|
Morteirete 60mm m/968 (FBP) |
1.A Fábrica de Braço de Prata (FBP) foi um dos estabelecimento fabris militares, que deram um importante contributo, ao longo do séc. XX e sobretudo nos anos 50 e 60, para a reestruturação e modernização da nossa indústria militar, e em particular para o esforço de guerra em África.(*)
A sua origem remonta a 1908, quando começou a funcionar como Fábrica de Projecteis de Artilharia. Estava dependente do Arsenal do Exército e, após a extinção deste, passou para a tutela do Ministério da Guerra, mas com gestão própria.
O seu nome, Fábrica de Braço de Prata (FBP), tinha a ver com a sua localização no bairro de Braço de Prata, na zona oriental Lisboa, em Marvila, à beira Tejo, a sul Parque das Nações.
Foi integrada, em 1980, na INDEP - Indústrias Nacionais de Defesa, E.P.", e em 1996, inserida no grupo EMPORDEP - Empresas Portuguesas de Defesa. Mais tarde, o seu equipamento será transferido para Moscavide.
Atualmente, nas antigas instalações administrativas da FBP, propridade da Câmara Municipal de Lisboa, funciona "ad hoc" um centro cultural privado (que inclui livrarias, salas de exposições, salas de cinema e teatro e sala de espectáculos musicais, e que usa a mesma designação - Fábrica de Braço de Prata). |
Fachada principal da FMBP |
Mas voltando à sua história fabril: além de munições para artilharia, a FBP alargou a sua produção para outros tipos de armamento. Passou a chamar-se "Fábrica Militar de Munições, Armas e Veículos". E de novo "Fábrica Militar de Braço de Prata" (FMBP) ou, simplesmente "Fábrica de Braço de Prata" (FBP).
Este e outros estabelecimentos fabris militares, beneficiaram da entrada de Portugal da NATO, assim como do Plano Marshal (1949-1950), e mais tarde da cooperação com a Alemanha, conseguindo meios fnanceiros para a montagem de maquinaria e requalificação e formação do seu pessoal.
2. Com a guerra do ultramar / guerra colonial, a FBP irá produzir algumas centenas de milhares de espingardas automáticas (e nomeadamente a G3), morteiros, metralhadoras, outros equipamentos militares, além de milhões de munições (para armas ligeiras e pesadas). O principal cliente eram as nossas Forças Armadas, mas também exportava (e nomeadamente, para a Alemanha).
De entre o equipamento FBP mais conhecido destaque-se:
(i) a pistola-metralhadora de 9 mm FBP ( projetada e fabricada pela FBP);
(ii) a espingarda automática de 7,62 mm G3 (fabricada sob licença);
(iii) a metralhadora de 7,62 m HK21 (fabricada também sob licença);
(iv) o morteirete de 60 mm FBP (projetado e fabricado pela FBP).
Alguns dados sobre pessoal e produção nacional (1973) (estimativa) (Origem: FMBP - Fábrica Militar Braço de Prata; FNMAL - Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras)
- Em 1969 o pessoal da FMBP (dirigente, técnico, administrativo, auxiliar e fabril) atingia cerca de 2400;
- Cartuchos 7.62mm (FNMAL) > 90 milhões:
- Granadas de mão ofensivas m/62 (FMBP> 600 mil;
- Granadas de mão defensivas m/63 (FMBP) > 300 mil;
- Granadas para morteiro 60mm (FMBP) > 100 mil / 140 mil;
- Granadas para morteiro 81mm (FMBP) >60 mil;
- Granada deobus 10,6 cm (FMBP) > 30 mil.
Nº total de armas fornecidas pela FMBP às Forças Armadas (1962-1973):
- Espingarda automática G3 > c. 300 mil (a partir de 1962);
- Metralhadora HK 21 > c. 7300 (a partir de 1968);
- Pistola metralhadora FBP m/963 >7230 (a partir de 1963);
- Morteirete 60 mm > 810 (data de início, desconhecida);
- Morteiro 60 mm > 732 (data de início, desconhecida);
- Morteiro 81 mm > 210 (data de início, desconhecida).
Fonte: Tavares (2005), pp. 206/207 e 219
Já agora ficamos a saber que para as granadas de LGFOG 8,9 cm, Portugal estava dependente da Bélgica > 20 mil em 1973 (. Portugal preparava-se para dar início ao seu fabrico, em 1973, na FMBP). A produção nacional de granadas de morteio 60 e 81, por sua vez, estava dependente da importação da espoleta... As granadas de morteiro 120 vinham de França... As granadas de obus 14 e da peça de artilharia 11,4 também eram importadas... (E em 1973 parece haver falta deste tipo de granadas, no CTIG, a avaliar por alguns testemunhos de camaradas nossos...)
Enfim, para saber mais sobre a nossa indústria de guerra, em geral, e os estababelecimentos fabris militares, em particular, vd. João Moreira Tavares, Indústria Militar Portuguesa no Tempo da Guerra (1961-1974), Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2006, 238 pp.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. postes da série >
6 de junho de 2024 >
Guiné 61/74 - P25610: Para Bom Observador, Meia Palavra Basta (2): o que há em comum na estátua de Nicolau Lobato, herói nacional timorense, inaugurada em 2014, e a estátua aos combatentes do ultramar da freguesia de Atalaia, inaugurada um ano antes ?