Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Guiné > Região do Oio > CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72) > "Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas das NT, nas imediações do destacamento" [de Bironque ou Madina Fula]. Foto do álbum do alf mil José Carvalho.
Foto (e legenda): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do José Carvalho, ao poste P21068 (*);
Caro Luis,
Na altura e durante algum tempo, influenciado talvez pela informação dos locais, julgava que se trataria de um onça.
Na realidade estou também convicto que se trata de um leopardo-africano (panthera pardus pardus).
Abraço, do José Carvalho
[ex-alf mil inf, CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), e hoje médico veterinário, a viver no Bombarral]
2. Comentário do Cherno Baldé, nosso colaborador permanente (Bissau) (*):
Caro Luis,
Na altura e durante algum tempo, influenciado talvez pela informação dos locais, julgava que se trataria de um onça.
Na realidade estou também convicto que se trata de um leopardo-africano (panthera pardus pardus).
Abraço, do José Carvalho
[ex-alf mil inf, CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), e hoje médico veterinário, a viver no Bombarral]
2. Comentário do Cherno Baldé, nosso colaborador permanente (Bissau) (*):
Caro Luis,
De facto, pela imagem da foto, vê-se que não é uma onça, normalmente de menor porte físico e com manchas mais grossas e carregadas. Isto quererá dizer que estas duas espécies de felinos coexistiam nas matas da Guiné em meados dos anos 60/70.
Lembro-me que, ainda criança, tínhamos a incumbência de pastorear o gado da familia, sempre em grupos de 3 u 4 crianças e, às vezes, os animais nos enganavam e nos levavam para zonas pouco frequentadas, ricas em pasto, mas também perigosas em outros sentidos.
De facto, pela imagem da foto, vê-se que não é uma onça, normalmente de menor porte físico e com manchas mais grossas e carregadas. Isto quererá dizer que estas duas espécies de felinos coexistiam nas matas da Guiné em meados dos anos 60/70.
Lembro-me que, ainda criança, tínhamos a incumbência de pastorear o gado da familia, sempre em grupos de 3 u 4 crianças e, às vezes, os animais nos enganavam e nos levavam para zonas pouco frequentadas, ricas em pasto, mas também perigosas em outros sentidos.
As instruções prévias sobre riscos de ataques de felinos ou dos guerrilheiros [do PAIGC], nesses casos, era fugir ao primeiro sinal de alerta vindo dos animais que nos acompanhavam. Digo acompanhavam, porque, em muitas ocasiões e completamente desorientados, confiavamos na capacidade de oruentação dos mesmos e seguiamos atrás até à hora do regresso que nunca falhava.
Durante esse tempo, nunca vi nenhum felino de perto, mas fugimos várias vezes sem saber qual era a real ameaça. Os mais velhos diziam-nos assim: Se os animais fogem em grupos organizados e param depois de 1/2 km, quer dizer que é uma Onça (de notar que poucas pessoas podiam diferenciar uma Onça de um Leopardo), mas se fogem dispersos, em grande velocidade e não param antes dos 7/10 km, então saibam que é o "Ngari Djinné", um Leão.
Uma vez, aconteceu que, durante a noite, a maior parte das vacas arrancaram os postes com as amarras que as mantinham presas e vieram refugiar-se junto à aldeia. Depois soubemos que um felino, provávelmente um Leão ou seu grupo, teria passado por perto, a caminho das matas do Oio ou vice-versa.
Durante esse tempo, nunca vi nenhum felino de perto, mas fugimos várias vezes sem saber qual era a real ameaça. Os mais velhos diziam-nos assim: Se os animais fogem em grupos organizados e param depois de 1/2 km, quer dizer que é uma Onça (de notar que poucas pessoas podiam diferenciar uma Onça de um Leopardo), mas se fogem dispersos, em grande velocidade e não param antes dos 7/10 km, então saibam que é o "Ngari Djinné", um Leão.
Uma vez, aconteceu que, durante a noite, a maior parte das vacas arrancaram os postes com as amarras que as mantinham presas e vieram refugiar-se junto à aldeia. Depois soubemos que um felino, provávelmente um Leão ou seu grupo, teria passado por perto, a caminho das matas do Oio ou vice-versa.
