sábado, 13 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3203: História da CCAÇ 2679 (2): A caminho de Piche (José Manuel Dinis)


1. Mensagem com data de 8 de Setembro de 2008, do nosso camarada José M. Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, (Bajocunda, 1970/71), com mais um pouco da história da sua Unidade (1).

Caro Carlos Vinhal

Anexo novo texto, desta feita sobre a chegada da 2679 a Piche.

Quanto a fotos é que andamos às avessas, enviarei proximamente. Mas tens em stock três fotografias, duas relativas à viagem no Uíge, outra reporta o meu primeiro serviço em Bissau.

Vou procurar ser cronologicamente fiel aos acontecimentos da Companhia, ou situações contemporâneas.

Um abraço para o pessoal da Tabanca Grande
José Dinis

2. A caminho do Xime
Por José Dinis

Do Xime para Nova Lamego e, seguidamente, até Piche, a CCAÇ 2679 deslocou-se em coluna auto com escolta de um Pelotão de Cavalaria de Bafatá, rotativamente deslocado em Piche, onde pontificava a velha Fox, que impressionava pelo barulho do motor, como pela metralhadora instalada na torre. Completava a escolta o Pel Caç Nat 65, domiciliado em Piche, comandado por um cromático alferes, pois durante as pausas na deslocação, deambulava por entre nós, de pistola à cinta e empunhando uma moca com um lenço amarelo atado na extremidade. Constituía uma verdadeira nota de cor na paisagem camuflada, embora contra todos os ensinamentos transmitidos na instrução.

Começava a pensar com os meus botões, que raio de guerra aquela onde tinha ido parar. Mas o registo iconográfico funcionava, apesar da maluqueira manifesta.

Dia 21 tomámos o caminho de Piche, já em picada, em boa parte do percurso com as margens capinadas e livres de vegetação. O nosso Capitão António Oliveira ter-se-á lembrado de usarmos lenços pretos, idênticos aos dos comandos, para nos identificarmos, ou para impressionarmos. Piriquitos nas fardas novas e com goma, servi-me do lenço para proteger a cara da poeira levantada pelas viaturas que precediam. E assim fez a maioria.

Chegados a Piche fui encarregado de instalar o pessoal na caserna, um antigo celeiro para a mancarra que aguardava a venda à Casa Gouveia. Entretanto, apareceu-me o Zé Tito, acompanhado por dois militares locais, referindo que tinha arranjado um quarto para nós, a suite 3, que partilhávamos com furriéis do BART, o Branco da Silva, o Águas e outro de quem não me lembro o nome.

Quando cheguei ao quarto, o Tito teria gratificado os militares, ambos a cumprir pena de detenção, que ali nos ofereceram os seus serviços no fornecimento de galinhas e cabritos, a dez ou vinte escudos, cinquenta ou cem escudos, respectivamente, não sei precisar. Indaguei onde arranjavam as preciosas mercadorias e obtive por resposta que controlavam a bicheza na tabanca. Era só querer.

O.K., mandei chamar o nosso padeiro, apresentei-os e referi que queria todas as noites dois cabritos na padaria, um para eles e cúmplices, outro assado com batatinhas, seria entregue na suite 3. E assim foi, noite após noite, e nunca paguei o que fosse, nem me lembro de ter voltado a falar com qualquer deles.

Comandava o BART um Major alcunhado de drácula, tal era o cagaço que infundia no pessoal, conhecido pelas porradas a torto e a direito, que passavam a ilustrar as importantes Cadernetas Militares. Dizia-se que o Caco Baldé o escolhera para impor alguma ordem num Batalhão onde teriam acontecido coisas inimagináveis e a generalidade dos comandos fora transferida.

Piche era uma grande tabanca e uma fortaleza com o perímetro aramado, dispondo de amplos postos defensivos na sua extensão, onde o pessoal da CCS garantia essa função e tinha os alojamentos. Nesse amplo espaço, para além da população, ficava a pista para aeronaves e um campo para futeboladas. A norte, também isolado por arame e com acesso por Porta de Armas, ficava a zona aquartelada, com modernas instalações, águas correntes e energia eléctrica quase permanentes, um campo de futebol de cinco e uma piscina. Vizinha era a casa Tufico, local de informalidades, onde havia matrecos, comércio diverso e bar com preços competitivos. Quatro escudos uma pequenina.

Bailinho da Madeira para Major ver

Homem de créditos, a pedir pedestal, o Major Comandante deve ter exigido um desfile.

Não sei por que carga de água, mas desfilámos. Com caixa, para marcar o passo. Na torreira do sol, sob a constante humidade que dificultava movimentos, lá fomos marchar para Sua Excelência. Pelo canto do olho, o que vi do Foxtrot foi um bailinho da Madeira mal ensaiado. No mínimo era displicente.

No final mandaram-me levar o Pelotão para as traseiras do refeitório, onde destroçariam. Antes perguntei se tinham desaprendido de marchar, como resposta, fizeram risos amarelos. Enfureci-me. Comuniquei que iam praticar Ordem Unida. Abriram fileiras relutantemente. Foram indolentes no exercício. A coisa começava a dizer-me respeito. Comuniquei que umas flexões iam ajudar à lembrança da disciplina exigida a um Grupo de Combate na iminência de o ser. Dirigi-me aos velhinhos que se juntavam para gozar o prato, que podiam ver, mas o primeiro a abrir o bico havia de ficar a conhecer-me.

Regressei ao Pelotão, junto do Ferdinando, o mais alto, e dei-lhe ordem para queda facial em frente. Olhou-me de soslaio. Apliquei-lhe uma tesoura, caíu e procurou a posição para pagar. Os restantes seguiram o movimento. Estava neste teimoso entretém de refrear a rebaldaria, quando chegou o Capitão a perguntar o que era aquilo, como que a justificar o pessoal.

Entreguei-lhe o Pelotão e virei-lhes as costas. No primeiro dia começava a experimentar dificuldades, mas tinha que considerar que o Foxtrot, pelas caracteristicas do alferes e minhas, de alguma indiferença pela disciplina militar, sendo o Pelotão onde o pessoal mais gostaria de estar, corria o risco de desgoverno e desagregação, sobretudo em ocasiões de maior tensão, se dele perdessemos o controle.

O futuro veio a revelar que o Foxtrot, sempre com características de irreverência no que respeita às formalidades militares, foi um grupo coeso, determinado, generoso e orgulhoso, onde a camaradagem não era vã.

Mais tarde no quarto, durante as apresentações, o Tubaco da Selva mostrou-me a área de arrumações e uma mala-biblioteca recheada de autores da moda, como Amado, Remarche, Lartégui, etc., mas acrescentou que estavam na fase das fotonovelas.

Pouco tempo depois,também eu me identificava com os personagens fotografados.

No final do dia fomos informados de que no dia seguinta faríamos uma patrulha a nível de Companhia, de reconhecimento e ambientação.
José Dinis

OBS:-Subtítulo da responsabilidade do co-editor
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Nota de CV

(1) - Vd. primeiro poste da série de 31 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3157: História da CCAÇ 2679 (1): Apresentação (José Manuel Dinis)

1 comentário:

Anónimo disse...

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