Último poste da série > 7 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26470: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (4): "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"... Palavras que me ficaram para a vida (Carlos Parente, natural de Viana do Castelo, ex-sold at inf, CCAÇ 1787)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 15 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26497: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (5): Em Mueda, no planalto dos Macondes, num dos piores cenários da guerra em Moçambique - Parte I (enf pqdt Maria de Lourdes Gomes)
Último poste da série > 7 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26470: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (4): "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"... Palavras que me ficaram para a vida (Carlos Parente, natural de Viana do Castelo, ex-sold at inf, CCAÇ 1787)
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
Guiné 61/74 - P26470: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (4): "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"... Palavras que me ficaram para a vida (Carlos Parente, natural de Viana do Castelo, ex-sold at inf, CCAÇ 1787)
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1. Finalmente apanhamos, no Facebook da Tabanca Grande, um comentário, sincero, espontâneo, singelo, de agradecimento às nossas enfermeiras paraquedistas (*), por parte de um camarada nosso que foi helievacuado em 17 de janeiro de 1968, na zona de Portogole.
Estamos a falar do Carlos Parente (**). nosso grão-tabanqueiro nº 889 (portanto, de entrada recente). Foi sold at inf, CCAÇ 1787 (1967/69), foi gravemente ferido no decurso da Op Escudo Negro, a norte de Porto Gole, já na região do Oio, cerca de dois meses e meio depois de chegar ao CTIG..
Olá, boa gente, quando falamos em condecoração isso é para quem dá uns chutos numa bola ou canta umas cantilenas. Isto com o devido respeito, claro, mas lembar aqueles que tombaram pela Pátria, melhor é esquecer...
Tal como aquelas heroínas, que ao lado de pilotos, paraquedistas, vinham do céu como de verdadeiros anjos se tratasse para socorrer os soldados que rastejavam no mato. Tudo isto é gente de quem não se fala!
Aproveito para dar um abraço muito mas muito forte aquela que no dia 17 de janeiro de 1968 me socorria no mato entre Portogole e Mansoa, depois de ter passado a noite ali única e simplesmente com o carinho possível dos meus irmãos de guerra que não esqueço nunca....
Quem sabe se essa linda jovem tem um diário e porventura venha a ler isto, eu fui apanhado por uma detonação de uma armadilha que me deixou desventrado com fraturas várias, mas como de noite não haavia socorro aéreo, fiquei toda a noite a pedir a Deus que não me deixasse morrer ali tão longe de todos que amava. E essa enfermeira, como que adivinhasse, a primeira coisa que me disse foi: "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"...
Sei que já não conseguia falar mas estava lúcido e estas palavras ficaram para a vida. Depois de mais de um ano de internamento e muito sofrimento, ainda vou estando por cá, por vezes com limitações mas estou cá.
Abraço grande para todos que me estão a aturar e não esqueço essas lindas jovens que em condições tão difíceis nos ajudavam e que ninguém fala nelas, perdoai este chato.
Fonte: Facebook da Tabanca Grande Luís Graça, 6 de fevereiro de 2025, 10:37
(*) Último poste da série > 24 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26420: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (3): Estimativa: podemos apontar para 2,6 evacuações, em média, por dia, só de militares gravement feridos, entre princípios de 1963 e meados de 1974 ?
Vd. também postes de;
14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa)
(**) 21 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25667: Tabanca Grande (559): Carlos Parente, ex-sold at inf, CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada e Quinhamel, 1967/69). vive em Viana do Castelo e senta-se agora à sombra do no nosso poilão, no lugar nº 889
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26420: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (3): Estimativa: podemos apontar para 2,6 evacuações, em média, por dia, só de militares gravement feridos, entre princípios de 1963 e meados de 1974 ?
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Quem seria a enfermeira paraquedista que, nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu, do Pel Caç Nat 52 ? Tanto pode ter sido a Maria Ivone como a Rosa Serra, que nesse dia estava de serviço mas, que nos informou, nunca usou pulseira (para mais na mão esquerda).
