Foto nº 22 > Março de 1973 > Teixeira Pinto > Crianças junto do lavadouro.(1)
Foto nº 23 > Março de 1973 > Teixeira Pinto > Crianças junto do lavadouro.(2)
Foto nº 19 > Teixeira Pinto > Fev 1972 > Lavadouro público.
Foto nº 20 > Teixeira Pinto > Março de 1973 > As lavadeiras no lavadouro público
Foto nº 21 >
Teixeira Pinto > Fev 1972 >
A roupa a corar ao sol, nas imediações do lavadouro
Foto nº 21 A > Teixeira Pinto > Fev 1972 > A roupa a corar ao sol, nas imediações do lavadouro (aspeto)
Foto nº 21 B > Teixeira Pinto > Fev 1972 > A roupa a corar ao sol, nas imediações do lavadouro (aspeto)
Foto nº 17 > Junho de 1972 > Saídas de Teixeira Pinto para o Cacheu
Foto nº 18 > Junho de 1972 > Saída de Teixeira Pinto para o
Pelundo,
Foto nº 24 > Outubro de 1972 > Teixeira Pinto > Venda livre no meio da Avenida. À esxquerda a Maria Helena Gamelas
Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas , ex-alf mil cav., cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) [foto tual à direita]
(*).
Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. (**)
Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal
franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
2. Sobre as fotos de hoje, tomamos a liberdade, com a devida autorização do autor, de reproduzir o poema que ele escreveu no seu livro: "As lavadeiras" (pp. 48-51).
Todos nós nos recordamos da nossa lavadeira (, memso tendo esquecido o seu nome), e do dia da entrega da roupa lavada e da recolha da roupa suja... Sem dúvida, que era um dia que trazia alegria, cor, beleza e humanidade à parada do quartel...
O Francisco traça aqui um quadro pitoresco, bem humorado mas nem por isso acrítico desse verdadeiro "serviço público" que nos prestavam as nossas lavadeiras. Quase todos os militares tinham a sua lavadeira, pelo menos nos aquartelamentos onde havia população ou famílias de milícas ou de soldados do recrutamento local.
Uma ou outra lavadeira, em meios mais "urbanizados" (sede de circunscrução, sede de posto, em geral nas localidades mais importanmes, sede de batalhão...) também podia fazer "favores sexuais", mas, por mor da verdade e da honra de todos, há que dizer que eram a exceção. E se o faziam era por "livre consentimento"...
Na Guiné, e contrariamente ao que alguns poderiam pensar, nunca nos comportámos como verdadeiros "ocupantes militares",,, Até por que muitas bajudas ou mulheres grandes que completavam o seu magro orçamento familiar com o serviço de lavadeira, eram filhas, irmãs ou parentes dos nossos camaradas guineenses... Fulas ou mandingas em Bambadinca, manjacas em Teixeira Pinto...
O Francisco ainda se lembra do nome da sua lavadeiera, era a Aline, era uma verdadeira "instituição", pertencente à "cavalaria": passava do
velhinho "alfero das Daimler" para o
periquito que o vinha render...Dedica-lhe inclusive um ternurento poema; "A minha lavadeira Aline" (p. 54), que começa assim; A Aline 'herdou-me'... Mas quem quiser saber o resto, que compre o livrinho...
O autor também tem inclusive, no livro, duas fotos da sua "Aline" com a sua "Lena"... A Maria Helena Gamelas, quando chegou a Canchungo, também herdou muito naturalmente a Aline... Em Roma faz como os romanos...E, calhar, lá em casa, a Aline também fazia o resto da lide doméstica, já que a Maria Helena era.professora de português na escola local, não era apenas a senhora do senhor alferes...
Curioso, noutros territórios como Angola ou Moçambique, havia maior tendência para recorrer aos homens para os serviços domésticos... Caso dos "mainatos", em Moçambique, que lavavam e engomavam a roupa... Não sei se as nossas praças, no TO da Guiné, ganhando mal, se podiam dar ao luxo de ter uma lavadeira... que poderia custar 50 a 100 pesos por mês... Nem todos teriam lavadeira, muitos lavavam a sua própria roupa, que também não era muita... E ao fim da comissão (se durasse até ao fim da comissão) estava feita em farrapos,de tanto uso e de tanto ser batida na pedra da margem do rio...Aliás,
velhinho que se prezasse andava com o camuflado todo esfarrapado e desbotado...
Recordo-me bem da minha lavadeira, em Bambadinca, mas já não do seu nome... Era jovem, mandinga, já não era bajuda, tinha um filho ou filha, de tenra idade... A mãe tinha pelo menos um "filho do vento", de uma ligação com um militar que estivera, em Bambadinca, talvez do início da guerra... Nunca explorei essa história, mas sei que a minha lavadeira era um mulher "marcada pela vida", "antipática", "amarga", "sofrida"... De vez em quando, perdia-me roupa, nunca a penalizei...
Por outro lado, havia graduados, privilegiados, que tinham morança fora do quartel... Em Bissau, em Bambadinca, em Bafatá, talvez em Teixeira Pinto, e em muito poucos mais sítios, por razões de segurança... Nalguns casos eram casados e podiam ter uma "empregada doméstica"...
Tenho ideia de que em Bambadinca as lavadeiras tinham acesso, infornal, aos quartos de oficiais e sargentos... E alguns (poucos...) tinham "intimidades" com as lavadeiras... Provavelmente era contra as mais elementares regras de segurança (e de bom senso). mas em sítios como Bambadinca tudo podia acontecer... Quem é que não estava farto da guerra, a começar pelos soldados básicos que tinham alucinações, com elefantes à noite a pastar junto ao arame farpado, e terminando no topo da hierarquia, com os oficiais superiores do batalhão que viviam em pânico só com a ideia do Spínola de lhes aparecer, assim de repente, de helicóptero, vestido de Pai Natal, e com um par de patins como prenda ?... (LG)
As lavadeiras
por Francisco Gamelas
Serviço público por excelência,
este de nos lavar a roupa suja.
Ranchos de jovens mulheres nativas
cuidavam de manter apelativas
as roupas dos brancos, cuja
paga era duma esmola a evidência.
Além da roupa, num ou noutro caso,
também prestavam outros serviços.
Quando a procura é muita, é natural
que a oferta surja de forma banal.
Mas, os eventuais mulatos castiços
não se viam, e não seria por acaso.
Nos dias das lavadeiras, o quartel
fervilhava de trouxas nas cabeças
de jovens negras esguias e brilhantes
que uma miríade de cores exuberantes
cobria generosamente como peças
dum quadro vivo evoluindo a granel.
Um zumbido de assobios, gargalhadas
e ditos jocosos cria uma núvem sonora
que agita e envolve magotes de militares
junto das lavadeiras, dando-se, eles, ares
e elas, cúmplices, não se põem de fora
jogando nos risos e falas embrulhadas.
É um momento de escape e libertação,
talvez mais para eles do que para elas,
tudo sem excessos comportamentais,
em espaço aberto, à vista dos demais.
A festa é curta, não deixando mazelas.
Há que retomar cada um a sua função.
Francisco Gamelas.
In "Outro olhar - Guiné 1971-1973*, ed. de autor, Aveiro, 2016, pp. 48-51,
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 14 de junho de 2016 >
Guiné 63/74 - P16201: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte III: Canchungo e o amor em tempo de guerra
(**) Vd. 20 de maio de 2016
Guiné 63/74 - P16113: Nota de leitura (840): “Outro Olhar, Guiné 1971-1973”, por Francisco Gamelas, edição de autor, 2016 (Mário Beja Santos)