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quinta-feira, 16 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23355: Questões politicamente (in)correctas (57): O luso-tropicalismo e os seus mitos (José Belo, Suécia e EUA)




Guiné  > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda "Vigeas", "filho do vento" e "mascote da companhia" (*): (i) com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha; (ii) vivia praticamente com os militares, que o alimentavam e cuidavam dele; (iii) como os carimbos da secretaria da CART 1613, na testa e no braço; dizia-se, na caserna, que era a cara chapada do pai; morreu por volta de 2009,  com cerca de 45 anos; era casado e pai de duas filhas; a família vivia em Bissau (**)

(...) Como escreveu o nosso saudoso capitão SGE Zé Neto (1929 - 2007), "eram todos de etnia fula, de raça negra a população de Guiléle], com excepção de um menino mestiço. Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine [CCÇ 799, 1965/67]. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas [Silva Viegas]. Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros. (...) (*)

O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (entretanto falecido havia  pouco tempo), em Bissau

Fotos (e legendas): © José Neto (2005). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Belo:


Data - 15 jun 2022, 13h45
Assunto - Discutir o Lusotropicalismo

Caro Luís

Na sequência dos textos “lusotropicais” do Camarada José Teixeira  (***) segue um texto em busca de passíveis… diálogos!

Um abraço, J. Belo

[José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser corone) do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 224 referências no nosso blogue.]
___________

O Lusotropicalismo visto "por dentro", analisado "desde fora": debate com cidadãos brasileiros de origem africana (****)


O termo Lusotropicalismo criado por Gilberto Freyre refere os elementos factuais, ideais, outros quase mitológicos, quanto a uma igualdade racial (quanto a ele procurada) pela cultura lusitana nos trópicos.

Uma política de miscigenação rácica, mais ou menos acentuada, tendo em conta variações locais de origem cultural, económica e social.

Nas colónias portuguesas esta política de miscigenação terá tido flutuações temporais em paralelo com flutuações políticas.

Todas estas condições, a somarem-se às demográficas, criaram disparidades bem representadas pelos exemplos de Goa, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné.

Em muitos dos textos publicados neste blogue surge uma “fresca brisa“ de Lusotropicalismo.
Rico em detalhes de atentas observações, permeadas por sentimentalismos românticos, raiando os inatingíveis ideais da... poesia trovadoresca medieval!

Textos cuja importância surge de observações “in loco”.

O que emana destas descrições é o que se poderia referir como… Lusotropicalismo de dentro!
As especificidades criadas por uma envolvente situação de guerra obviamente que torna estas observações menos ricas na sua genuinidade. De qualquer modo seriam as únicas possíveis.

Verdadeiro privilégio dos que tiveram a oportunidade única de, através ampla “janela”, observar as realidades quotidianas na vida de isoladas Tabancas ainda não afectadas por profundas mudanças posteriores .

Os textos apresentados por José Teixeira, os saudosos Torcato Mendonça e “Alfero” Cabral, António Rosinha (com referências lusotropicais em Angola, Brasil e Guiné), entre tantos outros Camaradas com experiências semelhantes, todos nos levam ao tal lusotropicalismo visto…. por dentro!

Os textos, análises, descrições e debates, vindos “de fora”, espelham valores e critérios de outras culturas, sociedades, e não menos interesses, em tudo distintos do idealizado (!)
Lusotropicalismo.

Uma parcialidade acentuada pelas diferentes agendas políticas de alguns dos autores.
Algumas das legítimas críticas quanto ao trabalho forçado, impostos discricionários, e outros tipos de opressões a nível local, ficam quase obscurecidos quando isolados do todo orgânico que eram as realidades políticas das diversas potências coloniais.

A um nível eivado de subjetividades por pessoal, tive a oportunidade de participar em debates realizados na Suécia do início dos anos oitenta em que participavam estudantes universitários brasileiros, sendo a maioria de origem africana.

Mais tarde, no próprio Brasil, voltei a ter a oportunidade de debater o Lusotropicalismo, agora não só com jovens estudantes, mas com a participação de indivíduos que representavam de forma abrangente os mais diversos níveis culturais, sociais e políticos.

