Foto nº 1 A
Foto nº 1
Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > 1968 > "As sobras do rancho da tropa"... [as crianças da vizinhança que vinham, de lata, à cabeça, recolher as sobras dos ranchos e das messes dos nossos aquartelamentos; na foto, pelo menos três delas trazem latas, amarelas, de vários tamanhos, de conservas de peixe, da marca (branca) "Manos" ou "[Her]manos", da empresa conserveira de Portimão La Rose - Feu Hermanos, fundada em 1902]
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem, com data de 22 do corrente, do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]:
Assunto: Esclarecimento de uma curiosidade
Boa tarde Luís Graça.
Antes de mais os meus cumprimentos e bom regresso de férias.
A interessante fotografia 'rancho dos pobres' [foto nº 1], do Virgílio Teixeira (*), dá pano para mangas. Eu, que sempre fui bom observador, descobri o... 'MANOS' na lata amarela à cabeça do rapaz ao lado da rapariga de vestido branco [vd. foto nº 1A].
Depois lembrei-me do Museu de Portimão, quase todo ele inserido na antiga Fábrica de Conservas Feu Hermanos.
Depois contactei com o Museu para esclarecimento da minha curiosidade.
Parece muito provável que o djubi tenha à cabeça uma peça de museu.
Luis, se achares interessante publica esta minha troca de emails, com o Museu de Portimão, para esclarecimento da minha curiosidade.
Um grande abraço
Valdemar Queiroz
2. Mensagem de 21 do corrente, enviada pelo Valdemar Queiroz ao Museu de Portimão:
Assunto: Esclarecimento de uma curiosidade
Exmos. Senhores
Boa tarde.
Antes de mais quero enaltecer o extraordinário desempenho para a Cultura a actividade do Museu de Portimão.
Assisti há dias, na RTP2, ao programa 'Visita Guiada' no Museu de Portimão e fiquei encantado.
Agora e por razões de frequentador/comentador no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, cujo principal conteúdo é o convívio/recordações dos tempos passados na guerra colonial, na Guiné, e não só, surgiu uma curiosidade sobre a extraordinário fotografia 'o rancho dos pobres', de autoria do ex-alferes miliciano Virgílio Teixeira (*).
A fotografia, do ano de 1968, é uma chapa do que habitualmente acontecia: crianças de lata na mão à espera das sobras do rancho da tropa.
Esta fotografia, embora comovente, não representa aparência real e apenas tem um ar sério por se tratar de 'vamos a estar quietos para todos ficarem na foto', bem pelo contrário do que, agora, acontece com as crianças engaioladas nos EUA.
Mas a fotografia levantou-me a curiosidade de me parecer que o rapaz mais crescido, que está ao lado da rapariga de vestido branco, ter à cabeça uma lata amarela de conservas Feu Hermanos. Será?
É esta curiosidade que eu gostava ficar esclarecido e ter um motivo, não só para enaltecer o Museu de Portimão, mas também dar a conhecer que na fotografia aparece um rapaz com uma peça de museu á cabeça.
Agradeço a Vossa melhor atenção.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Valdemar Queiroz da Silva
Foto da página inicial do sítio Museu de Portimão (que está instalado na antiga fábrica de conservas La Rose - Feu Hermanos. fundada em 1902). Foto reproduzida com a devida vénia...
[É um dos museus portugueses mais premiados, a nível nacional e internacional, tendo-lhe sido atribuídos, desde a sua abertura em 2008, tendo ganho nomeadamente o Prémio “Museu Conselho da Europa 2010”, atribuído pelo Conselho da Europa, o Prémio “DASA – Mundo do Trabalho 2011”, primeira edição deste prémio atribuído na cidade de Dortmund, na Alemanha.]
