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quarta-feira, 26 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26618: Nunca tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (8): Grande coragem, sangue frio, inteligência emocional, autocontrolo, empatia, serenidade, a da Rosa Exposto!..


As enfermeiras paraquedistas, da esquerda para a direita, Maria Rosa Exposto  (*) e Maria La Salette. Imagem obtida a partir de foto de grupo, da autoria de Fernando Miranda (trabalhou no Hospital da Força Aérea e tem o melhor álbum fotográfico sobre as enfermeiras paraquedistas). O Fernando Miranda é membro da União Portuguesa dos Paraquedistas (grupo público no Facebook, entretanto suspenso desde 16/1/2023). 


Edição do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025), com a devida vénia..


 
1. Os riscos que corriam as nossas enfermeiras paraquedistas não eram poucos nem pequenos.  Riscos para a sua saúde e segurança no palco de guerra... Riscos físicos e psicológicos (e, em menor grau, químicos e biológicos, já que lidavam com sangue, derivados do sangue e produtos de primeiros socorros usados a bordo)...  Riscos não só por andarem de avião, de serem atingidas pelo fogo do IN ou de sofrerem um acidente em terra ou no ar, como sobretudo devido à  exposição a situações de grande stress, durante as evacuações de doentes e de feridos graves,  tendo que saber lidar com a vida e a morte, a dor e o sofrimento, a violência e o descontrolo emocional dos evacuados,  etc.

Este relato da Maria Exposto, transmontana de Bragança, ex-alf grad enf pqdt, do 4º Curso (1964), é bem revelador das situações mais insólitas e imprevistas que podiam ocorrer... Era preciso muita coragem, sangue frio, inteligência emocional, autocontrolo, empatia, serenidade ...

 Grande mulher e grande profissional, a Rosa Exposto,  que soube salvar uma vida ou mais do que uma... na situação a seguir descrita.

Este caso devia fazer parte da "casoteca" das nossas escolas que formam profissionais que têm de lidar com distúrbios emocionais, crises e outros conflitos podendo pôr a risco a vida do próprio e de terceiros: polícias, militares, bombeiros, médicos, enfermeiros, psicólogos, etc.

A situação descrita (um distúrbio emocional, ou "transtorno de ansiedade",   frequente e muitas vezes associado ao álcool nos quartéis do mato)  podia ter redundado em tragédia como aconteceu noutros sítios. É pena não podermos identificar o local e a subunidade. 

A Rosa  diz-nos apenas que foi "algures na Guiné",  e o quartel  (talvez provavelmente um destacamento) era tão pequeno que nem tinha um pista de aterragem para uma avioneta, nem talvez sequer um heliporto. (**)

No fim "tudo acabou em bem", mas ela confessa, com toda a humildade, que sentiu muito medo e suores frios quando se apercebeu do que estava em jogo... Um homem perturbado e com uma arma na mão é sempre imprevisível...



Fonte: Excerto de "IX. Os riscos que corríamos". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp.  302-302 (com a devida vénia).

(Seleção, digitalização, edição da foto, título do poste: LG)


__________________


Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

25 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26614: Desaparecido do nosso radar (3): Maria Rosa Exposto, ex-alf grad enfermeira paraquedista, do 4º curso (1964)... Tudo indica que tenha ficado, como enfermeira civil, na FAP.

15 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)

(**) Último poste série > 13 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26578: Nunca tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (7): Cristina Silva, ten grad enf pqdt, a única das 46 que foi ferida em combate

terça-feira, 25 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26614: Desaparecido do nosso radar (3): Maria Rosa Exposto, ex-alf grad enfermeira paraquedista, do 4º curso (1964)... Tudo indica que tenha ficado, como enfermeira civil, na FAP.



A  foto é do Fernando Miranda (trabalhou no Hospital da Força Aérea e tem o melhor álbum fotográfico sobre as enfermeiras paraquedistas). 11 de jnho de 2022: "Recorda: estas três camaradas e e colegas, da esquerda para a direita, enfermeiras paraquedistas Mariana Palma Gomes, Rosa Exposto e Maria La Salet. Grandes mulheres, grandes sorrisos. "

O Fernando Miranda é membro da União Portuguesa dos Paraquedistas (grupo público no Facebook, entretanto suspenso desde 16/1/2023)



Maria Rosa Exposta, transmontana de Bragança, ex-alf graduada enfermeira
 paraquedista, fez a primeira comissão no TO da Guiné, em 1966. 
Nasceu c. 1942.  E do 4º curso (1964).



1. Continuamos sem ter notícias da Rosa Exposta, uma das três Rosas das 46 enfermeiras paraquedistas. 

O que é feito da Maria Rosa Exposto ? Há tempos correu, por aí, pelos "mentideros" das redes sociais, a notícia da sua morte... O que nos deixou sobressaltados...  Mas pode ter isso outra Rosa, outra Exposto...

