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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26521: Humor de caserna (103): Conversa de barbeiro na metrópole: "Cuidado com o Pilão, um gajo entra e sai de lá com a cabeça debaixo do braço!" (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QQ/CTIG, set 734 / set 74)


1. Quem disse que os portugueses não sabem rir-se de si próprios ?... Talvez os italianos não saibam, nem os alemães, ou os "amaricanos".., Mas os "tugas", desde o berço da nacionalidade até, pelo menos,  às "campanhas de pacificação" nos Algarves d'aquém e d'além-mar em África, depressa aprenderam que chorar no molhado não adiantava nada, dar de beber à dor podia ajudar, cantar o fado fazia bem à alma...  mas nada melhor do que  uma boa anedota "para desenrascar a coisa".... Uma anedota,  uma "estória", não sobre o vizinho mas sobre si próprio (o alentejano, o alfacinha, o tripeiro, o marafado, o bimbo, o ilheu...).

O Abílio Magro é um rapaz do Norte, e escreveu aqui alguns peças de antologia do nosso bom humor de caserna, na série "Um amanuense em terras de Kako Baldé"...(Claro que o mau humor não nos  interessa, dispensa-lo, não ajuda o moral da tropa quando está enrascada...).

Para quem não o conhecer (ou já não o reconhece) o Abílio Magro foi fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74)... Trocado por miúdos: Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné (e não da Guiné Independente!)... Entrou para a Tabanca Grande em 2013 e tem mais seis dezenas de referências no blogue (*).

Seguramente caso único na história das nossas "guerras da descolonização" (como dizem agora os senhores historiadores...), ele é proveniente de "uma grande família de combatentes, pois, de 8 irmãos (6 rapazes e 2 raparigas) todos os machos foram dar com os costados nos vários TO (Angola, Moçambique e Guiné), chegando a estar 5 irmãos (todos milicianos) ao mesmo tempo, a cumprir serviço militar, dos quais 4 no Ultramar)"...

Dos 8 irmãos ele era (e é, felizmente está vivo) "o mais novo" e regressou da Guiné "em setembro de 1974, com a Guiné já independente e com guerrilheiros do PAIGC a fazerem patrulhas em Bissau, em conjunto com a nossa PM" (sic)...

Não tem nenhum cruz de guerra, mas gaba-se de ter honrado a sua família, e os seus pergaminhos, como Valente e Magro que é... Leiam ou releiam esta história que o Raul Solnado, se fosse vivo, adoraria por certo contar... (**).

 
Humor de Caserna - Um patrulhamentos no Pilão

por Abílio Magro


Durante os cerca de 30 meses em que permaneci nas fileiras do Exército, em cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, muito enriqueci o meu vocabulário à custa da chamada "linguagem de caserna", particularmente na Guiné. E se, em relação aos vocábulos "ordinários", pouco tinha a aprender, confesso, já no que se refere a expressões mais "pacíficas", o ganho foi substancial.

Efetivamente aprendi e usei expressões (e ainda uso algumas) que, embora sendo consideradas calão, não são pejorativas e fazem, também elas, parte integrante da história de uma época e de um contexto onde todos nós, ex-combatentes, vivemos durante algum tempo da nossa juventude. Com o fim da guerra colonial, muitas daquelas expressões caíram em desuso e, para que se preserve este valioso património, tentarei usar e abusar, nesta Tabanca. de expressões usadas entre os militares em serviço na Guiné e que me ficaram na memória.

Dito isto, vamos aos "famosos" patrulhamentos no Pilão.

O Pilão (assim designávamos habitualmente o Cupilom) era o maior bairro negro de Bissau e situava-se perto das instalações militares de Santa Luzia, onde estava instalado o QG/CTIG. Era composto por numerosas tabancas, sem energia eléctrica, sem água canalizada e sem rede de esgotos. Era ali que vivia a maior parte da população pobre de Bissau. Era também ali que havia "manga de fudi-fud
i" (1) e onde muitos militares iam "desenferrujar o prego". À noite era perigoso andar por ali sozinho.

Recordo-me de, ainda na Metrópole e terminadas as férias que antecediam o embarque, ter-me deslocado a uma barbearia para um corte de cabelo curto, e o barbeiro que me atendeu ter-me perguntado se ia para a tropa. Tendo-lhe respondido que não, que já lá andava há quase um ano, mas que ia para a Guiné, ele logo me avisou:

− Cuidado com o Pilão, um gajo entra e sai de lá com a cabeça debaixo do braço!

Fiquei esclarecido.

Efetivamente, vim a constatar depois que, à noite no Pilão, havia constantes conflitos por variadíssimas razões, entre as quais o "fudi-fudi". Era também habitual o rebentamento de granadas naquela bairro e constava até que por lá havia muita gente simpatizante do PAIGC e que alguns guerrilheiros ali vinham passar os fins de semana, recolhendo informações.

Os patrulhamentos estavam a cargo do pessoal da CCS do QG/CTIG e eram efectuados em três turnos; 20h-24h, 24h-04h, 04h-08h e eram controlados por um Capitão do COMBIS (Comando de Defesa de Bissau).

E é neste contexto que este vosso camarada "operacional do ar condicionado", apenas com alguns dias de Guiné, é chamado a efetuar o seu primeiro patrulhamento nocturno ao Pilão. 

"Piriquito"(2) como era, estava decidido a seguir à risca todas as instruções que me fossem transmitidas para o efeito.

Munido de G3, telemóvel matulão (já não sei como se chamava aquilo, talvez "banana") e um croquis mal-ajambrado, com notas escritas à máquina e envolto num plástico transparente, lá vou eu comandar uma patrulha de seis homens, transformados em guardas-nocturnos.

Vamos de Unimog e largam-nos no local indicado no croquis. Este, tinha aspeto de já ter cumprido dezassete comissões e apresentava-se com a farda toda esfarrapada. Isto é: o plástico estava a desfazer-se e o papel mal se conseguia ler. Então de noite, sem luz, era giro!

Mas eu estava determinado a fazer tudo certinho e direitinho (era mesmo muito "pira"!
(2)...  E esforço-me por estudar o croquis, quando um elemento da patrulha me diz que o télélé tinha lanterna, o que me levou a concluir que, afinal, a tropa portuguesa estava bem equipada. 

Às apalpadelas tentei acertar com o botão respetivo, mas acabou por ser o tal elemento da patrulha a dar à luz. Logo pensei: 

− Este deve ser engenheiro.

Os caracteres esbatidos daquele croquis já se me apresentavam mais legíveis e tratei de perceber qual o trajecto que teria de seguir para cumprir cabalmente a missão que me havia sido confiada, quando dou com o seguinte fragmento de texto: 
"(...) junto a um mangueiro com uma faixa branca (...)."

− Porra! Esta merda está toda rota, a luz é fraca comó caraças, um gajo num bê a ponta dum chabelho e, ainda por cima, estes gajos num sabem escreber, ou estom a gozar comigo?!...  Como é que bou encontrar uma mangueira com uma risca branca, no meio desta escuridom?! Tá tudo doido!,,, 

Em 1973, com 4 ou 5 dias de Guiné, sabia lá eu que existiam mangueiros!

