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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21493: Notas de leitura (1318): "Guia turístico: À descoberta da Guiné-Bissau", 2ª ed., 2018, 176 pp. Uma notável iniciativa da ONGD Afectos com Letras, com apoio da União Europeia.



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À descoberta da Guiné-Bissau : guia turístico / Joana Benzinho, Marta Rosa ; il. Jorge Mateus, Nuno Tavares. 2a ed. rev. e atualiz. [S.l.] : Afectos com Letras, 2018, 176 pp- ISBN 978-989-20-6252-5.


Disponível em pdf, em 4 versões (em português, inglês, francês e espanhola). Descarregar aqui a versão portuguesa:

Versão portuguesa - Guia Turístico: À Descoberta da Guiné-Bissau

 
A 2ª edição, revista e aumentada, deste belo livro, escrito a quatro mãos, foi lançada em março de 2018, e apresentada em Bissau em 10/5/2018. É um edição da ONGD Afectos com Letras ( que tem sede em Pombal), com apoio da União Europeia. Esta ONGD tem já mais de dez referências no nosso blogue.

Sobre o "making of" do livro, vale a a pena reler ou reler uma crónica da sua primeira autora, Joana Benzinho, publicada na "Bird Magazine", na devida altura. É também um convite para os nossos leitores descarregarem o livro, em formato digital, lerem-no, divulgarem-no e fazerem chegar, ao nosso blogue, algumas notas de leitura ou simples comentários. (**)

Para alguns dos nossos leitores vai permitir o regresso a lugares (vd. índice alfabético do livro) que ficaram, com marcas indeléveis, na sua memória da guerra, desde Bambadinca a Buba, passando pelo Boé, ou desde Mansoa a Gabu, passando pelo Saltinho e Guileje ... Para outros, pode ser um sugestão para uma viagem... "on line" à Guiné-Bissau, que tem hoje o triplo da população do nosso tempo, mais de 1,5 milhões de habitantes, metade dos quais têm menos de 18 anos, Existem entre 27 e 40 grupos étnicos.

E há lugares de que ouvimos falar pela primeira vez... É o caso de Nhampassaré (p. 101):

(,..) "Nas imediações de Gabú, é possível visitar as Grutas de Nhampassaré, onde se encontra reunido um património de valor arqueológico e natural notável. Aqui, podemos ver as referidas grutas ocupadas pelo homem pré-histórico com alguns vestígios de gravuras e formações em quartzito com várias formas de erosão produzidas pela natureza, nomeadamente com formas colunares. A gruta e as pedras gigantescas de Nhampassaré são, de facto, uma fascinante obra natural e terão sido habitadas pela primeira vez na época do neolítico. Neste local, também existe um santuário muçulmano, onde é comum as pessoas fazerem pedidos." (...)

Ficamos a saber também que, de acordo com o censo de 2009, os grupos étnicos com maior expressão na Guiné-Bissau, são os Fulas (28,5%) que vivem essencialment no leste do país (Bafaté e Gabu), seguidos dos Balantas (22,5%)) que se encontram principalmente na região Sul (Catió) e Norte (Oio), e dos Mandingas (14,7%), que vivem no Norte do país. Em 4º e 5º lugares, vêm os os Papéis (9,1%) e os Manjacos (8,3%). Balantas, Papéis e Manjacos são essemcialmente povos ribeirinhos.

Os indicadores de desenvolvimento mostram que praticamente metade da população (48,9%) da população vive em condições de extrema pobreza, com menos de $1,25 dólares por dia. Só 13% falam português, a língua oficial, a par do crioulo (que só 60% entende)...Há cerca de 20 línguas locais, fazendo a Guiné-Bissau uma autêntica Babel... Além da sua diversidade cultural, é um país, com uma espantosa biodiversidade, tendo em conta o seu diminuto tamanho (o equivalente ao nosso Alentejo). Basta referir, por exemplo, que estão identificadas mais de 370 espécies de aves, Tem 5 (cino!) parques nacionais... Infelizmente, na agricultura, continua a predominar a monocultura do caju (, que sucedeu à mancarra colonial), e de cuja exportação a Guiné Bissau está dependente: representa mais de 90% das exportações, mais de 60% do PIB e cerca de 17% das receitas fiscais...

