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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25692: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (49): Incêndio na Tabanca em 8 de Maio de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


INCÊNDIO NA TABANCA

1970/MAIO/08 - CERCA DAS 15 HORAS

Depois do almoço deste dia, estava o pessoal da Companhia nos quartos ou nos bares, ou onde houvesse ventoinhas, para se proteger do calor insuportável naquela hora, quando fomos surpreendidos por barulhos estranhos provenientes da tabanca.

Todo este alarido era muito surpreendente para os nós, militares, pois só tínhamos chegado havia 4 semanas.

O que se passa? Ninguém sabia responder.

Tivemos que fazer como o S. Tomé; "Ver para crer", ou se quisermos "ver como era para contar como foi".

Metemos os pés ao caminho em direcção ao local donde vinha toda aquela algazarra.

Deparamos com várias moranças a arder e os nativos a correr de um lado para o outro e a fazerem e entoarem rituais totalmente estranhos para nós.

Não conseguindo demovê-los a acabarem com aquele comportamento e passarem a ser activos para apagar o fogo e salvarem os bens e animais que tinham nas moranças. Teve que ser o pessoal militar a arranjar vasilhas e ir buscar água ao rio Olossato que corre a cerca de 50 metros do local do incêndio.

Este foi a primeiro "choque" que tive(mos) no lidar com a população local.

Era o início do "choque de culturas".
Guiné > Região do Oio > Olossato > 1966 > Vista aérea do aquartelamento, pista de aviação e povoação.
Foto: © Rui Silva (ex-Fur Mil, CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67).

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 20 de Junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25666: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (48): Coincidências II - Furriel Moreira e os ataques ao quartel do Olossato

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22991: Recortes de imprensa (120): A seca e os incêndios florestais fora de época... (Apontamento de Carlos Pinheiro no semanário O Almonda de Torres Novas)

1. Em mensagem do dia 11 de Fevereiro de 2022, o nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), enviou-nos um recorte do seu apontamento publicado no Semanário "O Almonda" de Torres Novas, onde colabora regularmente:

Com a devida vénia ao Semanário "O Almonda" de Torres Novas
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22584: Recortes de imprensa (119): Reacção de Mário Beja Santos ao artigo do "Diário de Notícias", de 29 de Setembro de 2021, "Comandos africanos nas Forças Armadas Portuguesas. Histórias de abandono e traição"

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18922: FAP (111): A Força Aérea Portuguesa e os incendios florestais (José Nico, TGen PilAv Ref / Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

Reabastecimento do C-130 H da FAP
Foto: João Girão/Global Imagens/Arquivo, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2018:

Hoje, em que os fogos Florestais estão permanentemente na ordem do dia, ocupando noticiários televisivos e acesas discussões e debates em regime de exclusividade, penso que não será desajustado esclarecer algumas mentes sobre o tão propalado uso do Avião C-130 H da nossa Força Aérea no combate a incêndios florestais.

Esclareço que este artigo foi elaborado pelo Gen. Pil./Av. José Nico que foi também Comandante destas aeronaves e nos diz o seguinte:


Já não estava a voar os C-130H quando a operação MAFFs teve início. No entanto fui dos primeiros a ter contacto com o sistema porque em 1980 ou 1981 fizemos um "squadron exchange" com os C-130 italianos que estavam baseados em Pisa. 
Levava a incumbência de pedir uma demonstração do funcionamento do MAFFS que os italianos já possuíam. Não foram capazes de fazer a demonstração mas mostraram o equipamento.

Deixei a operação C-130H em 1982, no entanto a minha opinião sobre a utilização dos C-130 no CI é basicamente a seguinte:
 

1. Num combate a um incêndio com meios aéreos é muito importante a quantidade de água que a aeronave consegue transportar mas ainda mais importante é a frequência da rotação. É necessário que o tempo entre descargas seja o mais curto possível. 
No caso do C-130, porque só tínhamos uma aeronave em alerta, o intervalo entre descargas era muito grande e, grosso modo, devia ser cerca de uma hora. Era preciso regressar à Base, aterrar, rolar, estacionar, parar motores, reabastecer, pôr em marcha, rolar, descolar, voar outra vez para o incêndio e fazer nova descarga. Num intervalo de tempo tão grande qualquer incêndio retomava facilmente a sua carga térmica e por isso penso que o combate se não era ineficaz, era, pelo menos muito pouco eficaz.

2. A calda retardante, que se chamava PHOSCHECK se bem me recordo, destinava-se a fazer baixar a temperatura do fogo e permitir a aproximação do pessoal que estava em terra, ou seja, pelos bombeiros. Isto pressupunha que os lançamentos da calda se fariam depois de os bombeiros terem sido posicionados nas proximidades. Ora isto raramente acontecia. O que acontecia é que os fogos se desenvolviam em zonas com relevo e sem caminhos que permitissem o acesso ao incêndio. 
Normalmente as matas iam ardendo mas os bombeiros estavam a quilómetros da linha de fogo e não conseguiam lá chegar. Chamavam então o C-130 que fazia um lançamento mas como os bombeiros não estavam lá perto para combater o fogo, este reganhava intensidade. Por sua vez o C-130 demorava muito tempo para fazer a segunda descarga e assim por diante, o que não resultava.

3. Resumindo, que eu saiba só os anfíbios CANADAIR, porque foram desenhados de propósito para combater fogos é que oferecem a resposta mais eficaz. Fazem uma descarga e vão reabastecer no lago ou albufeira mais próximos e estão de regresso ao fogo no menor espaço de tempo possível. 
Ao pé deles o C-130 com o MAFFS não vale nada.

Sobre a conversa que tem aparecido nos media quanto à utilização dos PUMA que foram abatidos, ou sobre a adaptação dos futuros KC-390, é tudo conversa de treta. Ninguém sabe do que está a falar, incluindo alguns dos meus camaradas.