3. Resposta do Museu de Portimão:
Boa tarde, Valdemar Silva,
De facto parece ser uma das latas produzidas pela Feu Hermanos, só é pena que o braço do jovem não permite mais leitura, mas tendo em conta que a política de exportação para África era mais "marca branca" do que enviar outras marcas prestigiadas como era o caso da "La Rose", é bastante provável. E obrigado pelos elogios que nos coloca!
Votos de um bom fim-de-semana.
Com os melhores cumprimentos,
Pedro Branco
Museu de Portimão
Rua D. Carlos I – Zona Ribeirinha
8500-607 Portimão
Portugal
Tel: +351 282 405 232 | Fax: +351 282 405 277
museu@cm-portimao.pt
www.cm-portimao.pt
4. Comentário do editor:2. Mensagem de 21 do corrente, enviada pelo Valdemar Queiroz ao Museu de Portimão:
Assunto: Esclarecimento de uma curiosidade
Exmos. Senhores
Boa tarde.
Antes de mais quero enaltecer o extraordinário desempenho para a Cultura a actividade do Museu de Portimão.
Assisti há dias, na RTP2, ao programa 'Visita Guiada' no Museu de Portimão e fiquei encantado.
Agora e por razões de frequentador/comentador no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, cujo principal conteúdo é o convívio/recordações dos tempos passados na guerra colonial, na Guiné, e não só, surgiu uma curiosidade sobre a extraordinário fotografia 'o rancho dos pobres', de autoria do ex-alferes miliciano Virgílio Teixeira (*).
A fotografia, do ano de 1968, é uma chapa do que habitualmente acontecia: crianças de lata na mão à espera das sobras do rancho da tropa.
Esta fotografia, embora comovente, não representa aparência real e apenas tem um ar sério por se tratar de 'vamos a estar quietos para todos ficarem na foto', bem pelo contrário do que, agora, acontece com as crianças engaioladas nos EUA.
Mas a fotografia levantou-me a curiosidade de me parecer que o rapaz mais crescido, que está ao lado da rapariga de vestido branco, ter à cabeça uma lata amarela de conservas Feu Hermanos. Será?
É esta curiosidade que eu gostava ficar esclarecido e ter um motivo, não só para enaltecer o Museu de Portimão, mas também dar a conhecer que na fotografia aparece um rapaz com uma peça de museu á cabeça.
Agradeço a Vossa melhor atenção.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Valdemar Queiroz da Silva
Foto da página inicial do sítio Museu de Portimão (que está instalado na antiga fábrica de conservas La Rose - Feu Hermanos. fundada em 1902). Foto reproduzida com a devida vénia...
[É um dos museus portugueses mais premiados, a nível nacional e internacional, tendo-lhe sido atribuídos, desde a sua abertura em 2008, tendo ganho nomeadamente o Prémio “Museu Conselho da Europa 2010”, atribuído pelo Conselho da Europa, o Prémio “DASA – Mundo do Trabalho 2011”, primeira edição deste prémio atribuído na cidade de Dortmund, na Alemanha.]
3. Resposta do Museu de Portimão:
Boa tarde, Valdemar Silva,
De facto parece ser uma das latas produzidas pela Feu Hermanos, só é pena que o braço do jovem não permite mais leitura, mas tendo em conta que a política de exportação para África era mais "marca branca" do que enviar outras marcas prestigiadas como era o caso da "La Rose", é bastante provável. E obrigado pelos elogios que nos coloca!
Votos de um bom fim-de-semana.
Com os melhores cumprimentos,
Pedro Branco
Museu de Portimão
Rua D. Carlos I – Zona Ribeirinha
8500-607 Portimão
Portugal
Tel: +351 282 405 232 | Fax: +351 282 405 277
museu@cm-portimao.pt
www.cm-portimao.pt
Parabéns, Valdemar, és um grande observador, ou não fosses um "comercial", batido, treinado e experimentado... Pois claro que vamos publicar... Ampliando a foto, não há dúvida que a lata, amarela, que o miúdo (o "djubi", à esquerda da miúda de branco) leva à cabeça, ostenta as letras da marca "MANOS" (ou "[HER]MANOS"... Inclino-me mais para a primeira hipótese, "MANOS", e de se tratar de um lata de atum, talvez de um quilo... A lata que a "bajudinha" leva à cabeça, embora também de cor amarela, parece ser de outra marca, e de outro produto...
