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sábado, 7 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20424: Os nossos seres, saberes e lazeres (367): A quintessência do ultrarromantismo: Monserrate (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Quando se fala de Sintra, associa-se imediatamente o Palácio da Vila e o Palácio da Pena, mas na vila há muitíssimo a ver, em museus e casas de elevado valor arquitetónico. E depois a Regaleira, um verdadeiro regalo para quem gosta de neogótico, do exótico e dos antros mágicos, ou aparentados. E mais adiante, o parque e o Palácio de Monserrate, e também o Convento dos Capuchos.
Aqui se deixam imagens daquilo que se designa por quintessência do ultrarromantismo, os jardins de facto são românticos, o palácio é um excesso, mas um belíssimo excesso que nenhum de nós pode ignorar.

Um abraço do
Mário


A quintessência do ultrarromantismo: Monserrate

Beja Santos

Aqui, tanto no palácio como nos jardins, reclama a adjetivação mais hiperbólica, permite todos os excessos: a cortina da bruma, a sobrecarga do neogótico, as atrações edénicas, os excertos de várias proveniências, as imitações de ruínas… Mas nada, absolutamente nada, impede o embevecimento de quem visita este território dos contos de encantar. Atenda-se à bruma, logo ocorre inspiração poética neste território que no século XVI foi propriedade do Hospital de Todos os Santos de Lisboa e que no século XVIII teve o seu primeiro palácio neogótico mandado construir por Gerard de Visme, no fim desse mesmo século William Beckford, um dos homens mais ricos do seu tempo arrendou a propriedade e mandou criar um jardim paisagístico, chegava o tempo das imitações, o ideal romântico era quem mais ordenava.


Pode dizer-se com carga de convicção que Monserrate é uma das mais belas criações paisagísticas do romantismo. Dirá o viandante que é excessivo, é ultra quanto ao palácio, mas rende-se quanto ao conceito de romantismo para o jardim. Olhe-se para este metrosidero que se cobre de flores vermelhas no início do verão, chama-se Árvore-de-Natal-da-Nova-Zelândia, quem está na varanda do palácio tem-no ali ao pé, não é uma casualidade.


Em 1856, outro ricaço, Sir Francis Cook, adquire a quinta, reconstrói o palácio, revoluciona os jardins. O palácio passou a ser a residência de verão, o arquiteto inglês James T. Knowles correspondeu aos desejos de Sir Francis Cook, aproveitou a base, isto é, as ruínas da mansão neogótica edificada por Gerard de Visme, o resultado é espetacular, logo a seguir à escadaria temos a Fonte do Tritão, o átrio é um recinto ortogonal, segue-se um longo corredor que termina na sala de música, e nas faces laterais temos a sala de jantar, a capela, a sala de estar indiana, a sala de bilhar, no meio um átrio principal onde se encontra uma fonte em mármore de Carrara, ali bem perto uma escadaria decorada com um padrão de folhas de hera que leva ao piso superior, onde estão os quartos e a torre sul, onde ficavam os aposentos de Francis Cook.





Comprova o viandante que esta sala de música é de uma excelente acústica, tem cúpula em estuque com motivos florais dourados e friso com representações das Musas e das Graças. Nos saudosos tempos em que havia festival de música em Sintra, escolhia-se esta sala para recitais de piano ou música de câmara, o piano é fabuloso, ouvir aqui Chopin, Rameau ou Liszt numa tarde de outono, e se o intérprete é de primeira plana, pode ser acontecimento inesquecível.


Esta é a galeria, constitui o corredor de ligação entre as três torres do palácio. O arquiteto foi feliz, conseguiu um efeito de profundidade com a sucessão de arcos e colunas e uma delicada infiltração da luz.




Voltemos à história de Monserrate. Os descendentes de Sir Francis Cook venderam o recheio fabuloso da casa, o Estado comprou uma peça, recorreu ao direito de preferência, já houve uma exposição em Monserrate com as peças que fazem hoje parte de coleções e museus nacionais, em 1949 o Estado adquiriu o parque e a tapada, num total de 143 hectares, as obras tardaram, o interior arruinou-se. Nas últimas décadas, tem-se processado a reabilitação. O visitante não deixa de vir à biblioteca, esta porta de madeira trabalhada enche-lhe as medidas, sofre por ver as estantes vazias, tudo fruto do tal leilão que nunca devia ter acontecido.



Em 1995, a UNESCO classificou a Serra de Sintra, onde se localiza Monserrate, como Paisagem Cultural – Património da Humanidade. A classificação fez bem ao palácio e aos jardins, em 2010 as obras de recuperação do palácio foram inauguradas. E vão continuar por muito tempo, espera-se.



Um dia virá para visitar a preceito o parque. Diz-se sumariamente que alberga uma notável coleção botânica com espécies de todo o mundo, há estrelícias, roseirais, araucárias, metrosideros, pinheiros, uma boa porção do parque avista-se da varanda, ali perto há um arco indiano, um arco romano e um tanque, lá em baixo o vale dos fetos. Há para aqui muita encenação teatral, já se disse. É o caso de um falso cromeleque, nem chega a ser kitsch, mas enche o olho.
Em jeito de despedida, veja-se a beleza destas flores de cato, uma especialidade primaveril, deixam-se igualmente imagens do tanque e do arco indiano. Até ao próximo passeio.





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Nota do editor

Último poste da série de 30 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20400: Os nossos seres, saberes e lazeres (366): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (8) (Mário Beja Santos)