terça-feira, 7 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21147: (In)citações (164): Há 50 anos: Quando a Igreja Católica Apostólica Portuguesa abençoava Guerra do Ultramar e a Igreja Católica Apostólica Romana abençoou a Guerra Colonial (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

Paulo VI em Fátima
Com a devida vénia a Renascença


1. Em mensagem do dia 6 de Julho de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos um texto a que deu o título: Há 50 anos: Quando a Igreja Católica Apostólica Portuguesa abençoava Guerra do Ultramar e a Igreja Católica Apostólica Romana abençoou a Guerra Colonialal.


Há 50 anos: Quando a Igreja Católica Apostólica Portuguesa abençoava Guerra do Ultramar e a Igreja Católica Apostólica Romana abençoou a Guerra Colonial

Há 50 anos, o Papa Paulo VI tramou Marcelo Caetano, o regime e semeou os ventos da tempestade da mutação de Portugal.

Foi o primeiro Papa a visitar Portugal e Fátima, em Maio de 1967, a contragosto do Governo de então, Salazar considerava-o um “cidadão estrangeiro perigoso” e o seu ministro Franco Nogueira passou a imputar-lhe agravos gratuitos, inúteis e injustos a Portugal.

Salazar fora derrotado pela velha cadeira do Forte de Santo António da Barra e o Papa Paulo VI, tendo recebido em audiência o Ministro Rui Patrício, em 25 de Maio de 1970, que rendera Franco Nogueira, que lhe foi abordar a agenda da nossa guerra africana, no dia 1 de Julho de 1970 e, sem invocar a inspiração divina, recebeu em audiência privada (na Sala dos Paramentos?) e abençoou os três líderes da guerra colonial Amílcar Cabral (PAIGC), Agostinho Neto (MPLA) e Marcelino dos Santos (FRELIMO), este em representação do operacional Samora Machel, indisponível por estar a braços com o General Kaúlza de Arriaga e os 8000 militares portugueses, investidos na extensa e impetuosa “Operação Nó Górdio”.

Para o efeito, essa “troika” de exilados portugueses (só perderão a nacionalidade em 1975), ora líderes independentistas africanos, forjados na CEI, Casa dos Estudantes do Império e nos quartéis do Exército Português, aproveitara a dinâmica da II Conferência Internacional de Solidariedade para com os Povos das Colónias Portuguesas, convocada pelas centrais sindicais italianas CGTL, CISL e UIL em Roma, que teve o concurso de 177 organizações de 64 países, incluindo os exilados políticos de Portugal, do PCP de Álvaro Cunhal, da ASP de Mário Soares, da FPLN de Piteira Santos e Manuel Alegre, órfã de Humberto Delgado e militantes do Movimento a Favor da Paz, fórum lisboeta de católicos vanguardistas, segundo uns e de “cristãos pagãos” segundo outros, motivados pela encíclica “Pacem in Terris" do Papa João XXIII e a “Populorum Progressio” do Papa Paulo VI.

A ideia do aproveitamento dessa Conferência para uma audiência papal foi da inteligência revolucionária de Marcelino dos Santos, residente em Paris, em Janeiro desse ano encetou em Roma as diligências, mas a sua materialização será devida a Amílcar Cabral, que persuadiu o Bispo de Conacri, Raymund-Maria Tchimdibo, a negociá-la com o Vaticano e mobilizou a jornalista e militante católica progressista Marcella Glisenti, sua amiga desde 1968, Presidente da Associação Italiana dos Amigos da “Presence Africaine” (revista da negritude francófona, editada em Paris e Dacar), que, no maior segredo, se encarregou de toda a logística e de manipular com um perfil de líderes cristãos e democráticos o ex-Núncio no Senegal, Cardeal Giovanni Benelli, o segundo na hierarquia do governo do Vaticano (o Secretário de Estado, cardeal francês Jean Villot, estava ausente).

Às 12H00 foi-lhes franqueada a entrada pela Porta de Santa Ana, o Pontífice recebeu-os afectuosamente às 12H30 e mostrou-se particularmente deferente com Amílcar Cabral, que serviu de porta-voz, em francês.

