domingo, 5 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21141: Blogpoesia (684): "Noite negra...", "Renascer..." e "Se, de repente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Noite negra…

Sem estrelas nem luar, a noite fica negra de breu.
Nada puxa ao sonho.
Medonha.
Boa para assaltos pelos caminhos ermos.
Melhor ficar em casa.
À lareira ou sob a manta de estopa.
Boa para contar contos à lareira.
De fadas ou almas penadas.
Se silvar o vento pelas frestas dos telhados.
O pior eram os pesadelos que vinham a seguir sobre o travesseiro.
Lembro-me duma noite longa de vendaval.
De manhã, só se viam ramos de pinheiro e eucalipto pelo chão dos montes.
Foi bom para quem pôde comprar toros de pinheiro a bom preço.
Meu pai foi um deles…

Ericeira, 3 de Junho de 2020
19h42m
Jlmg

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Renascer…

Como um rio largo e vigoroso a vida corre. Abundante e cheia de vida.
Nos banha com suas forças.
Renascendo em nós em cada manhã.
Naveguemos bem. Alegres por estarmos nela.
Frutificando intenso e muito, cada um de nosso jeito, conforme nossos talentos.
É longo o seu cortejo sobre a terra.
Com altos cumes beijando os céus e vales profundos onde abundam os mistérios.
Não vamos ao deus-dará.
A esperança é nossa energia.
Nossa viagem tem seu rumo e porto.
Onde haveremos de chegar festivamente.
Finalmente a paz…

Ouvindo Ennio Morricone - (2002) La Misión [Suite Orquestal]
Ericeira, 30 de Junho de 2020
9h36m
Jlmg

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Se, de repente…

Se, de repente, me saísse a sorte grande, ficaria atónito.
Acalmaria meu espírito.
Para apurar que fazer a tanto dinheiro.
Quem haveria de beneficiar, além dos mais próximos. Os familiares.
Ficar com tudo só para mim seria a destruição total da minha vida.

Mas, se de repente, inesperadamente, fosse acometido por uma doença grave, seria muito pior.
Não há dinheiro ou riqueza que pague a riqueza de ter saúde.
A vida só tem cor se ela reinar em nós.
Se bem que se possa ser feliz mesmo que apanhamos por uma doença.
Tudo vem da dimensão de valores que partilhemos.
Designadamente a espiritual…

Ouvindo Schubert
Bar 7 Momentos, arredores de Mafra,
9h7m
Jlmg
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Nota do editor

Poste anterior de 28 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21116: Blogpoesia (683): "Me agarro à vida...", "Sobraram canhões e castelos" e "As ideias", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em boa verdade, todos sonhamos, os pobres, com a Sorte Grande, o Euromilhões... Como sonhávamos com as fadas, as mouras encantadas, os potes de libras, os túneis secretos que nos levavam à gruta do Ali Babá, quando éramos miudos e inocentes e felizes...

Mesmo aqueles que não jogam, sonham com rios de dinheiro e gozam, por antecipação, a "grande bebedeira" que apanhariam se isso acontecesse...

O meu velhote sempre jogou toda a vida na lotaria... Mas a sorte foi-lhe pequena... Infelizmente nasceu em 1920, tal como a Amália... Iria fazer 100 anos, em agosto de 2020, se fosse vivo... Era um homem inteligente, que pdoeria ter ido longe se tivesse tirado mais do que a 4ª classe... Ficou órfãpo de mãe, aos dois anos... O pai dele casou 3 vezes...

Mas foi feliz e uma figura popular na sua terra, sem lhe nunca lhe ter saído a sorte grande... "Pobrete mas alegrete", como eram os portugueses daquele tempo...

Pois é, Joaquim, saúde e algum patacão é o que a gente precisa... Um alfabravo. Luís

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...



Pois é. Muita saúde e alguns patacos é quantum satis...

Abraço, Luís.
Joaquim