Capa do livro do Jose Saúde: "Bola de trapos: crónicas desportivas do Baixo Alentejo, 1904-2022".
Lisboa: Edições Colibri, 2022
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do
BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Camaradas,
Somos, hoje, seres humanos que o tempo paulatinamente se encarregou em transformar os nossos corpos, corpos outrora esbeltos, jovens esguios que partiram rumo à desconhecida guerra da Guiné, onde a peleja no terreno nos fora literalmente comum. Sim, sobrevivemos, mas houve outros camaradas que, infelizmente, por lá perderam a vida, outros, de lá vieram estropiados e são muitos aqueles que presentemente convivem com tão nefastas situações, outros, com a mente extorquida dos horríveis sons das armas, enfim, fomos, afinal, “carne para canhão”, restando agora um oceano de recordações. Somos, também, usados septuagenários, em particular, onde a memória jamais será extorquida de cenas vividas no palco da guerrilha.
Camaradas, não obstante o meu AVC que já leva 16 anos de existência, e com o lado direito remetido ao silêncio, lá vou passando entre os pingos da chuva, reencontrando-me com o universo da escrita, debitando textos e lançando obras que visam deixar memórias para as gerações presentes e vindouras conhecerem as histórias de um passado repleto de saudade.
Neste contexto, no próximo dia 11 de outubro, terça-feira, 19h00, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, será lançado o meu 11º livro intitulado “Bola de trapos – Crónicas Desportivas do Baixo Alentejo 1904 a 2022”, com a chancela da Edições Colibri, cujo editor é Fernando Mão de Ferro.
Fica o meu convite a todos os camaradas e amigos, assim como a sua introdução – Memórias desportivas -, e o texto de abertura da obra - A bola de trapos -.
Camaradas e amigos, espero por vós.
A bola de trapos
Viajo pelas sumptuosas asas do vento, dou por mim a recordar hilariantes recordações desportivas que o tempo jamais ousará apagar da consciência de pessoas que teimam relembrar o evoluir do extraordinário prodígio, mas nas suas diversificadas vertentes. Ao longo de uma maratona da escrita, que já vai extensa, cerca de 40 anos dedicados ao jornalismo, procurei trazer à estampa convicções semanais para que o leitor se identifique com os conteúdos desportivos que, por força de uma razão maior, tendem cair no limbo do esquecimento caso não haja bem-aventurados temerários que se predisponham em assumir o tão meticuloso desfecho. Memórias benéficas, em meu entender, que o imensurável prazo da persistência humana vai consumindo num painel assumidamente cada vez mais restrito.
Admito que a audácia não foi, e nem tão-pouco o é, talhada pelo prisma da facilidade, uma vez que debitar narrativas num determinado contexto requer a aquisição de conhecimentos e, sobretudo, de certezas no momento em que o autor se debruça sobre os conteúdos dos específicos textos por ele elaborados. Reconheça-se, porém, que a minuciosidade como os temas são trabalhados mostra, obviamente, o seu respeitoso saber.
Olhando para um amarelecido baú que contém muitas centenas (mais de um milhar) de narrativas desta essência, deparo-me com profícuas realidades que tornam o fenómeno mais sólido no exato momento em que se desenrolam pequenos fios de perseverantes meadas, sendo o resultado final resultante em proveitosos artigos que nos conduzem a saberes circunscritos num espólio que, sob a minha pena, acondiciono nesta existência terrena.
Iniciei-me no trabalho jornalístico em meados da década de 1980. “O ÁS” foi a rampa de lançamento que me transpôs para outros patamares regionais e nacionais, passando, depois, pelo “Diário do Alentejo” (“DA”), onde me mantenho como colaborador, sendo que em ambos os periódicos fiz questão em debitar crónicas pessoais sobre a autenticidade do desporto regional no Baixo Alentejo, desde os seus primórdios.
Comecei com “O ponto de vista”, seguindo-se o editorial no jornal “O ÁS”, como diretor, “Opinião” e “Bola de trapos” no “DA”. Todas, ou quase todas as semanas a minha cabeça não descansa na procura de um assunto que mereça reverência e, naturalmente, lugar num meio onde a exiguidade da velha notícia desportiva tende a escassear.
Sei que a predisposição para abarcar a responsabilidade de tamanha aventura terá um dia o seu fim. Mas, enquanto o toque do hastear da bandeira não soar, manter-me-ei hirto na missão que outrora assumi, subscrevendo pequenos textos que espero que sejam do agrado de todos.
Nesta conjuntura, deixo-vos mais uma obra intitulada “Bola de trapos”, cuja temática assentam em realidades desportivas na região.