A notícia correu o mundo, sem fotos, com o registo do embargo de um monsenhor português da Pontifícia Comissão para a Comunicação Social ao acesso dos jornalistas, Marcelo Caetano soube do caso logo na manhã do dia 2, informado pelo jornalista americano Dennis Redmont e a Censura congelou a notícia até ao dia 5.

A Comunicação social não teve acesso, não puderam tirar fotos, mas os audientes tiraram. No seu livro “Crónica da Libertação”, Luís Cabral reproduz a primeira página do boletim “PAIGC actualités” com uma foto dos intervenientes, no primeiro patamar da escadaria interior do Vaticano (de acesso à Sala dos Paramentos?), com a Marcella de costas e Amílcar Cabral em destaque…

Todo o mundo os conhecia como marxistas-leninistas ortodoxos e ateus confessos, do género de não olhar a meios para atingir os fins, não entraram na Santa Sé como “penetras”, o Governo protestou a ofensa da Igreja à sua “Nação Fidelíssima”, a comunicação social do Vaticano, em vez de invocar a sua “inspiração por Deus”, ridicularizou-se com a afirmação de que o Papa ignorava quem eram, a sua diplomacia a negar uma audiência no sentido do termo e a fazer passar a mensagem do carácter religioso do acontecido.

Com a devida vénia a Fundação Amílcar Cabral

Os muros de Roma e da Praça de S. Pedro apareceram pichados de “Viva il Portogallo”, o corte das relações diplomáticas esteve iminente, a diplomacia desempenhou o seu papel, as relações voltaram “à cordialidade antiga”, o evento passou a “facada pelas costas” ao Papa e Marcelo Caetano tramado.

Essa audiência papal no dia 1 e a morte de Salazar no dia 27 desse mês serão o início da contagem decrescente do fim do regime do Estado Novo. Com o “Botas”, o desfecho seria o mesmo? Em apenas 7 minutos, aqueles protagonistas da audiência papal fecharam o ciclo histórico de 545 anos de cumplicidade da Igreja com a afirmação do Portugal africano, estabelecida pela Bula “Romanus Pontifex” do Papa Nicolau V ao rei D. Afonso V, O Africano, e ao infante D. Henrique, O Navegador, – o documento de direito internacional da escravatura da raça preta pela raça branca.

Os três líderes independentistas que o Papa Paulo VI recebera e abençoara tinham a força do “espírito do tempo”, eram senhores da guerra, com as mãos manchadas de sangue dos seus próprios compatriotas. Não eram da dimensão política e humanista do bem-aventurado Nelson Mandela.

Em Fevereiro de 1964, no I Congresso de Cassacá, Amílcar Cabral introduziu a pena de morte no normativo jurídico do PAIGC, julgou sumariamente e mandou executar de imediato alguns compatriotas e correligionários (o regime de partido único e ditatorial do irmão Luís Cabral aplicá-la-á a alguns milhares, arbitrariamente, sem qualquer julgamento); montara uma cilada e em Abril de 1970 ordenara o assassinato de 4 oficiais do Exército Português e seus impedidos, que ousaram ir desarmados ao encontro do PAIGC; havia montado uma cilada e, na véspera de partir para Roma e ao encontro do Papa, ordenara a execução do seu conterrâneo bafatense, enfermeiro Paulo Gomes Dias, seu opositor anti-marxista, então presidente da FLING Progressista, um partido moderado sediado em Dacar; mandara executar imediatamente o “sniper” do PAIGC que, por rebate de consciência, não eliminou o General António Spínola de visita à sua tabanca; etc.

Marcelino dos Santos era “a FRELIMO sou eu”, segunda figura de partido único e ditatorial, pela aplicação seus pressupostos ideológicos e implementação do “socialismo científico” tornou-se responsável, no mínimo moral, da guerra civil subsequente à independência, que devastou Moçambique e dilacerou os moçambicanos durante 17 anos.