Fartei-me de olhar para o chão à cata da tal mangueira! Resumindo: perdi-me completamente e, a páginas tantas:

 
Kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto!... Kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto.

O télélé tinha acordado:  era o Capitão do COMBIS!... Respondo:

−  Celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto!... Celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto!...  (Duas vezes,  tinham-me dito que era assim).

Do outro lado respondem:

− Kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto!... Kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto.

E eu novamente:

 Celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto! ... Celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto!

Aquilo até estava a ser giro, mas o tal engenheiro diz-me:

− Meu Furriel, tem de carregar num botão aí ao lado!... 

O  tipo sabia mesmo daquilo!.. Carreguei no botão, mas a conversa continuava monótona como tinha começado:

− Kalar, kalar para cá, celta, celta para lá...

 E já começava a chatear!... Então o engenheiro diz:

 Meu furriel, tem um botão de cada lado, tem de carregar nos dois ao mesmo tempo!

Aí convenci-me mesmo que o bacano era engenheiro, e dos bons! Talvez electrotécnico.

Bom, lá consegui chegar à fala com o Capitão que me perguntou onde é que eu estava, e eu lá tive de lhe dizer que me tinha enganado no autocarro, que era a primeira vez, etc. e tal... E ele lá me disse que estava junto à igreja, o que me deixou mais sossegado pois, provavelmente, estaria em meditação e dava-me algum tempo para lá chegar. Como não fazia a mínima ideia onde ficava a igreja, perguntei ao pessoal e um dos negros que compunham a patrulha lá nos encaminhou.

Chegados lá, nem Capitão, nem Padre, nem Sacristão, nem o raio que os parta! Recomeça a cantoria:

 Kalar, kalar...

A sério que me apeteceu mesmo mandá-lo calar, mas lá carreguei nos dois botões (a gente está sempre a aprender) e o Capitão pergunta-me:

− Então, onde é que você anda?!

O tom de voz dele já não me estava a agradar. Respondi-lhe com alguma sobranceria:

 Estou junto à igreja!

E ele:

− Junto à igreja estou eu e não vejo aqui ninguém!

Eu, afinal, estava junto a uma mesquita!!!

- Ai meu Deus que desta é que eu vou parar a São Crincalho!... (Já me estava a imaginar no centro de Madina de Boé a fazer patrulhamentos com uma moca de Rio Maior na mão e uma fisga no bolso!)

Lá me explicou mais ou menos onde ficava a igreja e, como o pessoal mostrou conhecer o caminho, para lá avançamos a todo o vapor! Lá chegados, continuei com as minhas desculpas e não notei nele grande ressentimento. Julgo que era capitão miliciano. Assinei o mapa de controlo e lá me embrenhei novamente na "densa mata", até ser rendido.

 
Guiné > Bissau > Tabanca do Pilão > s/d (c. 1968/70)

Foto do álbum do ex-1º cabo mec auto, CCAÇ 2381 (1968/70)

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Eu era de rendição individual, estava há três ou quatro dias na Guiné e ainda não tinha tido tempo para conhecer todos os "cantos à casa". Vim mais tarde a saber como a "coisa" funcionava e, até ao fim da comissão, agi de acordo com as regras vigentes e..., "tá na mala!"(3)

Então era assim: o Capitão do COMBIS ligava para o Oficial de Prevenção, alferes miliciano, informando-o da hora e local onde seria efectuado o controlo. O Oficial de Prevenção avisava o Sargento de Ronda. Este seguia diretamente com a patrulha para perto do local de controlo e, minutos antes da hora marcada, avançava destemido para o "objetivo". Nunca falhava!

Eu nunca dormia (forte sentido de responsabilidade), mas algum pessoal era "tiro e queda!".  Uma das vezes dei comigo a guardar seis bacanos a ressonar! 

− Oh c'um carago, mas que é isto?! Tudo a ferrar o galho e eu aqui feito camelo, de sentinela,  a velar por eles?!... Toca a acordar, pessoal, vamos dar uma volta que estou a ficar com frio! 

Acordaram e lá foram, meio a resmungar.

Em setembro de 1973, vim de férias à Metrópole e, regressado a Bissau, "tugas, bora lá alinhar" numa rondazinha ao Pilão.

Era o turno das 20h às 24h, o pior em termos de conflitos. Eu tinha regressado no dia anterior e estava atarefado a tentar descansar da azáfama das férias. Sossegadinhos no canto de uma tabanca (do lado de fora, claro), fomos sobressaltados com o rebentamento de uma granada. Ouvi, registei e esperei. Logo de seguida, rebenta outra, depois outra... 


− Mau, vim ontem de férias e ainda me sinto em convalescença e com pouca vontade de entrar em "festas"!... Continuam a rebentar - tenho de ir, pois vai aparecer o COMBIS de certeza.

Inicio, então, a deslocação das tropas exatamente em sentido contrário ao do som dos rebentamentos (cautelas e caldos de galinha...). O pessoal alerta-me, mas eu não ouço. É para este lado e "mai nada!"

Rebenta mais outra e aqueles "camelos" insistem:

 Meu Furriel é para ali!...   (Militares impreparados!).

Lá tive de inverter o sentido da marcha. Aqueles gajos não estavam a facilitar nada.

 Calma, nada de pressas 
− ordenei eu!

Entretanto rebenta uma granada incendiária que provocou um grande clarão e pude ver que já lá se encontrava alguma tropa e,  aí sim, acelerei a marcha. Não façam já juízos precipitados! Acelerei a marcha, não porque me sentisse mais seguro, mas porque estavam lá camaradas meus que podiam necessitar da minha ajuda (a isto chama-se altru~ismo!).

O Capitão da COMBIS manda-me fazer um cordão de segurança ao local (eu mais 6 homens, quando muito uma cordinha!), pois estava uma granada descavilhada junto à porta de entrada da casa de um 1º Sargento e era preciso fazer segurança aos homens que iriam tentar resolver o assunto. Aquela granada podia rebentar por simpatia a qualquer momento. Colocaram sacos de areia junto à entrada da casa.

Pensou-se em dar um tiro de longe à granada, mas não seria fácil acertar-lhe e, além disso, parece que havia uma determinação qualquer que não permitia tiros em Bissau.

Se algum tabanqueiro tiver informações acerca do assunto, seria interessante divulgá-las aqui na Tabanca, pois sempre me pareceu absurda a ideia, tanto mais que era frequente o rebentamento de granadas, mas realmente e apesar da quantidade de armas que por ali circulavam, nunca tive conhecimento de cenas de tiroteio em Bissau. Talvez eu andasse distraído, não sei.

Aquilo demorou uma eternidade. Toda a gente dava palpites e eu, experimentado como era no assunto, também dou o meu.

 
− E se se abrissem algumas munições e se fizesse no chão um carreiro de pólvora até à granada e se espalhasse em cima desta alguma pólvora ? !... Depois, era só chegar fogo à pólvora no início do carreiro e protegermo-nos.

