Foto nº 1 > Ministério da Defesa Nacional
Foto nº 2 : Forças Armadas de Portugal
Foto nº 3 > Força Aérea Portuguesa
Foto nº 4 > Marinha Portuguesa
Foto nº 6 > Deputados da Comissão de Defesa da Assembleia Nacional
Foto nº 7 > Guarda Nacional Republicana (GNR)
Foto nº 9 > Grupo de Adidos Militares Estrangeiros Acreditados em Portugal
Foto nº 10 > Ambassade de France au Portugal / Embaixada de França em Portugal
Foto nº 11 > Cruz Vermelha Portuguesa (CVP)
Foto nº 12 > Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra
Foto nº 13 > Amicale des Anciens Combattants et Militaires Français au Portugal (AACMFP) / Associação dos Veteranos e Militares Franceses em Portugal
Foto nº 15 > Coroas de flores no Monumento aos Combatentes do Ultramar (1)
Foto nº 16 > Coroas de flores no Monumento aos Combatentes do Ultramar (2)
Foto nº 17 > Coroas de flores no Monumento aos Combatentes do Ultramar (3)
Foto nº 18 > Coroas de flores no Monumento aos Combatentes do Ultramar (4)
Lisboa > Belém> Forte do Bom Sucesso > 18 de novembro de 2025 > 10h00 > Cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar, Coroas de flores junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
1. Fui, como convidado, e pela primeira vez (que me lembre!), participar numa cerimónia comemorativa do fim de uma guerra, aliás duas, a da I Grande Guerra (1914/18) e a da Guerra do Ultramar (1961/74), organizada pela centenária Liga dos Combatentes (LC).
A cerimónia decorreu entre as 10h00 e as 12h30 do passado dia 18 de novembro. Tendo chegado um pouco mais cedo, pus-me a observar e a fotografar as coroas de flores (mais de uma dúzia) colocadas na base do Monumento aos Combatentes do Ultramar, localizado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa. Ao centro, e alinhada com a "passadeira vermelha" para os VIP, estava a coroa do Ministério da Defesa Nacional, organizador do evento em conjunto com a Liga dos Combatentes. A cerimónia foi presidida, se não erro, pelo Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.
Por (de)formação profissional, gosto de pôr a mim próprio, mentalmente, questões sobre o que vejo ou apreendo: o quê, onde, quando, como, porquê, por quem e para quem...
De entre as formas de homenagem aos combatentes mortos nas guerras avulta a tradicional deposição de coroas de flores funerárias. De repente intrigou-me a forma, as cores e o tipo de flores das coroas funerárias, bem como a sua disposição espacial, na base do monumento, e em torno de um tapete vermelho por onde circulariam depois os representantes das entidades oficiais.
Ora tudo isso não acontecia por acaso. Quis saber o simbolismo e o significado profundo que tem o uso das coroas de flores na nossa cultura e na nossa sociedade, em cerimónias como estas em que se homenageiam os mortos caídos pela Pátria.
Com a ajuda das ferramentas de IA (ChatGPT e Gemini) e outras consultas na Net, fui respondendo a algumas das minhas questões. Para já fiquemos pela primeira parte: cores e espécies de flores, forma e estrutura das coroas.
Numa segundo poste, falaremos da ordenação espacial das coroas das flores, que devem obedecer a um protocolo institucional. (A tropa tem horror ao vazio e ao improviso, embora na Guiné, em teatro de guerra, nos mandasse "desenrascar"...)
1. Têm um simbolismo que vai muito além da estética: representam memória, valores, emoção e, em última análise, a forma como uma sociedade encara o sacrifício (supremo) dos seus soldados. O uso de coroas funerárias remonta à Antiguidade Clássica, Greco-Romana. Afinal, já fomos escravos e colonizados pelos romanos. (Não sabemos a língua que falava o nosso Viriato.)
Embora cada cultura possa ter nuances próprias, há alguns sentidos amplamente reconhecidos para as cores:
(i) Vermelho=sacrifício, coragem, heroísmo e sangue derramado
O vermelho é uma das cores mais usadas, sobretudo em rosas, cravos, antúrios, gerberas Representa:
- o sangue derramado pelos combatentes;
- a nobreza;
- a coragem no campo de batalha;
- a lembrança viva do sacrifício;
- amor eterno e admiração.
