terça-feira, 5 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

1. Mensagem de Constantino Costa, enviada em 28 de Abril último, às 18h45 [Bold, a cor, da responsabilidade do editor]:

Caro Senhor:

Não posso deixar de lhe endereçar os meus cumprimentos pelo importante trabalho desenvolvido no seu blogue.

Como militar participei na guerra do ultramar (Guiné), fazendo parte da CCav 8350, destacada em Guileje e Gadamael Porto. (*)

Como assíduo visitante do seu blogue, tenho verificado (com tristeza) que muitas das referências feitas sobre a nossa actuação, tanto em Guileje como em Gadamael, pecam por - creio - defeito dado que alguns dos intervenientes (Alferes Manuel Reis e João Seabra e Furriel José Carvalho) pretendem omitir acontecimentos importantes que poderiam esclarecer muito do que por lá se passou, não honrando assim a memória daqueles que lá deixaram a vida ou ficaram estropiados.

Quando defendem o [então] major Coutinho e Lima esquecem que aconselharam o mesmo a optar pela fuga.

Hoje é fácil aligeirar responsabilidades com o intuito de se justificar um abandono que em nada dignifica a CCav 8350, ou as Forças Armadas Portuguesas.

O ex-Maj Coutinho e Lima nunca se mostrou à altura do cargo e bem merece a punição que lhe foi aplicada.

Eu cheguei a elaborar relatórios de operações nunca efectuadas. O Cap Abel Quintas [, foto actual, à esquerda, ] ordenava para só alterar as datas das operações e o resto era copiado.

Por puro oportunismo alguns gostariam de ser condecorados.

No tal massacre de Gadamael os camaradas que faziam parte dessa patrulha nunca foram obrigados a sair, [foram sim mas] como voluntários.

Após o ataque em Gadamael cerca de 80 % das nossas tropas decidiu abandonar o aquartelamento apesar de aí estarem estacionadas 2 companhias de pára-quedistas, com 12 militares emboscados no mato que sofreram 4 mortos e 1 ferido grave.

Foi necessário chamar a atenção de alguns furriéis e alferes para que estes voltassem para trás.

Durante um ataque em Guileje, perante a recusa de quase todos ofereci-me para ficar de sentinela com as granadas a caírem em redor do aquartelamento, comigo escondido debaixo de o banco da guarita.

Durante uma patrulha (Colibuia) um ruído na mata fez com que todos começassem a disparar sem nexo, inclusive para próximo do aquartelamento. Mais tarde veio a verificar-se que o tal barulho tinha sido provocado por um bando de macacos.

Em Gadamael, na sua 1ª patrulha a CCav 8350 não se deslocou para o local determinado, mas sim para lá uns 500 m do aquartelamento.

Numa das suas patrulhas o pelotão ouviu disparos e quase todos largaram as armas fugindo, quando o IN só tinha 4 elementos.

Muito mais haveria para dizer, mas fico-me por aqui.

Cumprimentos,

Constantino Costa

2. O mesmo Constantino mandou-me uma segunda mensagem, menos de 24 horas depois da primeira, que publico apenas para 'documentar o processo' e para eventuais efeitos pedagógicos (tanto se aprende com as lições dos inimigos como com as críticas dos amigos):

Assunto - Heróis

Caro Senhor:

Com os meus cumprimentos, venho manifestar a minha indignação pelo modo faccioso como pretende criar adular os seus amigos (alferes, João Seabra e Manuel Reis e ainda o furriel, José Carvalho) só porque entenderam dar a sua versão sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael Porto [vd. foto da época, à esquerda]...

Acontece que as suas histórias só tentam justificar toda uma acção que desprestigia de forma indigna as Forças Armadas Portuguesas.

Muitos dos factos narrados no blogue não correspondem ao que na realidade aconteceu e os únicos heróis que reconheço são todos aqueles que perderam a vida em vão e os estropiados.

A guarnição de Guileje nunca teve um Cmdt à altura, Major Coutinho de Lima e Cap Abel Quintas.