A sugestão foi bem recebida, mas o pior veio a seguir. Era preciso um voluntário... 

− Querem ver que estes gajos estão a pensar na minha pessoa para pôr em prática o meu plano?!...Estão doidos!

Realmente, isto de fazer planos para os outros executarem é muito lindo. Não deixavam de ter razão, mas eu tinha regressado de férias no dia anterior, carago! Era só por isso, mais nada. E não é que um bacano do meu grupo de combate se oferece como voluntário?! 

− Este gajo é maluco! Esta merda ainda rebenta, o gajo vai pelos ares, e eu fico com um molho de brócolos nas mãos, do carago!

O bacano lá começa a fazer o carreiro de pólvora até à granada e eu sempre a rezar para que ela se aguentasse muda e queda e a pedir que o bacano se despachasse. Quando chega à granada e começa a despejar pólvora em cima dela, eu já tremia todo só de imaginar a gaja a explodir, o bacano a ficar feito em fricassé e eu a  sentar o cu no mocho...

Lá terminou sem problemas aquela tarefa e, então, chegou fogo à pólvora. Todos nos abrigamos a aguardar os acontecimentos. A pólvora lá foi ardendo pelo carreiro e, quando chegou à granada, dá-se um clarão e... um autêntico flato em pantufas!... A gaja não rebentou, chegou o pelotão para me render, eu regressei a quartéis e no dia seguinte soube que lá tinha ido o pessoal das minas e armadilhas que tratou do assunto.

A esta distância (40 anos, em 2013) estes episódios são relatados com esta ligeireza da "calma, descontração e estupidez natural", mas não deixei de apanhar alguns cagaços, pois temos de levar em conta que o meu nome completo inclui os apelidos Valente e Magro e que, o último me assentava na perfeição, à época.
__________

Notas do autor:

(1) - "manga de fudi-fudi" - muito sexo

(2 - "piriquito" ou "pira" (abrev.) - expressões que designavam um militar recém chegado à Guiné e cujo camuflado, com pouco uso, nos levava a assemelhá-lo ao periquito verde da
 Guiné (papagaio do Senegal).

(3) - "tá na mala!" - Está feito, siga! 

____________

Notas do editor:

(*) 13 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10935: Tabanca Grande (381): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (1973/74), 600.º tabanqueiro desta tertúlia

(**) 11 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26485: Humor de caserna (102): o macaco-fidalgo ou "fatango"... "ó meu alferes, parecia que era um gajo... dos turras!" (Alberto Branquinho)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26280: Humor de caserna (88): Será que no Pu...erto, no Natal de 2024, ainda se fala "grosso" como no nosso tempo da tropa ? Aqui vai um excerto do "dicionário Lisboa-Porto" (com a devida vénia ao doutor José João Almeida, da Universidade do Minho, autor desse livro meritório e patriótico , que é o "Dicionário de Calão e Expressões Idiomáticas", Lx., Guerra e Paz, 2019, 192 pp.)

1. Na Guiné toda malta do Sul (genericamente, os "mouros") achavam piada aos nossos camaradas do "Pu...erto" e arredores, o mesmo era dizer do Norte.  

Nesse tempo viajava-se pouco. Afinal, quem tinha carro ? E graveto ? E estaleca ? E namorada a 300 km de distância ? 

A malta só se conhecia quando havia guerra, e os do Sul iam pró Norte e os do Norte pró Sul... Era preciso a tropa (e a guerra) para uns e outros começarem  a gostar-se mutuamente, a namorar-se (salvo seja!), a casar e a misturar os genes... 

A emigração também foi um bom laboratório para a miscegenação: uns e outros encontravam-se em Paris, Luxemburgo, Estrasburgo, Toulouse, Lyon, Bruxelas, Toronto, Nova Jérsia, etc. 

E antes disso a CP - Caminhos de Ferro de Portugal... Aponta aí a CP, que uniu o Norte e o Sul, o litoral e o interior...Os gaj0s de Baião iam p'ró Barreiro e os da Fuseta para o Pocinho... Factores, manobradores, um ou outro maquinista, chefe de estação, revisor, inspetor, etc.

E, não sejamos injustos, o Movimento Nacional Feminino e os milhões de madrinhas de guerra que a "Cilinha" arranjou para os nossos bravos do Ultramar...600 milhões de cartas e aerograms baralharam línguas, corações, SPM, topónimos, rua, largos, praças, pracetas, lugares, casaism aldeias, vilas, cidades... E às tantas eles elas já trocavam os pés pelas mãos, e os vês pelos bês...E as alftacinhas passaram a amar o Porto que os primos e amigos, com dor de corno, diziam que era uma cidade de granito, escura, austera, suja e fria...

De facto, até então, até à tropa, até ao grande êxodo rural, até à emigração, à CP e a à Cilinha,  quem é que, do Sul, sabia onde ficava a Pasteleira e a Ribeira?!... E os gajos do Norte ainda não tinham o mapa do Google, nem muito menos GPS,  para descobrir a localização do Casal Ventoso ou de Alfama ou de Cacilhas... 

Resultado: o desconhecimento mútuo era atroz, alfacinhas e tripeiros falavam sozinhos quando, de repente, embarcaram nos T/T Niassa, Uíge, Ana Malfada, etc.,  a caminho da Guiné... E viram-se à brocha, de G3 em punho contra as Kalash do 'Nino'...

Mas uma vez lá, aprenderam a falar crioulo, p0nto de partida para começarem a entender-se minimamente... embora com recurso, de vez em quando, ao "Dicionário de calão e expressões idiomáticas" (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2019, 192 pp),  do José João Almeida, da Universidade do Minho, finalmente editado em livro, uma obra meritória e patriótica, que há 50/60 anos ou mais deveria já a ser livro obrigatório na Academia Militar, bem como nos centros de instrução militar...

Em formato digital, em pdf, a obra está também disponível (para os falantes, estudiosos e curiosos) em:

Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2024, 287 pp.
Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
 

2. E aqui vai um "cheirinho", uma "prendinha e Natal", tudo "por  mor" da melhoria da comunicação Norte-Sul e vice-versa... Excerto pp. 84.

dicionário Lisboa Porto

Lisboa: 

– Não tenho a certeza se vai ser possível!

 Porto: 

Nem que tu te f*das!

Lisboa: 

 – A sério? E incrível! Diria mesmo impressionante!

 Porto: 

– P*ta que o p*riu!

Lisboa: 

– Claro que isso não me preocupa!

Porto: 

Tou-me a c*g*r e a andar!

 Lisboa: 

Eu não estava envolvido nesse projeto!

 Porto: 

Mas que c*r*lho é que eu tenho a ver com essa m*rda?

 Lisboa: 

Interessante, hein?

 Porto: 

F*da-se!

 Lisboa: 

Será difícil concretizar a tarefa no tempo estipulado!

 Porto: 

Não vai dar nem que me f*da todo!

Lisboa:  

– Precisamos melhorar a comunicação interna!

Porto:

 – P*ta de m*rda!... Não há nenhum c*ralho que me responda???