A indústria conserveira portuguesa sempre ganhou com as guerras... Muito conserva de peixe (atum, cavala e sardinha...) se consumiu nos nossos "ranchos", de todas as maneiras e feitios, acompanhadas com feijão, arroz, massa, esparguete, etc. Hoje adoro conservas de peixe ("portuguesas", que são as melhores do mundo, e um autêntico produto "gourmet"...), mas durante anos não suportava sequer o seu cheiro... O que chegava à Guiné, no tempo da guerra, devia ser o que não se exportava...
Já mandei ao Virgílio Teixeira, em primeira mão, para ele poder comentar. Ab, Luis
Olá, Luís.
Obrigado pela prioridade. Realmente esta foto não vai ficar por aqui.
Acho que o Valdemar Silva tem olho clínico, para mim isto é mais uma das 1000 fotos que estavam no baú das recordações que iriam para o lixo um dia, quando passasse para o lado daqueles "que da lei da morte se foram libertando"...
Sucintamente, já não tenho duvidas de que se trata dessa peça de museu, já vi na página do Museu de Portimão, caixas muito parecidas e a cor amarela e o tipo de letra não deixa margem para dúvidas. Mas vou mais longe, acho que estão lá mais 3 latas dessas, só que não se percebe o nome, mas o estilo é o mesmo.
Como foram lá parar à tropa conservas de tanta qualidade? Não sei. Eu nunca vi, mas eram latas grandes para servir nas messes e cantinas, não era uso individual. Posso adiantar, por exemplo, que poderão ter vindo da África do Sul, país de onde vinha tanta coisa que não havia em Portugal, as águas Perrier, a Coca Cola, todas as bebidas e tabaco do mais caro na altura no mundo, bem como, tanta lata de conservas de frutas, ananás, pêssego, pêra, tudo em calda, isso lembro-me bem, comia muita fruta dessa.
Se não era da Africa do Sul, poderia ser de outro país europeu para onde a marca exportava, e porque eram latas de qualidade, pela amostra que vemos, ali na foto estão 4 dessas espécies.
Vamos explorar mais este assunto, e podes á vontade publicar no Blogue, podem vir mais comentários para chegarmos lá, e ainda vamos mandar para o Museu de Portimão a foto representativa daquilo que agora vou chamar de «As sobras do rancho da tropa na Guiné" (**).
Vou mandar cópias disto para a minha nora, pois ela é especialista em Museus etc.... Pode ser que ela nos dê uma ajuda, e assim o nosso trabalho nunca será esquecido.
Ab, Virgílio
Na imagem pode ler-se: "Composição: Sumo - Popa e óleo de laranja - Açúcar granulado - Água esterelizada / Corado artificialmente / Fabricado por Francisco Alves & Filho Lda / Venda do Pinheiro"...
Houve muita gente, na Metrópole, a ganhar dinheiro com a guerra, a começar pelos industriais do sector agroalimentar ... Ainda conheci o Sr. Francisco Alves e um dos seus filhos, quando trabalhei na administração fiscal em Mafra, em dezembro de 1973, num "jantar de Natal" que ele ofereceu ao "pessoal das Finanças", como era da tradição: foi na fábrica, em Venda o Pinheiro, tudo muito bem "regado", eu, que era "novato" no ofício e na repartição, não me membro de ter bebido "produtos da casa"... Constava que o seu sucesso, nos negócios, tinha começado no tempo da guerra de Espanha (1936-1939)...
Uma das marcas famosas da firma era a Laranjinha C, cuja história, ao que parece, remontava já a 1926, "ano da fundação da empresa Francisco Alves e Filhos, na Venda do Pinheiro", e "em que o empresário Francisco Alves começou a produzir pirolitos, para além de outros refrigerantes".