Aquando da nossa retirada a CCav 8350 tinha sofrido dois mortos em combate (continentais) e possuía abrigos à prova de armas de calibre 120 mm.

Apesar de o inimigo se encontrar a alguns quilómetros de distância, não havia serviço de água porque ninguém chefiava, já que poucos saíam dos abrigos, inclusive os graduados.

Prestei declarações à SIC mas, ao contrário do prometido, aquela estação decidiu não publicar as minhas declarações por sugestão de alguns daqueles que agora se querem fazer passar por heróis.

A verdade sobre Guilege e Gadamael tem sido desvirtuado no sentido de alguns aligeirarem responsabilidades.

Permita-me relembrar que durante o abandono de Guileje (esta é que é a verdade) grande parte da CCav debandou e largou as poucas armas só pelo facto de um africano ter tocado num ninho de abelhas.

Hoje passados mais de 30 anos do abandono de Guileje e Gadamael, alguns [estão a] dar uma versão bem diferente do que lá se passou.

Um reclama para si o papel de herói, outro foi medalhado e outro ainda estou para ver o que lhe vai calhar.

No país em que vivemos já não me surpreende tamanha desfaçatez, oportunismo de quem ousa ser detentor da verdade e só procura o protagonismo para satisfação da sua vaidade pessoal.

Entristece-me o facto de ter acreditado que o seu blogue estava aberto a todos aqueles que combateram nas antigas provincias ultramarinas. Puro engano!..

Bem Haja!!!

Cumprimentos, Constantino Costa

3. Um primeiro comentário de L.G. (foto da época, à esquerda):

Digo dizer que comecei por estranhar o teor da primeira mensagem. Embora não fosse anónimo, no mail o autor não se apresentava como devia ser... Dizia apenas que tinha sido militar da CCAV 8350, que também é conhecida por Piratas de Guileje (termo que ele nunca emprega, e está no seu direito).

Por outro lado, o registo e o tom eram de acusações (algo gratuitas mas nem por isso menos graves) a antigos camaradas, membros da nossa Tabanca Grande (João Seabra, J. Casimiro Carvalho, Manuel Reis, Coutinho e Lima), ou que já aqui foram evocados várias vezes mas que não integram o nosso blogue (caso do ex-Cap Mil Abel Quintas). Há insinuações e acusações, feitas no mínimo de ânimo leve (ou no calor da batalha), e que são repetidas na segunda mensagem:

"(...) pretendem omitir acontecimentos importantes (...), não honrando assim a memória daqueles que lá deixaram a vida (...)";

"O ex-Maj Coutinho e Lima nunca se mostrou à altura do cargo e bem merece a punição que lhe foi aplicada"...

"Eu cheguei a elaborar [o Constantino deve querer dizer dactilografar] relatórios de operações nunca efectuadas. O Cap Abel Quintas ordenava para só alterar as datas das operações e o resto era copiado";

"Por puro oportunismo alguns gostariam de ser condecorados";

" [A SIC, em 1996] decidiu não publicar as minhas declarações por sugestão de alguns daqueles que agora se querem fazer passar por heróis";

"Um reclama para si o papel de herói, outro foi medalhado e outro ainda estou para ver o que lhe vai calhar", etc., etc.

Por uma questão de lealdade, bom senso e respeito pelas regras do nosso blogue, dei conhecimento prévio do teor da mensagem aos visados, manifestando as minhas reservas, como de resto costumo fazer em circunstâncias análogas.

Através do J. Casimiro Carvalho, soube que o Constantino pertencera ao seu pelotão, e que vivia em São João da Madeira. Através da morada, conheci obter o seu número de telefone e telefonei-lhe... Achei que ele tinha ultrapassado os limites do razoável, entrando já no campo do insulto... Foi isso que transmiti aos Piratas de Guileje da nossa Tabanca Grande. Ao José Casimiro Carvalho pedi mais informações sobre o Constantino:

Carvalho, tens um telefone do teu camarada ? Vou ver se o acalmo ou tenho um conversa de 'gestor de conflitos' com ele... Ele não tem os mesmos 'privilégios' de um membro do blogue... Para já nem se apresentou, não sabia quem ele era (se não fosse o teu mail), temos sempre que admitir a possibilidade de ser um provocador ou até alguém à procura do seu minuto de fama...