Em suma, um país que nso diz muito e que vale a pena conhecer, visitar ou revisitar... E o turismo, se sustentável, pode ser uma alavanca para o tão necessário e desejável desenvolvimento integrado, que continua a ser uma miragem desde a independência, em 1974.

No entanto, com os problemas de saúde que já têm ou começam a ter os antigos combatentes portugueses que lá estiveram entre 1961 e 1974, torna-se cada vez menos exequível (e recomendável) um regresso (feliz e seguro) à terra onde passaram dois anos das suas jovens vidas, agora em "turismo de saudade".

Há regiões da Guiné, como por exemplo, o Boé ou quase todas as ilhas do arquipélago dos Bijagós onde é extremamente difícil (e caro) chegar. E os preços que as agências de turismo praticam ainda são incomportáveis para as nossas bolsas. Vamos ver, daqui a uns meses, as ofertas turísticas pós-pandemia Covid-19.

Mas àparte as acessibilidades, o país não pode oferece ainda, ao turista estrangeiro, grandes garantias de apoio sanitário, em caso de acidente ou doença súbita... O hospital mais próximo é... Dacar, no Senegal. E as infraestruturas hoteleiras são extremamente rudimentares...

A primeira edição deste guia é de 2016. Alguns reparos nossos foram corrigidos (*). E esta 2ª edição é altamente meritória e profissional, com excelente ilustração e boa execução gráfica. Merece seguramente uma leitura, mais crítica e atenta, da nossa parte, numa próxima oportunidade. Joana Benzinha, uma "mulher de armas", mas também dotada de uma grande sensibilidade sociocultural e ecológica, explica aqui o impacto que teve, na sua vida, a primeira descoberta da Guiné-Bissau em 2008. (LG)


GUINÉ-BISSAU: A VIAGEM DA MINHA VIDA

por Joana Benzinho


[Com a devida vénia à autora e ao editor...)

Aterrei pela primeira vez na Guiné-Bissau em Agosto de 2008, com muita chuva , para duas semanas de férias que iriam moldar o meu futuro e levar à criação da ONG Afectos com Letras que tem levado a cabo um trabalho intensivo na área da educação, no apoio às mulheres e na criação de bibliotecas por todo o país.

E foi nessa condição inicial de turista que conheci a enorme dificuldade em encontrar informação sobre as características económicas, sociais, culturais ou geográficas do país. 

Depois de uma busca demorada por livrarias em Portugal e na Bélgica acabei por encontrar no Amazon um guia dos anos 90, completamente desfasado da realidade do país que passou por momentos difíceis com uma guerra em 1998 que o desvirtuaram de algumas das suas características arquitectónicas mas não ao abalaram a sua fabulosa biodiversidade.

Surgiu assim em 2015 a possibilidade de passar para o papel o muito que palmilhei e conheci na Guiné-Bissau, numa parceria com a União Europeia e em co-autoria com a Marta Rosa em nome da Afectos com Letras. Este Guia Turístico, a quem demos o nome “À descoberta da Guiné-Bissau” veio colmatar uma falha sentida por quem queria visitar a Guiné e permitiu também aos próprios guineenses conhecerem o seu país de uma forma mais aprofundada.

A procura da primeira edição, de Fevereiro de 2016, superou todas as nossas expectativas e cruzou fronteiras e oceanos. Fomos contactadas desde o Brasil, a Cuba, Alemanha ou Suécia por pessoas interessadas no guia. Chegou a vários países como presente oficial em visitas de Estado, o que muito nos honrou. E isso é sintomático da falta que fazia e do interesse que suscitou. 

É um trabalho que nos fez correr centenas de quilómetros e outras tantas milhas em busca do mais interessante para dar a conhecer deste maravilhoso país que é a Guiné-Bissau. Posso dizer que foi esta “A Viagem” da minha vida.

Agora, dois anos passados, o guia caba de regressar numa segunda edição revista e atualizada, apresentada esta semana em Bissau.

A Guiné-Bissau tem variados recursos que podem ditar uma mudança positiva no seu futuro e um turismo sustentável é claramente um deles. Foi precisamente isso que tentámos trazer até ao leitor, o melhor deste país berço de uma biodiversidade fabulosa e detentor de um arquipélago de quase 100 ilhas onde a palavra paraíso encontra a sua definição e o seu conteúdo.

