terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20517: In Memoriam (359): Carlos Marques dos Santos (1943-2019), um camarada afável e generoso, um "viriato" da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), um veterano, "futrica", da Tabanca Grande, e a quem dizemos "adeus, camarada, até qualquer dia!"


Coimbra > Santo António dos Olivais > Aguarela da igreja paroquial. Autoria: Sofia Santos, s/d, filha do Carlos Marques dos Santos (1943-2019), com formação superior em pintura.

Foto ( e legenda): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O CMS no destacamento do rio Udunduma
(c. junho/julho de 1969)
1. Alguns depoimentos / comentários de camaradas nossos, no Blogue e no Facebook, que conheciam e estimavam o Carlos Marques dos Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339, "Os Viriatos" (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) (*)


(i) Luís Graça:

Bolas!, o Carlos ia fazer os 77 anos no próximo dia 2 de janeiro... Há já uns anos que eu não tinha
notícias dele... Sabia, sim, que tivera em tempos uns problemas de saúde, de coração, que o afastaram do nosso convívio... Depois da Ameira, de Pombal, da Ortigosa...

É um duro golpe para todos nós, camaradas da Guiné, em geral, e para os camaradas, em particular, que o conheceram em Bambadimca e em Mansambo (em 1968/69)... Para mim, que convivi algumas vezes como ele quando ia Coimbra, sua terra natal, em trabalho, na Faculdade de Ciências e Tecnologia... Conheci-o, de resto, na Ameira, em 14/10/2006: foi ele quem organizou, com o Paulo Raposo, o nosso I Encontro Nacional... E também ajudou o Vitor Junqueiro a organizar o segundo, em Pombal, no ano seguinte.

Tinha um grande amor pela sua terra, Coimbra, e em especial pelo seu "chão", a freguesia  de Santo António dos Olivais. Os nossos camaradas Victor David (CCAÇ 2405) e o Carlos Marques Santos (CART 2339) eram primos, nados e criados em Santo António dos Olivais onde tradicionalmente havia uma rua dividida pelo famoso "paralelo 98": uma linha imaginária que nenhum estudante podia transpôr, sob pena de sofrer as devidas consequências...

Era, por outro lado,  um homem de grande afabilidade. E eu posso testemunhar o carinho ele que tinha pela família (a esposa Teresa, as filhas Inês e Sofia...). Que dizer-lhes, neste grande momento de dor ? Que o nosso coração está com elas... e que o Carlos não ficará na vala comum do esquecimento... Luís Graça

(ii)  Carlos Vinhal:

Tenho, como data de nascimento do Carlos,  o dia 2 de Janeiro de 1943, embora ele tenha embarcado para a Guiné em 1968, portanto um pouco tarde. Talvez tenha pedido algum adiamento.Já contactei via mail a sua filha Inês a quem, em nome da tertúlia e dos editores, apresentei as nossas condolências.

(iii) Jorge Picado:

A todos os familiares deste nosso camarada Carlos Marques Santos, mais um que nos deixa, os meus sinceros pêsames.

E assim vão acabando os ex-combatentes da Guerra Colonial, para descanso de quem nos (des)governa.

Até um dia, camarada!

(iv) Jorge Cabral:

Os meus mais profundos sentimentos! Conheci-o ainda na Guiné. Piriquito, fui render o seu Pelotão na Ponte do Udunduma, no fim de Junho de 1969. A minha total solidariedade com a Família e com os Amigos!

(v) José Martins:

É com tristeza, mas infelizmente sem surpresa, [que damos conta]  da partida dos camaradas que presamos e com quem, mesmo à distância, convivemos.

Foi aqui, neste espaço virtual, que nos conhecemos, nos respeitámos e passamos a ser camaradas e, mais que tudo isso, AMIGOS.

Vivemos na mesma terra lá longe e foi isso que nos uniu. Em breve voltaremos a encontrar-nos.

Condolências à família, amigos e camaradas.

(vi) Jorge Araújo:

À família e amigos do nosso camarada Carlos Marques envio as minhas sentidas condolências pela sua morte.

Descansa em paz, camarada.

(vii) Juvenal Amado:

É sempre difícil saber que partiu mais um elemento desta grande família e mais difícil quando parte alguém com quem privamos nalgumas ocasiões. Estive com ele à conversa na Tabanca do Centro onde ouvi as suas estórias da sua comissão. Lamento saber que se calou para sempre. à família enlutada envio os meus mais sinceros sentimentos.