É por isso tão comum no Dia do Armistício, no 10 de Junho, no Dia da Memória e outras efemérides, em vários países.
É cor mais comum, simbolizando:
- o desejo de paz duradoura após o conflito;
- a pureza das intenções dos combatentes;
- luto e reverência.
É uma forma de homenagear não só quem morrer, mas também a esperança de que os infaustos eventos, como a guerra (incluindo a guerra civil), não se repitam.
(iii) Amarelo=lembrança e esperança
Em algumas culturas, o amarelo representa:
- lembrança perene;
- esperança na reunião espiritual;
- luz e eternidade.
(iv) Roxo=luto profundo e espiritualidade
O roxo, poço usado em arranjos florais, está muitas vezes associado a:
- cerimónias mais solenes;
- respeito espiritual;
- reflexão sobre a morte e o seu significado;
- luto.
2. Porque se usam flores em homenagens fúnebres ?
Para além das cores, as próprias flores têm um profundo significado:
- são símbolos de vida, beleza e fragilidade;
- lembram-nos que a vida dos combatentes foi preciosa e efémera;
- representam a continuidade, a passagem de testemunho, a partilha;
- mesmo após a morte, a memória floresce; e a vida renasce;
- criam um momento de beleza num contexto doloroso, um gesto de humanidade face à brutalidade da guerra e do sacrifício da própria vida,
O sentido mais profundo: no fundo, estas cores não são apenas um elemento meramente decorativo; são signos, são uma linguagem simbólica que permite expressar:
- respeito e gratidão;
- memória coletiva;
- humanização do luto;
- compromisso com a vida, com a liberdade e com a paz.
É uma forma silenciosa, mas poderosa, de dizer que os mortos não ficam "inumados na vala comum do esquecimento" (como gostamos de dizer na Tabanca Grande) e que o seu sacrifício tem significado na história das famílias, dos grupos, da comunidade, do País.
3. As cores usadas nas cerimónias e flores não são apenas escolhas simbólicas tradicionais, mas também refletem frequentemente as cores dos brasões e insígnias das entidades que prestam a homenagem (chefe de estado, assembleia da república, governo, forças armadas, associações de combatentes...). E isso acrescenta um significado institucional e histórico muito forte.
(i) Representação institucional
Quando o exército, o governo, as ligas de combatentes, embaixadas ou outras entidades colocam coroas ou arranjos florais, é comum que:
- escolham as cores do seu próprio brasão oi insígnias;
- usem as cores da bandeira nacional;
- ou combinem ambas.
Isto serve para:
- mostrar que a homenagem não é apenas pessoal, mas oficial e coletiva, institucional;
- marcar que a entidade assume publicamente a memória dos seus combatentes;
- dar continuidade a uma tradição cerimonial formal.
(ii) Identidade e continuidade histórica
A utilização das cores dos brasões reforça o vínculo entre:
- os combatentes homenageados;
- a instituição ou a arma a que pertenciam (exército, marinha, força aérea):
- e a história da própria instituição ou da arma.
Por exemplo: o Exército pode usar o verde e vermelho (cores nacionais) ou detalhes dourados e pretos das suas insígnias; a Liga dos Combatentes utiliza as cores do seu emblema, reforçando a missão de preservar a memória; embaixadas estrangeiras usam frequentemente as cores da bandeira do país que representam, simbolizando respeito internacional.
(iii) Um gesto simbólico e protocolar
Ao usar as cores dos brasões:
- reforça-se a ideia de que os combatentes não foram esquecidos pela Pátria;
- mostra-se a unidade entre Estado, instituições militares e sociedade civil, incluindo associações de veteranos;
- cumpre-se o protocolo cerimonial militar e diplomático.
(iv) Complemento ao simbolismo emocional das flores
Assim, há dois níveis de significado:
- emocional e universal; cores que expressam luto, sacrifício, paz e memória;
- institucional e histórico: cores dos brasões que reforçam a identidade e a responsabilidade da entidade homenageante.
Ambos se complementam para criar uma homenagem mais completa e cheia de significado.
4. Mas não são apenas as cores, mas também as formas e a estrutura das coroas que carregam simbolismo. Em cerimónias militares e de Estado, a forma da coroa ou arranjo floral transmite mensagens subtis, ligadas à tradição, ao protocolo e à identidade da entidade que presta homenagem. Muitas vezes estas coroas são extremamente elaboradas e visualmente muito atrativas, porque representam não só o luto, mas também a honra, a hierarquia e a memória colectiva.
