quarta-feira, 24 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21108: Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos, parte II: Relembrando a viagem de circum-navegação do NRP Sagres (5/1/2020 - 10/1/2021), de homenagem a Fernão de Magalhães (1480-1521)


NRP Sagres > Partiu de Lisboa a 5 de janeiro de 2020 para a sua volta ao mundo, com 142 militares a bordo... Por causa da pandemia de COVID 19, a missão teve de ser cancelada, e o navio-escola teve de regressar à base naval do Alfeite... (Acima, magnífica foto dos/as nossos/as bravos/as marinheiros/as!)

Era esperado que a NRP Sagres servisse de "casa de Portugal" nos Jogos Olímpicos de Tóquio (, também foram adiados para 2021).

Deveriam ter sido 371 dias de viagem, em homenagem à viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1480-1521). Um português, injustiçado e durante muito tempo esquecido. 

O magnífico veleiro da nossa armada acabou por voltar a Portugal 126 dias depois da partida, . A ordem de cancelamento da missão foi recebida quando a Sagres se aproximava já da África do Sul.  Deveria chegar a Lisboa em 10 de janeiro de 2021,

(Foto do grupo do Facebook Volta ao Mundo do Navio-Escola Sagres, com a devida vénia...)


1. São 137 páginas do diário de bordo do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, na sua última viagem de volta ao mundo (janeiro - abril de 2020). Trata-se de uma pré-publicação: haverá, no dia 11 de setembro +róximo, o lançamento do livro que já tem editor, a Guerra & Paz, com sede em Lisboa. 

O António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue] é poeta, escritor, tradutor, sinólogo, autor de livros de poesia (8), história (4), traduções (7), e viagens (3).

Por cortesia do autor,  vamos reproduzir aqui, nesta nova série, dois ou três dos momentos dessa viagem com mais interesse para os nossos leitores e para a história de Portugal no mundo. São excertos selecionados pelo nosso editor LG.(*).. A série será retomada depois do lançamento do livro, em 11 de setembro de 2020.


2. Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos: parte II  (pp. 7-12)

Marselha, França, 6 de Janeiro

Xilogravura: o rinoceronte, de Durer (1515).  Museu Britânico, Londres.
Cortesia de Wikimedia Commons
Marselha, mais uma vez.  Da Senhora da Guarda no alto abençoando as boas e más almas.

Marselha da ilha de If, lugar onde foi confinado o rinoceronte que o nosso rei D. Manuel ofereceu ao Papa Leão X, em 1516.

Marselha da mesma ilha de If com a terrífica prisão onde Alexandre Dumas colocou o conde de Monte Cristo apodrecendo aos poucos durante dez anos.

Marselha com Hector Berlioz, depois das sinfonias fantásticas, reorquestrando La Marseillesse, um hino à emancipação e à liberdade humana.

Marselha do Vieux Port, atulhado de barquinhos e os pescadores regressando do mar, com peixe fresco para grelhar ou preparar uma colorida e apaladada bouillabaise, a caldeirada francesa capaz de rivalizar com as nossas de Peniche ou de Sesimbra. (...)


Barcelona, Espanha, 7 de Janeiro

A minha ligação a Barcelona começou há 54 anos atrás, no Verão de 1966. Eu conto.

Como era comum entre muitos jovens da década de sessenta do século passado, aí desde os meus quinze anos correspondia-me com umas tantas donzelas espalhadas pela Europa e anexos, em inglês, trocando fotos, postais, selos, entendimentos, ideias e sonhos.

Num tempo quase sem televisão, quando a Net nem sequer como miragem existia, as cartas eram uma espécie de envio de curiosidades e afectos, em palavras simples que aproximavam os jovens de diferentes países.

Seria, no entanto, improvável chegar um dia a conhecer em pessoa, ao vivo, qualquer uma das penfriends, ou penpals, mas nada era impossível debaixo do céu. Entre as amigas da escrita, a menina de quem eu mais gostava,  tinha nacionalidade alemã, vivia em Hamburgo, loira, de olho azul, Inge Balk, dezoito anos, linda de morrer na fotografia. (...)


Lisboa, Portugal, 9 de Janeiro

Sábado passado deixei Lisboa rumo a Roma, de avião, sob o comando do piloto Miguel Rodrigues, especialista nos mistérios do céu. Hoje, quinta-feira da semana seguinte, regressei à nossa capital num enorme navio, o Magnífica, sob o comando do siciliano Roberto Leotta, antigo capitão de petroleiros, dono de mil segredos do mar, de há uns anos para cá à frente de barcos de cruzeiro.

Em Lisboa, uma ida rápida a casa, sobre quatro rodas, para abraçar os filhos e trazer mais umas bugigangas para completar o enxoval necessário para a Volta ao Mundo.