 Lisboa: 

Talvez eu possa trabalhar até mais tarde!

 Porto:

 – E no c*?... Não queres levar no c* também???!!!

 Lisboa: 

Não está familiarizado com o problema!

 Porto:

 Cala-te, c*r*lho!

Lisboa: 

– Desculpe!

Porto:

 – Vai pá p*ta que te p*riu!

 Lisboa: 

 Desculpe, senhor!

 Porto: 

Vai pá p*ta que te p*riu, seu p*neleiro!

 Lisboa: 

Acho que não posso ajudar!

Porto:

 – F*de-te praí sozinho!

 Lisboa:

 Adoro desafios!

Porto:

 –  P*ta trabalhinho de c*rno!

  Lisboa:

 Finalmente reconheceram a tua competência!

 Porto: 

Foste ao c* a quem?

Lisboa: 

É necessário um treino para o pessoal antes de ligarem a máquina!

Porto: 

– Vou partir os c*rnos a quem mexer nesta m*rda!

Lisboa: 

– Eles não ficaram satisfeitos com o resultado do trabalho!

Porto: 

– Bando de filhos da p*ta!

Lisboa: 

– Por favor, refaça o trabalho!

Porto: 

Enfia  essa m*rda no c*, está uma bela m*rda!

Lisboa: 

– Precisamos reforçar nosso programa de treino!

Porto: 

– Se sei quem foi o filho da p*ta que fez isso...!

◦ Lisboa: 

E necessário melhorarmos nossos índices de produtividade!

Porto: 

E se fossem bater a p*nheta pró meio da rua???!!!

 Lisboa: 

Que pena. Teremos outra não conformidade!

Porto: 

C*r*lho! vai sair c*g*da outra vez!

Lisboa: 

Vamos negociar o projecto com mais determinação!

Porto: 

Vou enfiar isto pela goela abaixo desses filhos da p*ta!

Lisboa: 

Desculpe, eu poderia ter avisado!

Porto: 

Eu sabia que ia dar m*rda!

Lisboa: 

Os índices de produtividade da empresa estão a apresentar uma queda sensível!

Porto: 

Esta m*rda tá a ir pró c*r*lho!

Lisboa: 

Esse projecto não vai gerar o retorno previsto!

Porto: 

 Tá tudo f*dido!

(Seleção, Revisão / fixação de texto, asteriscos, negritos, itálicos: LG)


___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26274: Humor de caserna (87): A virilidade lusitana: das bagas do Sambaro ao estoicismo do Sousa (Jorge Cabral, 1944-2021)

terça-feira, 16 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25396: Humor de caserna (58): O anedotário da Spinolândia (IX)... O "Fugitivo", por Manel Mesquita ("Os Resistentes de Nhala, 1969/71", s/l, ed. autor, 2005, pp. 130/132)


Capa do livro do Manel Mesquita, 
"Os Resistentes de Nhala", ed. de autor, 2005, s/l, 2055, 144 pp. 
(Gráfica: Quadra - Produções Gráficas Lda, Vila Nova de Gaia.)
(Contactos do autor: tel 22 762 07 36 | telem 963 525 912)


1. Não havia só as anedotas do "Caco Baldé", ou do "Gasparinho"... Havia uma Spinolândia, do Cacheu ao Cacine... Naquela guerra, todos os bons pretextos para um gajo se rir ajudavam a passar o tempo e amenizar as agruras do arame farpado e das operações no mato (*)... 

Há "cromos" que ficam para a eternidade, "grafados" no papel. Outros vão desaparecer dos neurónios da nossa memória.  Já aqui citámos alguns dos "heróis" do livro do Manel Mesquita,   "Os Resistentes de Nhala, 1969/71" (ed. de autor,  s/l, 2005, 144 pp.), como por exemplo o Mário...

O Mário já estava farto de estar na Guiné e um dia encheu-se de coragem e interrompeu o general, em plena parada, em Aldeia Formosa, para expor a sua situação: "Vossa Excelência, meu general, dá-me licença ?" (**)...

O general deu-lhe "licença" e o Mário ganhou um "bilhete" para regressar a casa  no primeiro barco... A história foi contada pelo Manel Mesquita, o autor dos "Resistentes de Nhala",  soldado da CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Bissau, Nhala e Aldeia Formosa, 1969/71). 

O nosso crítico literário já lhe dedicou em tempos, ao livro e ao seu autor (que conheceu a caminho de Fátima), duas saborosas e generosoas "notas de leitura" (***)

(...) "Este testemunho deixa-me emudecido, o Manel é um coração pacífico, nunca mais esquecerá Nhala. E o que ele vai registar de tipos humanos, camaradas que encontrou, gente inesquecível, é surpreendente." (...) 

Nessa galeria de figuras humanas, do tempo da Spinolândia, está o "Fugitivo"... Merece figurar aqui num poste, na montra grande do nosso blogue. Não sei se o Spínola o conheceu, mas deveria, por certo, de gostar de o conhecer. Nós gostámos e pedimos licença ao Manel Mesquita para partilhar o seu retrato-robô com os nossos leitores. É um retrato feito a traço grosso, convenhamos. Mas o leitor vai-se rir a bandeiras despregadas, como nós rimos. 

É uma figura bem típica da "literatura  pícara" da nossa guerra. Como é nosso timbre, não fazemos juízos de valor sobre os nossos camaradas... A verdade é que "a tropa mandava desenrascar"... E o "Fugitivo" era um militar desenrascado... À letra, desenrascado é alguém que se sabe "livrar de um perigo, de apuros, de dificuldades."...

Reproduzimos aqui, com a devida vénia, essas duas páginas do livro. É também uma homenagem aos "resistentes de Nhala", os bravos da CCAÇ 2614.


O "Fugitivo"

por Manel Mesquita

O "Fugitivo" era natural e residente no concelho de Sintra. Era fisicamente muito baixo e entroncado, um artista a jogar futebol, preferia o lugar de médio atacante.

Quando fomos para a recruta, rodava na televisão uma série com o nome "O Fugitivo". Ele assentou praça com um braço ao peito por fratura. Como havia outro, o outro levou com a alcunha de "Maneta". E o nosso Manuel Pedro M... levou com a alcunha de "Fugitivo". 

Nunca se importou. Era uma pessoa alegre e com sentido de humor. 

(i) A tomar banho, um dia, deu nas vistas o seu curto pénis, foi motivo de chacota durante toda a comissão, principalmente na presença de mulheres africanas. Ele não desarmava, dizia que era proporcional ao corpo.

(ii) Quando veio de férias, gabou-se e passou a constar-se que andava com uma determinada moça jeitosa e com dote. Tinha barba muito forte, uma manhã foi ao barbeiro, todos os cumprimentaram o recém-chegado e deram-lhe a vez. 

Quando o barbeiro lhe passava a navalha de barba pela parte da frente do pescoço, perguntou-lhe:

− Então você é que é o tal que se gaba que anda a comer a minha filha?!

