio de confrontos entre claques rivais de duas equipas de... andebol, que acabou em batalha campal e de que resultaram dois mortos, entre os pára-.quedistas!

Fiquei hoje a saber a versão de um dos protoganistas dos acontecimentos, o Carmo Vicente, cujo livro, de resto, desconhecia de todo. Não é por acaso que isto se passou no final do consulado do Governador Schultz, de triste memória. A guerra tinha chegado a um beco sem saída. Os acontecimentos aqui relatados por Carmo Vicente não seriam fruto do acaso. A violência nunca é gratuita... Obrigado ao Jorge Santos (e, através dele, ao Carmo Vicente) por nos vir lembrar mais este pedaço do inferno que foi o nosso...
Saudemos a memória dos nossos camaradas pára-quedistas Ismael e Fernando Lopes cujos nomes, infelizmente, nem sequer consta da lista dos que tombaram na Guiné.

Conferir lista disponível, em formato pdf, organizada pelo nosso camarada José Martins, no sítio do António Pires > Moçambique - Guerra Colonial > José da Silva Marcelino Martins > Militares que Tombaram em Campanha (1961-1974) > Guiné.

LG

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Extractos de VICENTE, Carmo - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. pp. 25-30. Selecção e digitalização de Jorge Santos. Subtítulos do editor do blogue.
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Conhecidos arruaceiros como o famigerado Oitenta (3)


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A UDIB (boinas negras) contra o ASA Clube (boinas verdes)
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Uma manga verde, lançada ao acaso: o rastilho de uma tragédia
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Uma batalha campal: fuzileiros armados de G-3 a granadas de mão
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Fernando Marques e Ismael: dois boinas verdes, mortos por nada, para nada...


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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

(2) Na badana do livro pode ler-se:

"Carmo Vicente é 1º sargento pára-quedista, tem 38 anos, e participou em 3 comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique. 'Gadamael' é uma narrativa apaixonada, mas profundamente crítica, dessa experiência, constituindo mais uma achega importante para a construção histórica do itinerário colonial de parte significativa da juventude portuguesa, entre 1961 e 1975.

"Sobre Carmo Vicente escreve em prefácio Manuel Geraldo: Ao contrário de vários autores que até agora se debruçaram sobre o mesmo tema, Carmo Vicente possui a vantagem de ter sido mobilizado pela 1ª vez como soldado, acabando por chegar a 1973 na situação de 1º sargento, no comando de um pelotão, precisamente em Gadamael. Logo, viveu o conflito em toda a sua plenitude, como 'actor' em escalões progressivos e com graus de sensibilidade diversa. Embarcado para a Guiné em 1966, com a mentalidade de 'cruzado', Carmo Vicente acabaria por descobrir a verdadeira face dos interesses em jogo e do papel que lhe tinham reservado no palco das operações."

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