(i) Formas geométricas com significado
As coroas podem ser circulares, ovais, em escudo, em coração, em cruz ou mesmo em arranjos verticais.
Círculo= eternidade e continuidade
- simboliza a vida eterna, ou o eterno retorno;
- representa a memória que não tem início nem fim;
- transmite a ideia de unidade nacional e de solidariedade intergeracional.
Variante da coroa circular, a coroa de louros é um símbolo clássico de honra, vitória e glória, remontando ao mito de Apolo e Dafne, e sendo historicamente associada a conquistas e estatuto elevado; é frequentemente usada em homenagens a militares e figuras de Estado em Portugal.
Forma de escudo=honra militar
Algumas coroas são feitas à maneira de um brasão ou escudo militar:
- reforçam a ligação ao corpo ou Ramo das Forças Armadas;
- simbolizam proteção e bravura;
- recordam que o combatente serviu uma instituição com identidade própria.
Formas religiosas (cruz, palma, espiga)
- usadas sobretudo por entidades com tradição cristã;
- simbolizam fé, sacrifício e esperança na vida espiritual, ressurreição;
- muito usadas por governos ou associações que seguem protocolos históricos.
Outras formas, como o Coração (amor profundo e afeição) também podem ser usadas, embora a forma circular ou de louros seja mais prevalente em cerimónias públicas militares.
(ii) Coroas elaboradas com detalhe e complexidade
As coroas mais ornamentadas aparecem geralmente quando:
- a entidade é de alto nível (Presidente da República, Governo, Chefes militares, Embaixadas);
- a cerimónia é oficial ou de Estado;
- o local é de grande significado (Túmulo do Soldado Desconhecido, Mosteiro da Batalha ou dos Jerónimos, Monumento aos Combatentes do Ultramar, campos de batalha, cemitérios militares, outros monumentos nacionais).
Estas coroas:
- reforçam a solenidade;
- representam a dignidade do cargo que presta homenagem;
- procuram traduzir visualmente o respeito máximo.
(iii) Elementos específicos que acrescentam significado:
Muitas coroas possuem detalhes que parecem apenas decorativos, mas não são:
Fitas com inscrições
Contêm:
- nome da instituição;
- palavras como “Homenagem”, “Glória”, “Honra”, “Memória”;
- cores da bandeira ou brasão ou insígnia da entidade.
Ramos de louro ou oliveira
Muito usados em coroas militares:
- o louro simboliza vitória e honra;
- a oliveira simboliza paz e reconciliação.
Outras flores e folhagens (verdura)
por exemplo, o verde (folhagens): representa renovação e esperança;
as flores podem ser escolhidas, para além da sazonalidade, pelos seus significados simbólicos, que se adaptam ao contexto de homenagem a um combatente.
Elementos dourados ou metálicos
Reforçam:
- a solenidade;
- o carácter oficial;
- a antiguidade histórica da instituição.
(iv) O significado mais profundo das formas elaboradas
No fundo, a forma da coroa é uma linguagem simbólica, tão importante quanto as palavras proferidas no discurso de homenagem. Cada forma e detalhe transmite a mensagem de que:
- o combatente é lembrado com identidade, respeito e história;
- a sua morte não é apenas um facto individual, mas um elemento da memória coletiva do país;
- a homenagem é proporcional à importância do sacrifício.
5. Simbolismo das coroas funerárias (síntese)
| Elemento | Significado comum | Contexto militar/Honra |
| Louro | Vitória, Honra, Glória | Essencial em coroas militares, simboliza o triunfo e o sacrifício; remonta ao mito de Apolo e Dafne |
| Sempre- -Vivas | Força, Resistência, Memória Eterna | Representam a permanência da memória e a resistência do espírito |
| Carvalho (Folhas) | Sabedoria, Força, Robustez | Associado a Zeus (na mitologia helénica) , simbolizando a resiliência |
| Rosas Brancas | Reverência, Respeito, Pureza, Paz | A escolha clássica para expressar respeito profundo e paz espiritual |
| Rosas Vermelhas | Amor, Respeito, Coragem, Sacrifício | Simboliza o amor profundo e a coragem, especialmente relevante para um combatente |
| Lírios Brancos | Pureza, Tranquilidade, Paz Espiritual | Usados para transmitir serenidade e a renovação da alma / espírito |
| Crisân- temos | Luto e Homenagem (em muitas culturas) | Usados tradicionalmente em funerais, simbolizam a nobreza da alma / espírito |
(Continua)
Pesquisa LG + Net + IA (ChatGPT, Gemini)
(Condensação, revisão / fixação de texto, negritos e itálicos: LG)
4 comentários:
As flores mais escuras, como as de pigmentação preta ou muito escura, são raramente usadas em coroas funerárias ou em homenagens a combatentes mortos por duas razões principais: simbolismo tradicional e psicologia da cor.