Tratando-se de um pirata de Guileje, ele tem que seguir os mesnos passos dos outros: apresenta-se, dá a cara, conta a sua história, ouve as críticas e os comentários dos outros, e por aí fora...


Carvalho, por favor, explica-lhe isso e acalma-o... A gente quer conhecer a versão dele, mas não pode ser com insultos, berros, chantagem, com a G3 atrás das nossas costas...


Eis o teor do mail que enviei a seguir aos quatro camaradas visados (Coutinho e Lima, João Seabra, José Casimiro Carvalho e Manuel Reis), depois de ter telefonado ao Constantino e aparentemente ter acalmado o nosso homem (que, a entrar na nossa Tabanca Tabnca Grande, fá-lo de maneira um pouco menos ortodoxa):

Amigos e camaradas de Guileje:

Já falei ao telefone com o Constantino. Consegui, através da morada, saber o nº de telefone dele... Trabalha em artes gráficas. Parce ser um trabalhador independente. Comecei logo a tratá-lo por tu, para ficarmos ao mesmo nível...

Fiquei a saber que lê com muito interesse e emoção o nosso blogue. Era soldado do 3º Pelotão, do Alf Gonçalves. É o mesmo que o Seabra identifica como 'dactilógrafo'. Falei com ele, com toda a frontalidade, agradeci-lhe os elogios que fez ao blogue na 1ª mensagem, para logo a seguir lhe dizer que não aceitava nem apreciava as críticas 'gratuitas e insultuosas' que nos fez na 2ª mensagem, enviada 23 horas depois... Ele percebeu o recado, baixou a guarda. Disse-me explicitamente que quis ser provocatório (sic) na 2ª mensagem.

Pediu desculpa do excesso de linguagem. Vejo que tem uma versão dos acontecimentos que não coincide, nalguns pontos, com a versão dos 'chefes'... Deixou de ir aos encontros da companhia... Percebeu também que o blogue não é nenhum tribunal da opinão pública... E que o blogue tem regras (éticas) que as pessoas aceitam ou não aceitam, como por exemplo "a recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro".

Em suma, fiquei a saber quem ele era, onde morava, quem foi no passado (militar)...Vai entrar para o blogue como qualquer outro camarada da Guiné, cumprindo e respeitando as regras de bom e sã convívio... Vou começar por publicar o texto dele, seguido do do João, que lhe põe questões concretas... Eventualmente publicarei também os comentários do Reis, do Casimiro Carvalho... Farei uma introdução para contextualizar... (...)


4. Texto do J. Casimiro Carvalho (foto, de 1973, à esquerda):

Amigo Luís Graça:

o camarada em questão existe. Em cima estão os dados de que disponho [Casimiro Silva Costa, Rua Guerra Junqueiro (...), São João da Madeira (...)]

Não sei se era cabo ou soldado pois pelo nome não estou a ver quem é (foi) esse meu camarada.

Tem direito à sua opinião.

Quanto à patrulha em que morreram 4 homens e houve um ferido, ele devia honrar os camaradas mortos, pois se houve algum voluntário não o foi concerteza o Alf Branco nem o soldado Anselmo e nem possivelmente o Cabo Neves ("Morre o Homem fica a fama"). Eu não fui voluntário... Concerteza nem os dois camaradas que vão aos convívios e que, sendo tão novinhos, eu dispensei-os de sair (para a morte) e que sempre dizem às filhas:
- Este foi o furriel que nos salvou (talvez) a vida.

Quanto à patrulha em Colibuia, eu fazia parte da mesma, foi um tiroteio danado, não me apercebi se era tão disperso (o tiro) mas foi originado por mim, pois vi um africano numa árvore(ao longe) e disparei pois ele desceu muito aflitivamente ao ser descoberto (só então disparei) e todos me secundaram...claro.

Quanto a Guileje, eu...não estava lá.