Mas nenhuma das suas antigas camaradas (a Rosa Serra, a Maria Arminda, a Giselda...) puderam confirmar ou infirmar essa infeliz notícia, que esperamos, de todo o coração, seja falsa. (*)

Infelizmente, não temos dados biográficos detalhados sobre a Rosa Exposto qu  bem gostaríamos de vê-la aqui, na Tabanca Grande. Não sabemos onde vive. (**)

Encontrámos no "Diário da República", II, Série, nº 168, de 24--7-1986, uma referência a Maria Rosa Exposto Olivença,  promovida, por progressão na carreira, desde 1-1-1986, à categoria de enfermeira de grau 1, 3º escalão, do quadro geral do pessoal civil da Força Aérea...

Tudo indica que é ela, e que tenha ficado na FAP, sendo eventualmente Olivença o seu apelido de casada. É uma pista.

2. Taambém passou pela Guiné...
 


Fonte: Excerto de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 175.


3.   Não sabemos ao certo quantas das antigas 46 enfermeiras paraquedistas (formadas em Tancos, entre 1961 e 1974) já deixaram a Terra da Alegria. No livro supracitado, publicado em 2014 (pp. 438-439), eram já nove: 

  • Maria Celeste (Costa) (1973), 
  • Maria da Nazaré (1984),  
  • Maria Amélia (1992), 
  • Maria Soledade (2001), 
  • Delfina (2005), 
  • Maria Zulmira André (2010), 
  • Maria Piedade (2011), 
  • Manuela (2011), 
  • Amália (2012).   

A estas há que acrescentar mais os seguintes 2 nomes, coautoras do livro
  • Maria do Céu Pedro  (2022)
  • Maria Ivone Reis (2022) 
Ao todo, 11  em 46.

______________

Guiné 61/74 - P26613: S(C)em Comentários (62): As mulheres que foram à guerra, nossas camaradas (Luís Graça)




Cartaz do filme, reproduzido com a devida vénia > A enfermeira paraquedista alferes graduada Cristina Silva > A única enfermeira paraquedista que foi ferida em combate... em Moçambique, em 1973 (*)


,
Quem Vai à Guerra (Portugal, 2011) > Ficha Técnica: Realização > Marta Pessoa
| Direcção de Fotografia > Inês Carvalho | Cenografia > Rui Francisco | Montagem > Rita Palma | Direcção de Som > Paulo Abelho, João Eleutério e Rodolfo Correia | Maquilhagem > | Eva Silva Graça | Marketing e Comunicação > Fátima Santos Filipe | Direcção de Produção > Jacinta Barros | Produtor > Rui Simões | Produção > Real Ficção

1. Comentário de Luís Graça  ao poste P26392 (**):


Só conheço as enfermeiras paraquedistas... Outras mulheres quiseram ser nossas camaradas... A Cilinha, por exemplo...Foi 1º. cabo, foi capitão... Visitou-nos no mato, cantou o fado, distribuiu cigarros e discos... Mas tudo aquilo "soava a falso"... Que me perdoem os camaradas, seus amigos, seus fãs (que os teve)... 

Em boa verdade, só as enfermeiras paraquedistas foram à guerra...

A Marta Pessoa fez um filme ("Quem foi à guerra", 2011), o primeiro filme "feminista" sobre a nossa guerra, procurando mostrar a guerra vista pelo lado das nossas companheiras e amigas (mulheres, namoradas, madrinhas de guerra, etc....) e camaradas (enfermeiras paraquedistas).

Não bastava vestir o camuflado...  (Curiosamente, a Cilinha raramente se terá vestido e deixado fotografar em camuflado, lá teria as suas secretas razões,) 

Houve mulheres de camaradas nossos a viver no mato, que sofreram ataques e flagelações nos aquartelamentos onde dormiam... 

Houve mulheres de camaradas nossos que foram nossas "companheiras" à mesa nas nossas messes, mas nunca foam nossas camaradas de armas...


Houve quem se "passeasse" por certas partes da Guiné (Bissau, Bubaque, Bafatá, Teixeira Pinto, Bambadinca, Nova Lamego...). 

Jornalistas ? Não me lembro de nenhuma... Deputadas ? Não me lembro de nenhuma... Senhoras do Movimento Feminino e da Cruz Vermelha Portuguesa, sim... Vinham e iam de avião...Só a Cilinha andou em colunas, que eu saiba...(e até apanhou uma emboscada, garantia ela.)