Agostinho Neto, pela recusa à coexistência e com a perseguição sanguinária aos seus adversários políticos FNLA e UNITA, tornou-se responsável pela guerra civil, subsequente à independência, que devastou Angola e dilacerou os angolanos durante 27 anos, que lhe imputam a assinatura em branco de cerca de 25 000 sentenças de morte de angolanos, no contexto da “crise fraccionista”, espoletada pelo seu opositor Nito Alves; etc.

A História reflecte o seu autor, mas não se reescreve. Alçados ao poder em Angola e Moçambique, em 1975, mandatados pelo MFA, deriva das FA Portuguesas, aqueles líderes de Angola e Moçambique, por convicção ideológica, não fizeram os caminhos da Paz na base da Verdade, Justiça, Caridade, Liberdade e do Desenvolvimento e dos Direitos Fundamentais dos dois Povos, paradigmas daquelas duas encíclicas que evocavam.

O Cardeal Benelli, que o Cardeal Villot censurara de abusador da sua ausência, notabilizar-se-á na promoção eleitoral dos Papas João Paulo I e II; o Bispo Tchimdibo, admirador de Amílcar Cabral, passou 9 anos como prisioneiro do sanguinário ditador Skou Touré; tido na consideração do mais talentoso e moderado dos “três líderes terroristas”, Amílcar Cabral morreu às mãos dos seus correligionários, diz-se que a impulso do mesmo Sekou Touré, mas o insuspeito Agostinho Neto, no seu relatório de Presidente da Comissão Internacional de Inquérito à sua morte, diz ter colhido em Conacri os depoimentos de 500 dos seus correligionários, 325 exprimiram-se abertamente contra Cabral e apenas 20 a seu favor; Marcella Glisenti continuou activista, católica progressista e livreira na sua “Paesi Nuovi”,envolvida na revista “Presence Africaine" pela negritude, émula dos textos de Albert Camus, de Jean-Paul Sartre e dos poemas de Leopold Senghor; Agostinho Neto foi morrer a Moscovo; Marcelino dos Santos morreu de velhice, na sua cama; Marcelo Caetano morreu exilado no Brasil; e o inclusivo Papa Paulo VI, pela sua áurea de anti-colonialista, de progressista, no entanto condenatório da regulação artificial da natalidade, subirá aos altares, beatificado em 2014 e canonizado em 2018, pelo Papa Francisco.

O ano português de 1970 foi tempo de mutação.

O desgaste físico e moral pelos 10 anos de luta evidenciava-se nos três teatros de guerra no Ultramar, com ambos os beligerantes a braços com a sua rejeição, a falta de recursos humanos, refractários, deserções e aquela audiência papal teve repercussões nas chancelarias internacionais e na própria Igreja portuguesa.

Os sacerdotes deixaram de invocar o auxílio do “Deus dos exércitos” e alguns sacerdotes mais corajosos falavam abertamente contra a guerra ultramarina nas suas homilias, havia excursões populares às suas missas, lembro os padres Feliciano Alves, os capelães militares Mário de Oliveira e Arsénio Puim, estes dois camaradas da Guerra Guiné, expulsos do Exército e do sacerdócio.

Nesse mesmo ano, Maurice Schumann, notável ministro francês e um dos pais da União Europeia, veio a Lisboa instar Marcelo Caetano, estava na altura da solução política, para não deitar tudo a perder, incitou-o a imitar ofereceu a ajuda da França e da CEEE, este confidenciou-lhes a sua impossibilidade, alegando o impedimento do Exército e o seu receio da separação transformar Moçambique num estado racista, apoiado pela África do Sul, sendo plausível que respaldado no facto de, em Janeiro, os USA terem reatado o fornecimento de material militar, abrindo as portas ao rearmamento tecnológico das FA Portuguesas, designadamente de aviões Mirage e da panóplia de mísseis. Havia um ano que a Força Aérea alertara o Governo da forte possibilidade de o PAIGC vir a dispor de aviões MiG e da nova geração de mísseis antiaéreos soviéticos.