Agora o camarada estar a dizer que se pretende omitir algo, eu não entendo, pois ele deve ter sofrido e bem o que nós sofremos.

Pelo menos que esclareça o seu ponto de vista. Temos direito a isso e ele também

Um abraço deste Pirata para o Pirata C Costa.

PS - Eu era do Grupo [de Combate] do Alf Gonçalves, portanto do C. Costa.

5. Mensagem do Manuel Reis (foto actual, à esquerda):

Amigo Luís:

Não me lembro deste camarada, embora o nome não me seja estranho. Nada mais pretende que lançar a confusão.

As mentiras são tantas, que não há muito para dizer. Essa de elaborar relatórios de patrulhamentos (não feitos) a pedido do capitão, não lembra ao diabo!

Pela montruosidade destas afirmações terei de pensar que haverá alguém, por trás, a ajustar o tiro.
Que existam camaradas que discordem da decisão do Coronel Coutinho e Lima é natural, são as excepções, que confirmam a regra.

Eu lembro uma situação vivida em Gadamael-Porto no dia em que o Coronel Coutinho e Lima saiu, sob prisão, para Bissau. Os soldados, representativos de todos os grupos, encarregarem-me, conjuntamente com o Seabra, de falar com o Coronel Coutinho e Lima e transmitir-lhe a sua solidariedade, disponibizando-se para impedir a sua saída de Gadamael-Porto (acontecimento um pouco esquecido).

Coutinho e Lima recusou. Veio, posteriormente, a pedido do advogado, solicitar-me que manifestassem, por escrito, o seu apoio. Tal não se veio a concretizar por força do 25 de Abril.

Nos nossos convívios o Coronel Coutinho e Lima é sempre alvo de manifestações de carinho. O respeito e admiração que nutrem por ele é enorme.

Espero que o referido camarada apareça no nosso convívio (7 de Junho, na Covilhã) mas duvido que o faça. Não me lembro da presença dele em qualquer outro convívio e estive em todos.

Uma palavra de gratidão para o amigo Luís Graça pelo seu alerta. Situações idênticas vão certamente repetir-se.

Um abraço amigo para todos. Manuel Reis

PS - Estou como diz o furriel Carvalho: Ele que fale!

O problema dele com a SIC deve reportar-se a 1996, referente à reportagem "De Guilege e a Gadamael o Corredor da Morte", em que eu e o Coronel Coutinho e Lima participámos. Aguardo a publicação das suas declarações para lhe responder.

6. Comentário do João Seabra:

Luís, se quiseres a minha opinião, acho que deves publicar a mensagem.

Não me recordo desta pessoa (passaram muitos anos). Todavia, pela referência ao destacamento em Colibuia, presumo que pertencesse ao 3º Gr Comb (o meu era o 2º e o do Reis o 1º) e, segundo parece, também fazia uns biscates como dactilógrafo de confiança.

Comecemos pelas omissões. O verbo “omitir” é transitivo, pede complemento directo, quem omite, omite alguma coisa. Que ocorrências e situações, que fossem do meu conhecimento directo, omiti eu?

O Constantino Costa alguma vez saiu comigo em patrulhamento ou escolta? Constatou que algum Gr Comb ou agrupamento comandado por mim não se deslocasse ao local determinado? Fugi eu de Gadamael? Onde é que estava o Manuel Reis na manhã de 1 de Junho de 73? Nessa data já lá estavam duas companhias de pára-quedistas? E foi nesse dia que 12 militares (da CCav 8350) foram emboscados, resultando 4 mortos e um ferido grave? Eu ou o Manuel Reis fomos dos alferes a quem “foi chamada a atenção para que voltassem para trás”?

Já houve quem dissesse que os meus escritos são muito meticulosos (chatos são certamente). Gostaria que o Constantino Costa fosse mais específico: quais os concretos, precisos e determinados “acontecimentos importantes”, em relação aos quais eu sou omisso?

Quanto aos meus pretensos “conselhos” ao Major Coutinho e Lima, “Se non è vero è ben trovato”: só tomei conhecimento da decisão quando ela já estava tomada, mas, como referi em escrito publicado recentemente, não tendo levantado objecções, é como se eu próprio a tivesse tomado.