O Manel Pedro (como é lá conhecido) perdeu o sentido de humor, quase perdia a fala:

− Eu?!..., na, na, eu não!... É mentira. Isso é uma grande mentira..., eu até nem gosto de mulheres!!!...

O barbeiro voltou-se para a sua mesa de trabalho, passando a navalha pelo assentador.

O "Fugitivo" mostrou  por que lhe chamavam tal nome: levanta-se da cadeira, larga as toalhas e, junto da porta, grita para dentro:

− Eu... eu até sou paneleiro!

Fugiu da barbearia com a barba meia feita e meia por fazer e toda por pagar, nunca mais  por ali ele quis passar. 

Mostrou, mais uma vez,  que não foi por acaso  que o batizaram como "Fugitivo". Ficou então a saber a que a tal Maria do Carmo era a filha do barbeiro...

(iii) Quando convidado para um petisco, era sempre o primeiro a aparecer. Era um bom garfo! Para trabalhar e para as saídas (para o mato) era sempre o último. Quando preparávamos a saída, o alferes perguntava se estava o "Fugitivo"; se sim, estava tudo, podíamos sair.

Escapava-se,  sempre que podia,  às faxinas e outros serviços de quartel.

(iv) Um dia segredou a um de nós que a namorada se queixava que nos aerogramas e cartas não lhe mandava palavras doces... Então o "Fugitivo" encheu-lhe uma aerograma de palavras como: marmelada, geleia, mel, açúcar, compostas, etc., isto para o pequeno-almoço;  para o almoço: laranjas, tangerinas, etc.; para  o lanche, marmelada, mel, geleias, etc.; para o jantar:  uvas, figos, maçãs, pêras, etc. 

(v) Um colega estava com uma máquina fotográficas na mão, ele meteu-se  todo dentro de um bidão e... pediu-lhe:

− Tira-me uma fotografia de corpo inteiro para mandar à moça.

(vi) Num dos patrulhamentos, parámos para descansar junto à "Bolanha dos Passarinhos". Tirou a carga para descansar e,  quando levantámos, nunca mais se lembrou que deixara ali no chão o cano suplente da HK 21. 

Quando chegou oa aquartelamento deu pela falta. Preocupado, disse a todos a enrascada  em que estava envolvido, que tinha que ir lá  buscar o cano. 

Como raramente falava a sério, ninguém se acreditou. Era noite, preparou-se e começou a ir sozinho. Foi aí que o pessoal se acreditou, e apareceram voluntários a comunicar e a pedir autorização ao capitão para ir ao local.

O "chefe" comprendeu a aflição do soldado e mandou uma viatura. Soubemos que havia correio em Buba, aproveitámos  e fomos lá buscar o que para nós era importante receber. A viatura avariou, e não havia mecânico. Desenrascámo-nos, mas chegámos ao aquartelamento era quase meia-noite, sem jantar e sem comunicações com ninguém, mas já com o cano que era considerado material de guerra.

(vii) Dizem que um dia mandou dizer à mãe (não sei esta é verdade, ele nega; "lerpar" era um calão que queria dizer, para nós, morrer)... Ter-se-á referido a um colega duma aldeia vizinha, nestes termos:

− Minha mãe, o ... (nome do fulano) lerpou. Vai antes do tempo. Um dia destes ele vai chegar aí, num barco.

Na volta do correio, a mãe respondeu-lhe:

− Meu filho, vê se lerpas também, para vires mais cedo daí! 

(Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG)

Fonte: in Manel Mesquita, "Os Resistentes de Nhala", ed. autor. s/l, 2005, pp. 130/132.
(Gráfica: Quadra - Produções Gráficas Lda, Vila Nova de Gaia.)

 ______________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 26 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25308: O Spínola que eu conheci (36): A história do Mário, da CART 2478, contada pelo Manuel Mesquita, da CCAÇ 2614 ("Os Resistentes de Nhala: 1969/71", ed. autor, 2005)

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24898: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): Pequeno glossário do português... à moda do Porto


Porto > 2016 > Zona Histórica do Porto > "Pormenor do Morro de Penaventosa visto do miradouro da Vitória. Casario, Sé Catedral, Paço Episcopal e Igreja de S. Lourenço, mais conhecida como Igreja dos Grilos"... 

Foto (e legenda) do nosso saudoso camarada, e grande fotógrafo, amante da "Invicta", o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017) (ex-Fur Mil Arm Pes Inf, Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), membro do Bando do Café Progresso.  Publicada  no seu blogue A Vida em Fotos (2 de setembro de 2016), que ele criou em março de 2010 e que alimentou, com grande rigor e  paixão, até fevereiro de 2017, a escassos dois meses de morrer (7 de abril de 2017). É  uma das mais completas fotogalerias do Porto, que eu conheço.  Foto reproduzida aqui com a devida vénia... e com muita saudade.


1. Nesta série sobre os "falares" da gente do nosso tempo de meninos e moços (*), não podia faltar o calão e a gíria do Porto, que é mais do que a cidade, a zona histórica, a  Invicta... "O Porto é uma "Naçom", o Porto e o Grande Porto, ultrapassando as barreiras físicas do rio Douro e da estrada da circunvalação.  

Os nossos camaradas do Norte até trocavavam os bês pelos vês, de indignação,  se a gente não postasse aqui o "galizo" deles... Ora eu não quero que eles digam que eu tenho a mania de ser "dono da estação de São Bento", até porque já tenho uma costela nortenha (daqui a dois anos  vai fazer meio século desde que "cambei" pela primeira vez o rio Douro, na Arrábida, e depois o Tâmega,  em Canaveses)... 

Para que não me chamem mouro, sarraceno, sulista, e outros mimos, aqui vai uma pequena amostra que recolhi, em cima do joelho,  e que atesta a riqueza, a plasticidade, a criatividade, a graça, a verve, o pícaro, o humor  dos falantes da língua portuguesa da "Inbicta"... Outros contributos, e nomeadamente dos camaradas nortenhos, serão bem vindos. Naturalmente que algumas  destas pérolas linguísticas também circulam pelo Sul. E outras podem ter caido em desuso...
LG


Pequeno glossário do português
... à moda do Porto

Alapar –  Assentar
Amarfanhar – Apertar, roubar
Amassos – Troca de carícias
Andar à gosma – Viver à custa dos outros, andar na moinice
Andar de calcantes  Andar a pé
Andor biolete - Desanda
Andrades - Adeptos do FC Porto (não cofundir com "tripeiros")
Apanhador – Pá para o lixo
Arpoar - Fazer uma conquista amorosa
Arreganhar a tachá – Rir à  gargalhada
Arrostar postas de pescada –  Rir à gargalhada
Azeiteiro – Rufia, malandro, chulo

Badalhoca – Porca, desmazelada, prostituta; também nome de uma famosa tasca no Porto
Badeleira  – Mulher que fala demais
Barona – Beata, ponta do cigarro
Basqueiro – Barulho ("Alto basqueiro)
Benha ! – Venha! (termo usado pelos arrumadores de carros)
Besuntas – Mulher muito gorda
Bezana – Bebedeira
Bisga – Escarro
Bitaites – Palpites, dicas, bocas
Bófia –  Polícia
Bóias  Mamas, seios
Bolacha – Bofetada
Boa (boua) como milho  – Diz-se de uma mulher gira
Briol  Frio
 

