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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19460: In Memoriam (338): José Arruda (1949-2019): fotos da última homenagem no cemitério dos Olivais, com Honras Militares prestadas por um Pelotão do Exército, e Alas de Cortesia, compostas por praças dos três Ramos das Forças Armadas (José Martins)


Foto nº 1 > Cortejo auto



Foto nº 2 > Força para prestação de honras militares



Foto nº 3 > Alas de Cortesia


Foto nº 4 > Força em ombro e funeral armas.



Foto nº 5 > Carros para transporte de flores



Foto nº 6 > Carro com o caixão coberto pela Bandeira Nacional




Foto nº 7 > Distribuição de munições de salva



Foto nº 8 > Três salvas de ordenança


Foto nº 9 >  Três salvas de Ordenança.

Lisboa > Cemitério dos Olivais > 1 de fevereiro de 2019 > O funeral do José Arruda


Fotos (e legendas): © José Martins (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e colaborador permanente José Martins, com data de hoje, às 18h07


Boa tarde

Acabo de chegar do funeral do José Arruda.

Como muitos gostariam de ter estado presente, e não lhes foi possível, envio as fotos possíveis.

Apesar de pertencer à Classe de Sargentos DFA, teria direito a uma Guarda de Honra a nível de pelotão.

Porém foi entendido que, devido ao cargo que ocupou nos últimos tempos em prol dos Deficientes das Forças Armadas, a maioria dos quais combatentes, foi decidido que as Honras Militares fossem prestadas por um Pelotão do Exército, e as Alas de Cortesia, compostas por praças dos três Ramos das Forças Armadas.

O velório decorreu no salão nobre da ADFA, tendo uma guarda de dois militares em permanência. O funeral seguiu para o Cemitério dos Olivais (Lisboa) onde o corpo foi cremado.

Fotos:

1 > Cortejo auto
2 > Força para prestação de honras militares
3 > Alas de Cortesia
4 > Força em ombro e funeral armas.
5 > Carros para transporte de flores
6 > Carro com o caixão coberto pela Bandeira Nacional
7 > Distribuição de munições de salva
8 e 9 > Três salvas de Ordenança.


Abraço
Zé Martins

_____________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série > 

30 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19455: In Memoriam (337): José Arruda (1949-2019), presidente da direção nacional da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas: o corpo estará em câmara ardente com guarda de honra militar, na sede na associação, em Lisboa, a partir das 16h00 de amanhã, 5ª feira, sendo a última cerimónia fúnebre, 6ª feira, às 16h00, no crematório do cemitério dos Olivais

27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

domingo, 12 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17128: Manuscrito(s) (Luís Graça) (113): Não há mortes grátis!

Não há mortes grátis

por Luís Graça


Imagina que morres no hospital,
como um  cão,
abandonado.
O único gesto, humano, que tiveram para contigo,
foi o da jovem enfermeira
que, com todo o profissionalismo,
te deu a injeção de morfina
e correu a cortina em redor da tua cama,
para que o teu estertor,
a tua morte lenta,
não perturbasse os vivos,
nem o fluxo dos que esperavam no terminal da morte.

Lembro-me de um médico francês,
conceituado professor,
que um dia definiu o hospital
como o lugar onde se morre
... sem uma palavra.
Depois do encarniçamento terapêutico,
a treta da humanização acaba aqui.
Os médicos, em face da derrota,
que é o triunfo da morte sobre a ciência,
batem discretamente em retirada.

A medicina só se ocupa dos vivos,
a morte pertence a outro pelouro…
Tal como na guerra, lembras-te ?
No helicóptero, nas evacuações Ypsilon,
não iam cadáveres,
só os feridos, graves, que ainda podiam salvar-se,
se chegassem em menos de trinta minutos ao HM 241, em Bissau...
Os mortos, esses,  levavam-se às costas,
em padiolas, improvisadas,
quatro paus, atados por lianas,
com um fundo feito por um dos nossos impermeáveis.

Morres como um cão,  camarada,
e, pior ainda, imagina
que ninguém reclama o teu cadáver,
ou porque não tens família,
parentes, amigos, conhecidos,
ou porque a tua família está longe
ou, mais provavelmente,
não tem recursos.

Se ninguém reclama o teu corpo,
os gatos pingados perdem o dia,
não faturam,
ninguém te lava,
ninguém te veste,
ninguém te calça,
ninguém te cruza as mãos…
Ou, pior,  ninguém te enterra na terra da verdade
ou, muito menos, te manda para o forno crematório,
cumprindo a tua derradeira vontade.

Até um morto, camarada, custa dinheiro,
um enterro, já não direi cristão,  mas humano, decente,
custa uma pipa de massa…
Mesmo que alguém, por dever profissional,
ou simples caridade, ou compaixão,
acione o teu direito constitucional (ou simplesmente humano)
a uma morte condigna,
incluindo as cerimónias fúnebres,
os burocratas da segurança social
vão, primeiro, consultar a tua ficha
e fazer  o teu deve e haver…

E, na melhor das hipóteses,
podes ser enterrado ou cremado,
a crédito, a prestações,
se a funerária for pelos ajustes…
Nas terras pequenas,
não na cidade grande, anónima,
é possível pagar a prestações
a despesa do funeral,
ou contar com o subsídio da segurança social
que, tal como o Estado, paga, 
mesmo que tarde e a mais horas...

Aqui não adiante puxares pelos teus pergaminhos,
ou pelas cruzes de guerra que ostentavas no peito
no 10 de junho dos combatentes
da guerra do ultramar.
Meu camarada, meu bravo, meu herói, 
tu, depois de morto,
não tens filhos, netos, parentes,
amigos, colegas, camaradas,
és um “presunto”
e,  com sorte, vais na “salgadeira”,
o caixão de chumbo,
que chegará aos tombos, por terra e por rio, 
até ao cais de Bissau,
à espera de embarque, no Niassa ou no Uíge...
Três ou quatro meses depois,
talvez chegues ao cemitério da tua terra
para ficares na tua última morada
e repousares finalmente em paz!

Agora que a guerra acabou há muito
(mesmo que para ti nunca tenha  acabado!)
só tens um cenário à tua frente,
és um sem-abrigo, à espera da última morada,
estás num câmara escura, 
metido num saco de plástico, preto,
com fecho éclair,
nu e congelado,
na morgue do hospital,
em trânsito,
à espera de um carimbo e de uma autorização de despesa,
que podem demorar semanas…

Há 50 ou 100 anos atrás,
irias imediatamente para a vala comum,
sete palmos de terra e uma pazada de cal viva,
que ao fim de 24 horas tresandavas a morto,
e o cheiro a morto é o único cheiro
que os vivos não suportam!

Bem razão tinham os gregos da antiguidade clássica,
que punham na boca dos seus mortos uma moeda, 
para pagar ao barqueiro 
que fazia a travessia do rio Caronte…
Alguém se esqueceu, camarada, 
do último gesto de misericórdia,
pôr-te a moeda, entre os dentes cerrados,
para o maldito barqueiro de Caronte:
... é que não há mortes grátis!

_______________

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10505: Antropologia (20): Funeral Fula / Funeral Islâmico (Luís Borrega / Luís Encarnação)

1. Texto enviado a 8 do corrente pelo Luís Borrega [, foto atual. à direita,] a quem no próprio dia dos anos, a 27 de setembro,  fiz um pedido de comentário ás fotos do Armindo Batata, uma sequência fotográfica de um funeral fula:

"Tu que conviveste com os fulas, como eu, e tens inclusive um pequeno dicionário fula-português (*), é possível que tenhas assistido a algum funeral... Lembras-te como eram celebradas as cerimónias fúnebres entre os fulas, islamizados ? Mais do que um funeral fula, deve tratar-se de um funeral muçulmano... Ou não ? Só assisti a um funeral, e foi de um soldado nosso, da CCAÇ 12... Levámo-lo à sua aldeia numa urna de madeira, e prestámos-lhe honras militares... Não me lembro de ter assistido à descida do corpo à terra... Foi no regulado do Cossé, a 8 ou 9 de setembro de 1969... Ele morreu a 7. Não sei se a urna ia chumbada".