Abraço, João Seabra


7. Mail do Coutinho e Lima (foto à esquerda, de 1995):

Caro Luís:

Relativamente ao texto do Constantino, farás o que melhor entenderes: Pela minha parte não vou responder; a maior parte dos factos passam-se em Gadamael e Colibuia e já tiverem intervenções do Reis, Seabra e Casimiro Carvalho; na parte que me diz respeito, não tem ponta por onde se pegue, pois não apresente argumentos para sustentar as afirmações que faz.

De qualquer maneira, a possível difusão dará à opinião do Constantino uma "propaganda" que talvez não mereça. Um abraço, Coutinho e Lima.

8. Comentário (final) de L.G.:

Amigos e camaradas de Guileje:

Estamos de acordo que se publique o texto do Constantino... Ele não é membro da nossa Tabanca Grande mas, como diz o J. Casimiro Carvalho, também tem direito a "contar a sua história"... Devemos exigir que ele se explique, fundamente as suas afirmações...

Se concordarem, e não considerarem o texto como 'insultuoso' (em especial, o Coutinho e Lima), podemos publicar isto na série Dossiê Guileje / Gadamael 1973... Mas antes quero ouvir a vossa opinião... O assunto é delicado, vindo de um pirata de Guileje que só agora manifesta a sua opinião, quatro décadas depois... Mas mais vale tarde do que nunca... Um abraço, Luís

PS1- Já viram o livro do Vasco Lourenço, que saiu há dias [Do Interior da Revolução, editora âncora] ? São entrevistas, feitas entre 1992 e 1995 por Maria Manuel Cruzeiro, no âmbito do projecto de História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra)...

Li por alto a parte relativa à Guiné (apenas um capítulo, sendo o resto do livro centrado no 25 de Abril e no PREC) ... Tem uma apreciação altamente elogiosa do comportamento militar do Coutinho e Lima em Guileje, e muito crítica em relação ao Spínola e à sua 'entourage'...

PS2 - O Pepito (AD - Bissau) diz-me que a construção do Museu Memória de Guileje está a avançar... e que quer inaugurá-lo em Setembro...

__________________
Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

6 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro Luís

Em primeiro lugar explico desde já que conheço pessoalmente o camarigo José Casimiro Carvalho, que considero um amigo e ao qual reconheço, por isso mesmo, veracidade no que afirma sobre a guerra na Guiné, bem como, por comparação, também aos outros nomes envolvidos que não conhecendo pessoalmente, ainda, julgo da mesma têmpera e veracidade.
Por isso me sinto à vontade, não para falar da guerra do Guileje e Gadamael, mas sobre o texto do post e a intervenção do Constantino Costa, que também não conheço.
Sabes tu e sei eu, que cada cabeça pensa da sua maneira e que nem sempre o modo como cada “cabeça” vê os mesmos factos, corresponde à realidade dos factos, embora para cada um a sua versão seja a verdadeira.
E então na guerra julgo que isto se passa com relativa facilidade.
Aquilo que para uns será um acto heróico, para outros não o será e até pode ser visto com um acto precisamente ao contrário.
E ambos pensam honestamente que estão certos.
Ora a linguagem do Constantino Costa não será mais correcta, mas já foi utilizada na Tabanca por outros “atabancados”, mas será aquela que para ele corresponde à realidade por ele sentida.
Não sabemos, julgo eu, o que todos esses acontecimentos fizeram na vida dele, como ele os viu e como eles o marcaram, pelo que o devemos primeiro acolher, para depois com calma perceber das suas razões e perante os testemunhos dos outros intervenientes, fazê-lo perceber que, se calhar, a sua visão dos factos está errada.
«É um português pouco suave, de ideias feitas, que tem dificuldade em lidar com o contraditório...», dizes tu caro Luís, e parece-me estares a falar da maioria de nós portugueses que assim somos, pois temos alguma dificuldade em lidar com o contraditório.
«Temos que ter paciência de santos para casos como este, de gente impaciente e que ainda sangra com a Guiné...». Provavelmente ele pensará a mesma coisa de nós e eu julgo que esta frase em vez de aproximar, pode afastar, e a nossa Tabanca, para além de contar as histórias da guerra tal como nós as vimos, penso que tem também essa extraordinária componente que é acolher aqueles que ainda estão “feridos”, seja porque razão for, pela guerra que viveram, e ajudá-los a fazerem as pazes com esse período das suas vidas, procurando com todos a verdade dos factos, que levará ao entendimento e à paz.
Quantos de nós não tínhamos, não temos ninguém com quem falar destes assuntos, porque não nos entendem, porque não os viveram.