Cabeça de giz – Polícia sinaleiro (figura cada vez mais rara)
Cachaço – Bofetada no pescoço
Caga e tosse –  Não anda nem desanda
Calacantes baris – Sapato fino
Canalha – Criançada
Carago –  Caraças; forma eufemística de dizer c...alho (o falo, o orgão sexual masculino; do esanhol, "carago")
Cav(b)alão  –  Mulher "atoucinhada" (como diria o Camilo Castel Branco) e de pêlo na venta
Chá de bico – Clister
Chaço – Carro velho,  também "chocolateira"
Choninhas  Gajo mole, sem iniciativa (também se diz "Cunanas")
Chotegane – Arma, arma de cano curto (do inglês, "short gun")
Chica –  Menstruação 
Chuço – Guarda chuva
Coiras – Chatas, más. 
Coirão –  Indivíduo reles com cabedal de respeito
Cor de burro quando foge – Diz-se quando não se sabe a cor de algo
Cresce e aparece  Desanda
Croque – Pequeno murro na cabeça com os nós dos dedos
 

Dar corda aos sapatos 
– Deitar a fugir
Dar corda aos v(b)itorinos – Correr
Dar de frosques – Fugir
Dar lhe a filoxera  Desmaiar
Dar o garfeiro todo – Doer os dentes
Dia de pica-boi  Dia de trabalho
Deitar a fateixa  Conquistar (uma mulher)
Desatinar Dar uma volta
Dobradiças – Joelhos

Encher a mula – Comer muito
Enchousadela – Bater, tareia
Engrupir – Enganar
Estapor – Estupor, mau, cruel
Estar de beiços – Estar amuado
Estar de gesso – Diz-se de alguém que não trabalha
Estar com os bitorinos encharcados – Estar bêbado
Esticar o pernil – Morrer
Estrugido – Sarilho, encrenca ("Meter-se num estrugido"). mas também ligação amorosa ("Ter um estrugido")


Fajardice Trafulhice
Falar para a central – Falar sem ser ouvido ou ouvir sem prestar atenção. 
Faneca – Gaja boa, bonita
Fino  Imperial (cerveja)
Fino como um alho  – Esperto, vivaço, sagaz, astucioso
Fisgar –  Engatar
Flauta 
– Pénis
Foguete – Buraco nas meias (collants)
Foleiro das garulas  – 

Gabardina 
 Preservativo (masculino)
Galga  Mentira, mas também pénis
Galgueiro – Mentiroso
Gangada – Seita, grupo de rapazes, normalmente organizado
Garulas  –  Pernas ("foleiro das garulas", mal ds pernas)
Grav(b)eto  Dinheiro
Grito  Frio
Guna – Ranhoso; rapaz ou rapariga de origem social baixa, de "bairro camarário" que usa roupas de marca, por vezes brincos e boné de pala virado ao contrário

Ir de saco – Ser preso
Ir fazer tijolos  – Morrer
Ir medir caixotes – Morrer

Jeco – Cão

Laurear / laurear a pev(b)ide – Passear, pavonear-se 
Labagice – Porcaria, mistura de comida
Lázaro – Idoso, asilado
Leiteira  Sorte
Leiteirão – Sortudo
Lontra – Pessoa obesa, gorda, que come muito
Lostra  Chapada, estalo

Mais v (b)ale uma rua do Porto que a Gaia toda (lê-se: "cagai-a toda") 
Mamona – Pessoa interesseira
Mandar uma bisga  Escarrar para o chão
Mandar uma traulitada – Dar um murro
Mânfio – Sabidola, astuto
Manguela – Malandro, indivíduo preguiçoso
Martelar – Fazer sexo
Matrona – Mulher desmazelada
Meter os garfos    Palmar, tirar dos bolsos de alguém
Micar  – Perceber, entender,observar
Mijão – Sortudo, "leiteiro"
Mitra - Infiltrado
Moina – Polícia
Molete – Pão, carcaça
Mor – Termo utilizado pelas vendedeiras, abreviatura de «amor» 
Morcão – Estúpido, lorpa

Nardo  – Pénis (também se diz sarda, morcela)
Narizinho de cheiro – Diz-se de alguém que se ofende facilmente, vidrinho
Negócio das carnes – Prostituição

Ouras (Ter) – Ficar atordoado, enjoado

Paiba – Cigarro de substância ilegal
Paleógrafo – Conversa fiada ( “Gajo cheio de paleógrafo”)
Pandeireta – Mulher velha
Pandorca –  Badalhoca, mostrengo, vasculho
Pasteleira – Bicicleta velha, pesada
Passar a ferro – Possuir sexualmente; atropelar
Pastelão – Omeleta; patanisca;  pessoa muito lenta
Pastor – Palerma
Peixão –  Mulher que dá nas vistas, lasca, traço
Picar o ponto – Namorar
Pinoca –   Indivíduo bem arranjado
Pipi da tabela   Todo pinoca, bem vestido, efeminado
Pito - Crica, vagina, mas também frango ("Bibó Pito da Maria")
Play-mobil – Polícia; agente da autoridade
Pôr-se a fancos  – Estar atento, ter cautela
Presunto  – Parolo

Quilhar  – Usado como em “vai-te lixar”

Rópia 
 Vaidade
 
Sameira – Carica, sama,
Selo – Mancha, sujidade nas cuecas
Sêmea – Rabo de mulher
Sertã – Frigideiram da cabeça
Sofrer da cuca –  Não regular bem da cabeça
Sostra – Pessoa preguiçosa

Tecla Três – Anormal, deficiente (por analogia da tecla 3 dos telemóveis)
Toura – Mulher jeitosa
Trav(b)esseira - almofada
Trengo – Atrasado, apalermado
Tripas a moda do Porto  Dobrada
Tripeiro  – Natural do Porto (não confundir com "andrade", adepto do FCP)
Tótil – Muito, “bué”, "manga de" (como se dizia na Guiné)
Trombil – Cara, "fuças"

V(b)ai-te, Afonso 
 Vai-te quilhar, lixar, f...der
V(b)ai no Batalha – Mentira, filme (referência ao cinema Batalha)
V(b)agem – Feijão verde
V(b)ergar a mola – Trabalhar
V(b)idrinho  Diz-se de alguém que é muito suscetível
V(b)ira-v(b)entos  Volúvel

Zaruca 
 O mesmo que sofrer da cuca
Zequinha – Pessoa meio apalermada

Com os contributos de: António Graça de Abreu, Carlos Vinhal, Fernando Ribeiro, Joaquim Costa, Jorge Teixeira, Valdemar Queiroz
________

Fontes (além dos dicionários de português e da Net):
  • Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2023. Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
  • Brito, João Carlos - Dicionário de Calão do Porto. Editora Lugar da Palavra, 2016 (Tem mais de 4 mil verbetes ou entradas)
  • Pacheco, Hélder - Porto: outra cidade. Porto: Campo das Letars, 1997.
  • Praça, Afonso - Novo Dicionário de Calão", 2ª ed. rev. Lisboa, Editorial Notícias, 2001.
  • Simões, Guilherme Augusto - Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985.
___________

Nota do editor:

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24875: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): pequeno glossário para compreender as letras de fado e outros textos em calão


"Fado da Trolha", António Manuel Lopes, Lino Ferreira, Silva Tavares, Feliciano Santos, António Carneiro, Revista | Vaudeville Mãe Eva, Sassetti & C.ª Editores, s/d., p. 1 (Fonte: Museu do Fado, com a devida vénia...). 
 