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > O fotógrafo, o Jaime Machado, estava lá!... Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241... O camarada, de costas, com o camuflado todo ensanguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, reordenamento a escassas centenas de metros do quartel de Bambadinca, o Sambu foi vítima de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida. Apesar da evaciação Y, ele irá morrer na viagem, tal a gravidade do do seu estado. (`De pé, em tronco, por detrás da enfermeira que está debruçada sobre o ferido, reconheço o Fernando Sousa, o 1º cabo aux enf, fa CCAÇ 12).
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Outro pormenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva, já falecido. À esquerda do Beja Santos, de camuflado ensanguentado (pelo transporte, às costas, do gferido), sob a asa do DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, o fur mil enf da CCAÇ 12, o João Carreiro Martins. Ao fundo estão camaradas do infortunado Sambu, do Pel Caç Nat 52.
Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné1. Queridas senhoras enfermeiras paraquedistas, boas amigas, camaradas e grã-tabanqueiras Giselda, Arminda, Rosa, Aura:
Não importa que um deus menor tenha ordenado a vossa extinção, há 40 anos atrás...Ou que a tropa vos tenha maltratado... Uma vez enfermeiras pqdt, enfermeiras pqdt para a vida...Ninguém ficará com ciúmes com este título antológico aplicado a vocês... Se pensarem nas vidas que ajudaram a salvar (nos 3 TO), não é nenhuma "boutade", ou enormidade, dizer-que, no vosso caso, "Nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucas", parafraseando o grande estadista inglês Winston Churchill...
Vocês foram 46, e agora são bem menos... Há saberes que se perderam irremediavelmente com a extinção do corpo de enfermeiras paraquedistas... Saber-ser, saber-fazer, saber-estar...Na guerra, nos cuidados de saúde aos feridos, militares e civis, a bordo do AL III ou da DO-27, no hospital, no quartel, na base, no mato, na cidade...
Vocês ainda "não fecharam o livro", e até aos 100 (!) ainda irão surgir, bem "espremidinhas", outras histórias, memórias, "cenas"... Penso que faltam sobretudo histórias "sobre" vocês, contadas por nós...Daí o duplo desafio desta série, que tem um título que até pode parecer provocatório...
Andamos todos a "rapar" os baús da memória...Mas a questão não é tanto a falta de material como a "mudança de perspetiva"...Os acontecimentos, os factos, as situações, os lugares, as pessoas, etc. não têm uma única e definitiva leitura...Por isso, "não deitem nada fora", por enquanto...Tudo pode ser "reciclado"...
Será que vamos conseguir material para uma boa dúzia de postes ? O blogue precisa, e vocês merecem o palco (e a nossa gratidão)...
Boa continuação da caminhada pela "picada da vida", agora mais minada e armadilhada... Sobretudo, saudinha.
2. Quantas evacuações terão feito as nossas enfermeiras paraquedistas no TO da Guiné, entre 1962 e 1974 ? (1962 foi o primeiro ano em que se regista a presença de uma enfermeira paraquedista, a Maria Arminda, no CTIG, aonde chegou em julho, e a Eugénia, a seguir, quinze dias depois: foram elas que assistiram aos primeiros feridos da guerra, evacuados em Tite, em 23 de janeiro de 1963).
- 2854 mortos (dos quais 1717 em combate);
- 9400 feridos graves (7200 em combate e 2200 em acidentes)
- e perto de 20 mil feridos ligeiros, segundo rácio 1 morto / 3 feridos graves e 1 morto / 10 feridos ligeiros: no entanto, para a Guiné, estimam-se em 34 mil o número de feridos.
Achamos pouco para um batalhão que teve 16 mortos e 6 "desaparecidos em combate" (**)... 16 mortos a multiplicar pelo rácio 3,6, daria cerca de 58 feridos graves... Ora durante a comissão só terá havido 10 evacuações Y... (podendo o heli ou a DO-27 levar duas macas).