José Nico

C-130 H - Carregamento do kit MAFF's
Foto: Com a devida vénia ao Blogue O Adamastor

C-130 H no combate a incêndio
Foto: Com a devida vénia a Associação Bombeiros para Sempre

C-130 H a usar Calda Retardante
Foto: Com a devida vénia ao Blogue O Adamastor

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Abraço
Mário Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18813: FAP (110): FIAT G-91, um caça entrado ao serviço de Portugal, na guerra do ultramar, em 1965 (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

sábado, 1 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17531: Memória dos lugares (362): A vibração dos espectros: Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Antropologicamente, um lugar é um território de afinidades, de laços afetivos, de redes de comunicação, de pertença associativa, de conhecimentos humanos, ali se organizam festas, se fazem peditórios, se acompanham os mortos ao cemitério. Uma semana depois daquele estranhíssimo fenómeno da natureza, tinha que regressar, é um género de olhar ao espelho côncavo o que se distorceu, o que jamais regressará ao nosso olhar, tal como foi.
Mas o dado essencial da viagem de peregrinação passa pelas gentes do lugar. Valia a pena ouvi-los, dizem coisas que não circulam nas reportagens nem nas imagens televisivas. Quem ali ficou, depois do devastador vendaval da interioridade, de quem os citadinos não gostam de falar, quer continuar e recuperar. Por isso os abracei tão comovidamente, aquele gente não deserta, não se rende, prosseguirá, daí o meu orgulho por eles.

Um abraço do
Mário


A vibração dos espectros: 
Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande

Beja Santos

Faz-se a viagem com o coração contrito, o objetivo maior é ir abraçar aqueles que sobraram do inusitado vendaval de fogo, os amigos e conhecidos do Outeiro do Nodeirinho, Figueira, Casal dos Matos, Outão, Graça, Pereira. Para contornar os territórios assombrados e calcinados, contorna-se por Vila de Rei, segue-se pela Sertã, aporta-se a Pedrógão Pequeno. Tirando o cheiro a queimado que se evola por quilómetros, ali para os lados de Cabeçudo, Sertã, não há nenhum espetáculo de desgraça, registo que Pedrógão Grande enquanto vila saiu incólume à tormenta do fogo, e do alto da barragem do Cabril, só se avista uma mancha escurecida que no fim da tarde daquela sexta-feira não permite antever qualquer palco de desolação. Começa-se o novo dia enfrentando a realidade do ambiente que o viandante habitou bem mais de 10 anos. Aqui havia pinhal frondoso, as irmãs Maria e Amélia cultivavam couves e tomate, o tio Eduardo tinha o seu campo de batata e a pérgula a encimar o poço cobria-se de vinha, um vinho morangueiro. Por aqui passou o diabo à solta, vai começar a lenta regeneração.





Penitencio-me de nada saber sobre estes estranhos fogos, que não são tornados, que cospem em todas as direções, que devoram vidas até deixar ossos carbonizados. Mas o que aqui se passou, diz-me o tio Jacinto, foi que a ventania em remoinho fez saltar as telhas e as fagulhas em golfão comeram a madeira, derrubaram as paredes, devoraram móveis e utensílios. O estranho é o apaziguamento em ver que estas paredes-mestras, o mais nobre valor da casa, o belíssimo pátio, feito e refeito, estão prontas para a ressurreição, momentos houve em que me atravessaram pensamentos loucos, vou-me lançar ao trabalho, voltar a comprar a ruína, os sonhos nunca desfalecem, pôr isto de pé deu trabalho e peras, por aqui andou gente aos gritos de alegria, elogiando o que é típico e conforme a tradição. Nunca se sabe até onde pode ir esta minha loucura em voltar, em recomeçar…



O carro aproxima-se de Casal dos Matos, ela ali está, rodeada de um oceano de cinzas, troncos vergados, marcas da passagem do Inferno, biótipos reduzidos a um escombro. Tanto assim é que quando quis comprar um boião do precioso mel desta restinga da Serra da Lousã o senhor Eduardo Paiva foi perentório: acabou, não sei alguma vez mais por aqui passarão abelhas, se haverá carqueja. Não posso adivinhar o que será o novo mundo vegetal do nosso lugar. Ao certo, quando o carro se aproximava, tive a ilusão de que os telhados estavam perfeitos, não passou de ilusão, até porque aquele poste quebrado assinalava a pujança do diabo à solta.



É aquela sensação ambivalente do sentimento da perda de uma coisa que nos custou ideal e foi berçário de felicidade e ao mesmo tempo olha-se para a ruína e diz-se: as paredes de pedra resistiram, a linda varanda está como estava, arranja-se a jangada da vinha e para o ano vão aparecer os cachos dourados. Deus permita que isso venha a acontecer, seja qual for o obreiro da tremenda empreitada, desta mortandade pôr vida ridente.


Chegou a hora de conversar e consolar com gente sofredora. Pelos caminhos, circulam viaturas da televisão, a terra carbonizada e as gentes que cá ficam é pasto mediático. Mas quem cá ficou vive noutro comprimento de onda. Não se diz nem mesmo se confessa, mas há um cadinho de culpa coletiva, todo este plantio até à berma das estradas, todas estas árvores comburentes, esta estouvada indústria da madeira, este restolho e estas carumas abandonadas, ninguém as ignora, espera-se a boa vontade de Deus, muitos proprietários seguiram os filhos e netos, sabe-lhes bem receber de tempos a tempos algum dinheiro da venda da madeira. Fala-se com gente que escapou por minutos da estrada da morte, alguns desses intelectuais de pacotilha que agora vociferam e, qual familiares do Santo Ofício, andam à procura dos responsáveis a todos os níveis, e fica-se com a sensação do que aqui aconteceu foi fenómeno raríssimo, podia ter sido o sol a rodopiar e a deixar a terra em escuridão, as chamas pareciam trazidas por maratonistas olímpicos, chamas que dançavam a toda a volta e confundiam quem queria proteger as suas vidas e as suas casas. Faz-se a peregrinação, abraça-se quem perdeu gente, casas, culturas e aguarda alguma justiça, por compensação. Entre todos estes espectros, depois de beijar e estender a mão a tanta gente que se prepara para refazer a vida e que foi educada na resignação, quem aqui veio de passagem sente-se impelido a regressar. É este o fogo da imaginação, por isso é que existem lugares que nos marcam para toda a vida.
É assim, porque o futuro a Deus pertence.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra)

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17514: (In)citações (109): Portugal a arder - destruição, desolação e morte (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Floresta Portuguesa
(Imagem editada)


1. Em mensagem de hoje, dia 26 de Junho de 2017, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), manda-nos uma reflexão sobre o assunto da actualidade, os incêndios em Portugal.