Admito que a audácia não foi, e nem tão-pouco o é, talhada pelo prisma da facilidade, uma vez que debitar narrativas num determinado contexto requer a aquisição de conhecimentos e, sobretudo, de certezas no momento em que o autor se debruça sobre os conteúdos dos específicos textos por ele elaborados. Reconheça-se, porém, que a minuciosidade como os temas são trabalhados mostra, obviamente, o seu respeitoso saber.
Olhando para um amarelecido baú que contém muitas centenas (mais de um milhar) de narrativas desta essência, deparo-me com profícuas realidades que tornam o fenómeno mais sólido no exato momento em que se desenrolam pequenos fios de perseverantes meadas, sendo o resultado final resultante em proveitosos artigos que nos conduzem a saberes circunscritos num espólio que, sob a minha pena, acondiciono nesta existência terrena.
Iniciei-me no trabalho jornalístico em meados da década de 1980. “O ÁS” foi a rampa de lançamento que me transpôs para outros patamares regionais e nacionais, passando, depois, pelo “Diário do Alentejo” (“DA”), onde me mantenho como colaborador, sendo que em ambos os periódicos fiz questão em debitar crónicas pessoais sobre a autenticidade do desporto regional no Baixo Alentejo, desde os seus primórdios.
Comecei com “O ponto de vista”, seguindo-se o editorial no jornal “O ÁS”, como diretor, “Opinião” e “Bola de trapos” no “DA”. Todas, ou quase todas as semanas a minha cabeça não descansa na procura de um assunto que mereça reverência e, naturalmente, lugar num meio onde a exiguidade da velha notícia desportiva tende a escassear.
Sei que a predisposição para abarcar a responsabilidade de tamanha aventura terá um dia o seu fim. Mas, enquanto o toque do hastear da bandeira não soar, manter-me-ei hirto na missão que outrora assumi, subscrevendo pequenos textos que espero que sejam do agrado de todos.
Nesta conjuntura, deixo-vos mais uma obra intitulada “Bola de trapos”, cuja temática assentam em realidades desportivas na região.
A bola de trapos
Somos originários desses obsoletos tempos. Recordo, com uma saudade imensa, a algazarra dos rapazes de rua, assim como os saudáveis desafios em terrenos vadios, agora transfigurados em betão armado, e logo à tona da memória aparecem reproduções das manhãs domingueiras que envolviam jogatanas de futebol, sendo as balizas demarcadas com duas pedras num campo substancialmente irregular. Naquele tempo as bolas de borracha eram escassas e por vezes lá aparecia o menino mimado, filho de gentes da alta sociedade, que presunçosamente metia inveja ao resto da moçada, com uma bola de borracha amarela, marca “Pirelle”, debaixo do braço.
A redondinha era sinónimo de excêntricos prazeres e sobretudo de entrega dos “putos” ao duelo. O menino, que não jogava patavina, mas tinha que fazer parte infalível de uma das equipas porque era o dono da bola, cedo se apercebia que a raia miúda não lhe passava a redondinha e toca a interromper o entusiasmante dérbi da pequenada. De rabo alçado lá fugia que nem uma flecha rumo à sua mansão. A ralé, pouco importunada com a leviana atitude do garoto, jogava mãos à bola de trapos e o jogo prosseguia.
Aliás, as oportunidades em dar uns chutos numa esfera de borracha eram, nesses tempos, coisa rara. A bola de trapos, feita com uma meia roubada à mãe, afigurava-se como uma preciosidade que a ralé juvenil muito se regozijava. Lembro, também, as bexigas de porco recolhidas pela malta em épocas das matanças no matadouro da terra.
Tudo isto é conversa do passado, é verdade, mas um passado onde despertaram craques que percorreram enormes percursos futebolísticos quer em termos nacionais quer internacionais. Hoje, olhamos para a realidade presente e logo damos conta que tudo desliza para o mundo da facilidade. As crianças de agora têm outros mecanismos competitivos, vestem equipamentos de marca, calçam botas de qualidade, as bolas são excecionais, jogam em campos relvados, ou sintéticos, e têm um público, geralmente familiar, a puxar pela equipa. Nós jogávamos em agrestes terreiros infestados com ervas daninhas onde residiam cacos de vidro, sendo que alguns dos nossos companheiros jogavam descalços, os fatos de treino era a roupa domingueira, para quem a tinha, não havia assistência aos jogos e fugíamos das forças da ordem sempre que o polícia de giro detetasse as nossas presenças. Bem-haja a conquista da liberdade e o progresso que a Revolução dos Cravos facultou!
Abraços camaradas e amigos,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________ Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série de 4 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23670: Agenda Cultural (814): Convite para a apresentação do livro de poesia "Palavras que o Vento (E)leva", de José Teixeira, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2022, pelas 16h30, no Centro Cultural de Leça do Balio, Rua do Mosteiro, 4465-703 - Leça do Balio