- Tipo A; militares ou civis com necessidade de serem evacuado para o hospital: (i) no mesmo dia do pedido; (ii) ou no dia seguinte; (iii) para consulta urgente; (iv) não exigindo a presença de enfermeira;
- Tipo B: (i) transporte para consultas ou tratamentos programados (anteriormente, pelo próprio hospital), de modo a dar continuidade à vigilância ou tratamento em curso; (ii) não exigia a presença de enfermeira;
- Tipo Y (ou "Zero Horas", em Moçambique): (i) a mais urgente; (ii) de execução imediata; (iii) feita em helicóptero ou avioneta, passível de aterrar em pequenas pistas de mato; (iv) o ferido precisava logo de levar soro e/ou sangue; e (v) era obrigatório uma enfermeira a bordo.
(*) Vd. poste de 20 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26405: A nossa guerra em números (25): O "ventre" do BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67)
(**) Vd. poste de 22 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8590: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): 16 Mortos e 6 desaparecidos em combate (Santos Oliveira)
(***) Último poste da série > 15 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)
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Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1964/66) e CCAÇ 1565 (1966/68) > Domingo, 10 de julho de 1966 > Um dia trágico: pormenor da evacuação do cap mil inf Rui Romero, na foto a ser transferido para a maca do helicóptero Alouette II... A enfermeira paraquedista é (pou parece ser) a alf Maria Rosa Exposto. (*) Em primeiro plano, de costas, e quico na mão, o 1.º cabo operador cripto Florival Fernandes Pires, natural de Portalegre, que foi, com o Artur Conceição, sold trms, uma das primeiras testemunhas das circunstâncias trágicas em que morreu o cap mil inf Rui Anónio Nuno Romero, cmdt da CCAÇ 1565, de 32 anos, casado, pai de 2 filhas menores, natural de Portalegre, residente em Lisboa, filho de pai militar, desenhador de construção civil a frequentar o curso de arquitetura quando foi chamado para o curso de capitães. O Artur Conceição estava a 2 metros do local da tragédia. Embora já cadáver, o corpo do malogrado oficial foi levado de helicóptero para o Hospital Militar de Bissau e o funeral realizou-se um mês e tal depois em Lisboa, no cemitério do Alto de São João. A enfermeira na foto parece ser a Rosa Exposto, do curso de 1964, segundo apurámos junto do nosso camarada Miguel Pessoa e das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas Giselda Pessoa e Maria Arminda. A CCAÇ 1565 foi mobilizada pelo RI 1, partiu para o TO da Guiné em 20/4/1966, e regressou a 22/1/1968. Esteve em Bissau, Jumbembem, Canjambari e Bissau. Comandantes, além do cap mil inf Rui António Nuno Romero: cap inf José Lopes e cap mil inf José Alberto de Sá Barros e Silva (vivia em Lisboa em 2007). Por sua vez, a CART 730 / BART 733, foi mobilizada pelo RAL 1, partiu para o TO da Guiné em 8/10/1964, e regressou a 14/8/1966. Pasou por Bironque, Biossorã, Jumbembem e Farim, Foi seu comandante o cap art Amaro Rodrigues Garcia. O BART 733 esteve em Bissau e Farim. Foto ( e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968). Maria Arminda Santos: (...) "A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. "Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem." (...) (**) Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] Maria Rosa Exposto, ex-alf grad enfermeira paraquedista Brevet nº 2846, 26-4º enf nov 64 1. O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ? Há tempos correu, por aí, pelos "mentideros" das redes sociais, a notícia da tua morte... O que nos deixou sobressaltados... Boato ? Mentira ? Verdade ? Quem desejaria a tua morte, a ti, que salvaste tantas vidas ?!... Mas nenhuma das tuas antigas camaradas (a Rosa Serra, a Maria Arminda, a Giselda...) puderam confirmar ou infirmar essa infeliz notícia, que esperamos, de todo o coração, seja falsa. Infelizmente, não temos dados biográficos detalhados sobre ti, Rosa. Não sabemos onde vives. E o que é feito de ti... Havia três enfermeiras paraquedistas com o nome ou apelido Rosa:
Sabemos que fizeste a tua primeira comissão na Guiné. Como alferes graduada. Estiveste com a Maria Arminda. Republicamos acima uma foto em que tu apareces na evacuação do cap mil inf Rui Romero, "vítima de acidente com arma de fogo", em 10 de julho de 1966. É muito provável que depois da Guiné tenhas passado também pelos TO de Angola e Moçambique. E, tudo indica, pelos dois ou três teus escritos (no vosso livro, "Nós, enfermeiras paarquedistas", 2ª ed., 2014) que tenhas voltado à Guiné em 1969. Não sabemos a que curso pertenceste mas deverá ter sido o 4º curso (1964) (o 5º Curso é já de 1966). Segundo tu própria nos contas, no livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", a tua "primeira comissão foi na Guiné, após um pequeno 'estágio' nos Açores" (pág, 175). Não dizes o ano, mas terá sido em 1966, a avaliar pela foto que nos mandou o nosso camarada Artur Conceição (que vive na Amadora, ex-sold trms, CCAÇ 730, 1964/66). Sabemos que és transmontana de Bragança. E estudaste enfermagem em Coimbra (pág. 175), na então Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (hoje integrada, desde 2004, na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra). A Rosa Serra (que foi a corrdenador do vosso livro) não também não me soube responder a algumas questões que lhe pus a teu respeito. Sabe que tu eras mais velha (a Rosa Serra nasceu en 1946, tu provavelmente em 1942). E, há uns anos atrás, quando te telefonou, ficou a saber que já eras viúva e tinhas um filho. A Maria Arminda não falava contigo há um ano. Sabia que vivias para os lados de Portalegre. Também não sabemos qual era o teu apelido de casada. Mas tudo indica que o teu nome completo seja Maria Rosa Exposto Olivença. Encontrei-o no "Diário da República" (II Série, nº 168, de 24/7/1986): foste promovida, por progressão na carreira, desde 1/1/1986, à categoria de enfermeira de grau 1, 3º escalão, do quadro geral do pessoal civil da Força Aérea... Terás lá ficado até quando ? Participaste no livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2014). Desse livro vamos destacar o seu testemunho de vida (pág. 403). Não te conhecemos pessoalmente. Mas queremos que te juntes a nós, com os amigos e camaradas da Guiné, queremos que se sentes à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, ao lado da Giselda, da Rosa Serra, da Maria Arminda, da Aura Teles e da Ivone Reis (que infelizmente já morreu em 2022). Recordemos que terminas o teu depoimento, para o vosso livro coletivo, com um agradecimento à FAP pela oportunidade que te deu de te realizares como ser humano e como enfermeira, e com palavras de grande nobreza para com aqueles com quem trabalhaste e conviveste: "Nunca vos esqueci nem esquecerei!"... Não nos cansamos de lembrar, no nosso blogue, que vocês, as ex-enfermeiras paraquedistas, são as únicas mulheres a quem, "de jure" e "de facto", podemos chamar camaradas de armas, no sentido puro e duro da etimologia da palavra... ![]() Fonte: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 4032 (com a devida vénia) (***) _______________ Notas do editor: (*) Vd. poste de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição) (**) Vd. postes de 27 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20503: FAP (114): O helicóptero Alouette II (***) Último poste da série > 14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa) |
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa)
Parafraseando o grande estadista inglês, e numa escala e num contexto completamente diferentes (o da guerra colonial portuguesa, de 1961/74), podemos também dizer que "nunca tantos deveram tanto a tão poucas"...
- Giselda Pessoa (93 referências no blogue)
- Maria Arminda Santos (62 referências)
- Rosa Serra (61 referências)
- Aura Rico Teles (6 referências)
- Maria Ivone Reis (1929-2022) (34 referências)
- Aura Teles
- Cristina Silva,
- Ercília Pedro
- Giselda Pessoa,
- Júlia Lemos,
- Maria Arminda Santos,
- Natércia Neves,
- Rosa Serra.