1. Aqui vai uma ajuda para "descodificar" as letras dos fados e outros textos que reproduzimos nos postes P24840, P24858 e   P24866 (*)

Para esta recolha (feita muito em cima do joelho, mas consumindo já umas largas horas...), ocorremo-nos, no essencial, do  livro de Guilherme Augusto Simôes, "Dicionário de Expressões Populares Portugueas" (Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985, 432,  XX pp.), talvez a mais completa compilação  de termos e expressões idiomáticas neste domínio, incluindo "arcaísmos, regionalismos, calão e gíria, ditos, frases feitas, lugares comuns, aportuguesamentos, estrangeirismos e curiosidades da linguagem"... (Na edição que consultámos, de 1985. a compilação tem mais de 25 mil entradas; há outra edição posterior, Dom Quixote, 2000, com 700 pp. )

Pena é que o autor tenha feito autocensura, expurgando do seu dicionário grande parte dos palavrões considerados "obscenos",  esquecedo-se que o leitor estrangeiro, que ande a aprender português, também tem direito a conhecer o nosso calão de carroceiro:

(...) "Encontra-se neste dicionário:

  •  o calão académico (usado pelos estudantes), 
  • o calão vulgar (usado pelo povo), 
  • o calão dos marginais (usado pelos criminosos de todo os graus, desde o simples vigarista ao assssino da pior espécie)
  •  e omitimos, o mais possível, o calão ordinário a roçar a obscenidade. 

Mas deste, ao omiti-lo, não foi por falso pudor, mas sim por por verificar que infelizmente não é necessária a sua nomeação. tão sabida é pela nossa mocidade de ambos os sexos" (pág. XV). (Negritos nossos).

Não é necessário esta pregação moralista do autor: os modernos dicionaristas e lexicógrafos  já há muito que grafaram os nossos palavrões ditos obscenos, que também fazem parte da nossa língua materna: quando nos apetece mandar para o c...ralho alguém, que nos chateia os c...rnos ,  não o fazíamos, nos quarteis e matas da Guiné,  na língua dos nossos vizinhos espanhóis, mas na nossa querida língua...  

De resto, todas todas os nossos  "palavrões"  estão ao alcance de toda gente (a começar pelas criancinhas...) na Internet.

No que respeita à gíria ou calão do fado de antigamente, o autor recorre também ao livro "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão' ", de Alberto Bessa (1901). 

Consultámos também o nosso camarada, transmontano de Moncorvo, infelizmente já falecido, o jornalista e escritor  Afonso Praça (1939-2001),  "Novo Dicionário de  Calão", 2ª ed. rev. (Lisboa, Editorial Notícias, 2001, 258 pp.).   O autor (AP) discrimina alguns termos e expressões do calão conforme o meio de origem: crime, desporto, droga, estudantes, jornalismo, militar  (incluindo Colégio Militar, Grande Guerra e Guerra Colonial), e regionalismo... 

Infelizmente, o Afonso Praça (que, além de seminarista,  foi alferes miliciano, em Angola, na zona norte, entre 1963 e 1965), já não é do tempo do nosso blogue: morreu prematuramente aos 62 anos. 

Já agora, e para saber algo mais sobre a história do fado, ver aqui uma excelente sinopse, disponível na página oficial do Museu do Fado, e baseada no essencial na bibliografia etnomusicológica e histórica sobre o fado de Rui Vieira Nery, professor associado da FCSH/NOVA. 


Pequeno glossário para compreender as letras de fado e outros textos em calão (de A a Z)

Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
'Té perde a mastreação.  (pág. 93)

(...) Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar. (pág. 99)
 
(in: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho, editot, 1904)


afinfar (bater em, arrear);
alcouce (bordel, prostíbulo; etimologia duvidosa);
alcoveta (mulher intermediária no comércio do sexo; do árabe, al-qawwâd, intermediário);
algema (pulseira, bracelete);
amarra (corrente do relógio, pulseira)
andantes (pés, pernas, sapatos);
andar ao fanico (na prostituição de rua, à procura de cliente);
andar no fado, andar no mundo, andar na vida (prostituir-se);
andorinha [prostituta, (AP)];
antrames [algibeiras, mas bolso interior o casaco, (GUS)];
apeado (diz do que deixou de ter amante, ou viatura pópria);
arame (dinheiro);
archeiro (bêbado);
arcos,arcosos (anéis);
arranjo, arranjinho (conquista amorosa, engate);
às duas por três (quando menos se espera);
asas (braços);
avental de pau (meia-porta dos bordeis do Bairro Alto);
avesa (tem);
avesar (conseguir, juntar, por ex., "bago grosso");

bago (dinheiro, termo que já vem do séc. XVIII);
bailhão [fadista, desordeiro, rufião (AB / GUS)];
batata (soco);
batolas (mãos);
beber (apanhar pancada);
belfe (calote);
brezunda, brezundela (pândega, brincadeira,pagode);
briol (vinho);
buchinha (num baile, era ceder a dama a outro cavalheiro);
butes 
 [otas, pés) (passar os butes/ fugir, dar aos butes / correr, meter os butes a caminho / partir, meter os butes/ enganar, mentir), (AP)];
buzilhão [dois vinténs, mas também muito dinheiro (GUS)];

cabides (orelhas, brincos);
camolete (?)
calhar (agradar, ficar bem);
canalha (biltre,patife, gentalha);
carinha (um) (moeda de prata de 500 réis, ou cinco tostões);
carunfa (traição);
carunfeiro (traiçoeiro);
celitro (decilitro, de vinho);
centopeia (mulher feia, de aspeto repelente);
cépios (vd. sépios);
charuto (pé de cabra, ferro para forçar fechaduras);
chata gorda (carteira bem recheada);
cheta (um vintém, 20 réis; 5 chetas equivalia a 1 tostão ou 100 réis);
cocheiro (jogador de pau);
comadre (mexeriqueira);
conquista (namoro, namorada),
cortado (vinho com soda);
cortiço (casebre);
cri-cri (?):
c'roa (dois mil, ou mal...réis);
cunfia (confiança);
cuté (casa ou quarto para encontros amorosos, ou para refúgio temporário)

dar os bons dias (ser o mais valente);
data (grande porção de alguma coisa, por ex, "camolete");
deixar espalhado (matar);
desarmado (teso, sem dinheiro, sem recursos);
direitinho (pessoa honrada e honesta);
duques (?):

