sexta-feira, 19 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21088: Fauna & flora (15): as quatro principais ameaças ao chimpanzé do Boé (Fundação Chimbo / Cherno Baldé)




Guiné > Região do Boé > Foundation Chimbo > Chimpanzés no Boé >  Imagens captadas pro câmaras automáticas.

 Imagens selecioandas e tratadas por L.G.


I. Segundo o sítio da Chimbo Foundation (a pequena ONGD, holandesa, criada  em 2007 para defender os chimpanzés do Boé,), há quatro grandes tipos de ameaças ao nosso "dari" (como o povo chama ao chimpanzé do Cantanhez).  

Na nomenclatura científica, esta subespécie, o chimpanzé da África Ocidental. designa-se por Pan troglodytes verus. 

Podemos acrescentar um quinto factor, que até ao momento tem uma função protetora: a crença (animista) no grande Irã que vive nas florestas sagradas.


1. A caça 

Existem muitos caçadores furtivos na Guiné-Bissau. Mas a caça de macacos e chimpanzés, para obtenção de carne selvagem (“bushmeat”), é  aqui, no Boé, relativamente pouco frequente, porque a população muçulmana local, fula, não come carne de macaco.

No entanto, as gerações mais jovens não respeitam esse tabu alimentar tanto quanto os mais velhos. 

Além disso, a caça furtiva está a aumentar na Guiné-Conacri. A população local  observa que os chimpanzés e macacos estão sendo caçados, mais do que nunca no Boé, para venda como animais de estimação (“pets”).

2. A bauxite 

Projeções recentes indicam que existem pelo menos 100 milhões de toneladas de reservas de bauxite no Boé. Pode parecer muito, mas não é nada em comparação com as enormes reservas da vizinha Guiné Conacri (as maiores do mundo, estimadas em 7,4 mil milhões de toneladas.)

A bauxite é uma rocha sedimentar com alto teor de alumínio, com múltiplas aplicações. O vocábulo vem de “baux”, topónimo, mais “ite”. Foi no sul da França, o Midi, na aldeia de  Les Baux-de-Provence, que a bauxite foi descoberta, em 1821, pelo geólogo Pierre Berthier.

A Guiné-Conacri (ou a Guiné, “tout court”, de acordo com a sua designação oficial), foi uma antiga colónia francesa, e tem um longo historial no campo da extração da bauxite, possuindo “know how” e infraestruturas que a Guiné-Bissau não tem.

Por enquanto, e até agora, a extração de bauxite em larga escala no Boé não tem sido, felizmente para os chimpanzés e outras espécies animais em estado selvagem, uma opção, economicamente rentável, para as empresas mineiras ocidentais. Mas, em qualquer momento, esta situação pode ser revertida.  De resto, a vizinha Guiné é o segundo maior produtor mundial de bauxite,  logo a seguir à Austrália.

De qualquer modo é importante que a opinião pública, a nível mundial, continental, regional, nacional e local, saiba que a eventual exploração da bauxite teria um tremendo impacto na região do Boé, santuário dos chimpazés uma espécie ameaçada... E não é uma espécie qualquer: são primtas como nós, e são os que estão mais próximos de nós, em termos genéticos e da evolução... 

Do ponto de vista da proteção da natureza, teria consequências altamente negativas, porque as melhores reservas de bauxite estão localizados justamente em pleno coração dos habitats dos chimpanzés. 

3. Crescimento populacional

A população (humana) do Boé está a crescer rapidamente. As estimativas apontam para 12 mil pessoas, a viver em dezenas de tabancas (,  entre 50 a 85 tabancas). Para os  especialistas,   estes valores são já incomportáveis,  ultrapassando o limiar da sustentabilidade do Boé.. Além disso, várias novas tabancas foram fundadas na região central da Boé que, durante muto tempo, foi  praticamente uma região desabitada. 

Os velhos costumes e tabus estão, por um lado,  a desaparecer. Mas, por outro, é compreensível que os novos (e os velhos) habitantes procurem melhorar o seu nível de vida.  Para a a região do  Boé, isso significa mais agricultura, mais pecuária, algumas lojas e até um “hotel”, à beira da estrada, com quartos para alugar. 

Em consequênbcia, há um aumento das atividades de caça e caça furtiva. E os pobres dos chimpanzés estão entre os animais que estão sendo caçados ou aprisionados.


4. Construção de estrada 

Um quarto factor de risco, ou ameaça para a vida selvagem, é a construção de estradas,

Como parte do "desenvolvimento regional"#, há planos para construir uma estrada alcatroada que passará em pleno coração do Boé. Este tipo de melhoria das acessibilidades traz consigo o o risco da depredação acelerada dos recursos do Boé, e  a sua venda para as áreas mais densamente povoadas dos países vizinhos, a Guiné e o Senegal.

5.  As florestas sagradas e o grande irã

O tradicional respeito do guineense pela "floresta sagrada" onde vive o "grande irã", é uma concepção animista que tem grande valor socioeclógico. E joga a favor da proteção dos chimpanzés., tanto no Boé como no Cantanhez. Resta saber até quando...

[Tradução e adapt. livre de LG. Fonte: Chimbo.org]

II. Comentário do Cherno Baldé (Bissau) (*)

Caro Luis Graça,

Nunca ouvi falar e não sei nada da Fundação Chimbo, sei que algumas entidades estrangeiras estiveram envolvidas num projecto ligado aos Chimpanzés de Boé e que tinham antenas em algumas localidades como Beli e Lugajol.

Quanto aos recursos naturais já identificados há algum tempo para cá, ainda os Grandes Irãs do território não autorizaram a sua exploração e, eu digo, ainda bem que é assim.

A bauxite, o mais antigo de todos os recursps, ainda não foi tocada. Depois de vários estudos, os Angolanos foram os primeiros a tentar fazer alguma coisa em concreto em meados de 2010/12, mas esta operação que incluia a construç~so de um porto no rio grande de Buba, resultou no derrube do Governo do Carlos Gomes Júnior em 2012 e a expulsão dos militares Angolanos do MISSANG.

Os negócios da exploração do fosfato em Farim estão envolvidos num grande nevoeiro que ninguém compreende, implicando varias empresas estrangeiras e interesses nacionais que compram e de seguida vendem o negócio a outros mais ousados ou menos atentos.

O Petroleo Off-Shore é uma miragem cada vez mais longínqua e a historia da partilha de recursos com o Senegal está em águas de bacalhau.

Num país tao instável e frágil como a Guiné-Bissau,  com a situaçãoo geopolitica cada vez mais complicada, o melhor que pode acontecer mesmo é não aparecer motivos de pôr mais lenha na fogueira, pois poderia ser catastrófico tentar acordar tantos dem+onios ao mesmo tempo. 

As hienas capitalistas nunca dormem e a ganância dos africanos é proporcional à sua ignorância. Veja-se o que está a acontecer em Moçambique com as recentes descobertas de Gaz no Norte, com centenas de pessoas massacradas em tão pouco tempo.

Um abraço amigo,
Cherno Baldé
___________

Vd. também postes de:

8 de março de  2007 > Guiné 63/74 - P1575: A TSF no Cantanhez, com uma equipa de cientistas portugueses, em busca do Dari, o chimpanzé (Luís Graça / José Martins)

21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O GAP é um movimento internacional cujo objetivo maior é lutar pela garantia dos direitos básicos à vida, liberdade e não-tortura dos grandes primatas não humanos – Chimpanzés, Gorilas, Orangotangos e Bonobos, nossos parentes mais próximos no mundo animal.


https://www.projetogap.org.br/primate/os-cinco-grandes-primatas/


Orangotango, gorila, chimpanzé, bonobo e humano. Esses são os cinco grandes primatas, assim denominados por não possuírem rabo e estarem um pouco a frente de seus “primos” macacos na escala da evolução. Popularmente chamamos todos os primatas de macacos, mas na verdade, os macacos são aqueles que tem rabo. Foi na África que surgiram os primeiros primatas sem rabo. O orangotango apareceu entre 12 e 15 milhões de anos atrás, seguido pelo gorila (8 a 9 milhões) e pelo homem (7 milhões). Os chimpanzés e bonobos podem ter surgido há 5 ou 6 milhões de anos.

Todos pertencem ao grupo dos antropóides, mas é com os chimpanzés que os humanos mais se parecem. Compartilhamos 99,4% do DNA deles, segundo as pesquisas lideradas pelo biólogo Morris Goodman, na Universidade Estadual de Wayne, em Detroit (EUA). Por conta de uma diferença tão pequena, Morris acredita que o chimpanzé deva ser incluído no genero humano e passe de Pan troglodytes para Homo (Pan) Troglodytes, o ser humano propriamente dito.

A intenção de Morris é provocar um novo olhar sobre nossos parentes mais próximos. É fazer com que as pessoas os reconheçam como seres racionais e emocionais, apenas vivendo um momento evolutivo diferente do nosso. No mundo todo, não só chimpanzés, mas gorilas, orangotangos e bonobos, provam sua inteligencia e sensibilidade fazendo com que alguns casos cheguem aos tribunais.

