sexta-feira, 12 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21068: Fauna e flora (12): José Carvalho, Barão do K3: "leopardo" (Panthera pardus) e não "onça" (Panthera onca) ou "jaguar", que só existe no "Novo Mundo"? ...Mas na Guiné-Bissau sempre ouvimos falar em "onças", até há emissões de selos...


Guiné > Região do Oio > CCAÇ 2753 (BráBironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72) > "Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas NT, nas imediações do destacamento" [de Bironque ou Madina Fula]. Foto do álbum do alf mil  José Carvalho. 

Foto (e legenda): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do editor Luís Graça ao poste P21057 (*):

Belíssimas fotos, ótimas legendas... Prometo ler com toda a atenção... Mas, para já, destaco o enorme interesse documental deste álbum... Obrigado, grande Barão do K3!...

Em Bironque e Madina Fula parece que apanhaste o tempo seco... Sei o que é o terrível pó vermelho, das colunas logísticas, que fiz de Bambadinca ao Saltinho, via Mansambo e Xitole... Mas também para o Xime, antes da nova estrada alcatroada (que já não conheci)...

E também posso avaliar o que é viver em "Bu...rakos" como estes... E muito pior era o tempo das chuvas...

Quanto à foto nº 7, que me chamou particular atenção: tu que és médico veterinário, diz-que que felídeo é esse... É um belíssimo e portentoso animal que teve o azar de cair nas vossas armadilhas...

Para mim é um leopardo (Panthera pardus), e não uma "onça" (Panthera onca) ou "jaguar", que só existe no "Novo Mundo"... Mas na Guiné-Bissau sempre ouvi falar em "onças", até há emissões de selos... Está na lista vermelha  das espécies ameaçadas. A atual situação é "vulnerável", mas na Guiné-Bissau devem restar muitos poucos casais, devido à guerra, à desflorestação, à caça furtiva e à pressão humana (**)

Um abraço afetuoso do
Luís
___________


(**) Último poste da série > 17 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3751: Fauna & flora (11): O babuíno da Guiné ou... cabrito pé de rocha (Vitor Junqueira)

11 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Acho que me lembro deste episódio porque me ficou na memória um destes animais ter caído numa das nossas armadilhas e o pessoal civil ter esquartejado e divido os pedaços entre si. Aconteceu que ao fim do dia, quando retirámos, era vê-los todos contentes carregando aqueles nacos de carne (e osso) envolvidos por folhas de palmeiras, e a serem perseguidos por enormes quantidades de moscas atraídas pelo já menos bom estado de conservação da carne.
Carlos Vinhal

Cesar Dias disse...

Carlos, foi este episódio, quando andávamos a verificar as armadilhas, encontrámos uma enorme onça junto a uma delas, cheirava muito mal, mas mesmo assim os africanos que nos acompanhavam tiraram-lhe a pele, a pedido, e dividiram-na entre eles, eu levei a pele para Mansabá, ainda lá esteve em tentativa de secagem, mas eram tantas as moscas que desisti daquilo, não tinha muitos furos de estilhaços, mas algum lhe deve ter tocado em orgão vital.
Só passaram 50 anos, são coisas que não esquecem. Um abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A "Panthera onca" (ou jaguar) não existe em Àfrica, só no continente americano ("Novo MUndo")...

Portanto, este animal só pode ser um "leopardo" ("panthera pardus")... Na Guiné-Bissau, o crioulo "oonça" quer dizer leopardo... Mas os especialistas que se pronunciem... O nosso Zé Carvalho é veterinário...

https://www.iucnredlist.org/species/15953/123791436#geographic-range

Carlos Vinhal disse...

Caro Dias, foste então mais um a levar moscas do Bironque (ou de Madina Fula) para Mansabá.
Todos os dias aconteciam coisas naquela frente de trabalhos, ou eram os trabalhadores a pisarem minas ou acidentes como um deles que levou com um árvore em cima e, coitado, teve que ser evacuado de helicóptero. Então vocês, Sapadores, tinham um trabalho diário digno de nota. Havia um Furriel Dias, mais alto do que tu e eu, com quem cheguei a trabalhar nas armadilhas dos pontões. Ainda guardo os esboços que ele elaborou. Não me lembro se era do 2885 ou do Batalhão que vos substituiu. Da Engenharia julgo que não seria.
Abraço
Carlos Vinhal

Carlos Vinhal disse...

