1. Esta história merece ser "revisitada" (*) por várias razões:
(i) é escrita pelo Paulo Santiago (um "histórico" do nosso blogue, está connosco desde meados de 2006, e tem 183 referências);
(ii) tem umas cenas "pícaras", passadas em finais de março de 1972, na "nossa Bissau", longe de Saigão (que ficava no Vietname);
(iii) e depois envolve alguns dos nossos "melhores" (incluindo a nossa marinha e até um "ajudante de campo" do nosso Com-Chefe (que estava no 4.º ano do seu "consulado"), além do Julião Martins (outro dos nossos tabanqueiros, outro "histórico");
(iv) e, "the last but not the least", foi reproduzida no blogue da terra de um deles, Melgaço, sem que fosse citado o autor (Paulo Santiago) e a fonte (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)...
Dezenas de anos depois, o Paulo Santigao reconstituía aqui um "raide nocturno ao Pilão"... Uma noite de copos em Bissau era um dos poucos luxos que um "tuga", a caminho do mato (ou "desenfiado" do mato), se podia permitir: afinal, não éramos santos nem heróis, mas também não éramos meninos de coro nem escuteiros... Tínhamos vinte e poucos anos, muita adrenalina, muita vontade de viver e nenhuma de morrer... Em Bissau, longe do Vietname, como eu costumava escrever... (**)
Uma ida ao Pilão
por Paulo Santiago (*)
Foi aí por volta de 30 ou 31 de Março de 1972 que os acontecimentos se passaram. Estava eu em Bissau, de passagem, para mais um mês de férias na Metrópole, embarcava no avião da TAP em 2 de Abril.
O NRP "Orion" foi onde jantei naquela noite, a convite do comandante Rita, sendo também convidado o ten RN [reserva naval] Alves da Silva, conhecido entre nós pelo petit-nom de Eduardinho. Não me lembro da ementa, mas foi excelentemente acompanhada pelos belíssimos néctares existentes na garrafeira daquele navio.
O [alf mil] Martins Julião estava em Bissau a chefiar a comissão liquidatária da CCAÇ 2701 [Saltinho, 1970/72]: sabendo que me encontrava a bordo da "Orion", apareceu no fim de jantar, ainda a tempo de beber uns uísques.
Por volta da meia-noite, ou ainda mais tarde, resolvemos ir ao Chez Toi, um cabaré chungoso, o que se chama agora casa de alterne. Apanhámos um táxi no porto e lá seguimos para a má vida. O Rita, como habitualmente, ainda poderia beber mais uma garrafa nas calmas, eu, o Alves da Silva e o Julião já estávamos um pouco mal tratados.
O cabaré estava repleto, já não cabia mais ninguém. Convencemos o empregado a trazer-nos uma "Old Parr", mais quatro copos e ali ficámos encostados ao muro a dar conta da garrafa.
Subitamente chega um carro em alta velocidade, Peugeot 404 preto, que faz uma travagem maluca ali em frente, e donde sai o cap Tomás, ajudante [de campo] do Caco [Baldé]. Vinha bastante encharcado, mas deitou a mão à nossa garrafa, bebendo uma boa golada. A única pessoa que ele conhecia bem era o Rita. Queria ir para as gaijas, não sei fazer o quê, naquele estado. Convenceu o Comandante e lá entrámos os quatro para o 404, era o carro da D. Helena [Spínola], onde o único meio sóbrio era o meu amigo Rita.
Seguimos em direcção ao Pilão, com o Tomás a fazer uma condução à maluca. Falou numa cabo-verdiana que nenhum de nós conhecia, que ficaria perto da casa da Eugénia, essa conhecia eu bem. Corremos imensas ruas e ruelas do Pilão, eram tantos os saltos que o carro dava que o Rita já dizia estar a apanhar mais pancada que numa tempestade no mar. A determinada altura, uma das rodas do carro cai num buraco com grande violência, ouve-se um barulho de latas e ficamos com menos luz. O Tomás pára o Peugeot e saímos para verificar o sucedido. Com a pancada, um dos faróis saltara do encaixe, ficando virado para o solo, preso pelos fios de ligação.
Nenhum problema, continuamos às voltas, à procura das gaijas que nenhum conseguia dizer onde ficavam e o farol acabou por cair, ninguém soube onde. Aí pelas três da manhã, chegamos a um local do Pilão onde se encontrava um grande aglomerado de pessoas, em estado de grande exaltação. Paramos, saímos do carro e vemos no meio daquele maralhal o alf mil Domingos, de braço engessado ao peito, prestes a levar, na melhor das hipóteses, uma grande carga de pancada.
O Comandante Rita, graças à sua estatura, vai furando, connosco atrás até chegarmos ao Domingos, também de cabeça perdida. O que se passara?