Um dos mais famosos casos foi o do casal de chimpanzés da Áustria, Hiasl e Rosi, impedidos de receber donativos por não serem “pessoas físicas”, apesar de assistirem documentários na TV e levarem uma vida praticamente humana. Mas há avanços da consciência “humana” por toda parte. Nas Ilhas Baleares espanholas, por exemplo, os grandes primatas já ganharam status de “adultos dependentes” e não podem ser explorados científica ou comercialmente.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Grandes primatas podem ganhar estatuto jurídico de 'pessoas não humanas'
AFP
postado em 24/10/2018 12:05
Dotar os grandes símios de um estatuto legal específico: juristas e políticos querem mudar as fronteiras da lei francesa para melhor proteger esses primatas em perigo de extinção promovendo o conceito emergente de "pessoa não humana".

A situação dos grandes macacos em estado selvagem é alarmante: duas espécies de gorilas e duas de orangotangos estão à beira da extinção, de acordo com o último relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Já o chimpanzé e o bonobo são considerados em risco de extinção.

Uma terceira espécie de orangotango, com cerca de 800 indivíduos, recentemente descoberta, está ameaçada por um projeto de hidrelétrica, denunciam cientistas e ONGs.

Em abril, a atriz Nathalie Baye, a primatologista Sabrina Krief, o ex-chefe do MEDEF (Movimento de Empresas da França) Laurence Parisot e o conselheiro de Paris Yann Wehrling lançaram um apelo para salvar estes animais. Entre as possibilidades mencionadas, propõe-se estabelecer "uma nova legislação para os animais (...) em particular os grandes símios".

O Direito Civil francês distingue duas categorias: bens e pessoas. Por muito tempo considerados bens móveis, os animais domésticos ou em cativeiro são reconhecidos desde 2015 no Código Civil como "seres vivos dotados de sensibilidade". No entanto, "de acordo com as leis que os protegem, os animais estão sujeitos ao regime de propriedade".

Os defensores dos animais não estão satisfeitos.

Para a primatóloga Sabrina Krief, mudar a lei "mostraria que temos um papel a desempenhar na França" para proteger os primatas. "Um grande macaco guarda lembranças do que aconteceu, é empático, tem uma grande necessidade de vida social", diz a cientista, que estuda os chimpanzés selvagens em Uganda, lembrando sua proximidade genética com os humanos.

Para ela, exibir esses animais em estúdios de televisão ou circos vai contra suas necessidades, e também incentiva sua caça ilegal.

Qual é a melhor maneira de defender os primatas em cativeiro? "Proporcionando-lhes o status de pessoas", diz o professor de Direito Jean-Pierre Marguénaud.

Não se trata de colocá-los em pé de igualdade com os seres humanos e dar-lhes os mesmos direitos, explica ele à AFP, mas "inspirar-se na pessoa moral (ou jurídica)". Este status se aplica a associações, fundações...

Trata-se de "fornecer uma caixa de ferramentas que especifica a personalidade jurídica que poderia ser concedida aos animais", adaptável de acordo com a espécie, acrescenta Marguénaud.

Este conceito tem seus detratores: para alguns, está fora de cogitação aproximar os direitos dos animais aos dos humanos. Para outros, seria problemático dotar apenas os grandes primatas, entre todos os animais, com um status específico.

A ideia não se limita à França. O filósofo australiano Peter Singer criou em 1993 com a filósofa italiana Paola Cavalieri o "Projeto Grandes Símios", que defende o direito à vida, à liberdade e a proibição da tortura para esses animais.

Nos Estados Unidos, o advogado Steven Wise lutou por vários anos para que os chimpanzés fossem reconhecidos como pessoas, até agora sem resultados.

Na Argentina o tribunal na província de Mendoza (oeste) atribuiu a um chimpanzé o direito de não ser enjaulado sem julgamento, sob a ordem de habeas corpus, um procedimento jurídico comum, especialmente na lei anglo-saxã.

Cecilia deixou sua jaula no zoológico de Mendoza em 2017 para morar no Santuário de grandes primatas de Sorocaba, em São Paulo.

Antes delas, a orangotango Sandra foi reconhecida como "pessoa não humana", beneficiando assim do direito de 'habeas corpus' segundo a justiça argentina, mas não foi retirada de seu zoológico.


Esado de Minas, Internacional

https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/10/24/interna_internacional,999648/grandes-primatas-podem-ganhar-estatuto-juridico-de-pessoas-nao-humana.shtml

Valdemar Silva disse...

Os bonobos são uns pequenos chimpanzés de pernas compridas geneticamente 98.7% parecidos com os humanos.
Os bonobos vivem tranquilamente sem conflitos entre eles, passam a viva a rir e copulando constantemente para resolverem os seus problemas, até as fêmeas entre si resolvem assim problemas de vizinhança.
Que rica viva têm os bonobos.

Valdemar Queiroz