Em resumo, camaradas de armas foram só as nossas enfermeiras paraquedistas... Ainda hoje não percebo por que razão as extinguiram e quem foi o "crânio" que lhes deu a "sentença de morte"... Já depois do 25 de Abril, 

________



(***) Último poste da série > 15 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26588: S(C)em Comentários (61): "os antigos guerrilheiros, que no fim da guerra recolheram às tabancas de origem, vinham ter comigo, em 2008, numa atitude de humildade, como que a pedir desculpa" (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)

sábado, 15 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26586: O melhor de... Mário Gaspar (1943-2025), ex-fur mil, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) - Parte I: "Estou cego, cego..., não vejo, nada, merda!"

1. Mário Vitorino Gaspar (1943-2025) vai hoje descer à terra da verdade, no cemitério de Camarate, Loures (*). 

Em sua homenagem vamos selecionar alguns dos seus melhores postes. Além de ter escrito o livro "O Corredor da mortes" (2014), foi autor, no nosso blogyue, da série "Recordações de um Zorba".

 Foi fur mil, MA, CART 1659, "Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (divisa,: "Os Homens Não Morrem").


Excerto do capítulo 15 do livro de memórias do “O Corredor da Morte” (ed. autor, 2014):


Dia 15 de Janeiro de 1968 (…), tinha sido chamado na véspera ao capitão que considerou a utilidade de irmos buscar o correio a Sangonhá, assim patrulharíamos a zona. (…).

As tabancas alinhavam-se à direita. Aproximavam -se os Soldados Nativos e as Praças “U”.

Dei um nó no lenço que colocara ao pescoço. Um lenço de seda que me dera a minha namorada quando estivera de licença em Portugal. Era também “ronco”, como lhe chamavam os nativos.

O cabelo estava demasiado comprido. Gostava assim. Além disso, a barba. Há quantos dias que não a fazia.

O camuflado, uma miséria, parecia que velhice o engolia aos poucos. Tinha que me confundir com os negros no mato. Assemelhava-me, talvez.

Com o pessoal todo preparado, encaminhámos os nossos passos para a “porta de armas”, se é que poderíamos chamar àquilo tal nome. Seriam duas secções e os Caçadores Nativos e as Praças “U”. O total seria de uns quarenta homens. Não ia qualquer Oficial, seria eu a comandar.

Logo que passada a porta de armas, ficámos automaticamente com as distâncias controladas. Nunca íamos a monte, nem sequer era necessário dizer-se. As picas avançavam ao solo, massacrando-o com ato delicioso. Os arames rompiam pela terra. O trilho estava seco. A pica chocava no terreno, procurando um objecto que impedisse a perfuração. Eram as “carícias” daqueles arames de ferro, instrumentos improvisados. Eram sem dúvida nenhuma os melhores detetores de engenhos explosivos.

À frente ia o guia, logo a seguir, a uma distância de sete ou oito metros, um soldado. Separava-nos por volta dos sete metros da frente para trás. À esquerda e à direita. Todos a picar. Eu seguia o guia, Praça “U”, que picava, com uma certa minúcia. 

Tinha notado, já há algum tempo, que dois soldados que iam à minha frente depois de eu recuar, mais parecia quererem brincadeira. Algo de estranho se passava entre os dois. Saltei para a berma direita, colocando-me entre os dois, fiz sinal para terem cuidado. Mudei-me logo para de trás dos dois soldados e continuei a picar.

No meio daquele silêncio profundo, senti um frio percorrer-me o corpo. O cérebro, a espaços, estagnara oco. Nem o vento, as folhas ou viva força da natureza.

 Vamos a ter cuidado  – disse-lhe em voz baixa – é picar como deve ser.



Capa do livro, publicado em 2014, em edição de autor.
Prefácio do psiquiatra Afonso de Albiquerque.


Olharam-me, quase como envergonhados, sorrindo de seguida. Transportava, como todos, a G3 sobre o ombro esquerdo, enquanto a mão direita segurava a pica. As Praças “U” e os Caçadores Nativos batiam com a pica na terra que parecia ser acarinhada pelo arame. Continuei a avisar os dois soldados que me antecediam. Afastei-me para a berma contrária. O silêncio preocupava-me.

Olhei para trás. Estavam algo eufóricos. Desconhecia o motivo de tal. Seria a correspondência? Não sabia explicar. A verdade é que a alegria é contagiante. Estávamos na guerra, ali não havia espaço nem tempo para a nostalgia daquelas paragens sufocantes e doentias. O meu lenço de seda estava encharcado em suor. Coloquei o nó mais à frente. Notava a anormalidade de comportamento nos dois soldados da minha secção, colocados na berma do lado direito.

A uns vinte metros à frente, do mesmo lado, o guia parou por instantes, enquanto picava. Os dois soldados seguiam-no, ouvindo aquilo que a Praça “U”, transmitira baixo. O soldado que vai à minha frente espeta a pica, com raiva. Um estoiro. Um rebentamento forte. O guia foge para a frente. Apontei-lhe a G3, não sabendo explicar tal ato.