PORTUGAL A ARDER - DESTRUIÇÃO, DESOLAÇÃO E MORTE

Os grandes incêndios começaram no dia 17 de Junho, sábado, em Pedrogão Grande, e foram-se espalhando por Castanheira de Pera, Góis e Pampilhosa da Serra na zona centro do país

A nossa alma foi queimando as asas na contemplação da grande tragédia que as televisões relatavam e mostravam, que atingiu o que melhor tem a Pátria, as suas gentes, as suas árvores, arbustos, plantas, as suas florestas. E ficou a dor, uma dor amarga e negra que nos roubou a alegria dos dias claros e luminosos de Verão com a partida desta gente, tão autentica, tão próxima da vida da natureza, mulheres, homens, meninos que eram a energia, a simpatia, a alegria e o futuro, e se perderam no imenso braseiro deste desastre nacional. As plantas que na primavera despontam e cobrem a terra de verde e de flores variadas, numa sinfonia de cores que só as aves sabem cantar, os arbustos e as árvores plantadas ou semeadas pelos homens, pelos ventos ou pelas aves, que na sua quietude nos pintam em altura o olhar em tons variados, e nos dão uma sombra amiga que nos protege e refresca para além doutras dádivas mais palpáveis, arderam em grandes labaredas.

Os culpados destas tragédias anuais, este ano mais cruel pelo sacrifício e morte de tantos seres humanos, que ainda ontem falavam, riam, gritavam, cantavam choravam, liam, escreviam, dançavam, amavam, cresciam, construíam, plantavam couves, flores, batatas, tomates, vagens, pereiras, macieiras, videiras, somos nós. Os culpados destes fogos imensos que varrem os campos, somos todos nós que abandonámos os campos e fomos para as grandes cidades e deixámos alguns camponeses, poucos, a tratar do país interior cada vez mais pobre e mais desértico.

Alguns já vivem há longos anos nas grandes cidades do litoral onde a riqueza e o dinheiro fluem mais, como os grandes rios e as marés dos oceanos. Outros com muitas gerações anteriores a viver com dureza e fraco rendimento nos campos e montes do interior, estudaram pelos livros dos naturais das grandes cidades e aprenderam que o futuro da vida nos campos continuaria a ser pobre e miserável e fugiram desse destino sem futuro para outras paragens e outros litorais e as terras onde nasceram e se criaram, foram ficaram cada vez mais abandonadas.
Nesses terras do esquecimento, cada vez mais desérticas, ficaram os velhos, os simples e alguns que nascidos nelas criaram raízes tão fortes que não lhes permitiam sair.

Não se pode pedir a esses, tão poucos, que defendam a imensidão dos campos e das florestas que os rodeiam, que lhe embelezam os dias mas também os ameaçam sempre que chegam as estações quentes.

Portugal não pode ser um país de praias e de cidades monumentais do litoral, por onde os naturais e os turistas se passeiam e fotografam que esconde uma natureza negra e morta pelas calores e chamas dos Verões, cheio de cruzes a assinalar a memória dos mortos que arderam nessas fogueiras quando tentavam fugir-lhes.

Nós homens atraídos pelos mares, já numa fase adulta da humanidade, não somos filhos deles. Nós homens somos filhos da terra, dos campos, das florestas, durante milhares e milhares de anos fomos caçadores, pastores, agricultores não podemos abandonar a terra-mãe que nos gerou e nos criou.

Não basta chorar os mortos, sentir o desgosto enorme dos seus familiares e amigos, lamentar a miséria em que muitos ficaram, importa sobretudo criar um amplo movimento de solidariedade activa que nos responsabilize a todos. E porque a caridade só se manifesta em força em tempo de calamidades deviam ser tomadas medidas, acordadas por todos os políticos dos vários quadrantes, que tivessem a adesão da grande maioria dos portugueses, a fim de ser criado um fundo a nível nacional, para prevenir os incêndios pela limpeza das matas a par de outras medidas necessárias

A tarefa imensa de preservação dos campos, das suas culturas, das suas florestas, da beleza das suas paisagens é uma tarefa patriótica que deve contar com o contributo de todos os portugueses, pois os que ainda vivem no meio rural, sozinhos, não têm todos os meios necessários para esse fim.

Falo duma culpa colectiva pela passividade e sonolência das consciências ao não exigirem aos políticos dos sucessivos governos, desde há décadas, a atenção que todo o país no seu conjunto merece. Quando os problemas existem longe da nossa casa temos tendência a esquecê-los depois do desgosto e do choque inicial.

Não pretendo discutir as culpas circunstanciais do incêndio em Pedrogão Grande e nas terras próximas já que não me compete a mim nem pertence ao âmbito do nosso blogue. Essa discussão está já a ser feita pelas forças políticas e por outras entidades que têm competência para tal.

Estes grandes incêndios irromperam duma forma súbita e explosiva no dia 17 de Junho de 2017, num dia quente de fins de Primavera. Longos dias quentes tem o Verão, com muitos incêndios, oxalá não se volte a repetir um desastre semelhante.

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17504: (In)citações (108): Incêndios florestais - Catástrofe nacional anual, até quando? (Coutinho e Lima, Coronel Art Ref)

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17504: (In)citações (108): Incêndios florestais - Catástrofe nacional anual, até quando? (Coutinho e Lima, Coronel Art Ref)

(Imagem editada)
 

1. Em mensagem do dia 22 de Junho de 2017, o nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), enviou-nos este texto onde exprime a sua opinião sobre o tema Incêndios Florestais, muito falado, infelizmente, nos últimos dias em Portugal.




INCÊNDIOS FLORESTAIS – CATÁSTROFE NACIONAL ANUAL
ATÉ QUANDO?

1. ANÁLISE DA SITUAÇÃO

1.1- INTRODUÇÃO

O objectivo do texto que se segue resulta da recolha de alguns elementos sobre os Incêndios Florestais (IF) e a constatação do que vem acontecendo, há décadas, neste domínio, perante a INCOMPETÊNCIA manifestada de todos os Governos, para tentar minimizar as consequências nefastas dos IF, a mais grave das quais é a perda de vidas humanas, como se tem verificado em diversos anos.
Perante o que se tem visto, não posso calar a minha profunda INDIGNAÇÃO. Com este documento pretendo dar a minha contribuição para que este assunto possa ser estudado em profundidade (isto não significa que não existam já muitos estudos, mas que não têm sido convenientemente explorados e implementados), e seguidamente sejam adoptadas as medidas adequadas, a CURTO/MÉDIO PRAZO.

