quinta-feira, 2 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4629: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (9): Dois pequenos amigos de quatro patas

1. Mensagem de António Paiva, Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 27 de Junho de 2009:

Camarada Carlos Vinhal,

Lembras-te do que me disseste quando me despedi de ti em Ortigosa?

Foi + ou – isto:

- Vê lá se escreves alguma coisa, ultimamente não tens mandado nada.

Pois bem, se achas que tens pouco trabalho, aqui te mando mais uma história, minha e de 2 pequenos amigos meus.

Àqueles Camaradas de quem não me despedi no Encontro, apresento as minhas desculpas.

A história:

Traquinas, travessos, saltitões e corredores de fundo, sempre lado a lado em grande velocidade (até faziam lembrar os nossos “Fiats”), para alcançarem o objectivo com estratégias bem delineadas.

Eram corredores de terra e asfalto, nos dois pisos batiam-se bem um com o outro, as “botas” não escorregavam.

Em vitórias penso que estavam iguais, pelo menos demonstravam isso na amizade que tinham um pelo outro.

Como se sentiam superiores ao número de patas (4), não se davam muito ao convívio, amigável, com os de duas.

Não é que fossem maus “putos”… mas simplesmente sabiam marcar posições.

Tinham dois locais determinados onde passeavam a sua pequenez. Um deles era no terreno em frente á morgue, largo e comprido, que tinha um heliporto asfaltado, que ele não pisava, contornava-o, talvez por não gostar muito de “altos voos”. O outro parava ao pé do refeitório, junto a uma árvore que ali se encontrava.

Foi difícil convence-los que eu era seu amigo mas, com o tempo, foram-se apercebendo que eu era só queria isso mesmo deles… ser amigo.

Quando me baixava com qualquer coisa na mão para lhes dar, lá se aproximavam, com calma… desconfiados, posso dizer que, algumas vezes, lhes dava uma rodelinha de chouriço para lhes ir ganhando a confiança e os ir “trabalhando” a meu gosto.

Os anos foram passando e eles crescendo, tornaram-se irrequietos, imparáveis e já percorriam todo o terreno em redor do hospital.

À noite já não os encontrava com facilidade e pensava: “Se calhar foram até ao Bar das cabritas - e sorria satisfeito - , mas está bem, também têm direito a divertirem-se.”

Até que o dia do meu regresso a casa chegou!

Nunca mais os vi, mas facilmente deduzo que acabaram por “perder” o pêlo e acabaram como costumam acabar todos os da sua raça… serem abatidos por (não)amigos de duas patas… passarem no “REGIMENTO dos TACHOS”... e terminarem barbaramente triturados pelos seus dentes.

Que saudades tenho destes meus amiguinhos de 4 patas.

Um abraço,
António Paiva
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Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

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