Com um abraço amigo, Cherno
3. Comentário do Carlos Vinhal:
Acho que me lembro deste episódio porque me ficou na memória um destes animais ter caído numa das nossas armadilhas e o pessoal civil ter esquartejado e dividido os pedaços entre si. Aconteceu que ao fim do dia, quando retirámos, era vê-los, todos contentes, carregando aqueles nacos de carne (e osso) envolvidos por folhas de palmeiras, e a serem perseguidos por enormes quantidades de moscas atraídas pelo já menos bom estado de conservação da carne.
4. Comentário de César Dias:
Carlos, foi este episódio, quando andávamos a verificar as armadilhas, encontrámos uma enorme onça junto a uma delas, cheirava muito mal, mas mesmo assim os africanos que nos acompanhavam tiraram-lhe a pele, a pedido, e dividiram-na entre eles, eu levei a pele para Mansabá, ainda lá esteve em tentativa de secagem, mas eram tantas as moscas que desisti daquilo, não tinha muitos furos de estilhaços, mas algum lhe deve ter tocado em orgão vital.
Só passaram 50 anos, são coisas que não esquecem. Um abraço.
4. Comentário de César Dias:
Carlos, foi este episódio, quando andávamos a verificar as armadilhas, encontrámos uma enorme onça junto a uma delas, cheirava muito mal, mas mesmo assim os africanos que nos acompanhavam tiraram-lhe a pele, a pedido, e dividiram-na entre eles, eu levei a pele para Mansabá, ainda lá esteve em tentativa de secagem, mas eram tantas as moscas que desisti daquilo, não tinha muitos furos de estilhaços, mas algum lhe deve ter tocado em orgão vital.
Só passaram 50 anos, são coisas que não esquecem. Um abraço.
5. Nota do editor LG:
Na Guiné-Bissau, a subespécie leopardo -africano (panthera pardus pardus) é conhecida por "onça"... Tal como a hiena é conhecido por "lubu" (em crioulo)...
Nem o leopardo africano nem o jaguar podem ser confundidos com a onça-parda (ou puma, em português europeu) (Puma concolor): são os três da família Felidae, mas o género é diferente: Puma, nativo das Américas. (Portanto, também não existe em África.)
Albert Monard (1882-1956) foi um naturalista suiço, que fez várias expedições científicas em África, incluindo Angola (1928, 1932) e a Guiné-Bissau (1937).
Résultats de la mission scientifique du Dr. Monard en Guinée Portugaise : 1937-1938 / Albert Monard. - [S.l. : s.n., 193-]. - 11 v.. - Separata dos Arquivos do Museu Bocage. - 1º v.: Primates. - 2º v.: Ongulés. - 3º v.: Chiroptères. - 4º v.: Scorpions. - 6º v.: Batraciens. - 7º v.: Poissons. - 8º v.: Reptiles. - 9º v.: Carnivores. - 10º v.: Rongeurs. - 11º v.: Dytiscidae et gyrinidae.
Fonte: Memórias de África e do Oriente
Citada pela agência Angop, em notícia de 13 de dezembro de 2007, a bióloga e conservacionista do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP), da Guiné-Bissau, Cristina Silva, usava o termo local "onça";
Citada pela agência Angop, em notícia de 13 de dezembro de 2007, a bióloga e conservacionista do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP), da Guiné-Bissau, Cristina Silva, usava o termo local "onça";
(...) De acordo com a especialista, os "grandes mamíferos" como o leão, a onça e o elefante, são hoje espécies "extremamente ameaçadas" de extinção devido à acção dos seres humanos.
Por exemplo, os poucos elefantes que restaram são vistos esporadicamente nas florestas de Boé, no leste e em Cantanhez, no sul, explicou Cristina Silva, sublinhando que estes apenas aparecem nas épocas chuvosas.
"O último recenseamento apontava para a existência de apenas três casais de onças na zona do Boé", declarou Cristina Silva, um registo que contraria os dados de há dez anos, indicando que havia entre 50 a 100 seres dessa espécie. (...)
A Cristina Silva aqui citada é a "Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva [, o nosso saudoso amigo Pepito, 1949-2014], guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.Tem [, tinha, em 2009,] 35 anos, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies." (**)
________________
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Notas do editor:
(*) Vd. poste da série >12 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21068: Fauna e flora (12): José Carvalho, Barão do K3: "leopardo" (Panthera pardus) e não "onça" (Panthera onca) ou "jaguar", que só existe no "Novo Mundo"? ...Mas na Guiné-Bissau sempre ouvimos falar em "onças", até há emissões de selos...
