Vila Real de Santo António > Cacela A Velha > Fortaleza de Cacela A Velha (séc. XVII) com vista sobre a Ria Formosa
A conquista de Cacela
As praças fortes foram conquistadas
por seu poder e foram sitiadas
as cidades do mar pela riqueza
Porém Cacela
foi desejada só pela beleza
Livro Sexto (1962, Lisboa, Livraria Morais Editora)
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 1920 - Lisboa, 2004)
Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Eduardo Estrela (2012) |
natural de Faro, vive em Cacela (que já não é Tavira, mas Vila Real de Santo António, entre Tavira e a Manta Rota); estivemos juntos no CISMI, em Tavira, no último trimestre de 1968, ele a na 3ª companhia (a "tirar" a especialidade de atirador de infantaria), eu na 2º companhia, do tenente Esteves Pinto, a fazer uma inútil especialidade de armas pesadas de infantaria; foi comigo e mais umas centenas de camaradas para o TO da Guiné, no T/T Niassa, em 24/5/1969; também ia connosco o camarada Jerónimo de Sousa, Soldado Condutor Auto da Companhia Polícia Militar (CPM) 2537 (Bissau, 1969/71): mas só soubemos uns dos outros muitoso anos depois; é membro da nossa Tabanca Grande desde o início de 2012; faz teatro, integrando o
Grupo de Teatro Lethes, também gosta de ler e escrever poesia (, obrigatório paar quem ama Cacela A Velha).
Data: 13 mar 2020, 17:28
Assunto: Cacela
Fotografia acabada de fazer [segue, em anexo].
O comandante da 3ª Companhia do CISMI, Tavira, era o cap Eduardo Fernandes, militar íntegro e respeitador.
O ten Madeira era o adjunto e era uma flor sem cheiro. Mau e sádico. Uma vez, levou durante a noite a companhia para as salinas (, o capitão estava ausente). Dei-lhe a volta e vim de lá com trampa só até aos joelhos.
Já tive o privilégio de lhe dizer isso pessoalmente num almoço no CISMI. O homem agora é coronel reformado e mora, como sempre morou, em Castro Marim.
Abraço. Eduardo Estrela
2. Comentário de LG:
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Capa do "Livro Sexto" (1962) |
Eduardo, quando estive em Tavira, no CISMI, entre outubro e dezembro de 1969, devo ter ido a Cacela A Velha (como eu gosto de "grafar"), e lá ter lido e relido aquele e outros poemas do Livro Sexto de Sophia (que levei comigo para a Guiné, numa mala cheia de livros, convencido que ia passar umas férias tropicais... pobre de mim!).
Tavira ficava longe da minha terra, o comboio era ronceiro, parava em todas as estações e apeadeiros, perdia-se o fim de semana em viagens... Depois de chegar ao Barreiro, era preciso apanhar o barco e depois a camioneta, na Rua da Palma, que ia até à Lourinhã, último concelho do distrito de Lisboa, e eram mais horas três de caminho!...
Penso que só fui a casa uma vez quando estive em Tavira, na minha instrução de especialiidade... Valeu-me a beleza da ria Formosa, Tavira, Cacela e a poesia dos poetas, como a Sophia, que se encantaram pela tua terra... Obrigado pela tua foto: aquela ria Formosa e aquela fortaleza parada no tempo são um mar de emoções e de sabores...Foi lá que comi o melhor arroz de lingueirão do céu e da terra, no sítio da Fábrica, num tasco que tinha um telheiro...
Voltei a Tavira, algumas vezes (poucas...), a última em abril de 2014 (*)... Aí, sím, com olhos de ver e rever... Mas não tive tempo de revistar Cacela. Não ia sozinho, em grupo temos que abdicar de algo de nós.... Escrevi, nesta altura no blogue, um conjunto de seis textos, e à laia de conclusão o seguinte:
(... ) Damos por encerrado aqui o roteiro (breve) de Tavira, aonde regressei, com "olhos de ver" e sem "mágoa no coração", 45 anos depois de ter feito o 2º Ciclo do CSM, no quartel da Atalaia, CISMI, no último trimestre de 1968 (...)
Fiquei alojado dois dias no Convento das Bernardas Residence, acessível na época baixa... É um notável projeto de recuperação arquitetónico, com a assinatura de Eduardo Souto de Moura... Aproveitei, obviamente, para percorrer o caminho que ia dar à ilha de Tavira, a famosa estrada dos Quatro Caminhos, onde se toma o barco para, atravessando o Gilão, se chegar à ilha de Tavira que alguns de nós conheceram, no tempo da recruta e/ou especialidade...
Essa estrada era também uma das estações do calvário dos milicianos, havendo instrutores que adoravam pôr-nos de salmoura, nas salinas.. Também fui (...) a Santa Luzia, zona piscatória de Tavira, para provar as especialidades gastronómicas de Tavira onde o polvo continua a ser rei... E ainda houve tempo para dar um salto à pombalina Vila Real de Santo António...
Faltou, por manifesta escassez de tempo, revisitar a Cacela Velha, um dos lugares mais mágicos da costa algarvia (, pertence já ao concelho vizinho, de Vila Real de Santo António, ) e sobre o qual escreveu a nossa grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andersen (Porto, 1919-Lisboa, 2004) [o poema antológico que acima se reproduz] (...)
Mas já dexei, em tempos, no blogue, em jeito de confissão uma das minhas "penas" (**):
(...) Dos sítios que nos calhou, a alguns de nós, no nosso percurso militar, da metrópole até à Guiné, Tavira é possivelmente um dos quais com que mantemos uma relação de amor/ódio.
(....). Nos escassos dois meses e meio em que lá fiz a especialidade de armas pesadas de infantaria (na 2ª companhia, em set/dez de 1968), não tive condições físicas e psicólogicas para descobrir a cidade, as suas ruas, o seu património e as suas gentes... O fantasma da Guiné (, não sei porquê nunca pensei em Angola ou Moçambique) já estava na minha cabeça...
Claro que deambulei pela cidade e arredores (Santa Luzia, Ilha de Tavira...) mas não tinha cabeça para aprofundar o conhecimento da sua história e do seu património... Voltei lá há um mês, com outra disponibilidade mental... Passei lá um fim de semana, dois dias, alojado no Convento das Bernardas, junto às salinas, (...) e depois fui visitar o velho quartel da Atalaia onde funcionou o CISMI, e por onde passámos, muitos de nós furriéis milicianos, antes de irmos parar à Guiné (...)
Obrigado, Eduardo, por este "regalo", nesta sexta feira, 13, em que estou/estamos trancado(s) em casa por causa da maldita pandemia do Covid-19. Mas olho a ria Formosa e vêm-me à lembrança aquele tempo em que havia ali, talvez mais à direita, uma nesga de terra e de mar, onde fazíamos fogo real, com as armas pesadas, a Breda, o morteiro 81, o canhão s/r...
Era uma dor de alma, para mim, ter que violar toda aquela beleza de areal e mar... Será que ainda te lembras desse sítio da costa onde se fazia fogo real de armas pesadas ? Havia lá, em baixo, muita sucata, incluindo granadas por explodir... Tinha que ser uma faixa da linha costeira,. sob estrita jurisdição militar. Já não tenho ideia se era mais à esquerda ou à direita de Tavira... Ou não seria na própria ilha ?... Não, não, devia ser, tenho uma vaga ideia de estar a fazer a fogo de Breda ou Browning, de uma arriba para o mar... (***)
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Notas do editor: