sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21132: Os nossos médicos (88): Fernando António Maymone Martins, especialista de cardiologia pediátrica, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1968/70


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Equipa dos serviços de saúde no dia de abertura da enfermaria > Destaque para os alferes médicos Fernando António Maymone Martins e Maxinino Cunha, ambos irão também trabalhar na 2ª parte da comissão no HM 241, em Bissau.



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS / BCAÇ 2845 (1968/70) > Equipa dos serviços de saúde: da esquerda para a direita, de pé: Maymone Martins (alferes), Garrido (furriel), Albino e Garcia; em primeiro plano, Tónio, Borges e Constantino (1º cabo)

Fotos do álbum do Albino Silva, ex-sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) (*).


Fotos (e legendas): © Albino Silva (2011) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não temos,  infelizmente, falado aqui o suficiente dos nossos serviços de saúde militares, dos nossos médicos, dos nossos enfermeiros, dos nossos maqueiros... 

É minha intenção fazer, proximamente, uma nota de leitura de um capítulo de um livro em que também participei (Veloso, A.J., Mora,  L.D., Leitão,  H., eds. –  Médicos e sociedade: para uma história da medicina em Portugal no século XX. Lisboa: By The Book, 2017, 863 pp.). 

O capítulo a que me refiro, sobre saúde militar,  é o "34. A Guerra Colonial", da autoria de Carlos Vieira Reis, pp. 492-505.  O autor é coronel médico.

Continuamos sem saber, em rigor, quantos médicos, oficiais milicianos ou do quadro, passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. O autor escreve que "os médicos recém-formados não bastavam para preencher as necessidades". E teve mesmo que se recorrer à mobilização, para certas especialidades, de médicos com mais de 45 anos. Um dado estatístico muito importante é o número de evacuações  dos três TO para a metrópole e que foi de cerca de 30 mil, estando a maioria dos processos clínicos no Arquivo Geral do Exército. 

Dalguns dos nossos médicos temos aqui falado. O descritor "Os nossos médicos" tem, apesar de tudo, 235 referências.

Um desses profissionais que foi mobilizado para o CTIG, e que queremos hoje homenagear, foi o dr. Fernando António Maymone Martins: passou pela CCS/BCAÇ 2845, mas também pelo HM 241, Bissau, nos anos de 1968/70.

Sobre este nosso camarada, que tem participado nalguns convívios do seu batalhão, recolhemos mais os seguintes elementos, a partir da Net, e nomeadamente da rede Linkedin:

• Especialista Sénior em Cardiologia Pediátrica e Cardiologia das Cardiopatias Congénitas
• Director do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital de Santa Cruz, 1987 - 2010
• Director Clínico, Hospital de Santa Cruz (2003-2004).
• Presidente do Conselho de Administração da Fundação Mater Timor
• Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ajuda de Berço
• Fellow do American College of Cardiology
• Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia
• Presidente da Associação Europeia de Cardiologia Pediátrica (AEPC, 1995-1998)
• Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (2000- 2004).

Está reformado do SNS mas mantém consultório privado em Carnaxide. Sabemos que em 1974/76 beneficiou de uma bolsa Fulbright, na categoria de estudante, na área de Cardiologia Pediátrica, realizada no Cook County Hospital, Chicago, Illinois, EUA.

NA RTP Arquivos pode ser visto um vídeo, de 2 de junho de 1990, em  entrevista do jornallista José Eduardo Moniz, em estúdio, ao dr. Maymone Martins, "cirurgião, responsável pela nova técnica de intervenção para a correção de deficiências cardíacas, o cateterismo".

É uma homem de causas, que incluem, por exemplo, a cooperação com Timor Leste na área da saúde materno-infantil.

Naturalmente que gostaríamos que ele aceitasse o convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Dessas diligências encarregamos o Albino Silva para levar a carta a Garcia...

2. Memória do serviço de saúde comandado pelo alf mil médico Maymone Martins, CCS/BCAÇ 2845 2845(Teixeira Pinto, 1968/70)

por Albino Silva (**)


(...) Comecei meu trabalho na Enfermaria e todos os dias estava de serviço pois ficava sempre na vez de outros camaradas porque gostava daquele serviço ao lado do Médico do Batalhão, Dr. Fernando António Maymone Martins, Alferes, que dava consultas à tropa até às 13h00 e depois ia para o Hospital Civil dar consultas e outros serviços com pequenas cirurgias, aos civis.

O meu serviço diário era logo de manhã tomar apontamentos daqueles que iam às consultas, depois chamar pelos mesmos ao gabinete do médico e ajudar na Enfermaria a atender o pessoal, pois além da tropa, que era muita, também os civis lá iam receber tratamento, e por isso era muito o trabalho para quem estava de serviço. Basta que em média por dia davam-se 300 injeções e havia feridas para serem tratadas , e ainda o pessoal lá internado e uns à espera de evacuação para Bissau.

Era muito o trabalho e ainda a pedido do Furriel Enfermeiro Garrido, fazia a requisição de Material para Bissau, que depois de recebido o ia conferir, mas eu gostava bem do serviço que ia fazendo e assim foi durante 13 meses.

Depois comecei a alinhar com um Pelotão da Companhia de Caçadores 2313, que era comandado pelo Capitão Penim, em saídas para o mato, em escoltas e para a Ação Psicológica, em picagem de estradas com um Pelotão da Companhia 2368, do meu Batalhão, e também em operações com este pelotão.

Para substituir o 1.º Cabo Enfermeiro Vitorino da 2368, que havia sido evacuado para Bissau, fui um mês para o destacamento de Caió, regressando depois a Teixeira Pinto à minha Enfermaria para de imediato sair com uma Secção da 2313 para uma Ação Psicológica lá para as Tabancas de Calequisse e Caió. (...)