Natural de São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa (conterrânea, por tanto, do escritor Miguel Torga), frequentou a Escola de Enfermagem do Hospital de S.João, no Porto, em 1966. Começou a trabalhar como enfermeira, em 1968, no Serviço de Urgência do S.João.
(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, 2.º Srgt Grad Enfermeira Pára-quedista (Guiné, 1972/74)
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26358: S(C)em Comentários (54): "Fui saneada em 17 de abril de 1975 do Hospital da Força Aérea que ia abrir em janeiro de 1976" (Maria Ivone Reis, ex-maj enfermeira paraquedista, 1929-2022)
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A então ten graduada enf pqdt Ivone Reis (1929-2022), em Cacine, 12/12/1968. Foto: António J. Pereira da Costa (2013) |
1. Excerto do poste P21766 (*), com parte do depoimento da Maria Ivone Reis, publicado em 2004 na "Revista Crítica de Ciências Sociais". Não tínhamos, no nosso blogue, o descritor "saneamento", vocábulo que nos ficou dos tempos ("conturbados") do pós-25 de Abril.
(...) [O 25 de Abril e as suas contradições]
(...) Vivi o 25 de Abril toda contente, a bater palmas, porque finalmente acabava a guerra. Mas, ao fim de uma semana fiquei triste, deixei de perceber o que estava a acontecer.
No dia 26 começaram a ser, não direi hostilizados, mas "mal amados"... Todos eles, incluindo as enfermeiras paraquedistas... Todos deixámos de falar da "guerra do ultramar" (que passou a ser "guerra colonial")... Todos nos esquecemos, que tínhamos participado nessa guerra, uma geração inteira !... (Má consciência, culpa, pudor, vergonha ?!... enfim, um filme que já tínhamos visto noutras "salas de cinema"!),
E algumas enfermeiras paraquedistas deverão ter tido os seus problemas por estes dias de 74/75...A Maria Ivone, por exemplo, foi "saneada" pelos seus "camaradas" da Força Aérea e só foi reintegrada, felizmente, no tempo do Ramalho Eanes... Mas a mágoa ficou...
(***) Último poste da série > 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26211: S(C)em Comentários (53): O drama dos felupes, que estão a perder o seu chão e a sua identidade, afetados pelas alterações climáticas (Cherno Baldé)... E que agora perderam uma grande amiga, a antropólogia Lúcia Bayan , falecida no passado dia 26
Guiné 61/74 - P26357: Humor de caserna (92): "Então a senhora não me conhece ?!...Foi-me buscar a Bambadinca quando eu fui ferido!"... (Maria Arminda Santos, ex-ten grad enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70)
Guiné, Bissalanca, BA12, s/d > Da esquerda para a direita, (i) a Maria Arminda; (ii) a Maria Zulmira André (falecida em 2010); e (iii) a Júlia Almeida (falecida em 2017).
Foto de cronologia do Facebook da Maria Arminda Santos. (Editada e reproduzida aqui com a devida vénia...) (LG)
(...) A vida dá tantas voltas! E, assim sendo, em 1974, resolvi mudar de casa e fui morar para uma zona desconhecida.
Ninguém sabia quem eu era e o que fazia ou tinha feito.
Passados poucos dias abordou-me um vizinho, um homem da rua, como é hábito dizer-se na minha terra, que me perguntou se eu não o conhecia.
Não tinha a mínima ideia de já alguma vez o ter visto, pelo que respondi negativamente. Então, com um largo sorriso. disse-me:
– Pois eu lembro-me muito bem de si, foi-me buscar a Bambadinca. quando fui ferido!
Não queria acreditar, mas era verdade!
Passado pouco tempo, os habitantes da rua ficaram a saber...
Foi numa época menos boa e de certa conflitualidade, após o 25 de Abril, e o modo como a população encarava os militares que tinham estado em Africa não era muito favorável.
Esse facto nunca me intimidou e, sempre que fosse oportuno, eu afirmava que tinha andado na guerra do Ultramar como enfermeira. (...)
