domingo, 28 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21116: Blogpoesia (683): "Me agarro à vida...", "Sobraram canhões e castelos" e "As ideias", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Me agarro à vida…

Adoro viver. Agarro a vida como um leão.
Fujo das jaulas que me prendem os movimentos.
Desato as laçadas todas com que tentam prender-me.
Escarneço dos ociosos e parasitas que não sabem o que fazer dela.
Desfaço os ataques da preguiça com banhos de água fria.
Agarro-me às fragas com garras duma águia atenta.
Não desespero de me livrar das tendências más que a natureza inoculou e me puxam para o abismo.
Recuso a escravidão.
Quero respirar sempre o ar puro da liberdade…

Ouvindo Rachmaninoff plays Piano Concerto 2
Bar 7 Momentos, 22 de Junho de 2020
10h25m
Jlmg

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Sobraram canhões e castelos

Pelo mundo fora, no alto dos montes, sobraram canhões e castelos.
Não acabaram as guerras.
Não há vencedores.
Imensas derrotas enchem os palcos.
Humilham os fortes.
Vingam humildes.
Desfeitiam arrogantes.
Despedaçam a paz.
Roubam as vidas.
Afugentam a esperança.
Invenção diabólica disseminada no mundo.
Mundo pirata.
Qual o sentido?
Se, ao menos, aprendessem a lição.
Ditadores e piratas, espécies famintas.
De sangue e de ódio.
Piores que as pestes.
Não há quem os farte…

Ouvindo Brahms - Piano Concerto No. 1 | Hélène Grimaud, Piano
Bar Castelão em Mafra, 24 de Junho de 2020
Jlmg

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As ideias

Elas andam por aí.
Famintas. Buscando o pólen das muitas flores.
Para fabricarem o mel.
Há quem o espere sedento.
Alimento suculento.
Neste mar de torpor.
Acre e doloroso.
Eu as apanho com manha de raposa.
Saltitantes.
Me afeiçoa a elas e faço jogos de palavras.
Teço versos coloridos com pena de pintor.
Me extasio ao ver um quadro harmónico na paleta.
Onde os claros e escuros se combinam com o feitiço da harmonia.
Depois, leio-os, do começo ao fim, como um pai embevecido…

Ouvindo Schubert
Bar 7 Momentos, 25 de Junho de 2020
10h24m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21096: Blogpoesia (682): "Terra negra, Terra negra, seca", "Rostos mascarados" e "Sábios e presunçosos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, dessa metáfora, o poeta produtor de mel...Mantenhas, aqui de Candoz (onde não temos colmeias). Luís

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Olá Luís.
Como vais? Todo o cuidado é pouco...
Abraço.
Joaquim