domingo, 10 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20961: Estórias avulsas (98): Histórias do vovô Zé (2): História da Carochinha, contada em confinamento, em homenagem à D. Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

1. Em mensagem do dia 9 de Maio de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta versão bem a seu modo da conhecida História da Carochinha, dedicada à esposa do Jotex e ao marido da esposa do Jotex.


Histórias do vovô Zé

História da Carochinha, contada em confinamento

Em Homenagem
À Dona Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex


Era uma vez uma jovem cadela chamada Carochinha, vinda duma família respeitável dos confins de Vila Nova de Gaia, onde vivia abastadamente junto de seus entes mais queridos. Rebelde e muito fogosa, ela vivia, na ânsia do luxo e da boémia. Sempre contrariada, fugiu de casa, atravessou a ponte e logo se deixou embrenhar nos esquemas e prazeres da noite.

Iludida com o seu poderio social e económico, apaixonou-se por um “Cão Grande”, tipo “Papa do Norte”, já maduro e bem conhecido pelos seus dotes desportivos e culturais (muito querido no seio das raças pobres e minoritárias) e, também, pelo negócio de frutas e chocolates. Foram tempos breves, mas vividos muito intensamente. Rapidamente se familiarizou com o luxuoso ambiente de cães poderosos, onde se destacavam “Tóbi” e o “Tabeco”, investigadores de prestígio. Foram tempos de ouro. A Carochinha passeou pelo Mundo inteiro. Chegou a ir ver o Papa a Roma, onde foi abençoada e acarinhada.
Porém, insaciável nos seus desejos, a Carochinha, a quem nada faltava, da sua sorte muito abusava. Por isso, viu-se repentinamente, controlada e insatisfeita.


Expulsa do condomínio das Antas, a despeitada, incentivada por cães e cadelas de Lisboa sem pedigree, veio para a praça pública acusar o “Cão Grande” de práticas sociais pouco correctas e, até, das suas fraquezas físicas, nomeadamente da sua excessiva produção de flatulência malcheirosa.

No Real Canil do Império, a Carochinha virou vedeta do Jet Set e do Show Business. Colaborou em tudo que lhe pediram, cuspindo ódio e rancor no “prato de quem tanto lhe deu de comer”, sem um mínimo de vergonha ou de respeito. Utilizada abusivamente pelos cobardes e invejosos nas suas investidas habituais contra a naçon tripeira, cedo se apercebeu que ali, o seu reinado terminara. As honrarias e amizades que lhe prestaram esfumaram-se em pouco tempo.

Voltou ao norte. Trouxe, como paga de uma história mal contada e de um filme de mau gosto, apenas um cãozinho criado pelo “Grande Chefão”, que era alegadamente ligado à corrupção, à droga e ao mundo dos pneus. Tudo bem compensado com uma rede de padres, missas e macumbas ao redor de uma catedral dominadora do mundo da política, da Justiça e da Comunicação Social.

Veio à boleia e passou pelas Caldas, onde a reconheceram e lhe deram um souvenir local.
Regressou à baixa Portuense onde, numa noite louca, o seu cãozinho se excedera a lamber as botas de um Ilustre Jurista nortenho, por sinal cliente assíduo daquela rua e daquela zona, muito activa no métier (e no tirer). Diríamos que aquela atracção se identifica com a célebre frase do “amor à primeira vista”.
Coincidências do diabo! Não é que a senhora esposa desse Ilustre Doutor, se havia condoído pela situação de uma vizinha que acolhera dois outros cães expulsos recentemente? Nada mais nada menos que os ex-influentes “Tóbi” e “Tabeco”, cuja nova patroa do condomínio das Antas (uma jovem brazuca), deles se desfizera cruelmente.

A Senhora, que era uma Rainha no lar e uma Santa na sociedade, impôs desde logo uma habitação condigna aos seus protegidos (camas, colchões e cobertores, em pequenos quartos climatizados etc., etc.). Para gente de posses, não havia problemas.
Porém, havia uma pequena questão: - Que fazer do cãozinho que o seu marido, alegadamente encontrou à saída do seu escritório?
(Coitadinho, tão pequenino e tão desprotegido!)
“Tóbi” e “Tabeco” foram logo para a casa de férias no campo e o cãozinho protegido assumiu o seu manhoso papel de meiguice, sabiamente fingida junto do seu patrão. Condicionado pela sua presença, o Doutor dava a ideia que vivia com medo que o cãozinho falasse.


Como andava sempre dentro do carro, um dia “chateou-se” com a boleia dada a um amigo que, ao vê-lo de coletezinho vermelho, chamou-lhe “Orelhas”.

Ao ouvir esse nome, que lhe era muito familiar, o “Orelhas” ripostou agressivamente com o tal amigo e, perante alguma achega do patrão, ele peidou-se sonorosa e malcheirosamente e… descaradamente. Não contente com tudo isto e analisados outros pormenores, o Doutor, resolveu atribuir-lhe um nome mais compatível. Passou a chamar-lhe Dr. Simplício Merdinhas. Mais tarde, os filhos do patrão, só o tratavam por Rex. Mas não levou muito tempo para lhe ser corrigido o tal apelido para Rex Fodelhão.
Como a bondosa patroa tem muitos afazeres, nem se apercebe do quanto é chocante ver-se a diferença de tratamento dado pelo dono ao tal “inocente” cãozinho “Orelhas” e aos outros.