Uma das marcas famosas da firma era a Laranjinha C, cuja história, ao que parece, remontava já a 1926, "ano da fundação da empresa Francisco Alves e Filhos, na Venda do Pinheiro", e "em que o empresário Francisco Alves começou a produzir pirolitos, para além de outros refrigerantes".
Reproduzo, com a devida vénia, do sítio Made in Portugal > 20 de abril de 2010 > Laranjina C: Nostalgia VI:
(...) "As garrafas da empresa ostentavam a forma da mole granítica de Mafra e a designação de Convento, mas apesar da fama conquistada, só ocasionalmente, a distribuição das bebidas ultrapassava os limites do concelho de Mafra. Com o final da 2ª Guerra Mundial, a empresa dá o grande passo e lança no mercado a Laranjina C, com a sua garrafa original e distribuição a nível nacional. A marca Larangina C, teve um período de ouro, com publicidade constante na televisão, um grande prémio de ciclismo, e chegou a patrocionar a equipa de ciclismo do Sporting. No ano de 1970, através de um acordo com a multinacional Gesfor, é introduzida em Portugal a marca TriNaranjus, um produto natural, SEM BORBULHAS e com verdadeiro sumo de fruta. Nesta altura, a família Alves vê-se forçada a optar por uma das marcas produzidas. Em 1990, a empresa da família Alves, foi adquirida pelo grupo Cadbury-Schweppes Portugal, SA." (...)
Na Guiné (como de resto nos outros Teatros Operacionais), o "ventre da guerra" obrigava, por seu turno, a uma tremenda logística... Quantos camaradas nossos não terão morrido ou sofrido para que esta garrafa de laranjada "Convento de Mafra" chegasse a Guileje, no sul da Guiné ? Ou as latas de conservas da marca "[Her]Manos" chegasse a São Domingos, no norte ?
Na Guiné (como de resto nos outros Teatros Operacionais), o "ventre da guerra" obrigava, por seu turno, a uma tremenda logística... Quantos camaradas nossos não terão morrido ou sofrido para que esta garrafa de laranjada "Convento de Mafra" chegasse a Guileje, no sul da Guiné ? Ou as latas de conservas da marca "[Her]Manos" chegasse a São Domingos, no norte ?
5. Comentário de LG:
Virgílio, já descobrimos outras marcas de produtos portugueses, usados pelas NT... Por exemplo, a laranjinha C e outros refrigerantes, em garrafas que ficaram enterradas sob as ruínas do quartel de Guileje, arrasado pela nossa aviação... Deves lembra-te de mais marcas, de fornecedores das NT, até pelas tuas funções, para além das que já mencionaste, oriundas da África do Sul (a Coca-Cola, a Fanta, etc.).
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18758: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVI: História e imagens de São Domingos: fotos de 1 a 8
(***) Último poste da série > 21 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18762: Fotos à procura de...uma legenda (105): O 'rancho dos pobres'... (Virgílio Teixeira / Luís Graça / Cherno Baldé / Valdemar Queiroz)
Virgílio, já descobrimos outras marcas de produtos portugueses, usados pelas NT... Por exemplo, a laranjinha C e outros refrigerantes, em garrafas que ficaram enterradas sob as ruínas do quartel de Guileje, arrasado pela nossa aviação... Deves lembra-te de mais marcas, de fornecedores das NT, até pelas tuas funções, para além das que já mencionaste, oriundas da África do Sul (a Coca-Cola, a Fanta, etc.).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18758: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXVI: História e imagens de São Domingos: fotos de 1 a 8
(***) Último poste da série > 21 de junho de 2018 Guiné 61/74 - P18762: Fotos à procura de...uma legenda (105): O 'rancho dos pobres'... (Virgílio Teixeira / Luís Graça / Cherno Baldé / Valdemar Queiroz)