Tanto no Recife como em Manaus, São Salvador da Baía e Rio de Janeiro, as intervenções dos brasileiros de origem africana tinham em comum o facto de não aceitarem como verdadeiro o mito do mulato/mulata como um resultado de um relacionamento romântico, consentido, não violento na sua essência, entre o colonizador e a mulher africana escravizada.

Concordavam quanto a terem existido casos pontuais de tais romances mas, pelo seu número real em relação às violências exercidas pelo colono, não eram de modo algum justificativos de todo um mito criado por intelectuais privilegiados nas suas raízes europeias.

Como tantos de nós, recebi nos bancos escolares a tal ideia lusotropical a raiar o utópico.
Foi-me muito difícil, no início destes debates, aceitar no seu significado profundo estas descrições brasileiras em contraste total com tudo o que me fora “ensinado” nos verdes anos. 
Para mais, ensinado na forma paternalista tão normal nos tempos da ditadura.
Algumas das opiniões, e razões, apresentadas por estes brasileiros ainda hoje me provocam conflitos valorativos.

De qualquer modo, com todas as suas limitações, romantismos ingênuos e parcialidades analíticas, o Lusotropicalismo de Gilberto Freyre “sobreposto” às realidades sociais e raciais dos Estados Unidos do ano de 2022 torna muito difícil as graduações valorativas.

Um abraço do JBelo

2. Comentário do editor LG:

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa define assim o luso-tropicalismo:

luso-tropicalismo | n. m.

lu·so·tro·pi·ca·lis·mo
(luso- + tropicalismo)

nome masculino

[Sociologia] Ideia, desenvolvida por Gilberto Freyre (1900-1987, antropólogo, sociólogo e escritor brasileiro), que defende que a colonização portuguesa foi diferente das restantes colonizações europeias nos trópicos e que essa diferença se manifestou na miscigenação e na interpenetração cultural.

"luso-tropicalismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/luso-tropicalismo [consultado em 16-06-2022].

Sobre o tema vd. também artigo da investigadora da UL/ICS, Cláudia Castelo (*****). Vd também no nosso blogue os postes P15468 e  P21297  (******)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de janeiro de  2006  Guiné 63/74 - P446: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas



(****) 19 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22643: Questões politicamente (in)correctas (56): A caminhada para a... "descolonização exemplar" (José Belo, jurista, Suécia)

(*****) Buala > A Ler > 5 de maeço de 2013 > Cláudia Castelo (Universidade de Lisboa, ICS - Instituto de Ciências Sociais )  > O luso-tropicalismo e o colonialismo português tardio

(******) Vd. postes de:

9 de dezembro de  2015> Guiné 63/74 - P15468: Recortes de imprensa (78): O colonialismo (suave) nunca existiu... Leopoldo Amado, atual diretor do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, entrevistado em Bissau por Joana Gorjão Henriques ("Público", 6/12/2015, série "Racismo em português")

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14667: Filhos do vento (34): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": vídeo com a intervenção da jornalista Catarina Gomes



Vídeo (12' 42'')   > You Tube > Luís Graça

 [Pode-se aumentar o volume de som, clicando na imagem, em baixo, à direita]


1. Lisboa, Cinema São Jorge, Festival Rotas & Rituais, 2015 > 22 de maio: conferência "Filhos da Guerra".

Intervenção de Catarina Gomes, organizadora e moderadora do painel, em que intervieram ainda Margaridade Calafate Ribeiro, Luís Graça e Rafael Vale e Reis. A Catarina é a primeira, à esquerda.

A jornalista do Público deu visibilidade mediática ao problema dos filhos da guerra ou filhos do vento. E, mais  do que isso,  apoiou, discretamente,  à criação, em Bissau, da associação Fidju di Tuga (que ainda não tem existência legal por falta de meios financeiros e logísticos). Voltará a Bissau no próximo dia 29.

Ver (ou rever) aqui, no Público, a reportagem,  Filhos do Vento, de Catarina Gomes (texto), Manuel Roberto (foto) e Ricardo Rezende (vídeo). [Trata-se de um trabalho financiado no âmbito do projecto Público Mais]

(...) No tempo da guerra colonial havia quem lhes chamasse "portugueses suaves", agora, há entre os ex-combatentes quem prefira "filhos do vento". A maioria dos filhos de militares portugueses com mulheres guineenses guarda pedaços de história incompletos, com a ambição de que um dia esses poucos dados os venham a reunir aos pais. Andaram boa parte das suas vidas  Em busca do pai tuga. (...). 