2. Funeral fula / funeral islâmico

por Luís Borrega / Luís Encarnação


[Foto à esquerda, de Armindo Batata]

Foi-me solicitado, pelo nosso Tabanqueiro-Mor Luís Graça, informações sobre os procedimentos referentes a um Funeral Fula, em virtude de eu ter convivido bastante com esta etnia, na minha permanência no Leste da Guiné (Pitche).

Acontece que,  como não tenho conhecimentos sobre a totalidade dos procedimentos de um Funeral Fula , contactei o Fur Mil.Cav  MA Luís Encarnação, meu Camarada e Amigo desde os tempos da EPC (Santarém) e que me acompanhou sempre no percurso Militar, Curso de Minas e Armadilhas na EPE (Tancos), RC 3 em Estremoz para formar o BCav 2922 que foi para o CTIG.

O BCav 2922 foi colocado em Pitche, assim como a minha CCav 2749, e o Luís Encarnação foi colocado na CCav 2748 que ficou sediada em Canquelifá. Só nos víamos quando o meu Gr Comb  estava a fazer a escolta às colunas para Canquelifá. Aí, ele viveu mais a vida da população na tabanca e elucidou-me sobre os funerais fulas, que mais adiante passo a narrar.

Quando estive colocado no Destacamento de Cambor, no itinerário Pitche-Canquelifá, tive um enorme contacto com a população fula da tabanca. Como estava a exercer a "vaguemestria" no Destacamento , tinha a oportunidade de fazer o que queria neste campo. A nossa Padaria (o forno era um baga baga adaptado) confeccionava um pão para cada elemento da Guarnição. Dei ordem para se cozer mais cinco ou seis pães para distribuir pelos Homens Grandes de Cambor [, a nordeste de Piche].

Todos mandavam diariamente alguém buscá-los, à excepção do Cherno Al Hadj Mamangari Djaló, que era o Chefe religioso do "Centro Fixo de Difusão" do Islamismo de Cambor, com real influência religiosa em toda a região do Gabu, mesmo além fronteiras. [O título Al Hadj é dado ao crente que já foi a Meca].

Diariamente eu tomava a missão de entregar em mão própria o pão a este Homem Grande. Ficávamos horas a fio a conversar, umas vezes sós, outras acompanhados pelos Homens Grandes, nessa altura punhamo-nos todos de cócoras em circulo debaixo do mangueiro existente à porta da "morança" do Al Hadj. Eu também tinha aulas de árabe. Ainda hoje tenho o livro de ensino da Língua Árabe (ofertado). Éramos Amigos...

Mais tarde por incompatibilidade de feitios com o Alf Mil Cav Jorge Malvar, pedi ao Capitão Cav João Luís Pissarra a minha tranferência por troca com o Fur Mil Cav Belard da Fonseca. Fui para o 3º Gr Comb /CCav 2749 comandado pelo Alf Mil Cav José Belchiorinho. Os tempos livres começaram a escassear, e portanto as idas à Tabanca foram mais espaçadas, devido à carga operacional,a que estávamos sujeitos em Pitche.

Na véspera de eu partir para Pitche, fui-me despedir do Al Hadj Mamangari Djaló. Ambos estávamos emocionados, com os olhos "embaciados ", disse para eu esperar, entrou na sua "morança " , trouxe o seu Alcorão que tinha levado na sua peregrinação a Meca e um terço árabe e deu-mos. Depois tirou o seu barretinho (sabiá) branco e ofereceu-mo também e disse:
- Furiel Boriga , durante a tua vida ouve sempre o teu coração.