1.2 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS IF

1.2.1 – OS IF E OS GOVERNOS ANTERIORES AO ACTUAL

OS IF são uma realidade, praticamente em todos os Países com áreas florestais significativas. Em Portugal este fenómeno tem atingido, nas últimas décadas, tais proporções que pode considerar-se uma verdadeira CATÁSTROFE NACIONAL ANUAL.
E o que têm feito os sucessivos Governos? Não quero ser injusto, mas não posso deixar de afirmar, convictamente, que as soluções adoptadas, aliás pouco divulgadas, se têm mostrado grandemente ineficazes. Deflagrados os incêndios, os Governos accionam o dispositivo de combate aos mesmos, pois que, se assim não acontecesse, seria totalmente inaceitável.
A actuação dos Governos anteriores, porque se trata do PASSADO, apena interessa para que sejam corrigidos os erros cometidos,  porque a governação não pode voltar para trás.

1.2.2. -  OS IF E O ACTUAL GOVERNO
Lendo o Programa do actual Governo ( que tomou posse em 26 de Novembro de 2015), disponível na internet com 138 páginas, as referências relacionadas com este assunto são:
    
“IV – PROMOVER A COMPETITIVIDADE DA FLORESTA NACIONAL
          ................
11. PROMOVER O VALOR DA FLORESTA NACIONAL
          .................. 
11.2 – INVESTIMENTO FLORESTAL MAIS SEGURO  (pág. 59) 
. Intensificar os esforços ao nível da defesa da floresta contra incêndios, nomeadamente ao nível da sensibilidade, criação do programa nacional de fogo controlado e a execução das redes primárias e de faixas de gestão de combustível na defesa da floresta contra incêndios, concluindo até 2019 as localizadas em áreas públicas ou sob gestão do INCF;
          .................
11.3 – REFORÇAR A INVESTIGAÇÃO E INFORMAÇÃO PARA O SECTOR E PARA O PÚBLICO EM GERAL (pág. 60)
         ..................
. Divulgar, junto da população escolar e das comunidades, a importância da  floresta, da sua gestão e do consumo de produtos florestais, em particular dos certificados;
. Valorizar as acções de sensibilização para a prevenção dos fogos, com envolvimento alargado de agentes, seja através da administração, seja de programas como o Portugal pela Floresta ou a acção do Movimento Eco.”

Considero que o programa do Governo (transcrições acima), é paupérrimo.Com efeito, as medidas concretas definidas são:
. Intensificar os esforços ao nível da defesa da floresta contra incêndios
Se se pretende intensificar é porque os esforços já existem; sendo assim, convinha fazer a sua divulgação, porque não são do conhecimento geral.
. criação do programa nacional de fogo controlado
Fico à espera deste programa nacional, para ter conhecimento do que se trata; devo referir que, passado mais de  um ano e meio (em termos de IF), tal plano ainda não foi sequer anunciado.
. Execução das redes primárias e de faixas de gestão de combustível na defesa da floresta contra incêndios, concluindo até 2019 as localizadas em áreas públicas ou ob gestão do IINCF;
O Governo só se compromete concluir até 2019 (último ano da sua legislatura), as redes primárias e as faixas de gestão de combustível nas áreas públicas ou sob gestão do INCF, isto é, as menos numerosas que, por serem propriedade do Estado deveriam ser as primeiras, quanto mais não fosse por uma questão de bom exemplo;  e as outras quando serão executadas?  Será que ficarão para o próximo Governo?
O Senhor Primeiro Ministro, tendo mostrado muito pouca sensibilização para este problema, nomeadamente no seu programa de Governo, anunciou no passado mês de Agosto, no auge dos incêndios deste ano, a criação de uma Comissão Interministerial para tratar do assunto. Em vez de agir sob pressão dos acontecimentos, não teria sido mais adequado e oportuno ter criado tal Comissão, logo após a tomada de posse? Se assim tivesse acontecido, poderiam ter sido implementadas algumas medidas, que teriam, eventualmente, minimizado as consequências dos IF do  ano passado.

No jornal Diário de Notícias do passado dia 12 de Setembro, pode ler-se:
“ O primeiro ministro, António Costa, assumiu ontem uma “agenda intensa” para as próximas semanas  com dois Conselhos de Ministros extraordinários...e outro “dedicado exclusivamente” à política florestal. Segundo o primeiro ministro, o país não se pode “conformar a ver todos os anos a floresta a arder”.
Ao ler a última frase do Sr. PM, lembrei-me do ditado popular: “ Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja”.
O que é extraordinário é o Senhor Primeiro Ministro só ter proferido a última afirmação, depois de ter visto “o país a arder”, este ano. Então os IF dos últimos anos não foram suficientes para o sensibilizar para o problema? Parece que não; mais uma vez, foi a reboque dos acontecimentos. Ficamos à espera do que sairá do Conselho de Ministros sobre a política florestal, em Outubro. Findo o mês, nenhuma notícia sobe este assunto. Continuamos à espera.
Sobre o Conselho de Ministros extraordinário “dedicado exclusivamente à política florestal”, anunciado pelo Sr. PM, em 12 SET p. p. , pode ler-se no jornal Diário de Notícias do dia 28 de Outubro passado, com o título “Banco de terras com propriedades abandonadas”:
“Florestas – Hoje é um dia histórico para a floresta portuguesa, disse o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, no final do Conselho de Ministros extraordinário, realizado na Lousã. Na reunião, dedicada ao sector floresta, foram aprovadas medidas legislativas para a floresta como a criação de um banco de terras que integrará as propriedades do Estado e os terrenos privados sem dono reconhecido. O ministro da Agricultura salientou que a reforma visa promover o seu reordenamento e prevenir os incêndios, limitando a plantação de eucaliptos e o avanço das espécies invasoras, como as mimosas. Na opinião de Capoulas Santos, o conjunto de propostas legislativas vai dar “início a uma reforma profunda” do sector florestal. A gestão do futuro banco de terras irá pertencer à Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural”.
Gostaria de partilhar o optimismo do Sr. Ministro da Agricultura ao afirmar “Hoje é um dia histórico para a floresta portuguesa”. Para mim será um dia histórico quando começar a ser implementado, no terreno, um verdadeiro Programa Nacional  de Prevenção, Detecção e Combate dos Incêndios Florestais (PREDECIF). Porque as decisões deste Conselho de Ministros, nomeadamente no aspecto legislativo, vão demorar tempo a concretizar, bem poderia o Sr. Ministro determinar o início, desde já, das medidas concretas do PREDECIF nas propriedades do Estado, porque estas, não têm que estar à espera da criação do banco de terras. O Sr. Ministro sabe bem  que, iniciado o 2º. Ano do actual Governo, tem-se constatado muito pouca sensibilidade para este grave problema dos Incêndios Florestais.