– O caralho do Oliveira trouxe-me para aqui, bateu à porta daquela gaja, ela diz que está ocupada, o cabrão manda um pontapé na porta, rebenta-a, a tipa grita, começa a juntar-se este maralhal e o gajo deixou-me sozinho.
Foi complicado acalmar aquela gente mas conseguiu-se. Foi mais um passageiro para o maltratado 404. O Tomás ficou no Palácio e, nós os cinco, viemos beber mais um copo ao "Orion". O Domingos embarcava nessa manhã para Lisboa, em fim de comissão.
PS - O Oliveira era tenente dos Comandos. Pertencera à 26.ª [CCmds] e estivera em Fá com o Miquelina Simões a formar a 2.ª CCA [Companhia de Comandos Africanos]. O Domingos fora fur mil na 4.ª CCmds em Moçambique e alf na 26.ª, até apanhar uma porrada e ser transferido para Teixeira Pinto onde teve um acidente do qual resultou um braço partido. Tive com ele várias histórias.
Paulo Santiago (***)
Guiné > Zona Leste > Regiáo de Bafatá > Sector L1 > CIM de Bambadinca > Campo de futebol > 1971 > "Na foto junta, eu e o Tomás estamos bem direitinhos... era de manhã"... O Cap Tomás, de pingalim, está atrás de Spínola, a quem o Paulo Santiago bate a pala.
Guiné > Zona Leste > Regiáo de Bafatá > Sector L1 > CIM de Bambadinca > Campo de futebol > 24 de Dezembro de 1971, vésperas de Natal > O Caco - alcunha por que era conhecido o Com-Chefe - passa revista aos novos milícias. O alf mil Santiago segue atrás com o Cap Tomás, ajudante de campo do general Spínola.
Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > c. 1971/72 > NRP Orion > O comandante Rita, "um grande homem, um grande comandante", na opinião de Pedro Lauret, oficial imediato da LFG Orion (1971/73). Na foto, vemos os dois na ponta do navio, a navegar no rio Cacine. O Cmdt Rita está em segundo plano. O Lauret segura os binóculos.
Foto (e legenda); © Pedro Lauret (2006) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Mensagem que enviei ao Paulo Santiago, depois o avisar, por telemóvel, de que a história dele, "Uma ida ao pilão" tinha sido "pirateado":
Data - 07/06/2023, 12:32
Assunto - Um melgacense na guerra colonial...
Paulo: O blogue é este: "Melgaço, do Monte à Ribeira" (administrador. Ilídio Costa)
https://blogs.sapo.pt/profile?blog=iasousa
O texto em que apareces "truncado" e "pirateado" é este:
O PEUGEOT DA D. HELENA OU RELATOS DA GUERRA COLONIAL
melgaçodomonteàribeira, 08.03.13
https://iasousa.blogs.sapo.pt/78088.html
Não é citado o autor nem a fonte... "Textos retirados da Net por Camborio Refugiado" (sic)
3. Mensagem que o Paulo Santiago mandou ao administrador do blogue "Melgaço, do Monte à Ribeira":
Data: sex., 9 de jun. de 2023 às 12:43
Assunto: "Melgaço, do Monte à Ribeira"
Bom dia
Um camarada, há dias, chamou-me a atenção para um post publicado, em 08/03/13, nesse blogue.
O post "O Peugeot da D. Helena ou relatos da guerra colonial" estranhamente, não cita as fontes de onde "sacou" as histórias, e também não diz onde foi retirar uma foto, minha, que acompanha o texto.
Seria correcto, indicar as fontes, que serão duas, uma do Peugeot e foto, e outra para a das granadas.
Cumprimentos, Paulo Santiago.
4. Comentário do editor LG:
Paulo, fizeste bem... Esta malta (das "redes sociais"...) não tem o mais elementar princípio de respeito pela "propriedade intelectual"... Há, no mínimo, uma grande ligeireza ou, antes, uma grande lata na maneira como se "sacam" coisas da Net sem citar a(s) fonte(s)...
Vou fazer um poste para o blogue sobre este assunto, de modo a ajudar a prevenir outras situações, recorrentes, de "uso e abuso" dos nossos materiais...
Gostamos que nos divulguem, somos a favor do "open access", mas também exigimos que nos citem (e, portanto, respeitem).
Um alfabravo. Luis
09/06/2023, 13:28
5. Comentário final do editor LG:
Paulo, o administrador do blogue "Melgaço, do Monte à Ribeira" eliminou o poste, na sequência do teu "reparo"... Nem um pedido de desculpas te mandou?!... Nem a ti nem a nós, editores do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...
De facto, já não está lá desde a data do teu "puxáo de orelhas"...