Como Alto-comando funcionava e decidia em Lisboa, com o Decreto-Lei 49 170 de Junho, Marcelo Caetano cometeu a responsabilidade das operações nos três teatros de guerra ultramarina aos respectivos Comandantes-Chefes e investiu três provincianos nesses cargos, a nata do corpo de generais de Portugal – António de Spínola, Guiné; Kaúlza de Arriaga, Moçambique e Costa Gomes, Angola.

 O General Costa Gomes, com a prestação do General Bethencourt Rodrigues (que virá a render Spínola na Guiné), resolveu a guerra em Angola; o General Kaúlza de Arriaga encostou a FRELIMO às cordas da derrota com a “Operação Nó Górdio” (os seus detractores dizem que não, mas o comandante seu oponente, o insuspeito Presidente Samora Machel, afirmou que sim), mas foi “derrotado” pelo massacre de Wirimau); e o General António de Spínola, o mais politizado, idealista e “romântico” dos três, não fez o caminho da derrota militar do PAIGC, antes fez o caminho da promoção social das populações e do progresso do território, falhou a manobra no Chão Manjaco (a tragédia dos 3 Majores), logrou um êxito parcial na “Operação Mar Verde” a Conacri (libertação de cerca de 3 dezenas de prisioneiros militares portugueses), mas foi “derrotado” pelo assassinato de Amílcar Cabral.

Um exército pode levantar-se contra a invasão de outro exército, mas não contra a invasão de uma ideia (Victor Hugo).

E a Guiné, calcanhar de Aquiles do Ultramar (Amílcar Cabral), passou a cancro corrosivo das FA Portuguesas (Saturnino Monteiro).

Grandezas e misérias da espécie humana.

Manuel Luís Lomba
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Nota do editor

Último poste da série 13 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21071: (In)citações (163): Sermão antirracista do Padre António Vieira: "Cada um é da cor do seu coração" (seleção: António Graça de Abreu)

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu querido Luís, ex-capucinho e grande alcailde de Faria: falas de cátedra sobre esta "página negra" da história da Igreja Católica Apostólica Romana, e pareces-me muito bem documentado relativamente ao antes, durante e depois...

Eu estava na Guiné, nesse dia 1 de julho de 1970 (ou talvez já de férias na metrópole, ou a caminho da metrópole, no tal gozo da licença de férias, já não posso precisar)... Não dei conta nem valorizei esse ato, que naturalmente tinha/teve um grande significado político... O Papa é o menos inocente dos seres humanos que habitam o planeta... As suas ações e omissões têm implicações na vida dos povos e até nas nossas pequenas vidas individuais... Não sei onde é que eu estava nesse dia...

Mas o que te posso garantir é que os nossos dois grã-tabanqueiros, Mário de Oliveira (o padre da Lixa) e o Arsénio Puim, dois amigos e camaradas (, o Puim melhor camarada que o Oliveira...) foram expulsos do sacerdócio...

Escreveste, com alguma inexatidão: "Os sacerdotes deixaram de invocar o auxílio do “Deus dos exércitos” e alguns sacerdotes mais corajosos falavam abertamente contra a guerra ultramarina nas suas homilias, havia excursões populares às suas missas, lembro os padres Feliciano Alves, os capelães militares Mário de Oliveira e Arsénio Puim, estes dois camaradas da Guerra Guiné, expulsos do Exército e do sacerdócio."

Não sou advogado de defesa de nenhum deles, eles que se defendam... Mas "por mor da verdade", como se diz aqui nas terras do Norte, tenho ideia de que nenhum deles foi expulso do sacerdócio... Do exército, sim, estamos de acordo.

Um abraço, meio desco(n)finado, desde Candoz, terras do Tâmego e Sousa, berço da Nação... E viva o galo de Barcelos!... Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Luís:

Ainda a propósito das duas "igrejas", em conflito... Se Roma (, mais tarde o Vaticano, sede temporal do poder espiritual da Igreka, fundada por Cristo e por Pedro,) fosse o mandatário ma terra do "supremo regulador dos conflitos", não teria havido guerras na Europa (e depois no Mundo globalizado pelos antepassados "tugas"...) nos últimos 2 mil anos... Infelizmente, andámos a matarmo-nos uns aos outros, durante séculos, "in nomine Dei", em nome do mesmo Deus...