Abraçámo-nos , virei costas com as lágrimas a rolar pela cara... e ainda hoje guardo uma grata recordação deste Homem Bom. E os objectos que ele me ofertou, dão-me um enorme, mas enorme prazer possuí-los...

Quando havia funerais ( em Cambor, enquanto lá estive não houve nenhum), pelo pitoresco das cerimónias ía até à " morança "do morto(a) e assistia. O funeral propriamente dito no Cemitério, nunca vi.

Quando se dava o óbito, o viúvo(a) mandava abater vacas, ovelhas ou cabras, conforme o seu grau de riqueza, para fazer o Choro,  obsequiando os Familiares e Amigos com comida, pois para eles,  Islâmicos, a " verdadeira vida começava após a morte". Havia Ronco com batuque e depois havia os procedimentos abaixo indicados, conforme a informação do Luís Encarnação.

(i) Cavavam um buraco do comprimento do falecido e com a largura de +/- 60 cms;

(ii) O corpo era envolvido num pano branco;

(iii) O corpo era disposto deitado no buraco ( desconhece-se a posição em que ficava);

(iv) A sepultura tem nos topos e a meio de cada lado uma espécie de degrau;

(v) Um tronco com mais ou menos 15 cms de diâmetro é colocado a meio, encaixado nas concavidades;

(vi) Uma estaca feita de um ramo de uma árvore da Mata Sagrada, é pregada no canto superior, a prender a ponta do lençol do lado da cabeça;

(vii) Em todo o comprimento da sepultura são colocados ramos (fortes), a preencher toda a largura do buraco;

(viii) (Toda a folhagem dos ramos utilizados é colocada em cima , de maneira a fazer um tapete:

(ix) Depois leva a terra em cima (tirada do buraco);

(x) Só tem este ritual , todo o Mulçumano que respeite a Religião ( não pode ter comido carne de porco (combaro) ou beber álcool).

CONCLUSÃO : Se ele não estiver morto, tem ar suficiente e pode abrir a tampa...

Espero que tenham ficado elucidados, como se fazia os Funerais Fulas/Funerais Islâmicos.

3. Comentário de L.G.

Obrigado aos dois. Djarama! Peço ao 1º Luís (Borrega) que traga o 2º (Encarnação) até à nossa Tabanca Grande. Para que ele se possa também sentar no bentém à sombra do nosso mágico, secular, grandiosos, simbólico, fraterno poilão!

__________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...

26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3798: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (3): Jungo, neuréjungo, ondo... / Braço, mão, dedo, ...

1 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3827: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (4): Nhamo, nano... / Direita, esquerda...


14 e fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3889: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (5): Jubi, ala poren, iauliredu... / Miúdo, avião, tem medo...

Comentário de L.G.:

(...) Obrigado, Luís Borrega, camarada e amigo! O teu esforço por tentar comprender o outro (neste caso, os fulas, que eram e são um dos principais grupos étnico-línguísticos da Guiné-Bissau) é, só por si, um gesto de grande abertura de espírito, de recusa do etnocentrismo, e sobretudo de ternura. Bem hajas! 

Espero que a tua recolha (que não obviamente não tem a pretensão de ser um dicionário...) possa ser útil a muita gente, os nossos camaradas que voltam à Guiné em 'turismo de saudade', os nossos antigos camaradas fulas que vivem em Portugal, os seus filhos e netos, nascidos em Portugal (que estão em idade escolar, e que já não sabem ao idioma dos seus pais e avós)... 

Todos os idiomas do mundo fazem parte da riquíssima diversidade cutural da humanidade, diversidade que devemos conhecer, apreciar, manter e preversar... Por que só há uma terra, só há um raça (humana) (...) 

