sábado, 4 de julho de 2020

Guiné 61/74- P21140: E as nossas palmas vão para... (20): o veteraníssimo Jorge Ferreira, que hoje faz anos, e foi o etnofotógrafo da Buruntuma de 1961/63 que não existe mais...


Capa do do livro de fotografia "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016).]: o fotógrafo, em 1961, ao lado do então régulo Sené Sané, que era tenente de 2ª linha. junto ao marco fronteiriço ("República Portuguesa: Província da Guiné"), na fronteira com a República da Guiné. Cortesia do autor.

O autor, Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63), é membro da nossa Tabanca Grande, é um fotógrafo amador com mais de meio século de experiência, tem um página pessoal no Facebook, além de um sítio de fotografia, Jorge da Silva Ferreira.




Vídeo (11' 03'') alojado em You Tube > Jorge Ferreira (Cortesia do autor, membro da Tabanca Grande)

Vídeo: © Jorge Ferreira (2018). Todos os direitos reservados.


1. Está disponível, desde 10 de junho de 2018, no YouTube, na conta de Jorge Ferreira, este vídeo com uma seleção das belas fotos do seu livro "Buruntuma: 'algum dia serás grande', Guiné, Gabu, 1961-63". (Edição de autor, Oeiras, 2016).


Para quem ainda o não conhece, o vídeo merece as nossas palmas e uma "visita" por uma dupla razão:

(i) o Jorge Ferreira é um  bom amigo, um grande camarada, um excelente fotógrafo e um magnífico tabanqueiro, um calmeirão de um ser humano que eu, pessoalmente,  muito prezo e estimo; as suas fotos de Buruntuma inseram-se na categoria de etnofotografia; além disso, a Buruntuma que ele conheceu e fotografou, em 1961/63, não existe mais;

(ii) o vídeo tem a excecional colaboração de um outro grã-tabanqueiro (nº 642), talentoso músico guineense, lider do grupo musical Super Camarimba, Mamadu Baio, originário da tabanca de Tabató (, região de Bafatá, Guiné-Bissau), e hoje cidadão português, pai de um "djubi", português, de nome Malick, com costela alentejana; a música que ele disponibilizou é do primeiro CD dos Super Camarimba ("Sila Djanhará", c. 2010), gravado no Mali.

O nosso editor, Luís Graça, pôs na altura o Jorge Ferreira erm contacto com o Mamadu Baio e lá chegaram os dois a um acordo sobre a utilização de uma das faixas de música, com menção dos direitos de autor, na ficha técnica, no final.

O vídeo, disponível numa rede social de impacto gobal como o You Tube, não tem qualquer propósito comercial, é uma homenagem ao povo de Burintuma (que em mandinga quer dizer justamente "Algum dia serás grande"). Merece uma visita, já tem quase 800 visualizações.

Mamadu Baio:
foto de Luís Graça (2014)
2. Em dia de anos do nosso veteraníssio Jorge Ferreira, um camarada ainda do tempo da farda amarela, juntam-se mais uns versinhos, feitos este sábado, em cima do joelho, na Tabanca de Candoz, pelo nosso editor LG-

É também uma pequena homenagem aos nossos camaradas e amigos da Guiné que têm aguentado estoicamente esta pandemia de COVID-19 e que, desde março,  vêm celebrando sozinhos, trancados em casa, o seu aniversário natalício. Fazermos votos para que as nossas tabanca possam ir reabrindo, lentamente, com total segurança e confiança.  O Jorge é assíduo freqentador dos almoços-convívios da Magnífica Tabanca da Linha.


Ao Jorge Ferreira (e aos demais aniversariantes da nossa Tabanca Grande que foram obrigados a cantar "os parabéns a você", sozinhos em casa):


Amigo Jorge Ferreira,
És dos nossos veteranos,
Mas não caias na asneira,
De dizer que fazes anos.