 Alto! – gritei-lhe. – Para aqui já!

O militar negro parou e aproximou-se de nós. Num ápice todos se lançaram para a berma. Era o conhecimento prático, os ensinamentos daquela guerra de guerrilha. O guia estava entre nós.

 
– Mina! – gritou o soldado que vinha na minha retaguarda, respirando fundo.

Eu era o único que continuava de pé. Rebentando mina, armadilho ou fornilho, acontecia haver uma forte probabilidade de emboscada. De pé e o coração rompia do peito martelando-o, mas como sempre, mais lúcido, uma lucidez difícil de explicar. Numa fracção de segundo. Mais calmo que anteriormente. Também não entendo. A serenidade fazia parte integrante do “eu”. Era talvez como se tivesse ingerido um calmante. O cérebro respondia na íntegra. Deixei de tremer. Transformara-me,  como por milagre, num ser diferente.

Ouvi gritos que penetravam não só nos ouvidos, mas também no corpo e no espírito. Excluindo eu e o guia,  todos tinham sido atingidos pela mina. 

A minha experiência como especialista de explosivos, minas e armadilhas dizia-me que era, mais uma vez, uma PMD 6, vulgarmente conhecida por “saboneteira”. Uma antipessoal, que possuía mais o efeito psicológico. O que parecia estar pior era o soldado que ia à minha frente, com o rosto de menino, coberto de sangue. Fechava os olhos. O camuflado estava repleto de estilhaços e também de sangue que haviam atingido também o rosto, na zona da vista. Sofria. Aquele sangue do corpo jovem molhava o trapo.

O outro que o seguia era quase o vivo espelho do primeiro, com mais estilhaços talvez. Continuava a não entender porque teria picado com tanta violência. Quereria matar a mina? 

Gritei para o radiotelegrafista, depois de pedir a um soldado que o chamasse:

– Aqui já! – fiz sinal ao condutor para virar a viatura.

–  Informe Gadamael Porto que temos evacuações para fazer, umas seis ou sete.

Disse ao radiotelegrafista com calma: 

 – Não é grave!

A GMC tinha já dado a volta. Havia que evacuar os feridos. O soldado que tinha sido atingido no rosto, desabafou, com dores:

– Estou cego, cego..., não vejo nada, merda. Estes filhos de uma puta nem nos deixam ir buscar o correio!

Não via as lágrimas, elas agarravam-se ao sangue que continuava a correr do seu rosto.

 
– Calma rapaz, vamos para Gadamael, não fazemos aqui nada, as evacuações não podem ser feitas daqui! – disse eu.

Aproximei-me dos feridos. Um gemia em tom demasiado baixo:

– É pá como vai isso? – perguntei-lhe, sorridente, pretendo incutir-lhe a calma e fé que necessitava, enquanto pedia ao telegrafista que pedisse as evacuações.

–  Sinto picadas nas pernas. São os mosquitos todos da Guiné que me chupam o sangue – respondeu.

O sangue manchava os camuflados. Julgava serem os três únicos que necessitavam de evacuação, muito embora outros tivessem sido atingidos. A mina era de fraca potência. Feita de madeira, com algum arame. Disse para o condutor:

 
– É a abrir sempre até Gadamael, não é necessário picar... – disse-lhe em altos berros.

Logo que arrumados na caixa da GMC, a mesma arrancou, com sete feridos e mais quatros homens. Uma secção de Ganturé, chegava com três viaturas. Subimos todos e com alguma velocidade, chegámos ao cruzamento. A secção de Ganturé saiu e continuámos até Gadamael Porto. Não era necessário picar. Gadamael estava à vista. Já se viam os militares da nossa companhia de calções e tronco nu. A GMC estava junto daquilo a que chamavam pista. Todos aqueles a evacuar estavam deitados em macas.

O furriel enfermeiro e o 1º cabo auxiliar enfermeiro encontravam-se junto dando o apoio, limpando os ferimentos e retirando os camuflados. O primeiro soldado atingido, e o que estava em situação mais grave, estava mais sereno. Aproximei-me, eram cinco corpos.

Um murmúrio aqui, outro acolá, nasciam das gargantas daqueles jovens, mas homens de verdade. Homens com um “H” grande.

Ouvia-se o roncar dos helicópteros. Eram dois.

O meu cabelo comprido foi sacudido pelo ar em movimento. Vento.

O capitão estava junto do primeiro helicóptero. Desceu a enfermeira paraquedista de calça camuflada e camisola de um branco lavado. Sobressaíam uns seios rígidos. A enfermeira era de cor branca. A única branca naquele local afastado da civilização. Uma mulher branca, era impensável. Bem torneada!
Aproximou-se das macas, balanceando as ancas.