(viii) Hélder Sousa:

É com tristeza que agora mesmo tomei conhecimento do falecimento do Carlos Marques Santos
O meu contacto com ele foi logo que me apresentei aqui na "Tabanca",  para o Encontro em Pombal [, em 2007]. Foi com ele que me "mandaram" contactar para poder integrar esse Encontro.

Portanto, em pessoa, foi ele o primeiros "rosto" deste local de memórias. E agora é de memórias que estamos falando. Que a memória do Carlos não se perca!

Sentidos pêsames.

(ix) Virgínio Briote:

Que é que se há-de dizer quando se perde um Camarada?

Condolências á Família.

(x) Albano Costa:

Encontrei-me com ele através do basquete e comunicamos também através do nosso blogue. Foi uma surpresa esta triste notícia. Os meus sentimentos à sua família.


2. Reprodução de um dos textos, mais antigos,  do Carlos Marques dos Santos (**)

Sendo o meu berço de nascimento [, Santo António dos Olivais, Coimbra]  e porque na altura almoçámos juntos lá perto (eu, tu e o Victor David) envio a título pessoal uma imagem real da Igreja  [, foto à esquerda,] e uma aguarela feita pela minha filha Sofia, licenciada em Pintura. Esta aguarela tem alguns anos e foi realizada ainda antes de entrar em Pintura [, vd imagem acima].

Tenho lido tudo o que se tem escrito [, no blogue]. É imparável e riquissimo o teu / nosso  blogue, mas tal como tu, já quase não consigo organizar ideias e novos documentos. Vou vêr se consigo participar, ponto por ponto, com algo de interesse.

A minha história militar - que é de 41 meses de tropa (hoje falava-se de no mínimo 36 meses), pois fui mobilizado no último dia possível e a minha classificação indiciava que iria para Timor ou S. Tomé - é talvez algo diferente, como já te disse, porque nós vivemos no mato, em Mansambo, dentro de arame farpado, sem populações, sem água, sem luz, picando a estrada para irmos a Bambadinca durante 17 kms, muitas vezes com o apoio dos obuses 105 mm.

Recordo que um dia, numa coluna de reabastecimento de materiais para a edificação de Mansambo, foram precisos 2 (dois) dias... Era na época das chuvas...

17 kms em 2 dias? Quem, a não ser nós, acreditaria nisto?!

Ficámos abrigados numa tabanca no meio do percurso, com toda a coluna atascada. Transportávamos 30.000 kgs de diverso material de construção.

Apanhámos, com o consentimento dos nativos, os frangos disponíveis e fizemos churrasco, temperado com as pastilhas de desinfecção da água (seria Sal?).

Digo com o consentimento, porque houve alturas em que não havia consentimento nenhum. Com os Balantas, de Fá de Baixo, era correr atrás dos leitões, apanhá-los e largar para um churrasco.

Enfim, experiências de vida.

Um abraço, Luís,
CMS

3. Comentário de Luís Graça:

Escrevi em 7 de fevereiro de 2006: 

(...) "Estive hoje em Coimbra, nos Olivais, com o nosso camarada Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano atirador de artilharia, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), bem com o seu primo, o Vitor David, que foi alferes miliciano da CCAÇ 2405 (Galomaro, 1968/69).

"Este último prometeu entrar para a nossa tertúlia e esclarecer alguns pontos (polémicos) da travessia do Corubal, no Cheche, que esteve na origem na tragédia do dia 6 de Fevereiro de 1969, já aqui ontem evocada. O Vitor não participou na Op Mabecos Bravios, ficou no aquartelamento com o seu grupo de combate, mas assistiu, com a angústia na alma, à recepção, na sala de cripto, das mensagens com a lista dos mortos...

"Proporcinou-se estar com estes dois camaradas, que tiveram a gentileza de me ir buscar e levar ao comboio, estação de Coimbra-B (...)  Almoçámos juntos, matámos saudades, juntos, dos tempos da Guiné e até mandámos vir rancho (!) para o almoço.

"Prometi voltar aos Olivais onde, nos bons velhos tempos, os futricas impunham a lei aos estudantes, impedindo-os de ultrapassar o famoso paralelo 98... Por sorte o serviço (académico) que eu tinha a fazer era para aqueles lados, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Espero lá voltar mais vezes, até por que fiquei com enorme pena de não poder visitar a belíssima igreja de Santo António dos Olivais. Tanto o Carlos como o Vitor são excelentes cicerones e têm o privilégio de continuar a viver no chão que nos viu nascer e criar. "(...)

 PS - "Futrica" era o nome que os estudantes de Coimbra davam a todos aqueles que não eram estudantes...

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