2. Na altura da publicação da reportagem da Catarina Gomes, por volta de julho de 2013, escrevemos,  entre outros e outras coisas,  o seguinte, no nosso blogue (**);

(...) "Pronto, a Catarina Gomes e o 'Público' abriram a 'caixinha de Pandora'!... E ainda bem... A comunicação social chega a outros públicos que nós não podemos atingir... Nós que,  no blogue,  há já muito que falamos destas e doutras coisas da Guiné, esquecidas, se não mesmo silenciadas... Sempre o dissemos e sempre temos defendido que no blogue não há (nem deve haver) tabus...

Por outro lado, a liberdade de pensamento e de expressão é um valor intocável, inalienável... De qualquer modo, não deixam de ser disparatados alguns comentários que alguns leitores estão a mandar para o sítio Público > Filhos do vento...

É bom que alguns de nós lá escrevam, e deem o seu testemunho.  Às tantas vamos todos ser crucificados como os maiores... bandidos da história!... Admito que alguns comentários sejam meras provocações, outros sejam pura ingenuidade, e outros ainda fruto da compulsiva necessidade de "marcar o terreno" (, como fazem alguns grafiteiros quando veem um muro limpinho)... 

Enfim, há de tudo, dos comentários de gente intelectualmente séria e honesta aos mais hipócritas e cínicos... Alguns fazem-me simplesmente sorrir... De qualquer modo, temos de prevenir e combater a santa ignorância que é a mãe do pérfido preconceito, a par do falso moralismo que é o pai de muitas tiranias... Felizmente que a vida e a história dos homens e das mulheres não são feitas nem escritas a 'preto e branco' " (...).

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Notas do editor

(*) Últimos postes da série:

24 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14657: Filhos do vento (31): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": vídeo com a intervenção de Rafael Vale e Reis, especialista em bioética e direito da família ("Filhos do Vento: direito ao conhecimento das origens genéticas ?")

25 de maio de  2015 > Guiné 63774 - P14659: Filhos do vento (32): Festival Rotas e Rituais, 2015: 22 de maio > Conferência "Filhos da Guerra": apontar o dedo ou dar a mão para ajudar ? (Hélder Sousa / João Sacôto)

26 de maio de 15 > Guiné 63/74 - P14663: Filhos do vento (33): "Quando a guerra terminar, e a tropa se for embora, ainda hei-de ver por aqui alguns brancos a trepar às palmeiras", dizia-me um chefe de tabanca no meu tempo (Domingos Gonçalves, ex-alf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)


Os primeiro postes desta série (ou sobre este tema) remontam a 2011:


23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8813: Filhos do Vento (1): Nem branquear os casos nem culpabilizar ninguém (José Saúde)

20 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8799: (In)citações (36): Filhos do vento, ontem, brancu mpelélé, hoje (Cherno Baldé)


Na realidade o tema é mais antigo ainda, no blogue,  se quisermos,  já vem dos "primórdios", provando que não temos tabus:

segunda-feira, 10 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12817 : Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (33): O racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e difícil de contornar como a divisão étnica tradicional

1. Mensagem de António Rosinha [, foto atual à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]: 

Data: 9 de Março de 2014 às 00:11
Assunto: Racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e diíciil de contornar como a divisão étnica tradiicional.

Luís, boa noite e vê se é publicável, caso contrário…cest secção!.

Diz-se que Mandela venceu o apartheid sem expulsão de brancos e asiáticos e "madeirenses",  naturais ou estrangeiros.

Ao contrário, em Angola e ña Guiné Bissau, os partidos de Amílcar Cabral e Lúcio Lara substituíram gente natural e integrada, patriota, pacífica, civilizada e destribalizada,  profissionais de toda a ordem, por cooperantes,  «impróprios e impreparados», do mundo inteiro,  que confundiram países já confusos num continente completamente baralhado.

No Club-K, Angola, de 4 de Março,  respiguei estes trechos (actuais) apenas para ajudar a explicar o quão confusas eram as ideias de Amílcar Cabral e todos os fundadores do MPLA, PAIGC e FRELIMO.