(i) Simbolismo Tradicional e Luto
Em muitas culturas ocidentais, embora o preto seja a cor tradicional do luto e da morte, as flores usadas em arranjos fúnebres tendem a ter cores que simbolizam sentimentos mais complexos do que apenas a perda: o branco, o vermelho, o rosa, o amarelo.
As flores "pretas" ou "muito escuras" (como a tulipa negra...) historicamente carecem de um simbolismo fúnebre positivo ou reconhecível na floricultura tradicional. Estão associadas: Mistério/ Terror, mas também a Elegância ousada (moda e decoração); Despedidas ou o fim de algo importante (mas não necessariamente com a conotação de homenagem e respeito)
(ii) Psicologia da cor
Do ponto de vista prático e visual, a escolha das cores das flores também visa criar um impacto visual que transmita conforto, apaziguamento, esperança, homenagem:
Contraste e visibilidade: as cores claras e brilhantes (branco, vermelho, amarelo) destacam-se mais e oferecem um contraste visível contra o verde da folhagem ou o ambiente mais sóbrio de uma cerimónia fúnebre.
Ausência de luz: o preto é a ausência de cor e pode ter um aspeto "morto" ou absorver demasiada luz no arranjo, não transmitindo a ideia de vida ou renascimento (simbolismos importantes em muitos rituais de luto).
As coroas de homenagem aos combatentes, em particular, privilegiam flores com um simbolismo forte ligado ao sacrifício e à memória heroica, como as papoila vermelhas (poppies, entre os britànicos), em vez de flores "pretas" que têm um simbolismo mais ambíguo ou menos tradicionalmente ligado à reverência. De resto, são muito menos frequentes na natureza, são exóticas, mais difíceis de produzir e de encomendar...
Esteticamente, gosto muito do preto. E do vermelho. Em matéria de flores, gosto das rosas vermelhas. Quanto à "tulipa negra", não sei exatamennte qual a sua história, sei que é uma "obra-prima" da floricultura, obtida depois de muitos cruzamentos... Os avanços da genética não teriam sido possíveis sem as "leis de Mendel", que começou por ser um monge, "jardineiro de convento"...
As Leis de Mendel são um conjunto de fundamentos que explicam o mecanismo da transmissão hereditária durante as gerações. Mendel fez experiências fundamentais de hibridização de plantas. É justamente considerado o "pai da genética".
Pode estar a ser "bruto e feio" ao dizer o que sinto sobre muitas das nossas homenagens fúnebres (e náo apenas aos nossos camaradas que morreram no "campo da honra")...
Quando entro num cemitério, vejo que as coroas de flores, os jazigos monumentais, os mausoléus (alguns verdadeiras obras de arte)… tudo isso diz tanto sobre os vivos como sobre os mortos.
A morte é, de facto, o grande nivelador: todos morremos, amigos e inimigos, bonitos e feios, ricos e pobres, homens e mulheres, anónimos ou famosos... mas o ritual que rodeia a morte é profundamente social e cultural, e por isso traz consigo as mesmas desigualdades, vaidades e jogos de poder que encontramos na vida.
Uma coroa de flores tanto pode ser homenagem sincera (a um pai, um filho, um camarada, um amigo, um conterrâneo, um concidadão), como pode ser (e muitas vezes é) encenação, exibição, ostentação, competição simbólica, marca de estatuto...
E um jazigo imponente (muito em voga até meados do séc. XX) pode ser a tentativa de prolongar o prestígio, a glória, a riqueza, enfim o estatuto que se tinha em vida.
Até na morte não somos todos iguais. No forno crematório, sim, ardemos todos a 900 graus centígrados. E as coroas de flores são logo a seguir para o caixote do lixo.
Queria dizer: "Posso parecer feio e bruto ao dizer"...
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