 
– Como está? – perguntou ao soldado que tinha sido atingido na vista. – Está bem?

- É muito boa! – respondeu rapidamente o soldado.


Via-se um sorriso naquele homem. Já havia ganho esse estatuto há algum tempo. O capitão, referiu:

– Não ligue, ele não sabe aquilo que diz!

– Já estou habituada! – respondeu a enfermeira com um sorriso.

Os helicópteros levantaram dos torrões da pista e desapareceram no horizonte.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26585: In Memoriam (539): Mário Vitorino Gaspar (1943-2025), ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)... O funeral é hoje, às 15h45, no Cemitério de Camarate, Loures

quinta-feira, 13 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26578: Nunca tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (7): Cristina Silva, ten grad enf pqdt, a única das 46 que foi ferida em combate

Lisboa > 8º Festival Internacional do Cinema Independente > Culturgest > 13 de Maio de 2011 > Estreia do filme Quem Vai à Guerra (Portugal, 2011), de Marta Pessoa > No hall do Grande Auditório, a realizadora, Marta Pessoa, e a uma das participantes, a ex-enfermeira paraquedista, tenente graduada, Cristina Silva, ferida em combate em Moçambique.

 Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. A Maria Cristina Silva, tenente graduada enfermeira pqdt, foi a única, das 46 que prestaram serviço na guerra do ultramar / guerra colonial, que foi ferida em combate (em 1973, durante uma evacuação, no TO de Moçambique, na região de Mueda, alvejada com um tiro na cabeça que, felizmente, não foi fatal) (*). 

É uma história de guerra que, apesar de tudo, tem um feliz como ela já cá nos contou, quer no filme de Marta Pessoa, "Quem Vai à Guerra" (Portugal, 2011), quer no depoimento para o livro "Nós, as Enfermeiras" (coord ed. Rosa Serra, Porto, Fronteira do Caos, 2014).

Vale a pena dar a conhecer, para um público mais vasto, esse testemunho na 1ª pessoa. Ainda hoje ela guarda a bala que os médicos lhe extrairam da cabeça. Aliás, mostrou-o no filme. É agora um talismã. 

O cartaz do filme reproduz uma das fotos do seu ãlbum.





Quem Vai à Gerra (Portugal, 2011) > Ficha Técnica: Realização > Marta Pessoa
| Direcção de Fotografia > Inês Carvalho | Cenografia > Rui Francisco | Montagem > Rita Palma | Direcção de Som > Paulo Abelho, João Eleutério e Rodolfo Correia | Maquilhagem > | Eva Silva Graça | Marketing e Comunicação > Fátima Santos Filipe | Direcção de Produção > Jacinta Barros | Produtor > Rui Simões | Produção > Real Ficção



Moçambique > c. 1973 > Cristina Silva > A única enfermeira paraquedista que foi ferida em combate...



Foto (e legenda): Marta Pessoa / Quem Vai à Guerra (Facebook) (2011) (Reproduzido com a devida vénia)... Legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné










Excerto de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 289-2901 (com a devida vénia). 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série >  12 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26575: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (6): Homenagem às enfermeiras paraquedistas em livro recente sobre a "História da Enfermagem em Portugal"... Por sua vez, reproduzimos excerto de um depoimento de Aura Teles sobre a morte da fur grad enfermeira pqdt Maria Celeste Ferreira da Costa (Tarouca, 1945 - Bissalanca, 1973)

quarta-feira, 12 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26575: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (6): Homenagem às enfermeiras paraquedistas em livro recente sobre a "História da Enfermagem em Portugal"... Por sua vez, reproduzimos excerto de um depoimento de Aura Teles sobre a morte da fur grad enfermeira pqdt Maria Celeste Ferreira da Costa (Tarouca, 1945 - Bissalanca, 1973)




Capa  de "História da Enfermagem em Portugal (1143 - 1988). Ed lit: Ana Pires, Ana Paula Gato, Analisa Candeias, Carlos Subtil, Constança Festas, Lucília Nunes,  Paulo Queirós, Rui Costa. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2025, 301 pp. 


1. Com a contribuição de duas dezenas de autores  (quase todos enfermeiros, doutores e mestres em enfermagem ou outras áreas da saúde), publica-se a primeira história da enfermagem portuguesa, abarcando oito séculos. 

Independentemente de uma posterior nota de leitura mais extensa e aprofundada, registe-se aqui o evento editorial e a estrutura da obra, dividida em duas partes: 

(i)  a "história de longa duração" (Parte I: dos primórdios da nacionalidade até ao 25 de Abril de 1974k pp. 19-143);  

(ii) a historiografia focada nos espaços de prestação de cuidados e  de formação, nas questões de géneros, na assistência a populações específicas e na assistência em cenários de guerra e de catástrofe (Parte II, pp. 1147-292).