Independentemente das lógicas e boas intenções sobre a Independência e de sair "debaixo do jugo colonial", estes homens esconderam, camuflaram, disfarçaram, esbateram sempre o grande problema do racismo da cor..
´
Diz o artigo do stio Club-K.Net ["Racismo e Descriminação: Unitel, Instituições Bancárias e na Ilha do Cabo - Matumona dos Santos"]

"Luanda - A nossa capital tornou-se nos últimos 4 anos a cidade mas racista ou discriminada em África no que tange a critérios de selecção no ingresso de um emprego no nosso mercado de trabalho, nomeadamente no sector privado".

(...) "Não deveríamos permitir [que] esta tamanha retardação chegasse ao nível que hoje tomou (...) Venham, das 17h40 às 18h20 horário de saídas, testemunhar com os vossos próprios olhos, a enorme triste realidade que se vive no complexo da Unitel em Talatona, e procurar compreender, analisar e raciocinar o porquê que na saída de centenas de funcionários de uma Empresa são a maioria, mais de 94%  Mestisços ou Mulatos,  e apenas uns 6% a 5% são negros de cor preta, Porquê ?" (...)

 Ora este raciocínio sobre o Mestiço/Mulato "favorecido" aos olhos de quem tem a "cor preta", é tão antigo em Angola e em todas as ex-colónias portuguesas, que devia ter sido encarado de frente pelos MPLA, FRELIMO e PAIGC, e nunca foi feito, ou por medo, vergonha, ou outro complexo qualquer.

Hoje,  ao fim de todos estes anos de independências , e de tantos assassinatos dentro do PAIGC e do MPLA (27 de Maio e outros casos em Angola, 14 de Novembro, na Guiné) e em que se fala abertamente em divisões tribais e ideológicas, e que se deve falar francamente, cara a cara, e não disfarçadamente, mas raramente ou nunca debatem olhos nos olhos o complexo  puro e duro da diferença de cor.

Esses países foram imensamente prejudicados, com a fuga e abandono por perseguições promovidas pelos próprios partidos, de gente que eram patriotas, dispostos a continuar a viver e trabalhar na sua terra, muitos engenheiros, técnicos, médicos, enfermeiros, agricultores, etc. mas não eram de cor preta.

Os movimentos que se impuseram pelas armas ao exército colonial, aos movimentos adversários e aos povos pacíficos e desarmados, só souberam fazer mesmo a guerra, nunca a paz.

Todos os dirigentes usavam e continuam a usar o discurso das culpas do cólon pela atraso dos "indígenas" em favor dos brancos e mestiços, para justificar as próprias injustiças e incompetências próprias.

Esperemos que nunca os angolanos, moçambicanos e guineenses, venham um dia acusar «cara a cara» a colonização portuguesa por não ter praticado o apartheid. [Há teorias na cabeça de muitos brancos (loirinhos) e pretos pelo mundo fora, que Portugal fez os mulatos porque não tinha capacidade de viver em apartheid).]

Só gostava um dia de ver uma explicação descomplexada aos 3 movimentos porque não protegeram nem respeitaram nem cativaram os milhares de mestiços ou brancos naturais de Angola e Guiné principalmente, que iam desde médicos, engenheiros, agricultores e armadores de pesca, mecânicos e electricistas, jornalistas e escritores, músicos e poetas e professores.

Esses movimentos que também promoveram a formação de técnicos e universitários, nem essa gente cativaram e aproveitaram, pois que muitos nem regressaram à Pátria por desincentivo total.

Foi deprimente ver os guineenses do povo, cheios de fome em Bissau, perante milhares de cooperantes vindos desde Moscovo a Quito, passando pela Ucrânia e Chechénia, a dar palmadinhas nas corpulentas costas dos governantes do PAIGC de Luís Cabral e Vasco Cabral.

Claro que o povo não tinha alternativas de fuga como a maioria dos mestiços e brancos que foram para o Brasil, Portugal, França sem passar por Ceuta ou Lampedusa.

De facto não ficaram grandes registos da parte de Portugal nem em Luanda nem em Bissau de grandes cerimónias de arrear e hastear bandeiras no dia da Independência,  devido à guerra que esses movimentos nunca pararam.

Vai levar muitos e muitos anos para um dia recuperar aquela riqueza humana que se perdeu. É uma riqueza humana que não se mede nem por barrís de petróleo nem por troncos de madeira nem por donativos e ajudas de ONG.

