domingo, 21 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21096: Blogpoesia (682): "Terra negra, Terra negra, seca", "Rostos mascarados" e "Sábios e presunçosos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Terra negra Terra negra, seca.

Escalvada pelo estio gritante.
Nem sequer lagartos, minhocas atrais.
Uma camada de erva queimada te cobre.
Pareces a morte.
Só depois da primavera te vestirás de verde.
Virá o arado. Te desventra.
Ficas exposta.
O sol te emprenha de vida, outra vez.
Cai-te a semente.
E um manto verde reverdece.
Cria fruto.
Muitas espigas. Em cada caule
É o milagre da Natureza que acontece cada ano aos nossos olhos.
Até os cegos o vêm com os da alma…

Ericeira, 14 de Junho de 2020
19h54m
Jlmg

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Rostos mascarados

Eis que, do pé para a mão, se mascararam os rostos, não de vergonha, mas de medo subterrâneo.
Esse sentimento oculto que só rebenta quando o perigo vem e ameaça.
Uma praga ingente grassou na nossa época.
Súbita e inesperada.
Ficará na história das calamidades que avassalaram a humanidade inteira.
Sem distinções.
Não há fortes, fracos ou poderosos que consigam eximir-se.
Só esta cortina simples frente às narinas lhe faz frente tentando impedi-la de entrar.
Uma avalanche de mortos eclodiu, vencendo toda a resistência das medicinas.
Uma humilhação total para a arrogância que, oxalá, irá mudar nossa forma de estar no mundo em convivência…

Ouvindo Zubin Mehta and Khatia Buniatishvili
Mafra, café Castelão, 15 de Junho de 2020
9h38m
Jlmg

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Sábios e presunçosos

Não me revejo nos sábios e presunçosos que pululam por essas praças.
Nem nos inchados que pregam de barriga cheia de gorduras e gulodices.
Nem daqueles opíparos que só aparecem quando a vida lhes corre bem.
Fujo a sete léguas dos pés descalços que, num repente, viraram ricos, ninguém sabe bem como foi.
Prefiro caminhar sozinho.
Trago em mim a marca das distâncias.
Cair no abismo não quero a todo o custo.

Ericeira, 16 de Junho de 2020
13h43m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21076: Blogpoesia (681): "Chave de fendas", "A última noite" e "A primeira noite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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