É nesta Parte II que vamos encontrar um pequeno capítulo (todos eles são sintéticos) dedicado  às enfermeiras paraquedistas, da autoria de Ana Paulo Gato (pp. 210-215) (que é doutorada em saúde pública pela Universidade NOVA de Lisboa  e professora coordenadora da Escola Superior de Saúde / IP Setúbal). 

O artigo  não traz nada de novo, é uma compilação de várias fontes, em todo o caso dá-se o devido destaque ao pioneirismo das 46 enfermeiras que não só saltaram em paraquedas e cumpriram missões em teatros de guerra, como também "saltaram" para a história das mulheres portugueses.

Cite-se apenas este parágrafo: 

"Enfrentando a desconfiança do meio militar, as convençóes sociais sobre o papel da mulher, os preconceitos em relação as mulheres trabalhadores e independentes e até a oposição  e/ou preocupação das suas famílias e amigos, várias mulheres enfermeiras enfrentaram o desconmhecido e os múltiplos riscos associados à vida militar em tempo de guerra com um grande sentido de dever" (op. cit., pág. 212).


Moçambique > Vila Cabral> 1967 > A Cristina Silva (seria ferida em 1973, na sua segunda passagem por Moçambique)



Não é demais lembrar aqui as duas vítimas entre as 46 enfermeiras paraquedistas que passaram pelos diferentes teatros de operações: 

(i)  a Maria Cristina Silva (que foi ferida em combate, em 1973, durante uma evacuação, no TO de Moçambique, na região de Mueda,  alvejada com um tiro na cabeça que, felizmente, não foi fatal) (*);

(ii) a  Maria Celeste Ferreira da Costa (ferida mortalmente pela hélice de uma DO-27, em Bissalanca, em 10/2/1973) (**) 



Furriel graduada enfermeira paraquedista Maria Celeste Ferreira da Costa 
(Tarouca, 1945 - Bissalanca, Guiné, 1973)


No Cap IX ("Os riscos que corríamos"), do livro coletivo "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed.  (ed. Rosa Serra, Porto, Fronteira do Caos, 2014), há uma  descrição, sintética mas notável, da nossa camarada Aura Rico Teles, membro da Tabanca Grande, sobre o fatídico acidente que vitimou mortalmente a Celeste, na BA 12, Bissalanca, em 10 de fevereiro de 1973. 

É uma pequena história, intensa, de dor, solidariedade e camaradagem entre mulheres e enfermeiras paraquedistas.  Repare-se na sua derradeira preocupação: (...) "decidimos as duas (eu e a Eugénia) começar a reconstruir-lhe a face e o ombro para que (...) partisse bonita como ela era.  Durante três horas foi esse o nosso trabalho" (...)

Publicamos um excerto, com a devida vénia. É também o contributo da Aura Teles para o blogue, para o qual entrou pela mão da Maria Arminda Santos. Tem 7 referências no blogue. (Além da Arminda e da Aura, sentam-se também à sombra do nosso poilão a Giselda e a Rosa Serra; a Ivone Reis, essa, infelizmente já faleceu em 2022).



A Maria Arminda (Setúbal) e a Aura Teles (Vendas NOvas), em visita ao navio-escola Sagres. S/d. Fonte:  Cortesia de Rui Manuel Soares, ex-paraquedista (Maia)


A morte da minha colega Celeste

por Aura Teles




Fonte: Excerto de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 304-305 (com a devida vénia). (***)

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Notas do editor:



domingo, 2 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26543: Humor de caserna (106): "Senhora enfermeira, quero fazer chichii!"... (Leite Rodrigues, 1945-2025 / José Teixeira)


1. Dizem que os bois se conhecem pelos cornos, e os homens pela(s) palavra(s)...

Os homens também também se conhecem pelo humor, mais fino ou mais alarve, mais inteligente ou mais brejeiro (*), mais "soft" ou mais "hard"... E não importa as situações: em casa ou no trabalho, na rua ou no salão, à mesa ou no cama do hospital, na paz ou na guerra... 

Mal de nós, humanos, quando perdermos o sentido de humor, coisa que os robôs nunca terão, espero bem... Nem têm os ditadores e aprendizes de ditadores, os censores, os arrogantes, e os que pensam que são donos disto tudo...

Esta "história" do nosso já saudoso Leite Rodrigues (1945-2025) que, além de grande senhor do hipismo e do olimpismo, foi nosso camarada (e continua a sê-lo, respousando agora à sombra do nosso poilão), diz muito sobre ele, a sua personalidade, a sua história de vida...É aqui reconstituída (ou recontada) pelo régulo da Tabanca de Matosinhos, José Teixeira:

Excerto do poste P26523 (**):


Senhora enfermeira,  quero fazer chichi!  

