domingo, 3 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4276: Recortes de imprensa (18): O Campo do Tarrafal e as distorções da História, por Pedro Pires, PR de Cabo Verde (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert, que há dias apresentámos como correspondente de A Voz da América (*)... Ele mandou-nos uma notinha a corrigir essa informação: "Apenas um reparo que em nada altera o conteúdo da notícia. Sou senior-editor do serviço em português para a África, da Radio Voice of America, com sede em Washington e não correspondente. Mantenhas, Nelson Herbert".

Nelson, aqui fica a correção e o meu pedido de desculpas pela imprecisão. Temos, além disso, em comum o facto de os nossos pais terem sido expedicionários em Cabo Verde, na década de 1940. É uma história a que eu quero voltar. (LG)



Assunto - História, História

Não podia deixar de partilhar a oportunidade desta intervenção do presidente caboverdiano, com os demais bloguistas...

Bom fim de semana

Nelson Herbert


2. Botícia da Lusa > Tarrafal: "Há distorções a corrigir" na História da África, diz PR de Cabo Verde

Tarrafal, Cabo Verde, 2 de Maio (Lusa) - O presidente de Cabo Verde defendeu a necessidade de, “num acto de memória”, a história da África, nomeadamente a dos países de expressão portuguesa, ser “revisitada”, de forma “descomplexada e despida de apologias justificantes”.

Discursando sexta-feira na sessão de encerramento do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal, que decorreu na vila homónima situada no norte da ilha de Santiago, Pedro Pires sustentou que os historiadores terão de a ver “de modo realista, objectivo e descomprometido com conveniências patrióticas”.

“Coloca-se a necessidade de, num acto de memória e sob um ângulo científico, crítico, descomplexado e despido de apologias justificantes, revisitar frequentemente a História”, referiu.

Pedro Pires aludia às frequentes discrepâncias na história das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP - Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), cujas “conveniências patrióticas” distorcem os factos reais.

“A história deve ser reelaborada, ou melhor, aperfeiçoada, de forma sistemática, porque há distorções a corrigir, omissões a regular e esquecimentos ou vazios premeditados a rememorar. Cabe aos historiadores de hoje rever a situação, na medida em que não precisam de justificar os factos, devendo, tão-somente, narrá-los de forma objectiva, realista e científica”, frisou Pedro Pires.

“Para os africanos, é crucial repensar a sua história. Para isso, devem usar a sua própria lente: olhar para nós mesmos, com a nossa própria visão da História e do Mundo. Há que ver o nosso percurso histórico, as nossas forças e fraquezas, através da nossa percepção de nós mesmos e não recorrer à percepção dos outros, mesmo que sejam as mais eruditas”, sustentou.

Para uma melhor compreensão da questão, Pedro Pires recorreu a um provérbio africano: “Enquanto os leões não tiverem os seus próprios historiadores, as histórias da caça continuarão a glorificar o caçador”.

Na ligação feita do tema da sua intervenção ao Simpósio, o chefe de Estado cabo-verdiano lembrou que foram patriotas de Cabo Verde que, uma semana após a Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril de 1974), “decidiram enfrentar e derrubar o símbolo mais significativo e mais temido”, no arquipélago, “do sistema opressivo colonial e da ditadura salazarista: o presídio do Tarrafal” [Vd. foto acima, retirada do blogue do nosso camarada João Tunes, Água Lisa (6)]. (**).

“A decisão e a determinação dos nacionalistas cabo-verdianos surpreenderam as autoridades coloniais. A inteligente antecipação das várias consequências do «25 de Abril» e no seu imediato aproveitamento colocaram as autoridades coloniais em estado de desorientação, na defensiva e perante um dilema irresolúvel: reprimir ou não reprimir. Qualquer das opções tinha consequências desfavoráveis para o poder colonial”, contou.

“(A autoridade colonial), impotente, optou pela cedência, pois já se encontrava extremamente abalada com a derrocada dos principais pilares do regime e com as derrotas políticas e militares. Naquelas circunstâncias, a alternativa de repressão não seria praticável. Assim, começou, nestas ilhas, o desmoronamento do sistema de dominação colonial”, reivindicou.

Para Pedro Pires, o encerramento do “Tarrafal”, a 01 de Maio de 1974, há precisamente 35 anos, revestiu-se de um “forte simbolismo”, pois permitiu “mostrar a impotência e o esgotamento a que tinha chegado o domínio colonial, sendo, por essa razão, “um marco relevante no processo de conquista da independência” de Cabo Verde.

Fonte: Agência Lusa (com a devida vénia...)

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4273: Recortes de imprensa (17): Engenhos explosivos do nosso tempo continuam a matar, desta vez na região de Mansabá (Nelson Herbert)

(**) Vd. também notícia da Angola Press, 2 de Maio de 2009:

Cabo Verde: PR cabo-verdiano realça necessidade de se transformar Tarrafal num monumento de tolerância

Tarrafal (Do enviado especial) - O presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, avançou sexta-feira à noite, em Tarrafal, Ilha de São Tiago, a necessidade de se transformar o Campo de Concentração de Tarrafal num Monumento de Tolerância, de Amizade, de Dignidade e de Diálogo entre povos e culturas.

Falando na sessão de encerramento do Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração de Tarrafal, o chefe de Estado de Cabo Verde disse que, por representar um tempo de história conjunta é, sobretudo, um património histórico comum a cabo-verdianos, angolanos, guineenses e portugueses. (...).

Organizado pela Fundação Amílcar Cabral, em colaboração com os Ministérios da Cultura de Angola e Cabo Verde, o simpósio reuniu antigos reclusos do Tarrafal provenientes de diferentes países, reconhecidas personalidades, políticos e estudiosos.

O simpósio visou a recolher testemunhos e documentos sobre a vida e as actividades dos antigos presos políticos para formar um acervo histórico e museológico sobre aquele campo de concentração. (...)

2 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado. O Comdt. Pedro Pires tem razão. IMPOTÊNCIA... Temos que alterar a história de Cabo Verde e de Portugal. Mais grave é que essa impotência tem vindo a agravar-se, todos os anos. A (ex)potência colonial nazi-fascista, é hoje um velhinho leão, sem juba, que já não tem força para caçar. Hoje limita-se a molhar a camisa do Catedrático e político Vital Moreira...
Era o que faltava. Um grupo de impotentes escrever a história de outros. Nem a sua...

Manuel Amaro

Anónimo disse...

Pois...a "impotência" deu-lhes de borla e sem reserva um arquipélago inteiro (nele incluindo a estratégica ilha do Sal) para fazerem dele um país com as terras que bem vistas as coisas nunca pertenceram aos ditos "colonizados". Só mesmo a impotência poderia ter permitido uma bizarria dessas. As coisas que eles inventam para se justificarem como patriotas de um país que nunca deveria ter existido.