O facto de eu nem mencionar o nome de outros movimentos, é pelo facto de ter conhecido um pouco de alguns, e nem me passa pela cabeça terem sido eles a dominar aqueles países. Embora para muitos Retornados como eu, não houvesse qualquer diferença entre uns e outros, o que não é o meu caso.

Se Spínola tem negociado com Marcelo Caetano em 1969/70, a entrega da Guiné a Amílcar Cabral, este não teria morrido mais cedo?

Cumprimentos

Antº Rosinha

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Nota do editor:

Últmo poste da série > 26 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11829: Os filhos do vento (12): "Em busca do pai tuga" ou "Os filhos que os portugueses deixaram para trás"... Reportagem de Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende, a sair no Público, domingo, dia 14






Guiné-Bissau > região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008) > 2 de março de 2008 > Visita, inesperada, de duas irmãs, que vieram de longe (, de Bedanda, garante o Zé Teixeira), para estar com os tugas.

Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Estariam na casa dos 30 e muitos anos... Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense ou açoriana. Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Não fixei os seus nomes, nem soubei ao certo onde viviam, mas prometi divulgar as suas fotos, o que fiz na altura.  A jornalista do Público, Catarina Gomes, voltou a encontrá-las, em março de 2013, no sul da Guiné, carregadas de filhos...

Fotos  (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem que a jornalista do Público, Catarina Gomes, nos mandou, ontem, às 17h44, chamando atenção para uma reportagem que vai sair no Público, de domingo, dia 14, sobre o tema dos "filhos do vento". Ela deslocou-se recentemente á Guiné-Bissau, para efeitos deste trabalho de investigação e teve o apoio do nosso blogue e de diversos camaradas (como o Zé Saúde) e de amigos (como o Cherno Baldé). Está também a escrever um livro sobre o tema. Ela própria é filha de um ex-camarada nosso, alferes milicano, que esteve em Angola no final da guerra, e já falecido.

Boa tarde,

Só para vos avisar que já há na página do público, www.publico.pt, um videozinho de apresentação do projecto, que também terá 3 vídeos e uma página para debate e informações sobre os filhos que os portugueses deixaram para trás:

 http://www.publico.pt/multimedia/video/os-filhos-que-os-portugueses-deixaram-para-tras-20130711-142901

Mais uma vez, muito obrigada pela ajuda

Cumprimentos,

Catarina





Fotogramas do vídeo Em Busca do Pai Tuga, disponível desde ontem na página  Público Multimédia


"Em busca do pai tuga" é o título de uma série de reportagens que levou os enviados especiais Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende à Guiné-Bissau para contar as histórias de filhos que os ex-combatentes portugueses tiveram com mulheres guineenses e que ficaram para trás depois da guerra colonial ter terminado. Não tinham nascido ou eram crianças quando os pais deixaram o país, hoje têm entre os 40 a 50 anos e um sonho: conhecer o pai tuga. A reportagem foi feita no âmbito do projecto PÚBLICO+".

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Nota do editor:

Vd. aqui alguns dos muitos postes (, para além de centenas de comentários) que foram já publicados, no nosso blogue,  sobre a temática dos "filhos do vento" e do "sexo em tempo de guerra":

5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 – P11807: Memórias de Gabú (José Saúde) (30): Rescaldo da apresentação de “As Minahs Memórias de Gabu", em Beja.



18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)

12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11360: (Ex)citações (217): Lavadeiras... e favores sexuais na Empada do meu tempo (José Teixeira / Arménio Estorninho, "maiorais" da CCAÇ 2381, 1968/70)
25 de março de 2013 > Guiné 63/74 – P11313: Guiné 63/74 – P11313: Memórias de Gabú (José Saúde) (26): Sexo em tempo de guerra. Tabu?
12 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

11 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)


29 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8838: Filhos do vento (7): O infanticício não era uma prática tão generalizada quanto se pensa... O caso doBalanta-Tuga, de Bedanda (Cherno Baldé)




24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8816: Filhos do Vento (2): Duas mães que eu conheci: Binta de Chamarra e Binta Bobo de Mampatá (José Teixeira)

23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8813: Filhos do Vento (1): Nem branquear os casos nem culpabilizar ninguém (José Saúde)

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)