Diário de Coimbra, 2 de fevereiro de 2021
1. Mensagem de Mário Cupido, irmão de João Cupido e, também ele, ex-combatente:
Date: segunda, 15/02/2021 à(s) 23:21
Subject: Óbito de João Domingues da Rocha Cupido
Boa noite
Desculpe antes de mais a ousadia de o contactar sem o conhecer e ainda por cima nestas circunstâncias.
Chamo-me Mário Cupido e sou irmão do falecido (*). Tive ontem acesso à "Tabanca Grande" através dum colega amigo da Murtosa que esteve convosco na Guiné e comigo numa União de Cooperativas Leiteiras com sede em Aveiro (Lacticoop).
Também eu fui combatente no ultramar mas em Angola como comandante de pelotão num Batalhão de Cavalaria que escolhi na qualidade de voluntário para não cair no CPC como o meu irmão (o que lhe deu cabo da vida).
Sendo o melhor classificado do curso de Operações Especiais de Lamego iria estar condenado a dar algumas recrutas para acabar de novo em Mafra. Assim à 2ª recruta optei por escolher o batalhão com um comandante tido como exigente (Duarte Silva, da Cavalaria de Santarém) e que ia para Angola onde já tinha estado e deixado namorada (hoje minha mulher).
Houve algum tempo em que o João estava na Guiné, eu em Angola e ainda outro irmão (que também ainda está vivo) no norte de Moçambique em simultâneo. Pobre mãe !....
O João só tinha um filho que é arquitecto no Porto e a mulher está acamada na Associação de Idosos de Mira onde eu integro a Direcção. Naturalmente tentei ajudar o meu sobrinho numa hora tão difícil e garantir o mínimo de dignidade das cerimónias em tempo tão complicado. Mas penso que conseguimos com a prestimosa colaboração das Instituições por onde ele tinha andado como a Câmara Municipal (a Bandeira Municipal esteve a meia haste), os Bombeiros Voluntários, Filarmónica, Grupo Coral e Caixa de Crédito.
E ele deve estar contente depois de tanto ter sofrido com a incúria e desleixo que vão marcando este país que tão mal trata quem tão bem o serviu.
Agradeço o vosso empenho e atenção. Fico muito contente por saber que ainda há quem tem coragem de recordar e divulgar um tempo passado que não deve ser ignorado nem escondido. Parabéns e Obrigado. (**)
Para vosso conhecimento remeto publicação do óbito no Diário de Coimbra [, de 2 do corrente]. Fico por Mira ao vosso dispor.
Agradeço o vosso empenho e atenção. Fico muito contente por saber que ainda há quem tem coragem de recordar e divulgar um tempo passado que não deve ser ignorado nem escondido. Parabéns e Obrigado. (**)
Para vosso conhecimento remeto publicação do óbito no Diário de Coimbra [, de 2 do corrente]. Fico por Mira ao vosso dispor.
2. Comentário do editor Luís Graça:
Caro Mário, caro camarada:
Fico-lhe muito grato pela sua mensagem, evocando a memória carinhosa do seu mano. Ao publicá-la, sem a sua expressa autorização, juntamente com o recorte que me mandou, espero ter interpretado bem a sua intenção. Mas em qualquer altura posso eliminra o poste, se o Mário o achar inconveniente ou inoportuno.
O Mário não só acrescenta algo mais sobre o João como também acaba por nos contar, em termos breves, a odisseia da família Cupido, transformando-a nós numa pequena homenagem à vossa família que chegou a ter três filhos, ao mesmo tempo, em três teatros de operações diferentes da guerra do ultramar/guerra colonial. Os nossos filhos e netos devem poder conhecer esse período da nossa história.
Tudo o que temos feito para manter viva a memória dos nossos camaradas que passaram pelo TO da Guiné (, sem esquecer Angola, Moçambique,Índia,Timor..), entre 1961 e 1974, ainda vivos ou que já tinha morrido, não é muito. De facto, temos, a nossa geração, "o direito e o dever de memória"... E o nosso blogue é isso, a partilha de memórias, sem juizos de valor e sem a contaminação, tanto quanto possível, da atualidade política dos nossos países (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.).