Ainda quanto à história de fazer operações apenas no papel, sempre ouvi falar nelas durante a minha “estadia” na Guiné e às vezes ao lermos as histórias oficiais dos nossos Batalhões, aparecem-nos coisas que levamos à conta de não nos lembrarmos embora fiquemos com a sensação de que realmente não existiram.
Perdoa-me a critica, mas a mesma tem como fim, (e posso estar redondamente enganado na minha apreciação), melhorar a nossa Tabanca e alcançarmos também essa finalidade, que será acolher aqueles que ainda sofrem e talvez por isso mesmo tem uma visão muito própria do que lhes aconteceu.

Apenas mais uma nota para comentar o PS1 onde dizes:
«Li por alto a parte relativa à Guiné (apenas um capítulo, sendo o resto do livro centrado no 25 de Abril e no PREC) ... Tem uma apreciação altamente elogiosa do comportamento militar do Coutinho e Lima em Guileje, e muito crítica em relação ao Spínola...»
Então meu amigo, esperavas o quê?

Claro que este texto é fruto da amizade, do respeito da camaradagem e da franqueza que sempre utilizamos na Tabanca.

Um abraço muito amigo do
Joaquim Mexia Alves

Não releio o texto, por isso conto com a tua bondade sobre o mesmo

Luís Graça disse...

Joaquim:

Agradeço a tua ajuda de 'irmão maior' que eu não não vejo como crítica mas como oportunidade para me tornar melhor (ou ainda melhor) editor do nosso blogue...

Li com muito interesse e atenção
os teus reparos e críticas ao meu texto que pretendia ser de contextualização de duas mensagens polémicas, e que acabaram por me ajudar a tornar a minha escrita mais assertiva, como devem ser os textos dos editores do nosso blogue...

O editor deve evitar deixar transparecer
as suas emoções, quando escreve como editor... Não deve tomar partido, deve ser isento, objectivo, assertivo, etc., dentro das regras (escritas e tácitas) que são as nossas (e a nossa prática de convívio e de interacção vai reforçando)

Às vezes, a gente
resvala, é humano... E somos atraiçoadas pela escrita quase
instantânea... Não há tempo para reler o que escrevemos, às vezes quase automaticamente com erros na forma e no coneteúdo...

Mas para isso é que estás tu e os outros camaradas que são leitores e autores... Estás tu aí, no teu posto de sentinela do Mato Cão, lendo-nos com equidistância e sabedoria...

Não tenho dúvidas de que tu és um dos camaradas que eu vou propor para integrar o futuro conselho editorial do blogue, que deverá ter, entre outras funções, as da provedoria do leitor...

Sei que não é fácil discordarmos uns dos outros, ou melhor, o que é
difícil é sempre o processo de comunicação entre duas ou mais pessoas (no amor, na amizade, na família, no trabalho, na cidadania...).

Naturalmente que parto do princípio que o Constantino e todos os demais camaradas da Guiné estão aqui de boa fé, não são pau mandado de ninguém, só se representam a si próprios, opinam em consciência...

Não tenho dúvidas que o Constantino segue com real interesse e carinho o nosso blogue e vai aceitar o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande e assumir de pleno direito a sua condição de "camarada da Guiné"... E dou de barato o facto de eu e o nosso blogue termos passado de bestiais para bestas, no curto espaço de 23 horas...

Foi, de resto, muito útil falar com ele ao telefone, para nos conhecermos melhor e criarmos um ambiente mutuamente gerador de confiança...