__________________
Nota do editor:
Último poste da série > 4 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26348: Humor de caserna (91): O anedotário da Spinolândia (XIV): "Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!"... (Mário Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gandembel e Ganturé, 1967/69)
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26260: Humor de caserna (86): O ”turra” e a boina verde da enfermeira paraquedista (Maria Arminda, ex-ten graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70)
Tancos > RCP (Regimento de Caçadores Paraquedistas) > 8 de Agosto de 1961 > Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone (†) , Maria de Lurdes (Lurdinhas), Maria Zulmira (†) , Maria Arminda e o capitão pqdt Fausto Marques (Director Instrutor). Nota: Para completar o grupo das "Seis Marias", falta(va) a Maria da Nazaré (†) que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois.
1. A Maria Arminda Santos (tenente graduada enfermeira parquedista, 1961-1970) pertence ao grupo das Seis Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961. Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira nº 500 (desde 23 de maio de 2011), é agora a decana ou a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas: tem uma "memória de elefante" , é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).
O ”turra” e a boina verde
da enfermeira paraquedista
por Maria Arminda
(…) Quase sempre, ao aproximar-me do DO-27 ou do AL III, para iniciar uma missão, ao chegar junto dele, instintivamente, dava-lhes duas palmadas na fuselagem, em jeito de saudação. Era assim como que a dizer-lhe: “Aqui estou eu! Leva-me em segurança”.
O incidente
que passo a relatar, ocorreu num DO-27.
Eu tinha sido destacada para uma base de operações, em Cufar, em alerta para
evacuação urgente de feridos. A operação desenrolava-se no Cantanhez, conhecida
pelo “Reino do Nino”. (**)
Surgiu então
uma missão de evacuação (…).
Havia três
feridos para evacuar, todos africanos, supostamente do recrutamente local,
todos metidos dentro do DO-27. Eu fiquei próxima do único que considerava estar
em estado grave, a fim de melhor o poder socorrer durante o percurso. (O que
aquele avião nos permitia fazer!)
Daqueles três
feridos, o mais grave, e que ia junto a mim, era combatente do inimigo, um “turra”
(…). Mesmo que não me tivessem previamente
informado desse facto ainda em terra, eu
facilmente chegaria a essa conclusão pela forma pouco amistosa com que os restantes dois feridos o encaravam e, por vezes, se lhe dirigiam, verbalmente.
O voo decorria com normalidade e eu ia, evidentemente, dispensando mais cuidados ao ferido “turra” por
ser o único grave. Mss era bem visível que esta minha atitude não agradava aos
outros, embora eu não entendesse bem o que eles diziam entre si.
Aí a meio da
viagem, o sol começou a incidir sobre a cabeça
do guerrilheiro e, não tendo eu mais nada para o proteger do sol, coloquei
a minha boina verde de paraquedista na cabeça dele.
Aí os outros
não aguentaram mais! E foi a revolta! Houve quase um motim a bordo!
Indignados,
gritavam para mim que ele, o guerrilheiro, era um “bandido”, e que não merecia um bom tratamento. E muito menos que lhe pusesse
na cabeça a minha boina militar!
Lá os
acalmei como pude, gritando um pouco também, e consegui sossegá-los. Já me não
recordo de que forma, e como o consegui, mas foi com alguma dificuldade, chegando mesmo a recear que eles agredissem o
guerrilheiro.
O final do motim ainda me deu tempo, até aterrarmos em Bissalanca, para meditar sobre a importância que aqueles africanos davam à boina de um militar. Tão grande, que era indecoroso ser colocada na cabeça de um guerrilheiro.
Consegui
acalmá-los com dificuldade, dizendo-lhes
a verdade: que para as enfermeiras paraquedistas, aquele guerrilheiro era apenas
mais um ferido, a necessitar de todo o
meu saber e empenhamento. E que, como era entre todos eles o mais grave, era a ele
que tinha de dispensar mais cuidados.
Mas a eles
pouco ou mesmo nada lhes interessavam estas teorias!
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(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)
Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra, editora literária, 18 são Marias...):
Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 23 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970
(**) Vd. poste de 29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6487: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (14): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (2): Maria Arminda (Rosa Serra)