(**) Último poste da série > 19 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6762: Antropologia (19): Os muçulmanos face ao poder colonial português e ao PAIGC (Eduardo Costa Dias)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10451: (Ex)citações (196): Um funeral balanta, em Barro, no tempo da CART 2412 (1968/70) (Adriano Moreira)

1. Comentário do Adriano Moreira (Admor) ao poste P10442:

[O Moreira foi Fur Mil Enf da CART 2412, Bigene, GuidajeBarro, 1968/70, e está inscrito na Tabanca Grande desde 30 de maio de 2012; foto atual à direita]


O único enterro em que fui chamado a participar ou convidado aconteceu em Barro.

Um homem grande,  de etnia balanta,  que se chamava Fonseca, meu cliente certo da enfermaria,  fez questão ou a sua família que eu assistisse ao seu funeral.

Assim, quando cheguei à tabanca,  na casa onde ele morava estava o Fonseca sentado numa poltrona de veludo vermelho, bastante coçado,  e com duas ou três notas enroladas e metidas nos lábios.

Quando foi a enterrar ao lado da sua casa,  foi precisamente num buraco aberto na vertical e na mesma posição de sentado em que estava na poltrona, que devia de servir para estas situações.

Não sei se a sua posição respeitava alguma orientação, mas como os balantas eram animistas acho que não devia ter qualquer sentido obrigatório, como Meca para os muçulmanos.

Fiquei bastante surpreendido com estas situações, mas não fiz quaisquer perguntas, nem na altura nem depois, o que realmente foi pena, pois poderia agora estar mais elucidado sobre o assunto.

Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira



Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968 > Espaldão do morteiro 81, guarnecido por dois Jagudis, de etnia balanta.

Foto: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10442: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (2): Funeral fula em Guileje (ou melhor, funeral muçulmano, segundo o nosso amigo Cherno Baldé)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) >  Sequência fotográfica de um "funeral fula em Guileje" (é a única legenda que possuímos) >  Foto nº 5 > s/legenda:  o cortejo funerário encaminha-se para a mata; á esquerda, é visível um troço de arame farpado do aquartelamento e tabanca; o fotógrafo acompanhou a cerimónia desde a saída da tabanca até ao local, na mata, onde se realizou o enterro; não parece haver qualquer escolta militar.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 6 > s/ legenda: percebe-se pela foto que o morto, presumivelmente civil, do sexo masculino,, é transportado numa maca (possivelmente cedida pela NT), e vem coberto com um lençol ou um pano branco.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 7 > s/ legenda: os familiares e amigos, só homens, quer civis quer militares, descalços, fazem um círculo à volta da sepultura, e possivelmente rezam em voz alta  uma primeira oração.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 8 > s/ legenda: a inumação do cadáver, envolto em panos... e que parece ser depois encimado por uma esteira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 9 > s/ legenda: os participantes assistem,  sentados, à descida do corpo à terra.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 10 > s/ legenda: a descida do corpo à terra.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Funeral fula > Álbum do alf mil Armindo Batata > Foto nº 11 > s/ legenda: possivelmente a oração de despedida à volta da sepultura, vísível pelo montículo de terra. 

[Peço ao nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé, fula e muçulmano, para corrigir e/ou completar estas legendas que a visualização das fotos me foi sugerindo...No TO da Guiné, no tempo em que lá estuve (1969/71)  só fui, que me lembre, a um funeral numa aldeia fula, o de um dos nosso soldados, morto em 7 de setembro  de 1969. LG]

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados.


1. Explicação sobre o funeral de rito muçulmano na Guiné-Bissau, dada aqui em comentário a este poste pelo nosso amigo Cherno Baldé:


Caro Luís Graca,

As legendas estão corretíssimas, mas no intitulado, eu prefereria que fosse "funeral muçulmano" porque é disto que se trata, pois o ritual é o mesmo entre os muçulmanos de todas as origens e as pequenas diferenças que se podem notar resultam de condições concretas dos meios de cada comunidade.

O Armindo Batata dá-nos nestas imagens a impressão de um observador atento ao que se passa ao redor, no obstante, escapou-lhe a parte da oração fúnebre (conjunta) que é feita na morança, antes de partir para a sua última morada onde participam todos, homens e mulheres.

