terça-feira, 30 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21124: Estórias avulsas (99): Histórias de Porto Gole e encontro com um médico guineense no Hospital do Barreiro (Acácio Mares, ex-Fur Mil Inf)

Vista de Bissau - Guiné-Bissau
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1. Mensagem do nosso camarada Acácio Mares (ex-Fur Mil Inf da 1.ª Comp/BCAÇ 4612/72, Porto Gole, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2020:

Boa tarde camarada Carlos
Recordei mais uma história que passo a contar.

Estava a organizar uma patrulha e disse ao soldado das milícias para ir à frente com o pica. Respondeu que não ia porque não tinha medo de mim, que só ia com outro furriel porque quando não ia ele tirava dente e punha dente e tinha manga de medo eu puxa e não tiro dente.

Estava em Porto Gole e havia um homem que pertencia à Casa Gouveia (CUF) e que recebia produtos para a CUF, amendoim e ráfia. Tinha cinco filhos aos quais eu dava pão com manteiga. Há pouco tempo fui ao Hospital do Barreiro e fui atendido por um médico de cor que em conversa me disse ser natural da Guiné-Bissau,  Porto Gole. Eu disse-lhe que tinha lá estado e  vim a saber que ele era filho do António da Casa Gouveia e que lhe tinham posto o nome Alfredo da Silva em homenagem ao patrão da CUF. Eu tinha uma foto com ele e os irmãos que posteriormente lhe entreguei, ficando ele muito sensibilizado com a situação.

Guiné-Bissau - Exterior do Forte de São José da Amura
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Camarada, fui à Guiné mais ou menos há 7 anos, que desgraça a avenida que vem do Palácio até ao porto, tudo com grandes buracos, nem um camarão nem ostras havia, tudo desapareceu. O Grande Hotel queimado, Amura igual o Pelicano também. As ruas com sucata.

Eu falei demais, revoltado com o que vi, entretanto estava perto um sujeito de nome António que até me ameaçou.
Fui falar com um português que lá estava há anos que me sugeriu que fosse para Varela. Assim fiz, na volta fui logo direto ao aeroporto pensando que desta já me tinha safado.

Por hoje é só, até que me lembre de outra situação.

Abraço
Acácio Mares
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20961: Estórias avulsas (98): Histórias do vovô Zé (2): História da Carochinha, contada em confinamento, em homenagem à D. Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acácio, é uma pena não teres cópia dessa foto com os filhos do António, e mporegado da Casa Gouveia, em Porto Gole, incluindo o "Alfredo da Silva" que hoje é médico...

Muitos de nós, filhos do povo, ex-conabtentes, e os nossos filhos, tiveram apesar de tudo mais oportunidades de educação (e de mobilidade social) que os nossos antepassados, pais, avós e bisavós...

O Alfredo da Silva (Lisboa, 1871 — Sintra, 1942), o fundador da CUF, é da geração dos meus bisavós...

Manuel OLIVEIRA PEREIRA disse...

Acácio Marés, li o teu texto - melhor, sempre que tenho oportunidade, venho até este espaço -, e vejo-me à memória, o meu "resgate" de bordo de uma "barcaça" ancorada há quase dois dias, a meio do Geba e frente a Porto Gole, que se recusava a seguir viagem para Bissau. Nela, onde por missão acompanhava no momento material evacuado, vivi momentos de angústia e até medo, pela eventualidade - pensava eu -, de ser capturado à mão. Tal não aconteceu! Pela manhãzinha, daquele que seria o segundo dia de "incerteza", O barco foi tomado por "assalto" pelas nossas tropas e eu "liberto" daquele pesadelo. Na margem do rio, rsoerava-me um unimog e um cobertor fado por um "enfermeiro ?" - o meu camuflado estava todo molhado cacimbo nocturno - e já no aquartelamento, um pequeno almoço quente e reconfortante. Bom, depois a viagem "auto" até Bissau direitinha à 5° Repartição. A pergunta que quero fazer, é a seguinte: eras tu esse enfermeiro? Nesse aquartelamento, estava um soldado de Ponte de Lima, embora residente em Lisboa, de nome Manuel Garcia.
Abraço,
Manuel OLIVEIRA PEREIRA

Manuel OLIVEIRA PEREIRA disse...

Rectificação.
Onde se lê "vejo-me" e "fado", deverá ler-se vejo-me e dado.