elas (batatas, "iscas com elas");
embigo (baixo ventre);
encadernador (cangalheiro, agente funerário, gato pingado)
ensaio de galheta (ar de bofetadas);
entalada (uma isca metida num quarto de pão);
entortar (embriegar,mas também tornar pior);
envinagrado [embrigado, mas também mal disposto, zangado, azedo, (GUS)];
esfola (penhorista(;
esgueirar-se (fugir);
espiche (do inglês, "speech") (discurso, elogio, brinde, mas também hospital);
espinha (navalha);
estafar (matar, dar cabo, gastar de maneira perdulária);
estampa (bofetada);
estar a dormir (roncar);
estar no pinho (não ter amante);
estarim (cadeia, prisão);
ético ("estar ético", sem dinheiro);

fadista (homem vadio, brigão, desordeiro;mas também ulher que se entrega à prostituição);
faduncho (fado mal cantada, com má letra e música):
farol, faroleiro (indivíduo que joga por conta da banca, na casa de jogos);
fazer joginho (bater);
filhoses (notas de banco);
flaquibaque (estalada);
fole das migas (barriga);
francês (indivíduo enganador, desleal); 
fuça (cara);
fuças, ir às  (esbofetear, bater);
futrica [designação dada, entre os estudantes de Coimbra, a quem não é estudante; mas também futre, pessoa desprezível, (GUS)];

gabinardo (gabão, casacão, capote, gabardine):
gadunhas (mãos);
gaja, gajona (maneira depreciativa de referir uma mulher);
galdinas, galdras (calças);
galego (indivíduo grosseiro);~
galfarro (comilão, vadio, mas também agente da polícia)
galfo (fidalgo);
galopim (moço de recados, vadio, garoto, trampolineiro);
gamote  [reunião… mas também, grupo e rapazes, ou elementos do mesmo bando, (GUS)];
garonga (?);
gato pingado (agente funerário)
gentaça, gentalha, gentinha,gentuca (ralé, gente ordinária);
giga (vender em; arriar a) [discutir usando linguagem e modos grosseiros; insultar, gritando e gesticulando, arriar a canastra, (GUS)]
gimbrar
[viver à custa da amante, chular) (AP)];
grudar (convir, ser aceitável ou razoável);
guitarra (barriga);
guitarra pela cabeça abaixo, enfiar uma ( fazer uma gravata);

horas mortas (altas horas da noite);
hortas (retiros, tabernas nos campos, nos arredores de  Lisboa; começavam logo em Benfica);

isca [ pergunta capciosa, feita como objetivo de obter a resposta já esperada ou uma mais conveniente, (AP)]: 
iscas com elas (iscas com batatas);

juntas (pernas);
juiz do Bairro Alto (Deus);

labita (fraque);
laia (prata, dinheiro; mas também espéceie, casta: gente da mesma laia);
lárpios (ladrões);
libra (4500 réis);

má rês (pessoa velhaca, de mau carater, de maus instintos);
marafona (mejera, mulher ruim, mal-vestida, também rameira);
mariola (patife);
mastro (pénis);
meia-lata (meio litro de vinho);
meia-unha (meio tostão);
meio-caiado (água com café):
meio-curto (copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar);
místico (?);
moca (pénis, mas também cacete, asneira);
modista (taberna);
mondonga (mulher suja e desmaselada);
morraça (vinho ordinário, bebida reles);
mulato (café com leite);

nadar (justificar-se);
naifa (navalha);
naifada (navalhada);

orchata (azar ao jogo);
orchatado (?);
ourelo (cuidado, cautela);

pai de vida, pai da vida! [exclamação, "o que para aqui vai!", (GUS)];
painço, milho (dinheiro);
paivante (cigarro);
palhetas (botas, sapatos);
panaça (marido que tem medo da mulher);
passar as palhetas (esgueirar-se, esquivar-e);
pescoço (altivez, arrogância, soberba);
piela (bebedeira);
pingado (ligeiramente embriagado ou etilizado);
pingar-se (embededar-se);
pitorra(cabeça);

quarto de bife ou quarto de dose (um meio bife custava 140 réis ou sete vinténs; um quarto custava metade; retexto para se beber nais um copo);
queijada (a quantia que o chulo recebe da amante, mas também gorjeta ou gratificação);

rapioca (regabofe, pândega, paródia);
rascoa 
"mulher da vida", prostituta; era duplamente exploradas: pelos chulos (rufiões, que nem todos eram fadistas, vivendo do pequeno crime) e pelas "patroas", as donas das casas ("cobravam, em geral, quinze tostões a dois mil réis por dia por cada casa"; (...) "uma exploração ignóbil de que as infelizes eram vítimas, pois que, na maior parte dos dias, não ganhavam nem para o petróleo, como elas próprias diziam" (Avelino de Sousa, 1944, pág. 192)];
requineta (fraque);
retanha (gazua, ferro de abrir fechaduras);
roda,rodinha (um tostão, duas rodas, dois tostões ou dois-tões);
rodilha (gravata, mas também pessoa servil e bajuladora(
rouxinol (apito);

sanha (bofetada);
sardinha, sarda (navalha);
se m'entende (cemitério);
sépios (chapéus altos);
serviço [mulher fácil, ou criada com que se traz namoro, (GAS) ];
sino grande (copo de vinho dos grandes);
soldado de calça branca (cigarro);
suquir [ bater; mas também comer, furtar (GAS) ];

tabuleta (cara, fuça);
tingar (fugir, desaparecer);
tostão (100 réis, 5 chetas ou 5 vinténs);
toudas (sopapo);
trolha (pancadaria: andar à trolha; mas também servente de pedreiro);
trompázio na fuça (soco na cara);
trovas a atirar (cantigas que encerravam uma provocação, dando origem por vezes a conflitos);
tusto (tostão);

vintém (20 réis);
viúva (garrafa preta da taberna);
viúva, filhos da (copos)

urdimaças (mexeriqueira)

zaragata (pancadaria, desordem);

Abreviaturas - A recolha, feita do nosso editor LG, baseia-se sobretudo em Guilherme Augusto Simões (GAS) (que por sua vez tem uma bibliografia extensa, com cento e tal autores)... O Alberto Bessa (AB) é uma fonte obrigatória... E, pontualmente, recorremos também ao Afonso Praça (AP). Para um ou outro vocábulo não conseguimos encontrar o significado: por exemplo, camolete, duques, místico, orchatado... 

Mas este é um glossário aberto... Esperamos que os nossos leitores possam também dar os contributos do seu(s) saber(es), alargando o nosso campo  de cohecimentos ao calão do Porto (Bairro da Sé), e ao nosso calão militar (ou de caserna).

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente
Vd. também:

17 de novembro de 2023 Guiné 61/74 - P24858: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (20): O calão do Bairro Alto em finais do séc. XIX, algum do qual chegou à nossa caserna...

11 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24840: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (19): O Bairro Alto... de finais do séc. XIX, mal afamado durante muitas décadas, e hoje gentrificado...