Com a cobertura do patrão, o “Orelhas” impõe-se vergonhosamente

A Carochinha foi apanhada numa ronda (Ramona), mas foi salva por uma associação protectora dos animais e ficou à guarda de uma sensível senhora da Rua da Alegria.
A Carochinha descobriu, lá em casa, um saco azul com dinheiro. Não se pode falar nisso, mas é voz comum que o marido da senhora é chefe de um “Bando” qualquer. Agora, menos viciada na vida fácil e desejosa de se submeter ao aconchego de um lar, a Carochinha só pensa em libertar-se. Quer casar. Então vem para a janela apregoar para todos os cães que lá passam:
 - Quem quer casar com a Carochinha, tão rica e bonitinha?


Num dia desses, o senhor seu dono, acordou mais cedo e, ao ouvir o pregão, veio observar o desfile de cães que iam passando por baixo da janela.


Eram cães com bom aspecto. Porém, com poucas hipóteses de conquistar a Carochinha. Aquela passagem por Lisboa, a humilhação de voltar às origens e a necessidade de constituir uma família séria, moldaram-na para uma nova vida.


E foi assim que a Carochinha escolheu o cão mais rafeiro que passou por baixo da janela. E como ele estava ferido, mereceu ainda mais carinho por parte da patroa, que o tratou e curou com muito amor.

Estão a ser felizes e vamos ver se têm muitos cãezinhos e… cadelinhas.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Vd. poste de 4 DE MARÇO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vovô Zé (1): As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

Último poste da série de 23 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20006: Estórias avulsas (97): quando ia ficando soterrado no abrigo do canhão s/r, 82-B10, de fabrico russo... Salvei-me por um triz... Afinal, ainda não tinha chegado a minha hora! (Martins Julião, ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72)

5 comentários:

Anónimo disse...

Esta história encerra muita bandidagem.
Cuidado, Zé Ferreira ! A tua imaginação excelente produz histórias fabulosas. A esta dou nota 20, mas vais arranjar problemas.
Um abraço

Carvalho de Mampatá

Valdemar Silva disse...

História engraçada, mas a evidência das personagens torna-a um bocado contra a questão de não haver necessidade de discussões clubistas. É que as discussões clubistas dão em chatices.
Pode ser do confinamento ou da falta de uns joguinhos da bola. Calma que já falta pouco tempo para as coisas começarem a normalizar.
Venham mais outras histórias, que até já estava-mos a começar a gostar daquelas que metiam comidinha da boa.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Ricardo Figueiredo disse...

Mais uma estória do Zé Ferreira ! A criatividade mantém-se viva e no espírito , não perdeu o humor mordaz que o caracteriza.
Mais uma quase fábula , desta vez tendo como actores principais os canitos dos seus amigos,caracterizados brilhantemente por uma maquilhagem suave ,mas acutilante.
O Orelhas , ( Dr. Simplicio Merdinhas) telefonou-me , transmitindo-me a sua satisfação pelo papel que encarnou , mas por outro lado manifestou a sua tristeza , pelo facto do realizador não ter evidenciado os seus dotes sexuais. Limitei-me a prometer-lhe que logo que possível e assim que conseguisse encontrar a Cicciolina ( canita de um amigo e camarada Bandalho- não vale más interpretações),falaria com o realizador para com ela contracenar.
Bem hajas ,Zé pelos bons momentos de leitura que nos proporcionas.
Um forte abraço.
Ricardo Figueiredo

Luci Brito disse...

Boa tarde amigo Zé Ferreira,mais uma vez,escreveste uma bela história, envolvendo esses cãezinhos, ve-se logo que tua quarentena,está sendo bem aproveitada,escrevendo histórias e nos levando a leitura que gosto muito...
Parabéns amigo,e continua bem espero que em breve acabe com tudo isso aí em Portugal,porque aqui no nosso Brasil a coisa tá complicada...
Beijinhos e abraços cá de longe....🌹🙋‍♀️😘

jteix disse...

Ai vai ter problemas vai, como diz o Carvalho, ai vai vai. E ao contrário do que diz o Figueiredo não é uma boa "fabulada".
Para já a estória, mesmo inventada está mal contada. Nunca esperei que um escritor do gabarito (esta é forte) e com pretensões ao Nóvel (ou Nobél, nunca sei?) de Crestuma,  descesse tão baixo para escrever uma prosa a roçar o obsceno, para não dizer outra coisa, mete politica, futebol e até religião.
A  Carochinha (nome fictício) não veio duma família abastada, antes pelo contrário, veio duma abaixo de cão, (já que se tratam de canídeos),  por acaso era de Gaia e também foi apanhada na ponte quando uma vez fugiu aos donos. A sorte é que tinha uma placa com o telf da Sra. D. Virgínia e não dos donos. Estas são as partes, mais ou menos verdadeiras da grande mentira.
Mas voltemos ao enredo da fábula, como diz o Figueiredo, que é isso que interessa aos críticos. Embora, directa ou indirectamente visado, temos que concordar que ele, o pseudo-escritor, escreve bem, tem humor, engendra bem a estória e... inventa pra carago. Não sei se é o teclado que já está habituado, ou se são os dedos que já estão cansados de tanto desfiar bacalhau, mas uma coisa é certa a rapaz tem futuro, dedique-se ele á pesca que faz melhor figura.
Zé, controla-te que isto do bicho vai passar e vais ter que voltar ao normal.
Um abraço e... apesar de tudo, gostei. Não sei é se a tua posição no Bando estará em risco, nem uma única referência positiva ao seu Presidente, vamos ver.
cumprim/jteix