Transmita, por favor, ao resto da família o sentimento de pesar pela perda de mais um camarada da Guiné, cuja memória eu gostaria que perdurasse no nosso blogue. E nessa medida eu ia pedir, a si ou ao seu sobrinho, para nos mandar, digitalizadas, algumas fotos do álbum da Guiné do nosso capitão João Cupido. Não tive o prazer de o conhecer pessoalmente, embora contemporâneos na Guiné (eu, em 1969/71, ele em 1970/72) mas basta-me a justa evocação que dele faz o meu camarada, membro da Tabanca Grande, o "barão do K3" José Carvalho.
Dou conhecimento deste mail aos três "barões do K3" que nos honram, com a sua presença, no blogue da Tabanca Grande: além do José Carvalho, o Vitor Junqueira e o Francisco Godinho
Um alfabravo (ABraço) fraterno, Luís Graça
PS - Tenho em Mira parentes, longínquos, os Maçaricos, que terão saído daqui, de Ribamar, Lourinhã, no séc. XIX. E o engº Domingos Maçarico, vosso conterrâneo, também é membro da nossa Tabanca Grande. Esteve na Guiné em 1967, tendo sido aí gravemente ferido e evacuado para Lisboa.
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Fico-lhe muito grato pela sua mensagem, evocando a memória carinhosa do seu mano. Ao publicá-la, sem a sua expressa autorização, juntamente com o recorte que me mandou, espero ter interpretado bem a sua intenção. Mas em qualquer altura posso eliminra o poste, se o Mário o achar inconveniente ou inoportuno.
O Mário não só acrescenta algo mais sobre o João como também acaba por nos contar, em termos breves, a odisseia da família Cupido, transformando-a nós numa pequena homenagem à vossa família que chegou a ter três filhos, ao mesmo tempo, em três teatros de operações diferentes da guerra do ultramar/guerra colonial. Os nossos filhos e netos devem poder conhecer esse período da nossa história.
Tudo o que temos feito para manter viva a memória dos nossos camaradas que passaram pelo TO da Guiné (, sem esquecer Angola, Moçambique,Índia,Timor..), entre 1961 e 1974, ainda vivos ou que já tinha morrido, não é muito. De facto, temos, a nossa geração, "o direito e o dever de memória"... E o nosso blogue é isso, a partilha de memórias, sem juizos de valor e sem a contaminação, tanto quanto possível, da atualidade política dos nossos países (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.).
Transmita, por favor, ao resto da família o sentimento de pesar pela perda de mais um camarada da Guiné, cuja memória eu gostaria que perdurasse no nosso blogue. E nessa medida eu ia pedir, a si ou ao seu sobrinho, para nos mandar, digitalizadas, algumas fotos do álbum da Guiné do nosso capitão João Cupido. Não tive o prazer de o conhecer pessoalmente, embora contemporâneos na Guiné (eu, em 1969/71, ele em 1970/72) mas basta-me a justa evocação que dele faz o meu camarada, membro da Tabanca Grande, o "barão do K3" José Carvalho.
Dou conhecimento deste mail aos três "barões do K3" que nos honram, com a sua presença, no blogue da Tabanca Grande: além do José Carvalho, o Vitor Junqueira e o Francisco Godinho
Um alfabravo (ABraço) fraterno, Luís Graça
PS - Tenho em Mira parentes, longínquos, os Maçaricos, que terão saído daqui, de Ribamar, Lourinhã, no séc. XIX. E o engº Domingos Maçarico, vosso conterrâneo, também é membro da nossa Tabanca Grande. Esteve na Guiné em 1967, tendo sido aí gravemente ferido e evacuado para Lisboa.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21900: In Memoriam (394): João Domingos da Rocha Cupido, ex-Cap Mil Art, CMDT da CCAÇ 2753 - "Os Barões do K3" (Guiné, 1970/72) (José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753)
(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21906: In Memoriam (395): O Marcelino da Mata (1940-2021) que eu conheci, em Teixeira Pinto, em finais de 1972, e depois em Cufar, no Natal de 1973, e fui reencontrar na Tabanca da Linha (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)