1.3. – OS INCENDIÁRIOS E OS IF
Parece não haver qualquer dúvida que, grande parte dos IF são provocados por incendiários: alguns por motivo de doença, que deve ser tratada e muitos outros por outras razões, algumas de natureza criminosa. Sem pretender apontar qualquer crítica ao poder judicial quando tem que se pronunciar sobre casos de infracções, neste âmbito, (embora a opinião pública tenha dificuldade em compreender alguns factos difundidos na comunicação social, como por exemplo um Sr. Juiz, perante um incendiário, detido em flagrante delito, seja mandado em paz), sou de opinião que os Senhores Juízes podiam adoptar “soluções criativas”, como por exemplo aplicar sanções que implicassem, com maior frequência, a colocação de pulseiras electrónicas e condenar os comprovados delinquentes na prestação de trabalho comunitário; seria perfeitamente adequado serem empregues nos trabalhos de limpeza das matas e abertura de itinerários.
Pelo menos durante a “época dos incêndios”, anualmente definida pelo Governo, os incendiários que, certamente estão referenciados, deviam ser objecto de vigilância especial: colocação de pulseira electrónica (para aqueles que ainda não a tivessem) e obrigatoriedade de apresentação semanal à autoridade judicial da área da sua residência.

1.4 – PROGRAMA PRÓS E CONTRAS – RTP1
Este programa, transmitido no dia 12 de Setembro p.p., tratou deste problema dos IF. Foi pena que, por motivos compreensíveis, o referido programa tenha tido uma duração (50 minutos), muito inferior ao habitual. Estavam presentes, entre outros, o Sr D. João Almeida, Secretário de Estado do anterior Governo, o Sr. Eng.º e também Sapador Florestal Tiago Oliveira, o Sr. Secretário de Estado da Administração Interna, Sr. Dr. Jorge Gomes e o Sr. Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Sr. Dr. Jaime Mata Soares. Este último resumiu a situação actual dos IF, da seguinte maneira: o diagnóstico está feito, as soluções apontadas e o tratamento que requer antibióticos de qualidade, tem sido feito com aspirinas fracas. Referiu também que o actual Sr. Ministro da Agricultura, está ciente do problema, há muitos anos.
O Sr. Eng.º Tiago de Oliveira, especialista da matéria, afirmou que tem alertado e apresentado o problema, a várias entidades; o poder político tem reagido “atirando” legislação sobre os IF.
O Sr. Dr. João Almeida referiu que a Autoridade Tributária, conhecedora dos proprietários de áreas florestais, através do IMI, podia fornecer esses elementos à GNR, entidade com a missão de intimar os proprietários parra a necessidade de limpar as suas matas, mas esta interligação entre as duas en- tidades nem sempre é fácil. 
O Sr. Secretário de Estado da Administração Interna actual, referiu que em Outubro, a Comissão Interministerial apresentaria ao País, medidas concretas sobre os IF.. Disse ainda que este assunto nos obriga a todos, como cidadãos e não como políticos. Só lhe ficam bem estas palavras,  que se espera tenham como consequência a apresentação das referidas medidas concretas; se assim não for, tudo não passará de palavreado, sem qualquer sentido.
Todos foram unânimes em afirmar que todos os Governos têm feito muito pouco. Ninguém apontou a razão de tal procedimento.

1.5 – A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E OS IF
A Assembleia da República (AR) tem tomado, ao longo dos anos, diversas iniciativas sobre os IF: legislação, criação de grupos de trabalho e comissões eventuais ou de acompanhamento, resoluções ou propostas de resolução, além da discussão de propostas apresentadas pelos deputados ou grupos parlamentares. Muitas vezes, no final dos trabalhos, são formuladas recomendações, enviadas ao Governo. Este nem sempre tem dado a essas recomendações, a atenção que lhes era devida. A este propósito, o artigo do GOOGLE  Expresso/Relatório sobre fogos ignorado”, de 13 de Agosto de 2016, é elucidativo. Transcrevem-se alguns extractos deste texto:
“ A aposta na prevenção parece ser unânime entre aqueles que lidam de perto com a realidade no terreno e também do Parlamento, como se conclui a partir do último relatório da Assembleia da República sobre incêndios florestais. O socialista Miguel Freitas, relator do documento diz que “ basta olhar para as primeiras quatro recomendações” para perceber esta realidade. Aprovado por unanimidade em 2014 aponta, por exemplo, para a necessidade de concentrar numa única entidade a prevenção e o combate.
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O negócio florestal tem um retorno de capital muito longo  e esta actividade só é viável se houver incentivos fiscais.
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“Se não se insiste na produção florestal e os resultados da prevenção são de médio e longo prazo (não imediatos), então o que tem acontecido é um investimento no combate. Erradamente.”
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Miguel Freitas deixa um alerta para que o Governo olhe de novo para o relatório da Assembleia da República para “ rectificar os erros que estão a ser constantemente cometidos e pôr fim a este ciclo vicioso da floresta portuguesa”.
Jaime Marta Soares, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, concorda com a ideia de se delinear uma nova estratégia a nível nacional,....mas lamenta que o lado da prevenção seja sempre ” à moda do caracol: devagar, devagarinho parado e de marcha atrás.”
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Miguel Freitas diz que é num momento como este que se pode redefinir a forma como a prevenção deve ser feita....
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O ex deputado não acredita no modelo que está a ser seguido e coloca o desafio de se apostar na intermunicipalidade como acontece na associação intermunicipal Terras do Infante( que junta Aljezur, Lagos e Vila do Bispo), onde “não arde um hectare há 10 anos.”