(**) Vd. poste de 15 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa
(**) Vd. poste de 15 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa
7 comentários:
Caros amigos,
Muito interessante o pormenor invocado de que, na Guiné-Bissau e provavelmente na Africa Ocidental, a denominaçao de Leopardo e Onça seriam a mesma coisa (sinonimos). Posso estar errado, mas parece-me que na maioria das linguas locais, designadamente fula (minha lingua maternal que conheço melhor), so ha um nome para designar estes dois animais inlusive nos contos tradicionais que, em Africa, servem de referencia e repositorio colectivo, historico e bibliografico de tudo que existe ou alguma vez existiu no mundo conhecido, pelo menos nos ultimos séculos. isto deve-se a natureza supersticiosa e bastante conservadora do espirito africano que se preocupa com o essencial e desvaloriza os pequenos pormenores, embora tenham sido, ao longo da historia humana, bons observadores dos fenomenos da natureza a sua volta de uma forma geral.
Este é um bom tema para pesquisa.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Chegamos à Guiné (Bafatá) no dia 9 de Abril de 1963, logo dois dias depois, começamos a fazer patrulhamentos para a zona Sul, Bambadinca,Xitole,Xime e Ponta do Inglês.Num desses dias saímos de Bafatá cerca das seis horas da manhã, tendo chegado a Bambadinca pelas sete horas. Estava lá destacado um Pelotão de Caçadores Independente Nº?, comamdado por um Alferes, meu conhecido, de Lousada, Advogado, que conhecia do Porto.
Esse Pelotão esteve em Bambadinca até Julho desse ano , quando foi substituído por uma Companhia. O cozinheiro tinha acabado de fazer o café, que serviu a quem quis. Entretanto, vi chegar dois homens nativos com um saco, curioso, aproximei-me, tendo chamado o Cabo Mamadú Baldé para me servir de tradutor. O Mamadú perguntou o que eles traziam. Eles abrindo o saco, verifiquei que eram duas crias de Chita ou Onça. Pediram por elas 40 pesos, mas eu apenas ofereci 20 pesos. Eles cederam e fizemos negócio. Pedi ao Alferes meu Amigo, para as guardar até eu regressar do patrulhamento. No regresso, reavie as onças, tendo ficado a saber que o cozinheiro lhes tinha dado leite. Quando cheguei a Bafatá, chamei o 1ºcabo Azevedo "O estraga a tábua", pois era carpinteiro, dizendo-lhe para ir à Serração comprar madeira para fazer uma jaula, que foi colocada na parada do aquartelamento. Entretanto, o Mamadú dava-me cabo do juízo, dizendo que elas eram perigosas, blá, blá. Passados dois ou três dias de manhã, apareceram ambas mortas.
Alcidio Marinho
C. Caç 412
Nos meses de Junho, julho e Agosto de 1963, o 3º Pelotão esteve destacado no Xitole, onde fomos reforçar um Pelotão de Caçadores Independente nº ?. Uma certa manhã, verificamos um certo alvoroço. Os Homens-Grandes discutiam entre eles
com grande alarido. Indagando o que se passava, ficamos a saber que as vacas haviam sido atacadas durante a noite. Diziam, pela discrição que faziam que era um leopardo ou onça. Em conversa com o nosso Alferes Cardoso Pires, resolvemos fazer um fosso, coberto com ramos e colocamos um isco, que foram as tripas de 3 cabritos que havia-mos comprado para o rancho. Assim se procedeu. No dia seguinte, havia a mesma algazarra que se ouvia, junto ao fosso. Quando chegamos lá, vi-mos um leopardo, ainda jovem, já morto e a ser esquartejado. Nem deu para aproveitar a pele do animal.