Joaquim, fiz questão de te dizer quanto apreciaria a publicação do teu comentário a este poste. Incluindo o teu
comentário sobre o livro do Vasco Lourenço. Citei-o apenas, não para
tomar partido, mas tão só para ilustrar o facto de tudo tem 'verso e o reverso': O Spínola, o Vasco Lourenço, o Coutinho e Lima, tu, eu... Nenhum de nós é feito de uma só peça, nem podemos ser reduzidos a clichés...

E sobre Guileje e Gadamael, e a versão do Constantino também seria
interessante poder ler o teu comentário, a que doravante os nossos leitores têm publicamente acesso...

Nas nossas conversas privadas, por mail, não temos tanto a preocupação de medir as palavras, e às vezes usamos e abusamos da nossa liberddae de escrita...

Como te disse, 'podei' o texto que originalmente tiveste acesso... Dou quase sempre
ouvidos aos meus queridos críticos... De resto, saber ouvir é uma qualidade rara (que eu prezo mas que não é fácil ter e manter)...

De qualquer modo o tema é melindroso: dum laldo, tens dois alferes, um furriel, um capitão, um major... Do outro lado, um soldado (que também fazia uns biscates na secretaria como dactilógrafo)... O editor não tem que os pôr na balança, e dar mais crédito a uns do que aos outros, baseado em critérios de estatuto, qualificações, craveira intelectual... O editor tem que garantir igualdade de oportunidades a todos os que se registam e colaboram no blogue, independentemente do que foram no passado e do que são no presente...

Agora, a verdade é que estamos a falar de acontecimentos de há 40 anos, em que eramos todos meninos e
moços, tínhamos o sangue na guelra, conhecemos senão as 13 pelo menos uma boa parte das 13estações do calvário...

No final, para os que tiveram a sorte de chegar ao fim, com mais ou menos mazelas no corpo e na alma, a história não será contada exactamente da mesma maneira... Já não eramos exactamente os mesmos, quando fomos para a tropa e depois para a Guiné, muito menos eramos os mesmos quando de lá voltámos...

Em suma: também em Guileje e Gadamael, há o verso e o reverso,
não há histórias a preto e branco... E a riqueza do nosso blogue, a grandeza da nossa Tabanca Grande é conseguirmos dar cor e vida e emoção às nossas memórias, sem entramos em processos de intenção, sem cairmos na tentação (totalitária) de ser juizes dos outros... Enquanto pares, enquanto camaradas, nunca poderemos verdadeiramente julgarmo-nos uns aos outros... (Refiro-me ao nosso comportamento enquanto operacionais)...

Devemos, isso sim, velar pela verdade dos factos: Eu estava lá e o que vi fui isto e aquilo... Ou então: segundo a versão do meu camarada tal, que me merece crédito, o que se terá passado foi itso e aquilo...

É evidente que todos nós apreciamos mais as versões em primeira mão...

Uma abração. Luís

Anónimo disse...

Que outras memórias apareçam para que a história não seja contada por outros que não os protagonistas.

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

peço desculpa se te ofende amigo e camarada de Guiné Constantino, mas só uma cabeça demente é que faz tais afirmações como as que fizeste no nosso blog e não digo mais nada porque o que me vai na alma é pior que o que já foi aqui dito por camaradas da nossa Tabanca, pelo menos faz avaliação do que afirmaste pensa nas asneiras que escreveste e pede desculpa a quem ofendeste na sua honra e dignidade.

UM ABRAÇO

Anónimo disse...

Acho que o ex camarada Constantino Costa está indignado e deve ter alguma razão, quando se fala aqui Em Gadamael todos querem ser Herois.
Aí o Casimiro Carvalho esse deve mesmo ter sido um Rambo, eu por acaso estive em Gadamael era da CCAÇ 4743 mas não vi ninguem com fita preta na cabeça.
Valha me Deus cada qual fez o que era capaz, outros não fugiram porque ate para isso lhe faltou a coragem por Amor de Deus não se ataquem uns aos outros. um Abraço J.A. Sales

Anónimo disse...

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