Já agora esqueceste de referir os "pontificios missionários italianos" (de Bafatá, Bambadinca, Catió...) que andaram sempre "às turras" com as autoridades portugueses... O que é que sabes destes nossos irmãos em Cristo que catequisaram sobretudo os balantas, os "homens do mato" do PAIGC ?

Ab, Luis

Valdemar Silva disse...

Como de costume, Luís Lomba conta-nos cada uma.
Ele lá sabe, até sabe o que se passou em encontros secretos.
Do padre Feliciano? não será o padre Felicidade Alves das homilias da Igreja do Jerónimos?
Da fotografia do Papa com a Lúcia (vidente de Fátima) fiquei curioso se haveria algum comentário àquilo que sempre me fez grande confusão.
Mas não, ainda não foi desta vez que soube porque é que a Nossa Senhora pediu à Lúcia para rezar para a guerra acabar (guerra 1914-1918) e nunca pediu, ou então a censura proibiu de o fazer, para que todos rezassem para acabar a guerra na Guiné.
Parece que a Nossa Senhora, ou seriam outros Formigões?, no caso só aceitaria pedidos a quem rezasse para chegar são e sem ferimentos graves.
Desculpem-me estar a fazer comentários religiosos não aconselháveis aqui no nosso blogue.

Valdemar Queiroz

Manuel Luís Lomba disse...

Luís, nosso grande patriarca:
Muito obrigado pelo teu carinho.
Tenho pouco de capuchinho, fui excluído por pecar por "racionalismo", fiquei-me com a profunda admiração por S. Francisco; e, de alcaide apenas presido a uma renascida associação que preserva a memória de tão notável camarada do século XIV.
Fico contente se tu e os mais leitores apenas toparem uma inexactidão na minha narrativa, não obstante o meu cuidado. Devia ter escrito que os dois capelães militares foram passados à disponibilidade e à vigilância da PIDE/DGS e que os três, sacerdotes corajosos, foram impedidos de paroquiar.
No meu tempo, constava a expulsão do capelão de uma unidade no sul, de que não tenho rastos, cheguei a dormir na Amura no mesmo quarto com um bem nutrido capelão da tropa do norte, conhecido por "padre gila", por contrabandear tudo o que podia com o Senegal, e privei com o nosso querido capelão, o actual major Paulo Lavajo Simões. A iniciação da sua missão pastoral junto de nós começou assim:
Numa grande operação apareceu-nos, a rodar de secção em secção, um sujeito sem arma, pequeno, magro e de camuflado novo, que intrigou a malta. Então o municiador do morteiro de 60 resolveu carregar "maçarico tão burro" com um saco de granadas e a seguir o da bazuca carregou-o com 2 granadas. Quando,horas depois, num alto, a chacota chegara à tentativa de fazer a prova "se tinha pila", ouviu-se a sua voz: - Parem com isso; sou tenente e o vosso capelão!
Venho a reparar que a lira do Luís se diferencia em Candoz - coisas da musa do anho e arroz de forno, do Verde, da lua e das estrelas do seu céu e das ninfas do Douro (penso eu)...
Abr.
Manuel Luís Lomba




Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Lu+is: há aqui uma gralha, sempre arreliadora.... Leia-se: "Mas o que te posso garantir é que os nossos dois grã-tabanqueiros, Mário de Oliveira (o padre da Lixa) e o Arsénio Puim, dois amigos e camaradas (, o Puim melhor camarada que o Oliveira...) NÃO foram expulsos do sacerdócio"...

Expulsos do exército, sim... Peço desculpa aos visados, para mais membros da nossa Tabanca Grande...

Mas tu entendeste o que eu queria dizer... Um alfabravo, aqui de Candoz. Luis

Antº Rosinha disse...