Alcidio Marinho
C. Caç 412
onça | s. f.
onça | s. f. | adj. 2 g. s. f.
on·ça 1
(latim uncia, -ae, a duodécima parte)
nome feminino
Peso da décima sexta parte do arrátel ou da duodécima parte da libra das farmácias
on·ça 2
(latim vulgar lyncea, do latim lynx, lyncis, lince)
nome feminino
1. [Zoologia] Grande mamífero (Panthera uncia) felídeo, parecido com o leopardo, que vive na Ásia, com pelagem acinzentada com manchas escuras. = LEOPARDO-DAS-NEVES
2. [Zoologia] Grande mamífero (Panthera onca) felídeo carnívoro e feroz da América, geralmente com pelagem amarelada e manchas pretas. = JAGUAR, ONÇA-PINTADA
3. [Brasil] Pessoa muito zangada. = FERA
adjectivo de dois géneros e nome feminino
4. [Brasil] Que ou quem é invencível ou muito valente.
"onça", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/on%C3%A7a [consultado em 16-06-2020].
Cherno, são os falantes que fazem a língua... Se o leopardo-africano é "onça" na Guiné-Bissau, continuará a sê-lo... Provavelmente o termo chegou via Brasil, não ?
A nomenclatura científica das espécies animais, e nomeadamente dos mamíferos (desde Lineu), é uma coisa, os nomes vulgares dos animais, é outra coisa...
Na tua terra, o chimpanzé será sempre o "dari"; o Fatango ou macaco fidalgo é, para os zoólogos, o "Procolobus badius"; e por aí fora: o muntu, o tucurtacar pangolim, e o resto da bicharada da tua linda terra...
Oxalá, Cherno, os teux filhos tenham a sorte de os ainda poder ver, em plena natureza... E os poder mostrar aos seus filhos, teus netos... Na Europa, só no jardim zoológico... posso mostrar animais que se extinguiram na nossa na nossa terra, como o urso pardo, por exemplo. O lince foi recentemente reintroduzido...na Serra da Malcata... Para não falar do lobo, que ainda existe, mas ameaçado...
Em Nova Lamego, frequentemente, os ex-fur.mil. Macias e Pais de Sousa, da nossa CART11 'Os Lacraus', saiam para a caça às lebres e galinholas com uns nossos soldados como guias.
Equipados com caçadeiras enviadas, ou posteriormente trazidas quando vieram de férias, da metrópole, a ideia deles era caçar uma gazela. Não me recordo ao certo, mas parece que foi de noite com lanternas, foram-se colocar dentro da mata próximo duma pequena poça de água, com a intenção de aparecer uma gazela com sede. Contaram depois, qual gazela qual quê, apontaram as lanternas para uma pequena árvore e focaram os olhos luminosas de uma onça. E 'gosse gosse' foi o conselho do soldado/guia para regressar ao Quartel.
Grandes petiscos que foram feitos pelo Pereira cozinheiro destas peças de caça.
Valdemar Queiroz
Há a expressão popular "amigo da onça", que nos veio do Brasil... Amigo da onça" é o falso amigo... Em Portugal diz-se "amigo de Peniche" (, o que é ofensivo para os amigos que lá tenho... Mas, a mim, quando era miúdo, também me gozavam: "És da terra da Loba" [Lourinhã, terra de parvos..].
Enconttrei aqui a explicação para a eventual origem da expressão "amigo da onça"... Reproduzo, com a devida vénia.
https://super.abril.com.br/historia/cacador-espantou-a-onca-com-um-berro/
De onde vem a expressão “amigo da onça”?
A expressão interiorana se popularizou no país inteiro a partir dos anos 1950
Por Da Redação - Atualizado em 23 nov 2016, 15h37 - Publicado em 30 jun 2000, 22h00
A origem da expressão vem de uma história popular do interior. “Conta-se que um caçador relatava aos amigos ter sido perseguido numa de suas aventuras por uma onça enorme”, narra o escritor Deonísio da Silva, professor da Universidade Federal de São Carlos e autor do livro De Onde Vêm as Palavras.
Segundo Deonísio, o sujeito fugiu o quanto deu e no caminho perdeu a espingarda. Lá pelas tantas, acabou encurralado na mata. Só o que conseguiu fazer foi gritar o mais forte que pôde. O berro foi tão alto que a onça ficou apavorada. Ela então fugiu e deixou o caçador em paz. O amigo que ouvia a história duvidou: “Ah, se essa história fosse verdade você teria sido devorado!” Ao que o caçador, indignado, teria retrucado: “Mas você é meu amigo ou amigo da onça?”
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