As transcrições apresentadas merecem-me o seguinte comentário:
A necessidade de concentrar numa única entidade a prevenção e o combate” ,
é justificada pelo facto de a prevenção ser da responsabilidade do Ministério da Agricultura e o combate do Ministério da Administração Interna.
Se os Governos (o anterior e o actual), tivessem seguido a recomendação da AR, já poderiam ter alterado a situação, criando ou um Ministério para tratar da  Prevenção, Detecção e Combate dos Incêndios Florestais” que, sem qualquer dúvida, teria muito que fazer, ou, no mínimo, incluir no Governo, um Secretário de Estado, na dependência directa do Ministro Adjunto da Presidência do Conselho de Ministros.
O facto de nenhum dos dois Governos ter acatado esta recomendação da AR é tanto mais de estranhar quanto a mesma foi aprovado por unanimidade
1.6 – PREVENÇÃO, DETECÇÂO E COMBATE DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
1.6.1 - PREVENÇÃO DOS IF

Não obstante haver muita legislação sobre esta matéria, é voz corrente que a prevenção dos IF se encontra numa fase muito incipiente. É imperioso incrementar medidas que passem por:
. limpeza da floresta a nível nacional; é incompreensível e inaceitável que o Estado, possuindo uma pequena percentagem (2/3%) da área florestal, não proceda à limpeza do que lhe pertence;
.abertura generalizada de itinerários que permitam o acesso às equipas de combate aos incêndios;
.implantação de uma rede de bocas de incêndios de 5 em 5 quilómetros;
. criação generalizada de redes primárias e de faixas de gestão de combustível (incluída no programa do actual Governo);
. outras medidas consideradas adequadas.

Para executar as diversas medidas preventivas, são necessários meios materiais e humanos; para estes, há uma fonte praticamente inesgotável, que é o elevado número de desempregados. A prevenção, se for levada a efeito a nível nacional, como deve ser, criará muitos milhares de postos de trabalho, diminuindo o desemprego e o respectivo subsídio e contribuindo, em consequência, para a melhoria da economia, que tão necessária é.
Os resíduos florestais, resultantes da limpeza da floresta, em vez de serem pasto das chamas de centenas de incêndios, que se vêm verificando, seriam um óptimo combustível para a indústria de biomassa. Que bom seria vermos as nossas estradas, em todo o País, serem percorridas por camiões carregados de resíduos florestais, a caminho das respectivas fábricas que, provavelmente, seriam insuficientes, obrigando à construção de novas infra-estruturas.
Os meios financeiros necessários à implantação das medidas preventivas constituem um investimento (e não uma despesa), que seriam compensados pela diminuição das verbas gastas no combate. Parece-me que, com um plano devidamente estruturado e com a indicação de objectivos concretos a atingir, não seria difícil obter fundos comunitários, para este efeito.
A execução da prevenção deveria ser descentralizada ao nível dos municípios e das freguesias, pois estas são as entidades que melhor conhecem a sua área florestal e, por isso, estão em melhores condições para rentabilizar os meios investidos.

1.6.2 – DETEÇÃO DOS IF

Se a prevenção é “muito falada”, mas “pouco executada”, a detecção ainda está numa fase mais atrasada, porque é “muito pouco falada”. Parece consensual que, uma detecção precoce, seguida da implementação de meios rápidos de primeira intervenção, contribuiria não só para diminuir a intensidade e propagação dos IF como, em consequência directa, para uma significativa redução das áreas ardidas.
Num documento disponível no GOOGLE, sobre o Plano Nacional – Defesa da Floresta contra incêndios,  pode ler-se:
As formas de vigilância podem organizar-se do seguinte modo:

  .Vigilância terrestre
      . fixa
      . tradicional (rede nacional de postos de viga)
      . por sensores
      . manual
      . automática
      . móvel

  .Vigilância aérea
      . aeronaves
      . vigilância armada
      . vigilância por aeronaves
      . satélite

.Vigilância passiva
      . populares
      . detecção acidental por aeronaves comerciais

A Rede Nacional de Postos de Vigia (RNPV) era constituída por 237 postos de vigia (PV), sendo a grande maioria pertencente à DGRF (Direcção Geral de Recursos Florestais) e 18 a Centros de Prevenção e Detenção (CPD); para 2005 esperava-se a criação de mais 15 postos. A maior parte dos 237 PV estavam    
implantados no Norte e Centro do País.
Verificaram-se várias deficiências relativamente aos recursos humanos utilizados nos PV, nomeadamente na qualificação do pessoal e de formação, bem como grande burocracia na sua contratação.
Verificaram-se também dificuldades nas radiocomunicações (essenciais para informar as detecções), em alguns casos inexistentes. Foram registados baixos níveis de detecção: 28% em 1999; na região do Ribatejo e Oeste, em 2013 esse registo foi de 8%.
A detecção durante a noite é significativamente baixa; em contrapartida, segundo os dados difundidos pela comunicação social, é no período nocturno que se registam muitas ignições, com muita probabilidade de grande incidência de carácter criminoso.

A vigilância terrestre móvel pode ser feita por:
   . sapadores florestais
   . guardas florestais
   . GNR
   . Rede Nacional de Postos de Vigia
   . brigadas militares
   . brigadas autárquicas de voluntários
   . outras
É apontado um caso de sucesso, em que a articulação das diversas entidades envolvidas na detecção resultou: aconteceu no Distrito de Coimbra. No ano de 2004, um Batalhão de Tropas Especiais (do Centro d Instrução de Tropas Especiais – Lamego), efectuou acções de vigilância, em conjunto com exercícios militares. Verificou-se uma forte articulação entre os grupos de vigilância e primeiras intervenções. Os resultados foram positivos. O distrito de Coimbra, com uma área ardida média da ordem dos 7.000 hectares, nesse ano de 2004 registou uma área ardida de 466 hectares; o número de ignições decresceu de uma média de 661 (1999 a 2001), para 820 em 2000 e 348 em 2004.

A Agência Lusa, em 7 de Outubro de 2014, informou o que se passou no sistema de detecção de incêndios no Parque Nacional Peneda Gerês (PNPG).
O sistema “ Forest Fine Finder” (FFF), foi adquirido pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) à empresa portuguesa “NGNS Ingenuous Solutions”, através de um contrato por ajuste directo, de um montante de um milhão de euros, para a detecção de incêndios no PNPG.
O FFF, montado em Julho de 2013, é constituído por 14 câmaras com sensores ópticos, distribuídos pela área do parque, emitiu entre JUL/AGO de 2013, 1.323 falsos alarmes e 228 alarmes verdadeiros, ou seja apenas 1,72% de alarmes a que corresponderam incêndios florestais!!!
A empresa NGNS disse que o número de alarmes falsos “esteve sempre dentro dos limites operacionais   previstos no contrato e que se devem a causas externas. A natureza é muito complicada e tem sempre factores não esperados. Neste caso estamos a detectar fumo orgânico, que existe em chaminés de fábrica, chaminés de casas ou nas nuvens quando passam por outros incêndios. Todos estes dados necessitam de tempo para ser analisados e de condições, ou seja, a existência de incêndios, para podermos aferir a sensibilidade dos incêndios”, explicou à Lusa um dos sócios da NGNS.