3. Natal debaixo de fogo na Guiné. A memória do médico Fernando Maymone Martins
Rádio Renascença, 23 dez 2011 • Sofia Vieira (Reproduzido com a devia vénia...)

 O médico Fernando Maymone Martins fecha a semana que a Renascença dedicou a testemunhos de quem viveu o Natal em situações difíceis, mas com lugar para a esperança.

O Natal vivido no essencial, no meio do mato, durante a guerra colonial na Guiné, em 1968 é o testemunho deixado por Fernando Maymone Martins. Na altura, era um jovem médico militar, delegado de saúde, numa povoação que julgava segura.

Poucos meses antes, decidiu vir a Lisboa, em Outubro, e casou com Madalena. Em Novembro, levou-a para a Guiné, para viverem numa povoação que se chamava Teixeira Pinto.

Só que, em vésperas de Natal, foram alvo de ataque. Fernando Maymone Martins teve de deixar a mulher sozinha, porque teve de ir fazer uma revista de saúde a militares portugueses. “Durante essa semana, Teixeira Pinto foi alvo de ataque e a Madalena passou uma noite inteira debaixo de fogo”.

“A coluna em que eu fui também foi atacada, portanto, tivemos muito vivamente, e isto nas vésperas do Natal de 68, a percepção da vulnerabilidade da situação em que nos encontrávamos e do risco de nos acontecer alguma coisa, inclusive, de morrermos!”, recorda.

Fernando Maymone Martins lembra ainda que nessa época os sogros tinham enviado para a Guiné um pequeno presépio, com “figuras muito bonitas” que ainda hoje guardam “e que foi verdadeiramente o que nos ajudou a criar o ambiente de Natal na Guiné. Sem dúvida, com a percepção de que no meio do mato na Guiné, com a vulnerabilidade inerente aos ataques, estávamos verdadeiramente a ser reconduzidos àquilo que o Natal tem de mais importante – comemorar o nascimento de Jesus”.

O médico recorda também que, um ano depois, já com um filho, comemoraram o segundo Natal na Guiné. Dois momentos que o marcaram e à sua mulher Madalena para o resto da vida.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

(**) Vd. poste de 14 de abril de  2020 > Guiné 61/74 - P20856: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (1): Mobilizado para a Guiné, destino: Teixeira Pinto

Vd. também poste de 11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De acordo com as...NEP, devia haver 4 médicos por batalhão... Mas eu na Guiné,no meu tempo (1969/71), só me lembro de haver 1 mécio por batalhão (1 para 650 militares ou mais): falo dos batalhões a que estive a(r)dido: o BCAÇ 2852 e o BART 2917... Havia um médico na CCS, neste caso, em Bambadinca e já era uma sorte... Os gajoss das subunidades de quadrícula (Xime, Mansambo, Xitole...) que viessem à consula médica a Bambadinca...

E ainda ainda as subunidades a(r)didas: a CCAÇ 12, os Pel Caç 52 e 63, os Pel Rec Dainlerm os Pel Morte, os Pel Art, as milicias... Tudo somado, no setor l1 (Bambadinca(, havia 1300 homens em armas... e apenas 1 médico para tanta gente, mais a população... Valia-nos o nosso "pastilhas", o fur mil enf João Carreiro Martins, que já era enfermeiro na vida civil...

Até porque os serviços de saúde não tinham mãos a medir, com o apoio sanitário às populações... Quiz-se fazer em meia dúzia de anos, o que se devia ter feito umas décadas atrás... Não só no xampo da saúde como no das educação e outras áreas fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico do território...

Manuel Carvalho disse...

A primeira foto deve ter sido tirada ainda em Maio de 68 (1º mês), porque estão lá o Avelino e o Cruz que foram para a 2366 juntamente com o Baptista todos eles bons enfermeiros. O Cruz é que tratou de mim quando estive com o Paludismo, perdi mais de 10 quilos mas ainda cá ando. O Avelino para além de enfermeiro era também um bom operacional pedia para lhe arranjarem quem lhe levasse a bolsa para ele estar à vontade para o combate.O Baptista assisti ele a tratar um ferido grave de mina A/P e como estava muito perto sentei-me no chão e abracei o ferido sem saber o que lhe fazer e chegou logo o Baptista e muito calmo começou a tratar dele e tudo correu bem.Por falha no rádio não conseguimos a evacuação do mato mas foi feita do quartel. Tenho muita admiração por muitos destes profissionais que no mato faziam verdadeiros milagres sem grandes ensinamentos e com poucas condições.
Um bem haja a todos aqueles que se empenharam a tratar de nós.

Manuel Carvalho

albino silva disse...

É como dizes Carvalho. A foto a que te referes, foi feita no primeiro dia em que tomamos conta da Enfermaria, isto no dia 10 de Maio de 1968. O Cruz já pertencia á 2366 e entre o Avelino e o Constantino, um deles teria de ir também para a C.Caç 2366. Assim, como o Avelino era um pouco antipático, através de votação, tocou-lhe a ele ir para a 2366, e ficar o Constantino na CCS. A Votação e perante a presença do Médico Dr. Maymone Martins, foi combinada entre todos nós, para que fosse o Constantino, (Já Falecido) a ficar.
Também o Furriel Costa, Enfermeiro da 2366, no inicio era da CCS, mas trocou com o Furriel Garrido que pertencia á 2366 por este ser um pouco doente,(ainda hoje é).
Todo o pessoal do SS eramos competentes e amigos de todos incluindo os Civis.