Hoje, passados 40 e tal anos, podemos ver que a igreja romana não quis perder o comboio da guerra fria, esteve em todas, no caso da guerra nas nossas ex-colónias ombreava com EUA, Russia, leste e oeste.

Principalmente no caso de Moçambique, foram de uma actividade anti-colonial e anti-lusa que nem a Frelimo conseguia tantas vitórias, caso as denuncias e propaganda na ONU e pela Europa fora contra Portugal.

(Caso Wriamu é a versão de um padre que pervalece, mas não só)

Hoje a Igreja esqueceu Moçambique, aliás toda a gente se esqueceu de Moçambique.

Já não há guerra fria.

Será que o proprio Maputo ainda considera Cabo Delgado moçambicano?



Manuel Luís Lomba disse...

Luís,nosso estimado patriarca:
A Igreja cristã foi fundada por Jesus e post mortem o seu primeiro-chefe terá sido a sua dedicada mãe Maria e não o Pedro, que o renegou.
Pelos evangelhos (história ou coisa assim)sabemos, que ante a "paixão e morte" do Mestre, os apóstolos debandaram,esconderam-se e a sua "orfandade" foi superada porque a sua mãe Maria mais a sua "apaixonada" Madalena e as outras Marias ou "mulheres de Jesus" andaram 30 dias a conseguir a sua reunião.
Pedro chegou a primeiro bispo da Roma imperial - mas teve de esperar 30 anos!
A Igreja constituirá o paradigma da desigualdade do género...
Aquela audiência do Santo papa Paulo VI terá influenciado o estado de alma de Marcelo Caetano, a descartar o PAIGC e prosseguir a Guerra da Guiné?
Sabe-se ter feito, em Fevereiro desse ano de 1970, a primeira tentativa exploratória da aproximação ao PAIGC, via Dacar, não pelos canais diplomáticos (impensável), mas delegando-a em Alexandre da Cunha, alto funcionário do Estado e em Matos Rodrigues, chefe da PIDE/DGS de Bissau.
A Missão católica de Samba Silate - tabanca balanta com quase 2 000 habitantes estruturou e foi o fornecedor dos melhores recursos humanos, o principal pilar cultural e militar do PAIGC, o padre italiano António Grillo o seu profeta, preso pela PIDE em 1963. Em 1960, a maioria dos 60 seleccionados, o primeiro efectivo que Cabral distribuiu pela China, Checo-eslováquia e Rússia, para preparação ideológica e instrução militar, como André Gomes, José Sanhá, etc, eram originários dessa missão.
O missionário António Grillo apostolava na Guiné desde 1951, a sua cumplicidade com o eng.º agrónomo Amílcar Cabral nasceu no tempo do governador Melo e Alvim e forjou-se no contexto do Recenseamento Agrícola. Pela documentação da Casa Comum/Fundação Mário Soares sabemos da sua correspondência e que felicitou o líder líder guineense pelo sucesso dessa audiência do papa Paulo VI.
Portugal sustentava a sua Guerra do Ultramar com as remessas de divisas dos seus emigrantes económicos; os Movimentos independentistas sustentavam a sua Guerra Colonial com financiamentos directos da Suécia, países nórdicos, americanos, italianos, de meio mundo, a Santa Sé incluída, desde muito antes da referida audiência papal.
E o mesmo PAIGC que dizimou os monumentos aos homens que são e fizeram a história da Guiné-Bissau conservou em Bolama o monumento erigido por Mussollini aos aviadores italianos sinistrados.
Abr.
Manuel Luís Lomba

Valdemar Silva disse...

Coisas do caraças.
'Portugal sustentava a sua Guerra do Ultramar com as remessas de divisas dos seus emigrantes económicos...'
'emigrantes económicos'? Com certeza, trabalhadores agrícolas e pedreiros, não poderiam ser emigrantes em turismo.
E então os desertores e os que fugiam à miséria da vida que levavam?
Quer dizer, os muitos desertores que arranjavam trabalho e enviavam, depois, divisas aos seus familiares, também sustentavam a Guerra do Ultramar com as suas remessas. E ainda são criticados por terem fugido...

Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

A propósito da FRELIMO e do Marcelino dos Santos, escrevi, em 1981, no meu Diário (secreto) de Pequim, livro ainda inédito:

Pequim, 17 de Maio de 1981

Agora veio à China uma delegação da Frelimo, encabeçada pelo moçambicano Marcelino dos Santos, ministro da Economia. Li Shunbao, o intérprete desta delegação, trabalha comigo na secção portuguesa de livros das Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras e contou-me, com algum desgosto, a visita dos camaradas de Moçambique ao Armazém da Amizade, a maior loja de Pequim reservada apenas a estrangeiros.
Chegaram às sete da tarde, os chineses fecharam a loja para servir apenas os distintos africanos e a comitiva por lá permaneceu durante duas horas. Compraram, compraram, compraram, as senhoras moçambicanas abasteceram-se, em quantidade, dos mais variados produtos, artesanato chinês de qualidade, jades, jóias e até colecções de casacos de peles. No fim, à saída, tiveram o privilégio de não gastar um tostão.
A conta, extraordinária e exorbitante, era para ser paga pelas autoridades chinesas, pelo
generoso e mais do que irmão Partido Comunista da China,
tudo em nome do socialismo, da amizade entre os povos e do internacionalismo proletário.
Li Shunbao, humilde chinês, meu amigo e camarada, não gostou do que viu.


Manuel Luís Lomba disse...

Valdemar,
Estudiosos calcularam a nossa emigração, entre 1960-1974, em 2 milhões de portugueses.
Outros estudiosos calcularam os desertores militares de Portugal europeu, escapados à guerra ultramarina, em pouco mais de 8 mil.
Se esses 8 mil desertores passaram a emigrantes económicos (não é verdade), apenas correspondem a 0,8% da nossa diáspora.
Não desertei da Guerra da Guiné porque não quis.
Os 240 mil faltosos, refractários e desertores de Portugal europeu e de Portugal africano não me incomodam, não me interessa se o foram pela realidade da guerra (sacrifícios, mortos, feridos e deficientes) ou por motivação ideológica - mas respeito-os. Afinal, somos todos iguais e todos diferentes.
É por demais evidente que nem com as suas remessas de divisas os desertores deram o seu contributo à nossa guerra ultramarina...
Abr.
Manuel Luís Lomba

Valdemar Silva disse...

Luís Lomba
Servindo-me das credíveis informações do nosso camarada José Martins, sempre disponível e incansável a dar informações destes 'números', entre os anos de 1961 e 1972, dentro dos recenseados cerca de 180.000 não se apresentaram na tropa. Entre esses anos, aumentava em mais de 1.000 todos os anos aqueles que não se apresentavam, pese embora no ano de 1971 ter havido um grande decréscimo em recenseados.
Não sabemos se dentro destes, quantos já seriam emigrantes ou emigraram para não irem à tropa, vulgarmente designados por desertores. E mesmo estes (desertores) não seriam todos da cidade e filhos de remediados, por isso também foram trabalhar para sustentar a família (emigrantes).
Agora, o considero coisas do caraças, é que em muitos dos emigrantes que enviavam remessas para 'sustentar a Guerra no Ultramar' haveria uma boa parte deles que emigraram para não irem prá guerra.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, técnica, legal e sociologicamente falando, esses "emigras" que ajudaram a sustentar a guerra, mas cavaram no bom tempo, não são "desertores" mas "faltosos", uns, e "refractários", outros, aliás a maioria... Desertor é o que jura bandeira e abandona as fileiras da tropa... Técnica, legal e sociologicamente falando, foram poucos os desertores no TO da Guiné... Falo dos "tugas"... A deserçºao terá sido um problema muito mais grave nas fileiras do PAIGC...

Mas que venham os "especialistas" a "botar faladura" sobre a diferença entre faltoso, refratário e desertor...