sábado, 20 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21093: Os nossos seres, saberes e lazeres (398): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Aqui ficam algumas recordações de uma tarde passada na Certosa di San Martino, a Cartuxa que hoje é monumento nacional. É um imenso mosteiro, com posicionamento esplêndido na colina Vomero, por baixo do Castelo de Sant'Elmo. O interior da igreja é um verdadeiro tesouro, possui frescos de Luca Giordano e a Pietá é obra de Ribera. Veja-se a harmonia do claustro, a imersão no museu é um mostruário de riqueza e espiritualidade que supera a nossa conceção do que é um museu nacional, está ali o melhor da história de Nápoles, entre os séculos XV e XVIII.
Fica uma grande vontade de voltar ao assunto.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (9)

Beja Santos

Depois do Castelo de Sant’Elmo o viandante faz uma pausa, chegou o momento de mitigar a fome, senta-se numa cantina, pede canelones, continua sem entender porque é que o preço da sopa custa couro e cabelo, remata com cappuccino e irrompe na Cartuxa e Museu Nacional de S. Martinho, hoje monumento nacional, com este estatuto obtido em 1870 conseguiu-se evitar a degradação desta antiga cartuxa e do seu extraordinário património, um verdadeiro museu de arte. No guia que sobraça e que o acompanha pelos díspares itinerários, lê a propósito da Certosa di San Martino: “Em 1325, Carlos, Duque da Calábria, iniciou a construção de um dos mais ricos monumentos de Nápoles". Os frades cartuxos tinham visão, e entre os séculos XVI e XVIII os maiores artistas da época trabalharam na Certosa (convento de frades cartuxos). Alterou-se tudo com a passagem do tempo, houve reconstruções maneiristas e barrocas, os franceses secularizaram o mosteiro e assim, com a extinção das ordens religiosas, chegámos ao museu nacional. A igreja tem uma decoração barroca sumptuosa, veem-se estas imagens e percebe-se facilmente que custou uma fortuna, é um verdadeiro Eldorado para os aficionados do barroco.






E da igreja passa-se ao museu, o que aconteceu no século XIX não era uma ideia completamente nova, os frades cartuxos tencionavam que San Martino fosse um depósito da história e civilização napolitana. As coleções documentam as ricas e variadas formas de expressão artística encontradas em Nápoles, entre os séculos XV e XIX: desde pinturas a joalharia de coral, cenas tradicionais de presépio, porcelana, gravuras e esculturas de marfim.




Os corredores e as antecâmaras são ricamente ornamentados, tinha o viandante saído das cenas da Natividade e deu consigo a contemplar esta ilusão ótica, não há corredor nenhum, tudo se detém naquela parede, não é original mas não é por isso menos encantadora.


Há muita pintura neste museu. O guia destaca a arte napolitana do século XIX, o viandante não se sentiu seduzido. Achou fora de série este Martírio de S. Sebastião, de Ribera, um mártir muito sexy, bem preparado para levar mais uma frechadas e partir para o paraíso. Há quem deteste Ribera, mas temos que lhe reconhecer que ele sabia de anatomia a potes, a colocação da figura humana nos termos que ele fez introduz elevação, êxtase, só um grande mestre podia confinar a massa corporal num amplexo de arte religiosa sem a perda de horizonte do melhor património da pintura europeia.


Nada de atafulhar o leitor com os detalhes minuciosos da visita, muito se podia falar de pinturas, mobiliário, etc., reconstituindo os momentos-chave da história política, social e cultural de Nápoles, desde as dinastias de Aragão aos Bourbon, o que aqui se mostra tem a ver com as dimensões e a harmonia do claustro, a capela do prior da Cartuxa, um bergantim dos Bourbon e não se resiste a mostrar o vestígio de um arco que seguramente vem do primitivo convento, e aqui está tão delicadamente conservado.





Vale a pena regressar a este mosteiro, recolheram-se imagens de coleções maravilhosas e o Belvedere é também de uma enorme beleza, tem a cidade de Nápoles a seus pés.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21073: Os nossos seres, saberes e lazeres (397): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8) (Mário Beja Santos)

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