Este Guia serve vários propósitos e públicos que vão desde o turista clássico, ao investidor que procura informação sobre o país, passando pela simples curiosidade de quem quer aumentar a cultura geral sobre as suas características ou para dar a conhecer aos guineenses, residentes no país ou na diaspora, as belezas que a Guiné abriga.

O Guia Turístico “À descoberta da Guiné-Bissau”, está disponível em papel nas versões portuguesa, inglesa e francesa e pode também ser descarregado gratuitamente nestas três versões e ainda na versão espanhola.

A quem não conhece este paraíso, fica a sugestão de um passeio pelas páginas do livro. Quem sabe se uma viagem até Bissau não mudará a vossa vida, como mudou um dia a minha, já lá vão nove anos.

Joana Benzinho

[ Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, Diplomada em Direito Europeu pelo Institut d'Études Européens - Université Libre de Bruxelles e Diploma da Academia Diplomática Europa e pelo Institut Européen des Relations Internationales. Assessora Parlamentar no Parlamento Europeu desde 1999. Fundadora da Associação Afectos com Letras, criada em 2009 e professora de informática de emigrantes portugueses na Bélgica em regime de voluntariado desde 2004. "A minha casa é a minha de viagem", vd. a sua página no Facebook ]


2. Amostra (por ordem alfabética)  de projetos financiados pela União Europeia (entre 201o e 2020), e citados no "guia turístico":

O guia turístico não podia deixar de referir, com algum detalhe, os diversos projetos de desenvolvimento apoiados com o dinheiro dos contribuintes europeus, entre 2010 e 2020. É uma amostra:

Áreas Protegidas e Resiliência às Mudanças Climáticas, regiões de Quinara, Tombali,Gabú, Bafatá, Cacheu, Bolama-Bijagós: c. 3,9 milhões de euros (p.  27);

Bafatá Misti Igua, Bafatá, c. 880 mil euros (p. 89);

Bambadinca Sta Claro  – Programa Comunitário para Acesso a Energias Renováveis, Bambadinca: c. 1,6 milhões de euros (p. 93)

Bubaque Cidade Aberta, ilha de Bubaque, arquipélago dos Bijagós; c. 480 mil euros (p. 131);

Conservação pelas Comunidades dos Valores Culturais e Naturais do Setor de Boé: c. 500 mil euros (p. 100)

Conservação e Desenvolvimento das Ihas Urok   – projetos “Urok Osheni! “, “Bemba di Vida!” e “ Etikapun N'ha - Urok”, ilhas Urok: c. 1,8 milhões de euros;

Cultura i Nô Balur – Uma estratégia de Educação para a Cultura na Guiné-Bissau. c. 700 mil euros (p. 44);

EcoCantanhez – Ecoturismo no Parque Nacional de Cantanhez, região de Tombali; c. 490 mil euros (p. 117)

Festivais de Cultura  – Sustentar o Homem e a Biosfera. Bubaque: c. 330 mil euros (p. 132)

Gestão Sustentável dos Recursos Floresais no ParqueNatural dos Tarrafes de Cacheu, região de Cacheu, c. 2 milhões de euros (p. 68):

Gestão Transparente  – Recursos Sustentáveis: Projeto de Reforço de Capacidades da Sociedade Civil para a monitorização da gestão dos Recursos Naturais na Guiné-Bissau, c. 200 mil euros (p. 27);

Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro de Cacheu   – projetos “Cacheu, Caminho de Escravos” e “Cacheu di si Cultura i istoria “, região de Cacheu, c. 1,05 milhões de euros (p. 65);

No Cultura i No Riqueza – Promoção da Economia Criativa, c. 690 mil euros, região de Bissau (p. 43);

Observatório dos Direitos  - Casa dos Direitos, c. 300 mil euros (p. 37);

Parque Europa – Lagoa N’Batonha – projeto “Kau di catchu ku kau di pecadur”, c. 390 mil (p.

Projeto de Apoio Integrado ao Desenvolvimento Rural nas  regiões de Bafatá, Quinara e Tombali (PAIDR), regiões de Baftá, Quinara e Tombali, c. 3,5 milhõs de euros (p.108):

Reforço do Turismo Natural, Histórico e Cultural como Crescente Atividade Económica para o  Desenvolvimento da Guiné-Bissau, ilha de Orango, arquipélagos dos Bijagós: c. 500 mil euros (p. 138)

Tchossan Soninké  – Panos de Ponte Nova, Bafatá: c. 1,150 milhões de euros  (p. 91)

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