Em 25 de Abril de 2013, o semanário Sol, publicou um artigo com o título “ Sensores ópticos vão detectar incêndios no Gerês”.

O sistema a instalar, explicou à Lusa em 2012, fonte da ANPC, consegue distinguir o fumo dos incêndios “ de outras fontes”, como por exemplo o proveniente de indústrias, decidindo “de forma completamente autónoma, até uma distância de 15 quilómetros, se há motivo para enviar um alerta de incêndio”.

A minha constatação é que há uma evidente discrepância entre a fonte da ANPC (recorda-se que foi esta entidade que fez o ajuste directo do sistema a instalar) e o sócio da empresa NGNS, o que é INACEITÁVEL. Salienta-se a afirmação deste último que era necessária a “existência de incêndios, para poderem aferir a sensibilidade dos incêndios”, podendo concluir-se que o sistema montado não era fiável e a NGNS aproveitou, os avultadíssimos meios financeiros  do erário público, para aperfeiçoar a sua tecnologia, o que é INCONCEBÍVEL. Mas, se tudo se passou como fica relatado, parece-me INCOMPREENSÍVEL, como a ANPC aceita um contrato de um milhão de euros, com uma diminuta percentagem de sucesso na detecção de incêndios no PNPG, onde no ano de 2016, não obstante estar instalado o FFF, se terem verificado incêndios muito importantes.
Deve referir-se que a instalação do sistema de detecção de incêndios, com um considerável investimento público, deveria ser precedida ou, no mínimo, coincidir no tempo, com a adopção das medidas de prevenção adequadas, nomeadamente a limpeza da área florestal do PNPG, o que não foi feito.

O que é certo é que, igualmente segundo a Agência Lusa , a NGNS já recebeu 60% do contrato, faltando receber340.000 euros (à data de 7 OUT 2014) da adjudicação do contrato, o qual é renovado anualmente.
Contactada pela Lusa, a ANPC informou, por escrito, que “a apreciação desse sistema de vigilância fará parte da avaliação final do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais- DECIF 2014”, escusando-se a dizer quantos alarmes é que o FFF produziu, desde a sua instalação. A avaliação final do DECIF 2014 está prevista para depois de Outubro. Seria interessante ter conhecimento desta avaliação.

A Lusa referiu ainda que a NGNS fez a   proposta à ANPC e ao Ministério da Administração Interna (MAI) para a instalação do sistema, tendo o Tribunal de Contas autorizado o contrato por ajusta directo.
“O lançamento do procedimento por ajuste directo teve como fundamento a protecção de um direito exclusivo de que a empresa NGNS é detentora, esclarece o MAI, indicando que o mesmo foi feito com base na alínea e) do nº. 1 do artigo 24º. do Código dos Contratos Públicos”.
A alínea em causa refere que, “por motivos técnicos, artísticos ou relacionados com a prestação objecto do contrato só possa ser confiado a uma entidade determinada”.

Face ao que fica escrito, parece-me lógico tirar a seguinte conclusão:
   . foi tudo legal, com todas as garantias dadas à NGNS;
   . já “ardeu” um milhão de euros;
   . com um “eficiente ?” sistema de detecção de incêndios instalado, o Parque Natural da Peneda Gerês    
     continua a arder, como se verificou no ano passado e já neste ano, e continuará nos próximos, desde que não sejam implementadas (ontem já era tarde), as medidas preventivas adequadas.
        
1.6.3 – COMBATE DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

O combate dos IF, em virtude do brutal volume de incêndios que, ao longo de décadas se tem verificado, penso ser a área em que os diversos executantes têm adquirido maior experiência. Sem me alongar mais sobre este assunto, quero referir um aspecto que considero importante: a utilização dos meios aéreos.
No Semanário SOL, publicado no dia 27 de Agosto de 2016 e num artigo de opinião, da autoria de Francisco Guerreiro, pode ler-se:

Em Portugal existe “uma indústria de incêndios” que tem no negócio dos helicópteros um grande sorvedouro de dinheiro do Estado: 348 milhões de euros foi o montante deslocado nos últimos 10 anos para assegurar esta prática, 17 vezes mais do que se investe na prevenção de incêndios”.

Há algum tempo, foi noticiado que o Sr. Director da ANPC (Autoridade Nacional da Protecção Civil) apresentou a sua demissão, na sequência de notícias publicadas sobre um inquérito (que, tanto quanto se sabe, ainda não foi concluído), sobre a utilização de aviões no combate dos IF.

O emprego dos meios aéreos é um importantíssimo complemento do combate levado a efeito no terreno; no entanto tem sido objecto de muita controvérsia e pouca transparência. Esta situação não pode continuar.

Por que é que os Meios Aéreos que o Estado possui para este efeito (6 meios pesados e 3 ligeiros), não são entregues à Força Aérea Portuguesa (FAP), após adequado protocolo entre os Ministérios da Defesa e da Administração Interna. Parece-me que a FAP com a sua estrutura, especialmente de manutenção, e depois da preparação conveniente e da atribuição dos meios necessários, poderia fazer uma gestão dos meios aéreos de combate dos fogos florestais, com maior eficácia e, seguramente, com um dispêndio muito inferior de meios financeiros, em comparação com a atribuição dessa tarefa a empresas privadas. Quando houvesse necessidade de reforço dos meios aéreos, estes seriam entregues também  à FAP.

1.7 -   CASOS DE SUCESSO

Felizmente, também há boas notícias, relativamente aos IF.

Conforme se pode ver no número 1.5, na “associação intermunicipal Terras do Infante (que junta Aljezur, Lagos e Vila do Bispo), não arde um hectare há 10 anos”.

Li algures na comunicação social que, no Concelho de Mação e em algumas freguesias do Concelho de Águeda, estão em curso actuações positivas.