(Leite Rodrigues, 1945-2025 / José Teixeira)


O Leite Rodrigues era um exímio contador de histórias, não só da guerra, mas também...

Contava ele que o avião que o trouxe, ferido, da Guiné, veio de noite de modo a chegar a Lisboa no escuro da alta madrugada, para não serem notados, e vinha carregado de feridos muito graves. 

O que estava em melhores condições era ele, que apenas vinha com uma fome de criar bicho, com a língua traçada e a boca selada com arames, pois os ossos do queixo ficaram em bocados. 

Entre os feridos, vinha um grande grupo de queimados em grau elevado, devido ao rebentamento de uma granada incendiária num embate com o inimigo, creio que em Bula. Todos embrulhados em gaze, pareciam múmias, era assustador e doloroso olhar para aquelas criaturas, comentava com ar pesado o Leite Rodrigues, nas suas lembranças, passados tantos anos…

Acompanhavam-nos duas zelosas enfermeiras, que tudo tentavam para lhes amenizar as dores. Às tantas ouve-se um gemido. 

– Senhora enfermeira,  quero mijar! 

E logo uma sorridente bata branca se aproximou, desapertou-lhe a carcela, e o pobre do rapaz aliviou-se. De seguida, todos os queimados, em carreirinha, apelaram às enfermeiras para os pôr a mijar…

 E foi assim durante o resto da noite. E, ele que nem falar podia, apreciava silenciosamente a paciência e o zelo das queridas enfermeiras.

Quando chegaram a Lisboa, desembarcaram e seguiram para o Hospital em ambulâncias militares, sem fazer o tradicional ninau! ninau!ninau!, para não incomodar os lisboetas.

Encaminharam-no para uma camarata, e atribuíram-lhe uma cama no R/C. Ao pousar os seus haveres tocou em uma coisa dura, que tombou ruidosamente.

O Camarada que dormia no primeiro andar disparou:

– Deste-me cabo da perna, amanhã vou foder-te o juízo!

O Leite Rodrigues tentou dizer-lhe que foi sem querer, mas apenas consegui balbuciar, nh! nh! nh!

– Tu grunhas,  meu filho da...p*ta!... Quando me levantar vou te partir os queixos!

No dia seguinte de manhã, cruzaram o olhar calmamente, e descobriram que tinham sido colegas do mesmo pelotão na recruta em Mafra. Um abraço não esperado, sem palavras, mas sentido. Do Leite Rodrigues apenas se viam os olhos; o camarada chegara uns tempos antes vindo de Moçambique, sem uma perna que fora levada por uma mina antipessoal. estado do povo e sobretudo de nós os jovens dessa altura. 

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas  do editor LG:

(*) Último poste da série > 28 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26537: Humor de caserna (105): Ir às meninas ao Pilão, todo pipi, de calça e camisinha branca, e pingalim debaixo do braço... Mas o terreno estava "minado"... (José Ferraz de Carvalho, Tabanca da Diáspora Lusófona)

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26497: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (5): Em Mueda, no planalto dos Macondes, num dos piores cenários da guerra em Moçambique - Parte I (enf pqdt Maria de Lourdes Gomes)

Moçambique > Cabo Delgado > Mueda > Aeródromo de Manobra nº 51 (AM51) > s/d (c.1971/73)> "Casa onde morávamos, mesmo junto ao hospital, que é no local de onde foi tirada a foto e para onde o ferido está a ser transportado"  (pág.  199).



Moçambique > Cabo Delgado > Mueda > Aeródromo de Manobra nº 51 (AM51) > s/d (c.1971/73) > "Mueda, terra de guerra...bem no centro do planalto dos Macondes: era ali o centro da guerra no Norte de Moçambique... Era para o "hospital" militar de Mueda ("Enfermaria do Sector B") que eram evacuados todos os doentes e feridos em combate daquela região" (pág. 186).


Moçambique > Cabo Delgado > Mueda > Aeródromo de Manobra n- 51 (AM51) > s/d (c.1971/73) > "Vivíamos limitadas e em permanente contacto com o arame farpado" (...) "No AM51 era constante o movimento de aviões e helicópteros descolando e aterrando, a caminho ou no regresso  de missões (...). Assistíamos  também frequentemente , porque passavam perto de nós,  à partida ou à chegada de colunas militares que transportavam reabastecimentos ou que faziam o lançamento de unidades em operações de contraguerrilha em todo o planalto dos Macondes" (pág. 187).

(...) De todos os locais em que trabalhámos durante a guerra do Ultramar, foi aqui, sem dúvida, em Mueda, que nós mais sentimos a guerra, onde estivemos mais isoladas e pior instaladas, em que tivemos as piores condições de trabalho, e onde os riscos que corríamos eram permanentes, quer em terra quer no ar" (pág. 188).