Torna-se quase impossível identificar o(a) morto(a) a partir das imagens (se é civil ou militar, homem ou mulher), mas a padiola [, maca,] é militar e deve pertencer aos serviços sanitários do quartel que, neste caso substitui a função tradicional da esteira fabricada com fibras de colmo que deveria servir para enrolar e transportar o defunto ao local do enterro.

A praxe muçulmana manda que o cemitério esteja situado fora da aldeia e a proteção da sepultura suficientemente sólida para evitar que as hienas e jagudis façam das suas.

O funeral muçulmano caracteriza-se pela sua simplicidade, rapidez e equidade, cada uma delas com o seu lote de vantagens e inconveniências, dependendo do ponto de vista de quem observa ou analisa. Todavia, uma coisa é certa, são cada vez mais as comunidades africanas que aderem, nomeadamente na Guiné-Bissau, provavelmente para diminuir o fardo dos custos (sociais e econoómicos) ligados aàs tumultuosas e repetitivas cerimónias de culto aos mortos em tempos de crise generalizada.

Aceitem esta contribuição de um leigo e muçulmano pela cultura.

Um grande abraço para ti e aos restantes editores,
Cherno Baldé

PS - Queria acrescentar que as três características ou princípios acima enunciados impedem que o morto seja enterrado dentro de uma urna, salvo casos excepcionais, o mais provável é ser retirado do caixão e enterrado na maior simplicidade possível.

Voltando a atualidade, é isto que explica o facto de os chamados fundamentalistas destruirem os mausoléus no norte de Mali (Tombouctu). São contradições de difícil solução dentro da própria religião que, ainda, não têm uma solução pacífica.

O cemitério do alto de S. João, [em Lisboa,]  está melhor urbanizado e apetrechado que muitas cidades
do terceiro mundo. Cherno


2. Recorde-se aqui, mais uma vez,  a lista das 11 unidades que passaram por Guileje, entre fevereiro de 1964 e maio de 1973 (Fonte: Carlos Schwarz/Nuno Rubim, 2006)

  1. CCAÇ 495 (Fev 1964 / jan 1965);
  2. CCAÇ 726 (Out 1964 / .jul 1966) (contactos: Teco e cor art ref Nuno Rubim);
  3. CAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966);
  4. CCAÇ 1477 (Dez 1966 / jul 1967) (contacto: Cap Rino);
  5. CART 1613 (Jun 1967 / mai 1968) (contacto: Cap José Neto, já falecido, em 2007);
  6. CCAÇ 2316 (Mai 1968 / jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos);
  7. CART 2410 (Jun 1969 / mar 1970) > Os Dráculas (contacto: Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51, jan 1969  / jan 1970);
  8. CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio);
  9. CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: cor inf ref Jorge Parracho);
  10. CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (açorianos) (contacto: Amaro Munhoz Samúdio):
  11. CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho).
Observ. - Receio que o nosso camarada e amigo Nuno Rubim, talvez o maior estudioso do dossiê Guileje/Gadamael, se tenha enganado na designação da 1ª companhia que terá passado por Guileje, com início em fevereiro de 1964... Ele refere a CCAÇ 495, quando provavelmente se queria referir á CART 495 ...
Não tenho a certeza da existência da CCAÇ 495... A CART 495, mobilizada pelo RAL 1, partiu para o TO da Guiné em 17/7/1963 e regressou a 24/8/1965. Teve como comandante o cap art Ângelo Rafael Leiria Pires. Esteve em Aldeia Formosa e Nhraca, possivelmente com um pelotão destacado em Guileje. Da mesma época, era a CART 494, comandada pelo cap art Alexandre da Costa Coutinho e Lima, tendo estado em Ganjola, Gadamael e Bissau. Talvez o Coutinho e Lima nos possa tirar esta dúvida. Quanto ao Nuno Rubim, não tenho tido notícias dele há muitos, muitos meses!
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10435 Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (1): População de Guileje