Naturalmente que haverá outras zonas onde se verificam casos de sucesso. É pena que todos estes não tenham tido a conveniente divulgação, não só para serem do conhecimento geral, como poderiam servir de incentivo para que as respectivas técnicas fossem aplicadas noutras áreas.

1.8 – O QUE FAZER?

No artigo de opinião, já referido, publicado no semanário SOL, no dia 27 de Agosto do corrente ano, com o título “Fogos: cooperar para prevenir”, o Autor, Sr. Francisco Guerreiro, escreveu:

Há que encontrar um compromisso colectivo, político e cívico, de longo prazo. É necessário incentivar a cooperação, é preciso ouvir os peritos, os políticos, os proprietários, envolver a sociedade civil numa estratégia de proximidade que valorize efectivamente o contributo de cada um e de todas as posições. Mais do que inflamar posições de acusação e de atribuição de culpas que só reforçam as políticas da desinformação, é necessário reunir recursos e competências para criar estratégias que resultem na efectiva extinção destes eventos dramáticos.
Todos estamos de acordo quanto à urgência de encetar uma abordagem diferente, com uma forte aposta na prevenção que passa pela alteração de hábitos. Bem sabemos que demora tempo, porém é a prazo que se alteram consciências e se encontram novas formas de trabalhar.”

Concordando inteiramente com a transcrição anterior e tendo em conta o que consta nos números anteriores, formulo a seguinte proposta.


2. PROPOSTA CONDUCENTE A TENTAR RESOLVER O PROBLEMA DOS INCÊNDIOS FLOTRESTAIS

Considerando que:
- Todos os Governos (incluindo o actual), têm sido incapazes de adoptar medidas com o objectivo de diminuir, de forma significativa, o número de IF, ao longo de décadas.
. Que a Assembleia da República (todas, incluindo a actual), não têm conseguido que os diversos Governos tenham adoptado as suas várias iniciativas sobre este assunto.
. Que os Tribunais, outro Órgão de Soberania, embora sejam chamados a interferir neste assunto, nomeadamente no julgamento de actos com indícios de índole criminal,  não têm, nesta assunto,  mais competências do que isso

Resta o Órgão de Soberania – Presidente da República, que em minha opinião, pode dar o seu contributo importantíssimo, relativamente aos IF.
Nestas condições, proponho:

2.1 – Que o Sr. Presidente da República, se assim o entender, tenha uma iniciativa presidencial, que consiste no convite a uma personalidade, para presidir a um GRUPO DE TRABALHO (GT), que estude o assunto em toda a profundidade. Este grupo de trabalho, seria o mais alargado possível, incluindo representantes: dos peritos na matéria, dos políticos (partidos e Assembleia da República), dos proprietários,  das organizações florestais e departamentos governamentais apropriados, bem como ainda da sociedade civil e outros que fossem considerados importantes, isto é, seria tão abrangente quanto possível.

A MISSÃO deste GT seria a apresentação do PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO, DETECÇÃO E COMBATE DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS (PREDECIF), PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS.

Para isso disporia do tempo considerado necessário e levaria a efeito as medidas que achasse convenientes. A título de exemplo, aponto o estudo da situação do histórico dos IF ( com a apresentação das estatísticas existentes), casos de sucesso, quer a nível nacional, quer internacional, campanha de sensibilização para o assunto, em todos os órgãos de comunicação social, entrevistas, participação em programas existentes (  Prós  e Contras e outros), apelar à participação da população, com as suas sugestões (não esquecendo a maneira prática desta colaboração) e outas iniciativas conducentes que possam dar o seu contributo para o cumprimento da MISSÃO. Para terminar, apresentaria o PREDECIF, com as medidas consideradas adequadas.

O PLANO NACIONAL seria, em termos de execução, escalonado no tempo (4/5 anos, coincidindo com a duração do Governo), com metas concretas a atingir no final de cada período.

2.2 – O GT terminaria a sua função, com a apresentação formal do PLANO NACIONAL na AR e seria então dissolvido. Dele sairia uma Comissão de Acompanhamento do PREDECIT, com carácter permanente, com a MISSÃO de monitorizar a execução do Plano.

2.3 – Dado o carácter abrangente do GT e a metodologia seguida, com ampla participação e debate, o PREDECIT será, certamente, aprovado pela AR, com a eventual introdução de  alguns melhoramentos, sem todavia descaracterizar o documento, como um todo.

A AR, na sua competência legislativa, tomaria as diligências necessárias para que o PREDECIF passasse a ser um diploma legal.

2.4 – O Governo em funções, com base nesse instrumento legal, apresentaria o seu Plano, para execução até ao final do ano em curso. Esse Plano serviria de base para os Planos Municipais.

2.5 – Em SET/OUT, todos os anos, o Governo apresentaria, na AR, o seu Plano , bem como os Planos Municipais, para o ano seguinte.
No mês de MARÇO, de cada ano, elaboraria e apresentaria na AR, o Relatório de execução, relativo ao ano findo.

2.6 -  A Comissão de Acompanhamento, independentemente das iniciativas que entendesse tomar, durante o ano, apresentaria, na AR, no mês de ABRI, o seu Relatório referente ao ano findo.

2.7 – Quando se verificasse alteração da composição da AR, resultante de eleições legislativas, haveria obrigatoriamente, uma actualização do PREDECIF, seguindo-se os procedimentos indicados atrás, no que respeita ao Governo e à Comissão de Acompanhamento.

2.8 – Quando terminar a execução do PREDECIF inicial (ao fim de 20 anos), seria elaborado novo PLANO de Médio/Longo prazo, até se atingir um estado considerado estável e controlado dos IF.

Para terminar, porque não podemos continuar a  assistir, impávidos e serenos, à delapidação de recursos e perda de vidas humanas, resultantes dos Incêndios Florestais, é imperioso passar das palavras aos actos e enfrentar, sem mais delongas, com determinação, firmeza, perseverança e vontade este FLAGELO NACIONAL que, esperamos seja atacado de forma global, por forma a diminuir, drasticamente, esta TRAGÉDIA a que temos assistido, ano após ano, há décadas.

Lisboa,  20 de  Junho de 2017

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Coronel de Artilharia Reformado)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17410: (In)citações (107): A petição "Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios", foi admitida (Inácio Silva, ex-1.º Cabo Ap AP da CART 2732)