Por Mueda passaram, entre outras, as  enfermeiras paraquedistas Rosa Serra (em 1973), a Maria de Lourdes (Gomes) (c. 1971/72), a Mariana Gomes (1973),  a Ana Gertrudes Ramalho (c.1972/72 ?), a Maria Cristina Silva (c. 1972/73 ?) (ferida por uma bala do IN, que se alojou na cabeça sem gravidade, felizmente)...  (Lamentavelmente não há fichas biográficas destas nossas camaradas; mas de um modo geral, passaram por mais de um TO: a Rosa Serra  e a Maria Arminda, por exemplo, passaram pelos três).

No entanto, a maior parte das histórias que as nossas camaradas enfermeiras paraquedistas  contam, e as mais intensas, são as passadas no TO da Guiné. De Mueda, parece ser a Maria de Lourdes Gomes quem tem mais memórias:  foi lá que conheceu o seu futuro marido, alferes piloto, hoje médico, cirurgião. Para já reproduzimos aqui o  seu depoimento ""Olhando para trás..." (pp. 425/426).





Maria de Lourdes Gomes, 2ª srgt grad, enfermeira paraquedista: é do 7º curso (1970),     que formou  8 enfermeiras... A sua primeira comissão foi em Angola (c. 1971).







Fonte: Texto e fotos: Excertos de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014) (com a devida vénia).

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Nota do editor:

Último poste da série > 


7 de fevereiro de 2025 > 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26470: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (4): "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"... Palavras que me ficaram para a vida (Carlos Parente, natural de Viana do Castelo, ex-sold at inf, CCAÇ 1787)


Guiné > s/l (Bula ?) > 1968 > "De pé, o alferes Alberto,  municiador Azevedo (não sei o que é feito deste moço) e eu, apontador do morteiro 60".




Guiné > S/l > S/d > CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada, Quinhamel, 1967/69)... ) > O Carlos Parente.

Fotos da sua página do Facebook

Fotos (e legendas): © Carlos Parente (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Finalmente apanhamos, no Facebook da Tabanca Grande, um comentário, sincero, espontâneo, singelo, de agradecimento às nossas enfermeiras paraquedistas (*), por parte de um camarada nosso que foi helievacuado em 17 de janeiro de 1968, na zona de Portogole. 

Estamos a falar do Carlos Parente (**). nosso grão-tabanqueiro nº 889 (portanto, de entrada recente). Foi sold at inf, CCAÇ 1787 (1967/69),   foi gravemente ferido no decurso da Op Escudo Negro, a norte de Porto Gole, já na região do Oio, cerca de dois meses e meio depois de chegar ao CTIG..


Em louvor dos nossos anjos do céu


Olá,  boa gente, quando falamos em condecoração isso é para quem dá uns chutos numa bola ou canta umas cantilenas. Isto  com o devido respeito, claro, mas lembar aqueles que tombaram pela Pátria, melhor é esquecer... 

Tal como aquelas heroínas,  que ao lado de pilotos, paraquedistas,  vinham do céu como de verdadeiros anjos se tratasse para socorrer os soldados que rastejavam no mato. Tudo isto é gente de quem não se fala!

Aproveito para dar um abraço muito mas muito forte aquela que no dia 17 de janeiro de 1968 me socorria no mato entre Portogole e Mansoa,  depois de ter passado a noite ali única e simplesmente com o carinho possível dos meus irmãos de guerra que não esqueço nunca.... 

Quem sabe se essa linda jovem tem um diário e porventura venha a ler isto, eu fui apanhado por uma detonação de uma armadilha que me deixou desventrado com fraturas várias,  mas como de noite não haavia socorro aéreo,  fiquei toda a noite a pedir a Deus que não me deixasse morrer ali tão longe de todos que amava. E essa enfermeira,  como que adivinhasse,  a primeira coisa que me disse foi: "Meu amor,  se depender de mim não morres aqui"...  

Sei que já não conseguia falar mas estava lúcido e estas palavras ficaram para a vida. Depois de mais de um ano de internamento e muito sofrimento,  ainda vou estando por cá, por vezes com limitações mas estou cá. 

Abraço grande para todos que me estão a aturar e não esqueço essas lindas jovens que em condições tão difíceis nos ajudavam e que ninguém fala nelas, perdoai este chato. 

Fonte: Facebook da Tabanca Grande Luís Graça, 6 de fevereiro de 2025, 10:37

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Notas do editor:


14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa)

(**) 21 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25667: Tabanca Grande (559): Carlos Parente, ex-sold at inf, CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada e Quinhamel, 1967/69). vive em Viana do Castelo e senta-se agora à sombra do no nosso poilão, no lugar nº 889