Não há copos p’ra celebrar,
Nem na Tabanca da Linha,
Mas logo que a crise passar,
Abre o Resende a cozinha.

Em Buruntuma, as bajudas
Foram todas retratadas,
Fossem belas ou feiudas,
Solteirinhas ou casadas.

Desse tempo tens saudade,
Até marcos tu puseste,
Não te pesava a idade,
Grande alfero lá do Leste.

Retificaste a fronteira
C’o a Guiné-Conacri,
E juraste p’la bandeira:
 “Sou eu quem manda aqui”.

Saia um  peixinho da bolanha,
Feito à maneira, no forno,
Quem não tinha arte e manha,
Apanhava com um corno.


Paludismo, hepatite,
E até bilharziose,
Não faltava o apetite,
Cada um c’o sua dose.

De Paunca até Pirada,
Do Gabu até Bolama,
Não me queixo, camarada,
Dormi no mato e na cama.

Tive farda de caqui,
E chapéu colonial,
Mas só de amores morri
Pl' aquela terra, afinal.

Convivi com  o Sané,
Senhor de Canquelifá,
Percorri meia Guiné,
Fiz amigos como os de cá.

Em resorts de muitas estrelas,
Deixei pedaços de mim,
Não me lembro das caravelas,
Mas a história foi assim.

Buruntuma, hás de ser grande,
Não importa em que ano ou dia,
Seja o povo quem mais mande,
Em passando a pandemia.

Hoje o Jorge é menininho,
Vai ter ronco na tabanca,
Toda a gente, preta ou branca,
Lhe vai dar um carinho.

Luís Graça, 
Tabanca de Candoz, 4 de julho de 2020

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5 comentários:

Valdemar Silva disse...

Não cheguei a Buruntuma
fiquei na Ponte Caium.
Não era prenda nenhuma,
não era pra qualquer um.

Não sei se em 1961/63 já existia a ponte no rio Caium, a meio caminho na estrada entre Piche-Buruntuma.
Em Nov/1969 fiquei muito impressionado, quando cheguei com o meu 4º. Pelotão/CART11 ao aquartelamento/abrigos em cima da ponte do rio Caium. Fomos fazer um reabastecimento de munições e viveres e ...nunca mais esquecerei.
Parabéns ao veteraníssimo Jorge Ferreira, que fez o especial favor me enviar o seu livro.
Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, é verdade e até rima... Quadra perfeita, a retratar as duras nossas vidas no leste da Guiné...

Não conheci a ponte Caium, a não através das muitas fotos e histórias que já publicamos, nomeadamente das fotos do álbum do Jacinto Cristina...

Nunca fui oara esses lados. tenho pena de náo ter conhecida a tua/vossa região do Gabu... Não passei de Bafatá...

Alguém me disse que agora em Buruntumas, mulheres e bajudas anda tudo de céu... Sinais dos tempos. Daí o valor etnofotográfico do livro do Jorge: essa Buruntuma de 1961 não existe mais...

Valdemar Silva disse...

Luís, temos no nosso blogue muitas fotografias do destacamento em cima da Ponte Caium.
(...quem teria aquela ideia, estava muito convencido sobre o IN não ter força aérea e artilharia pesada...)
Além das várias fotografias do Cristina, a Nº. 6 no P14589 é uma grande testemunha, também temos no P11006 uma fotografia de 1963 sem tropa, outra no P18796 do fur.Aurélio Diniz da CCAÇ1586 e algumas do Ribeiro muito recentes (2015) com a Ponte limpa, apenas com parte de um nosso memorial e já cercada pela mata com grandes árvores.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

José Botelho Colaço disse...

Olá Jorge amigo conhecido na Tabanca da Linha, pessoal com farda de caqui presente somos neste momento uma pequena mas grande minoria.

Um abraço de parabéns.

Manuel Luís Lomba disse...

Um abraço de parabéns ao Jorge, o meu "pai" (antepassado) em Buruntuma.
Manuel Luís Lomba