A entrada em Lisboa, por mar, é sempre altura para originais encantamentos. Alarga-se o tamanho dos olhos, sente-se o borbulhar do coração. Estamos no Inverno, com um dia cinzento aberto por rasgões de luz, com algum sol a escorrer sobre o cabo Espichel, caindo sobre a encosta nebulosa que desce da serra de Sintra para o Guincho e Cascais. O navio a deslizar a seu modo, imponente, afectuoso, em busca dos braços do Tejo.

Leio que o nosso veleiro Sagres se lançou ao mar domingo passado, dia 5, para empreender exactamente uma viagem de circum-navegação bem mais demorada e extensa do que a que nos está destinada.

Para os marinheiros lusitanos preveem-se 371 dias de mar, 41.258 milhas náuticas e 6.782 horas de navegação. Tocarão 22 portos de 19 países que incluirão doze cidades da rede mundial das Cidades Magalhânicas.

A nossa Volta ao Mundo, no Atlântico, no Pacífico e no Índico, como iremos ver, irá cumprir grande parte do itinerário levado a cabo por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1521. Temos 43 portos de mar a visitar em 23 países diferentes ao longo de 117 dias, uma jornada mais curta do que a da Sagres, mas não menos interessante. (...)

[Seleção, revisão e fixação de texto, para efeitos de reprodução neste blogue: LG]

__________

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mercenário, traidor, desertor... este grande português (transmontano de Sabrosa, ou minhoto de Ponte da Barca) ? O conceito de "patriotismo" é muito recente... E não podemos (nem devemos) julgar os nossos antepassados "à luz dos nossos conceitos e preceitos"...

No nosso blogue, disemos não, redondamente, à absurda "revisão da História" (, e perigosa pelo seu efeito de "boomerang": se não foste tu, foi o teu pai, pelo que comes pela mesma medida...)

______________________


Viagem de Fernão de Magalhães. "Foi um descobrimento espanhol com ciência portuguesa"
“Se não fosse Fernão de Magalhães, os espanhóis nunca teriam feito aquela viagem. Aliás, nunca mais a fizeram", defende historiador. "A economia e a política foram espanholas, a ciência portuguesa."


Ana Kotowicz

"Observador", 11 mar 2019, 16:52

Ana Kotowicz
Texto
11 mar 2019, 16:52


https://observador.pt/2019/03/11/viagem-de-fernao-de-magalhaes-foi-um-descobrimento-espanhol-com-ciencia-portuguesa/

Foi por "estar aborrecido com D. Manuel por causa de uma reivindicação salarial" que o navegador se virou para Castela. E a missão da viagem passou a ser contrária aos interesses portugueses

Getty Images

“Foi um descobrimento espanhol com ciência portuguesa. Está-se agora a tentar, por razões políticas, manipular uma evidência científica que não tem discussão possível.” O historiador José Manuel Garcia, autor do livro “A viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses”, não percebe a posição da Real Academia de História de Espanha que, respondendo a um pedido do diretor do jornal ABC, considerou que tudo na primeira viagem de circum-navegação “foi espanhol”.

“Se não fosse o Fernão de Magalhães, que era português, os espanhóis nunca teriam feito aquela viagem. Aliás, nunca mais a fizeram. Ainda tentaram mais três vezes, mas chegavam às ilhas Molucas [Indonésia] e ficavam por lá, porque não conseguiam fazer o caminho de volta por águas espanholas, e acabavam presos pelos portugueses”, conta José Manuel Garcia, especialista na época dos Descobrimentos. No entanto, lembra que o navegador virou costas à coroa portuguesa, depois de D. Manuel não se interessar pela viagem. Acabou por adaptá-la aos interesses espanhóis (contrários aos dos portugueses) e conseguir o patrocínio do rei de Castela.

Este ano completam-se 500 anos da primeira volta ao mundo por via marítima — embora não fosse essa a pretensão do navegador — e a candidatura apresentada pelo governo português à UNESCO para considerar a rota traçada por Fernão de Magalhães património mundial criou polémica com Espanha. Portugal foi acusado de tentar apagar o papel da coroa espanhola na viagem, mas, no final de janeiro, numa declaração conjunta, representantes dos dois governos declararam ter sanado quaisquer divergências.

A solução encontrada foi apresentar uma candidatura conjunta, que envolve também outros países por onde passou a rota de Magalhães, e à qual se junta agora o apelido de Juan Sebastián Elcano, o espanhol que terminou a viagem. Fernão de Magalhães morreu pelo caminho. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O António telefonou-me a dar duas boas notícias:

(i) no próximo sábado, vai ao aeroporto bucar a sua companheira e mãe dos seus filhos, que não vê desde que ela deixou o MSC Magnífica em Sidney, onde apanhou um avião para Xangai, para visitar a sua famúilia, chinesa:

(ii) o livro sobre a volta ao mundo tem editor, a Guerra & Paz, e vai ser lançado no dia 11...

Fico feliz, António. Obrigado pelo teu telefonema. DE Candoz com umn abraço. Luis