Dias, fui aos meus arquivos e os "bonecos" são de Março e Abril de 1971, portanto do teu tempo, e referem-se ao Alto de Bissorã, fim da Pista e arredores de Mansabá. Quem assinou não indicou a unidade a que pertencia.

Cesar Dias disse...

Carlos, em 3 de Março desembarquei em Lisboa, só estive aí até meados de Fevereiro, quanto aos que nos substituiram, não sei mais do que ouvi contar, que tinham tido acidente nas próprias armadilhas (os dois furrieis) e tinham falecido ainda nós estávamos no Cumeré.
Abraço
César Dias

Carlos Vinhal disse...

Dias, estes dois Sapadores morreram em 14 de Fevereiro de 1971, estava eu em Bissau, embarquei para a metrópole a 15 para gozar os 35 dias de férias da ordem. Talvez, esse tal Dias seja um dos substitutos destes malogrados camaradas de armas.
Ainda tive breves contactos com os camaradas falecidos, ao que consta no livro da CECA, caídos em combate em Madina Fula. Maldita estrada que tanto sangue custou. Honremos as suas memórias.
Abraço
Carlos Vinhal

Cesar Dias disse...

Carlos, os falecidos Alho e Fernandes tiveram só uma semana de sobreposição connosco, muito pouco para quem práticamente saiu do barco directamente para a estrada. Penso que já falámos sobre isto, o Alho era do meu concelho, foi muito mau quando no Cumeré recebemos a noticia da sua morte. Soube que chamaram logo o Santos que era o furriel que tinha estado comigo em Mansabá, como era mais novo e iria ficar na Guiné,foi requisitado.
É como dizes Honremos as suas memórias, uma vez que os sacrificios foram em vão.
Um abraço

César Dias

Cherno Baldé disse...

Caro Luis,

De facto, pela imagem da foto, vê-se que não é uma onça, normalmente de menor pirte físico e com manchas mais grosas e carregadas. Isto quererá dizer que estas duas espécies de felinos coexistiam nas matas da Guiné em meados dos anos 60/70.

Lembro-me que ainda criança tinhamos a incumbência de pastorear o gado da familia, sempre em grupos de 3/4 crianças e, as vezes, os animais nos enganavam e nos levávam para zonas pouco frequentadas, ricas em pasto, mas também perigosas em outros sentidos. As instruções prévias sobre riscos de ataques de felinos ou dis guerrilheiros, nesses casos, era fugir ao primeiro sinal de alerta vindo dos animais que nos acompanhavam, digo acompanhavam pirque em muitas ocasiões e completamente desorientados, confiavamos na capacidade de oruentação dos mesmos e seguiamos atrás até a hora do regresso que nunca falhava.

Durante esse tempo, nunca vi nenhum felino de perto, mas fugimos várias vezes sem saber qual era a real ameaça. Os mais velhos diziam-nos assim: Se os animais fogem em grupos organizados e param depois de 1/2 Km, quer dizer que é uma Onça (de notar que poucas pessoas podiam diferenciar uma Onça de um Leopardo), mas se fogem dispersos, em grande velocidade e não param antes dos 7/10 Km, então saibam que é o "Ngari Djinné", um Leão

Uma vez, aconteceu que, durante a noite, a maior parte das vacas arrancaram os postes com as amarras que as mantinham presas e vieram refugiar-se junto a aldeia. Depois soubemos que um felino, provávelmente um Leão ou seu grupo teria(m) passado por perto, a caminho das matas do Oio ou vice-versa.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Caro Luis,

Na altura e durante algum tempo, influenciado talvez pela informação dos locais,julgava que se trataria de um onça.

Na realidade estou também convicto que se trata de um leopardo-africano (panthera pardus pardus).

Abraço,
do José Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre a "onça-pintada", o maior felino do continente americano, ver:


https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/pantanal/nossas_solucoes_no_pantanal/protecao_de_especies_no_pantanal/onca_pintada/