sábado, 27 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21114: Os nossos seres, saberes e lazeres (399): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
É muito desconfortável estar aqui a organizar o último dia da viagem a Nápoles. Pressentir que foi disparate grande não ter reservado, pelo menos uma tarde inteira para andar pelo Museu Arqueológico. O Museu de Capodimonte é uma galeria de arte de elevado valor, também não entrou nos planos da visita. O viandante embrenha-se pelas ruas, quis ir a Ravello e a Herculano, meteu o nariz nas igrejas e nas praças, e do alto da Cartuxa, junto ao Castelo de Sant'Elmo, de onde a vista é quase de 360º, torceu a orelha, bem arrependido por dar asas aos procedimentos do andarilho, mexeriqueiro, assombrado quando descobre que as pedras daquele casario vieram do teatro romano, como se em Itália isto não acontecesse por toda a parte. Resta a consolação de que o que não se viu agora é bom pretexto para regressar, gosta-se muito de Roma, Florença, Veneza e respetivos arredores, mas é uma séria amputação cultural não descobrir que Nápoles rivaliza com toda a magnificência que o país oferece.
Pois qualquer dia o visitante está de volta.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (10)

Beja Santos

Não vem a despropósito falar do estado de alma do viandante, amanhã é dia de regresso e ele não gosta de enganos: há lugares fundamentais de Nápoles onde ele não pôs os pés, ou quando pôs foi visita de médico. Um só exemplo, o Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, um dos mais antigos e importantes do mundo, dotado de um património arqueológico sem rival, acresce que instalado num edifício de finais do século XVI. Trazia em mente contemplar com tempo o Mosaico de Alexandre, ei-lo aqui numa batalha contra Dario III, este em fuga, uma das maiores belezas que há na arte do mosaico, com dois milhões de peças. Paciência, mais uma razão para voltar.


E a visita continua onde a deixámos no episódio anterior, na Cartuxa e Museu Nacional de São Martinho, monumento nacional, aqui se alberga um extraordinário património não só de arte-sacra como de objetos relevantes para o exercício do poder no tempo dos Bourbon. É uma experiência única, o visitante ingressa num mosteiro, é confrontado com a vida monástica, com uma igreja barroca deslumbrante, pode visitar a sacristia, os claustros e o refeitório, e depois tem à sua disposição um grande conjunto de obras e vestígios da civilização e da história de Nápoles. Museu invulgar, e daí termos selecionado estas imagens de embarcações reais e de coches. Em contraponto, uma espantosa escultura da Virgem com o Menino, veja-se o delicado ângulo em que o artista esculpiu um dos temas cristãos mais iconográficos.





O visitante entra agora nos domínios do Prior da Cartuxa, já visitou presépios e a secção histórica que abarca as dinastias Aragonesa aos Bourbon. O que se escreve no guia terá alguma utilidade para compreender as imagens que se seguem: “O prior, a única pessoa autorizada a contactar com o mundo exterior, governava a vida do mosteiro dos seus aposentos. Esta era uma residência fabulosa, rica em tesouros artísticos e a dar para jardins luxuriantes com vistas para Nápoles e para o mar. Construídos no século XVII e aumentados no século seguinte, os aposentos luxuosos foram restaurados com muito cuidado”. O que se depara ao visitante é uma recriação, e o olhar anda de cima para baixo e de baixo para cima, esparvoado entre pinturas, esculturas, tecidos e mobiliário, acresce a pomposidade dos tetos. Ora vejam.




À despedida da Cartuxa, não há nada como mirar e admirar a deslumbrante panorâmica, e coisa até agora não acontecida, poder ver ao fundo a ilha de Capri e a ilha de Ischia, no termo daquele promontório está Sorrento.



Como se disse, a arquitetura napolitana destinada à média e grande burguesia é um estoiro de prosperidade nestes prédios apalaçados, muitos deles bem intervencionados e requalificados. O visitante quer aproveitar esta boa luz e descer a um outro lugar magnífico, o Castel Dell’Ovo, a fortaleza a entrar pelo mar em frente a Santa Lucia, é o castelo mais antigo de Nápoles, é um belíssimo passeio, atravessa-se o Parco Vigiliano, e na marginal é um encanto ir caminhando até este volume inconfundível do castelo. Como é uso e costume, a construção assenta numa antiga propriedade romana, no século V andou por aqui uma comunidade de monges. A parte mais antiga do castelo data do século IX. Está aqui um pouco da história de Nápoles, por aqui andaram governantes normandos, os Hohenstaufen, os Anjou e os Aragoneses, cada um introduziu as alterações que quis. O aspeto atual é o resultado da reconstrução realizada depois de 1503. É hoje usado para eventos culturais. Anoitece, ainda dá para visitar o pitoresco bairro Borgo Marinaro, os pés já protestam, regressa-se ao casco histórico para amesendar, deitar cedo e cedo erguer, o check-in será feito pelas sete e trinta da manhã. E o visitante pensa, quando a aeronave aponta para Lisboa, que é urgente regressar e ver mais alguma coisa da imensidão que não se viu. E a despedida definitiva desta viagem fica para a próxima semana, far-se-á uma recapitulação de todo o álbum de imagens.




(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21093: Os nossos seres, saberes e lazeres (398): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (9) (Mário Beja Santos)

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