Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Presume-se que fosse uma brincadeira de Carnaval... Dois militares parodiam a PM - Polícia Militar... O Eurico Corvalho † podia ser o terceiro a contar da esquerda, pelo menos é alguém que parodia a figura do capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garantiu-me uma vez o Nuno Rubim, que foi seu camarada da academia (O Nuno era de um curso anterior ao do Eurico)... Mas o Zé Brás, que também o conheceu, em Mejo e Guileje, diz que não... (LG).
Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). (Fotos do José Neto † , reeditadas por Albano Costa). Todos os direitos reservados.
Foto: © Manuel Moreira (2011)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Que a guerra não rima com carnaval, isso toda a gente sabe. Na Guiné, em tempo de guerra não se limpavam armas...No carnaval de 1970, 9 de fevereiro, lembro-me de ter levado porrada da grossa. No mesmo dia, embarcava para a Guiné o Cap Mil Art Jorge Picado, deixando mulher e quatro filhos...
Outros, eram capazes de se desenfiar por umas horas, em dia de carnaval (ou noutro dia qualquer), por uma boa causa como a de ajudar os camaradas a comer um cabritinho assado: estou-me a lembrar do Tomás Carneiro, o nosso camarigo açoriano, que no Carnaval de 1973 fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos de Polibaque...
Em suma, não sobrava tempo (e muito menos ainda disposição) para "brincar ao carnaval"... É possível que, num ou noutro sítio, num ou noutro tempo, houvesse quem arranjasse tempo e pachorra para se mascarar, reinar, parodiar, brincar... Estou-me a lembrar dos foliões da CART 1613 (Guileje) ou da CART 1746 (Xime) de que publicamos fotos acima... O ser humano é imprevisível... Tragédia, drama e comédia, podiam acontecer no mesmo dia, e até em dia de carnaval...
Fui ao Diário do António Graça de Abreu mas lá não há referências ao Carnaval. Minto: há uma, mas é irónica... Em contrapartida, um mês antes, tinha passado por Cufar o circo!.. Podem achar surreal, mas houve pelo menos uma companhia de circo, em deambulação pela Guiné, no 1º trimestre de 1974... Esteve em Cufar, no dia 25 de janeiro de 1974... Nesse ano o carnaval, foi a 26 de fevereiro...
Por gentileza e generosidade do nosso camarigo AGA, aqui ficam aqui mais dois excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).
(...) Cufar, 25 de Janeiro de 1974
A companhia do “Circo Sevilha” chegou a Cufar para um grande show destinado às nossas Forças Armadas e à população nativa. De manhã cedo, o Nordatlas trouxe os artistas e os adereços, veio buscá-los à tardinha, de regresso a Bissau. O exército pagou aos talentosos artistas, deu-lhes cabrito assado para o almoço, forneceu o público.
O circo serviu para distrair, dar fantasia à dureza dos dias, adoçar-nos a boca cheia de temores e angústias amargas.
O que é um circo? Quem são os homens que fazem um circo? Para que serve um circo?
Juntam-se as pessoas num grupo, cada uma delas capaz de executar um truque ou habilidade, ou de colaborar na realização de diferentes números, difíceis, fantásticos, surpreendentes. Os artistas, o prestidigitador, o músico do trompete, a “partenaire” do equilibrista, o carregador de aparelhos para dentro e fora da pista, os animais, os palhaços.
O circo. Música de tchim-pó-pó, o movimento e a cor, os saltos no ar, lantejoulas, garridice, a fantasia, alegria com vislumbres de verdade, tristeza com laivos de exultação e festa.
O circo. Momentos de espanto e de magia, mas o gato com rabo de fora. Gente que ganha e gasta a vida. Povo real, os trajes coçados pelo uso, os corpos deselegantes e cansados, as meias rendadas rotas, os truques velhos, o espectáculo pobre.
Boquiabertos, assistimos ao retrato original do que também somos.
(...) Cufar, 25 de Fevereiro de 1974
Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...)
[Foto acima: Máscara bijagó, Bubaque, 13 de dezembro de 2009. Foto de João Graça]
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos