sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9209: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (40): Em Civitavecchia, Itália, com veteranos de guerra (António Graça de Abreu)





Itália > Civitavecchia > 12 de Novembro de 2011 > António da Graça Abreu, um antigo combatente, português,  da guerra da Guiné, emocionado com a homenagem local aos veteranos de guerra... No mural acima, pode ler-se, em italiano:  "Aos soldados de terra, ar e mar, que caíram nas guerras de África, alargando as fronteiras da Pátria, ressurgida no seio das nações" (tradução livre do editor).

Fotos: © António Graça de Abreu (2007-2011). Todos os direitos reservados



1. Texto do nosso António Graça de Abreu:

Civitavecchia, uma cidadezinha a 60 quilómetros de Roma, é o porto de mar que há muitos séculos serve a capital de Itália.

Chego a 12 de Novembro deste ano de graça de 2011, de manhã cedo pelas águas do Mediterrâneo, com um céu azul onde apetece deslizar e um mar sereníssimo. Desembarco e deambulo ao acaso por mais um burgo que não conheço. As muralhas, os fortes, as igrejas, as casas antigas dos grandes senhores, o mercado, os barcos pequenos, os navios.

No passeio marítimo, à distância, vejo um magote denso de pessoas. Aproximo-me. Muitos jovens com a bandeira italiana, uma banda de música, gente e um grupo de militares já idosos, homens do exército, força aérea e marinha, mais uns poucos políticos da terra. Ao lado, separados dos restantes militares, perfilam-se ainda garbosos e aprumados uma dezena de velhos veteranos da marinha, alguns já pendurados em bengalas mas ostentando ainda com orgulho as suas condecorações.

Trata-se de uma cerimónia de homenagem a estes combatentes do passado, homens do mar da cidade de Civitavecchia e também aos soldados de terra e do céu. Louvar os vivos, honrar, exaltar a memória dos mortos.

O corneteiro toca a silêncio. Todos em recolhimento, o sangue latejando nas veias, a lembrança presente dos camaradas e amigos mortos. A banda avança para o hino de Itália. Saltitante, galopando a brisa. Rapazes e raparigas agitam bandeiras italianas, no mastro o pendão tricolor da pátria sobe, os velhos veteranos em sentido, a emoção a borbulhar na alma, fazem continência à bandeira e cantam as estrofes do hino.

Olhei o mar azul, imenso, a ocidente. Portugal, nós, também velhos veteranos de guerra, a Guiné. As lágrimas caíam como chuva.

António Graça de Abreu

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9131: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (39): A poesia e a liberdade: Conferência de António Graça de Abreu, 2ª feira, 5 de dezembro, às 18h30, na BMRR, Lisboa

6 comentários:

Luis Faria disse...

A.Graça Abreu

Assim ,é bonito.
Não há futuro sem passado,é bom não esquecer e há que assumi-lo por inteiro,sem complexos,por mais que possa custar a muitos.

O meu sogro era Veterano da Abissínia,F.Aérea.

Um abraço
Luis Faria

Carlos Vinhal disse...

Quando vejo estas manifestações promovidas por ex-combatentes, no estrangeiro, salta-me logo à vista o aprumo, a maneira de vestir e o brio destes velhos camaradas de armas. Em contraponto, lembro-me que em Portugal, mesmo aqueles ex-combatentes que por inerência têm que fazer parte de alguma "formatura", melhor, "formação", vestem descuidadamente, usando "kispos", calças de ganga ou sarja claras, camisas aos quadrados, "desgravatados", cabeça descoberta, e tudo o que de mais negativo se pode encontrar. Nem na hora do Hino Nacional assumem uma postura de respeito. Peço desculpa pela crueza, mas é a verdade. Os camaradas de Lisboa que o digam pela experiência vivida em cada 10 de Junho.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Torcato Mendonca disse...

Um abraço meu caro Antº. Graça de Abreu: ainda bem que relatas assim esse pequeno e sentido encontro de ex- combatentes.

O que o Carlos Vinhal escreve devia ser lido por muitos ou ficar no lado esquerdo deste Blogue.

Quando era miúdo e tocava o Hino levantava-me.Ensinamentos de meu Pai.

Ab T

José Marcelino Martins disse...

Aos comentários do Carlos e do Torcato, que me permito subscrever, acrescento:

Os comentários "desconchavados" de muitos de nós que comentam, galhofando, as cerimónias que se desenrolam, falando apenas "que já são horas para o almoço".

Porem, o mais grave para mim, é que quando são prestadas as Honras Militares aos nossos que tombaram, mantêm os bonés e chapeus na cabeça, e mesmo duranbte a execução do Hina, em completo desrespeito pelo que se passa.

Claro que "não vieram à cidade para pieguisses". Vieram passear, vieram à capital.

E "buber uns canecos", digo eu que sou má língua.

Luís Dias disse...

Caro António Graça Abreu

Obrigado por este teu relato. Assim, vale a pena.
Comungo também das palavras de Luís Faria, Torcato Mendonça, José M. Martins e claro o que Carlos Vinhal escreveu.
É triste! A verdade custa, muitas das vezes, mas deve ser dita!
Um abraço.
Luís Dias

Anónimo disse...

Amigos,

Subscrevo o artigo e os comentários.

E pergunto:
Porque carga de água temos vergonha em fazer tão bem ou melhor que os bons, mas não temos problema algum em desrespeitar a nossa memória colectiva, a nossa história e a nossa cultura?

Um abraço amigo.
José Câmara